A Alma do Judaísmo
Por Tzvi Freeman
Dentro de seu corpo respira uma pessoa – uma alma. Dentro
do corpo da prática judaica respira uma sabedoria interior – a alma do
Judaísmo. Nós a chamamos de “Cabalá”, que significa “receber”. Assim como a
prática judaica é recebida por meio de uma tradição antiga e ininterrupta da
revelação no Sinai, assim é a sua alma.
Cabalá, então, é a sabedoria recebida, a teologia e a
cosmologia nativas do Judaísmo.
Outro nome para Cabalá – mais revelador – é “Torat
ha’Sod.” Comumente, é mal traduzido como “o ensinamento secreto”. A tradução
correta, porém, contém o significado oposto: “o ensinamento do secreto.”
“O ensinamento secreto” significa que estamos tentando
esconder algo de você.
“O ensinamento do secreto” significa que estamos tentando
ensinar algo a você, abrir e revelar algo oculto.
Ora, você poderia dizer, se o segredo é ensinado, não é
mais um segredo. Um segredo revelado, poderia parecer, é uma contradição.
Seria assim se estivéssemos discutindo um segredo
artificial, que é secreto apenas porque é velado em segredo, porque outros não
querem que você descubra. Os verdadeiros segredos, uma vez revelados,
explicados, ilustrados, analisados e integrados em sua consciência, permanecem
tão misteriosos quanto antes. Não – muito mais misteriosos, pois à medida que a
ilha de conhecimento se expande, assim também sua praia sobre o infinito mar do
desconhecido.
A vida tem muito desses mistérios: O que é amor? O que é
mente? O que é vida? O que é existência? Como acontecem? De onde emergem? O que
é a sua alma, a pessoa dentro do seu corpo? Você passa por todos esses a cada
momento. Eles são você. E apesar disso, quanto mais você contempla as
profundezas de seus mistérios, mais profundas as águas se tornam.
A Cabalá não é um ensinamento sagrado. É o ensinamento de
um segredo.
Os segredos mais profundos são aqueles conhecidos de
todos, aqueles que aprendemos quando somos crianças pequenas, aceitamos como
certo pelo resto da nossa vida, vivenciamos diariamente – e mesmo assim jamais
conseguimos desvendar ou entender com nossa mente cognitiva.
Existe. As coisas existem. Eu existo. Estou vivo. A vida
é a não-morte. Escuridão não é luz. Existe aquilo que é maior que eu.
A Cabalá mergulha nesses segredos e traz suas profundezas
para a luz. Fornece metáforas para cura e crescimento na vida diária. É por
isso que a experiência de estudar Cabalá é “Sim! Eu sabia essa verdade o tempo
todo! Meu coração sabia, mas minha boca era incapaz de expressá-la!” As
verdades da Cabalá pertencem a todo ser que sente.
Porém, acima de tudo, a Cabalá proporciona uma sensação
do além; o conhecimento daquilo que não pode ser conhecido, a sabedoria do
mistério, o entendimento daquilo que não entendemos. A Cabalá é o conhecimento
do assombro.
Por que a Cabalá é tão secreta?
Ensinar um segredo é perigoso. O aluno está em perigo,
pois pode acreditar que realmente entende. Um mistério jamais pode ser
apresentado sem as coberturas da metáfora e da parábola. Talvez o estudante
entenda a capa mas não consiga desvendar seu conteúdo, como aquele que mastiga
a casca e descarta o interior do fruto.
O professor está em perigo, pois como pode saber se
realmente entendeu? Vai ensinar muitos alunos, suas ideias serão popularizadas,
a essência será perdida e seu significado será retorcido ao oposto da sua
intenção.
A própria Cabalá está em perigo, pois uma vez que tenha
perdido sua integridade, imediatamente deixa de ser “a sabedoria recebida”.
Pode ser sábia, pode ser bela, porém não é mais Cabalá.
É por isso que, na maior parte do tempo, a Cabalá foi
transmitida de mestre para alunos selecionados e de confiança, na maior
confiabilidade. Quando foi escrita, os textos eram propositadamente crípticos e
misteriosos, em enigmas sussurrados, parábolas e alusões obscurecidas. Às
vezes, as restrições tinham de ser reafirmadas para impedir todos, exceto
alguns poucos, de estudar Cabalá.
As águas desta fonte devem ser mantidas puras; devem
continuar sendo águas vivas.
Somente nas últimas centenas de anos os mestres começaram
a revelar abertamente estas verdades. Os mestres chassídicos revelaram uma luz
e forneceram um conjunto de metáforas que permite a todos abordarem aquela luz,
trazendo a Cabalá ao domínio até da alma mais simples.
Mas mesmo assim, um guia é indispensável, e deve-se tomar
muito cuidado para preservar a pureza dos ensinamentos.
Quem é este guia? Como você sabe que está recebendo águas
puras, direto da fonte original?
Por um lado, água pura reflete claramente. Se a vida do
professor não reflete seus ensinamentos, suas águas são impuras.
Depois, saiba que até Mashiach chegar, o caminho interior
nunca é sem conflito. Se o ensinamento vem facilmente, não é o ensinamento
interior.
E em terceiro: É verdade que você não precisa ser judeu
para se embeber no doce vinho da Cabalá ou para aprender seus caminhos de cura.
Mas a alma da Cabalá é diferente de uma alma humana – jamais pode ser arrancada
de seu corpo, pois o casamento de alma e corpo é completo. A prática judaica e a
Cabalá são uma só. Se você ouvir “Não tem nada a ver com o Judaísmo”, está
ouvindo uma mentira.
Como o estudo de Cabalá pode me ajudar?
Cabalá é um aspecto da Torá, e Torá significa
“orientação” ou “instruções”. Tudo na Cabalá é para ser uma instrução na vida.
Estudamos Cabalá não apenas para atingir um ponto alto, mas porque precisamos
de sua inspiração na vida cotidiana, e porque nos fornece direção e orientação
prática.
Para o Cabalista, o supremo paraíso é aqui agora, porque
a Luz Infinita está aqui agora.
A Cabalá proporciona uma dimensão cósmica aos assuntos da
vida humana de todos os dias. A doença é um reflexo da doença de amor da divina
presença para a Luz Infinita. Os desafios da vida são as centelhas perdidas no
ato primitivo da criação, vindas a você para serem consertadas e elevadas. Sua
vida é uma missão, na qual você é direcionado para as centelhas divinas que
pertencem unicamente à sua alma, pelas quais sua alma tem retornado muitas
vezes a este mundo até que sejam todas reunidas.
Entender a dimensão cósmica significa que nada na vida é
trivial. Tudo tem significado. Tudo se move rumo a um só propósito, com uma
única meta. O entendimento permite que você aceite estes desafios e complete a
jornada da sua alma.
Como a Cabalá difere de outros ensinamentos espirituais?
Há muitos ensinamentos espirituais sábios de pessoas em
toda parte do globo. Em sua prática, as pessoas encontram transcendência do
mundo material, esclarecimento e serenidade.
O foco da Cabalá não é a serenidade. Também não é o esclarecimento
transcendental. Proporciona estes também, mas como um meio, não como meta. A
meta da Cabalá é a ação inspirada. Qualquer que seja a sabedoria que o
cabalista adquire, qualquer que seja o estado de êxtase ou união mística ao
qual ele ascende, o resultado será sempre um ato de beleza no mundo físico.
Falando de outra forma: muitos mestres dirão a você para
praticar boas ações e atos de bondade porque esta é uma pedra ao longo do
caminho da consciência mais elevada. O cabalista lhe dirá que no momento da boa
ação, você já está ali. O ato em si é a sua meta, à qual uma consciência mais
elevada deve levar você.
Para o cabalista, o supremo paraíso é aqui agora, porque
a Luz Infinita está aqui agora, e mais que qualquer reino espiritual, é onde a
Luz Infinita anseia por ser descoberta. Nosso trabalho é descascar o fruto para
revelar aquela luz dentro de cada artefato físico do mundo. Para iluminar não
apenas a nós mesmos, mas todo ser vivo, e até a matéria inerte do nosso mundo.
Quando a Cabalá começou?
A revelação no Sinai foi a primeira e a suprema
experiência da verdade interior.
As histórias dos ancestrais são pintadas com uma paleta
de visões místicas, revelações divinas e comunicação com seres não-físicos.
Porém a Torá, incluindo a Cabalá, não é definida por aquelas visões. O evento
central da narrativa judaica é a revelação em massa no Monte Sinai, quando
“todo o povo viu os sons e a iluminação”.
Digamos que você viveu pouco tempo depois do evento.
Digamos que você perguntou às pessoas que tinham estado lá: “Diga-me o que
aconteceu.” O que elas diriam a você?
“Fomos instruídos a não ter outros deuses.”
“Fomos instruídos a honrar nossos pais, a não roubar nem
matar.”
Não creio nisso.
Mais provavelmente, a resposta deles seria algo assim:
“Vimos todos os segredos do cosmos abertos à nossa
frente. Vimos como cada coisa é gerada para ser a todo momento, vimos como não
há realmente nada exceto um Criador, e tudo o mais são articulações de Sua
vontade.”
Os próprios mandamentos – não ter outros deuses, honrar
os pais, não roubar ou matar – são apenas o conteúdo daquela experiência. O
meio, a experiência – isto foi o âmago da mensagem. Foi naquela experiência
mística que nosso povo nasceu – a experiência de um mundo no qual “de toda
direção, D'us falou com eles.” Eles viram toda a realidade como nada exceto as
palavras de uma única, incognoscísvel origem de todas as coisas. E eles
entraram em comunhão com aquela Fonte.
Por cerca de mil anos após o Sinai, a experiência judaica
permaneceu definida pela profecia. A sabedoria era conhecida às pessoas através
de videntes e profetas, homens e mulheres que se afastaram dos desejos e
vaidades humanas para atingir uma visão clara dos reinos interiores. Porém
nenhuma dessas visões forneceu uma nova revelação, acrescentando ou subtraindo
coisa alguma da Torá. Estavam simplesmente afirmando, esclarecendo e
sustentando a visão partilhada do Sinai.
A era de profecia acabou no início do período do Segundo
Templo, mas a revelação Divina e a visão mística nunca partiram. Nem os rececptores
daquela sabedoria se sentaram à beira da tradição judaica. Muitos, se não a
maioria, dos mais conhecidos mestres da alma da Torá foram também os mestres
estabelecidos sobre o corpo da prática da Torá. Rabi Akiva é considerado o pai
da Mishná, e o Talmud e Sefer HaBahir descrevem suas jornadas místicas. Seu
aluno, Rabi Shimon bar Yochai, foi responsável pela clássica obra cabalística,
o Zohar, e suas opiniões permeiam toda seção do Talmud.
Às vezes, e em determinados lugares, a inquirição
filosófica deixou de lado a tradição recebeida para dominar o pensamento
judaico. Porém raramente foi considerada a teologia nativa, mas sim uma espécie
de enxerto vindo de vinhas estranhas. As obras de filosofia ascendentes,
lutando para criar uma única visão a partir de partes disparatadas. A Cabalá
faz a conversão, começando com uma visão vívida, holística, e tentando
transmitir aquela visão a outros. Apesar disso, especialmente após a expulsão
da Espanha, o racionalismo e grande parte da terminologia dos filósofos se
integrou à sabedoria holística da Cabalá. O resultado foi um florescimento e
uma popularidade sem precedentes do pensamento cabalístico.
A investigação filosófica jamais foi considerada nossa
teologia nativa. Porém a Cabalá mais tarde se beneficiou através da síntese com
ela.
Na era crítica quando a Halachá foi codificada e
estabelecida (a partir da expulsão espanhola até a metade do Século 17), quase
todos os eruditos sérios estavam mergulhados na Cabalá. Rabi Yosef Caro, autor
do código padrão da Lei Judaica, o Shulchan Aruch; Rabi Moshê Isserles, cujos
retoques tornaram aquele código aceitável ao Judaísmo askenazita; bem como a
maioria dos comentaristas padrão daquele código, escreveram obras cabalísticas
também. Até o popular sermão na sinagoga com frequência era revestido e
enfeitado com referências cabalísticas.
Para a maior parte dos judeus de países muçulmanos, o
Zohar é tão sagrado quanto o Livros dos Salmos. O Movimento Chassídico cresceu
diretamente a partir da Cabalá. Os oponentes originais ao Movimento Chassídico,
como Rabi Elijah de Vilna, foram mestres da Cabalá. Muitos dos comentários
padrão estudados atualmente sobre os Cinco Livros de Moshê estão repletos de
referências a ideias cabalísticas.
É por isso que tentar entender a experiência judaica sem
entender a Cabalá é o mesmo que analisar o comportamento de uma pessoa sem
saber o que se passa em sua mente. Os judeus notáveis das eras passadas que não
provaram a Cabalá sentiam aquela alma interior intuitivamente dentro da Torá
que eles estudavam, dentro de suas preces e dentro da prática das mitsvot. Em
todas essas coisas, suas almas brilhavam vibrantemente. No decorrer dos
séculos, à medida que o mundo se tornava mais estéril, materialista e confuso,
aquela alma se tornou cansada e sentiu-se adormecida. Hoje, o caminho cecrto
para uma pessoa que raciocina sentir a alma da experiência judaica é provar
seus segredos íntimos. Hoje, o Judaísmo privado da Cabalá é um corpo privado de
sua alma.
Hoje o estudo da cabala é vital por um motivo ainda mais
importante – como um estágio essencial para a evolução definitiva da
humanidade. Abordaremos isto depois.
Você pode ser criativo com a Cabalá?
Uma sabedoria recebida pareceria não deixar espaço para
originalidade ou criatividade. O Zohar nos diz que aquele que cria as próprias
ideias e as chama de Torá está criando um ídolo.
A comparação é significativa: como um ídolo é uma falsa
representação de D'us, também essa ideia é uma falsa representação da sabedoria
Divina, e “Ele e Sua sabedoria são um.”
Porém, como em outros campos da Torá, a Cabalá ferve com
pensamento criativo e originalidade. Eis como Rabi Moshê Cordovero, um
professor líder do Século 16 da escola racionalista-cabalista de Tzfat,
explicava a necessidade e os parâmetros de originalidade na Cabalá:
O Livro da Formação diz: “Entenda com sabedoria; seja
sábio com entendimento.”
“Entender com sabedoria” significa investigar bem tudo
que seu mestre ensinou a você na sabedoria das modalidades. Afinal, nesses
assuntos transmitimos apenas um mero esboço. A partir deste esboço, cada pessoa
deve entender uma ideia a partir de outra.
O Cabalista é criativo, pode ter visões iluminadoras,
porém tudo que ele ensina não passa de comentário sobre a tradição recebida.
Você pode ver isto nas palavras de nossos Sábios quando
eles disseram: “Este assunto é falado somente a um sábio que entende com sua
própria mente.” A partir disto, você vê que uma pessoa deve usar a própria
mente para comparar uma coisa com outra, e assim extrair uma ideia de dentro da
outra. Dessa maneira ele terá uma mente procriativa e não uma estéril.
E ainda diz; “Seja sábio com entendimento”. Isso
significa que quando você origina e analisa com o próprio intelecto para que
possa entender, deve tomar cuidado para conceber a ideia e explicá-la dentro da
estrutura da tradição dos rabinos e suas palavras verdadeiras. As ideias
originais devem estar incluídas naquilo que você adquiriu, seja pouco ou muito.
Os cabalistas podem ter visões, mas eles não encontraram
seus ensinamentos naquelas revelações. Sejam quais forem as visões que eles
tiveram, veem aquelas como meras iluminações dos textos sagrados e dos
ensinamentos que já receberam. Nesta maneira, a Cabalá permanece uma árvore da
vida, com profundas raízes segurando-a firmemente no lugar, enquanto dá doces
frutos novos a cada estação.
Quais são algumas ideias básicas da Cabalá?
Embora tudos se estendam a partir de uma só visão
unificada, os temas que a Cabalá aborda são vastos e variados. Aqui estão
alguns dos principais:
Luz Infinita:
Uma metáfora para D'us. D'us é incognoscível e sem forma,
porém todas as formas se expandem a partir Dele. A ideia de luz ilimitada ajuda
a comunicar essa ideia. Porém a essência de D'us está além até do infinito. E
D'us é encontrado nas trevas assim como é encontrado na luz.
Luz e Recipientes:
Similar à ideia moderna de energia e matéria. O ato da
criação é sustentado através de uma dinâmica de luz infinita comprimida em estados
definidos de ser chamados “recipientes”, que então projetam a luz para criar
uma infinidade de seres.
Dez Sefirot:
A conexão entre a Luz Infinita e uma criação finita
deveria ser intransponível, e mesmo assim aqui estamos nós, decididamente
projeções finitas daquela Luz Infinita. Este é o mistério das dez sefirot: como
o Infinito interage com os mundos que gerou através de dez modalidades
luminosas, A ordem das sefirot se move a partir do domínio intelectual através
da emoção e desce até o âmbito do “domínio” – a esfera de realmente conseguir
algo feito. Esta é a “divina imagem” na qual o ser humano é criado. Ao nos
conhecermos como seres humanos, portanto, podemos descobrir o divino. E ao
entender o divino, somos mais capazes de curar e nutrir o ser humano.
O Mistério do Alfabeto Hebraico:
Em hebraico, não há coisas, somente palavras. O nome
hebraico de cada coisa contém sua força de vida essencial. O poder infinito do
Criador é encontrado dentro de cada exemplo e objeto da criação; nada está fora
dessa luz e nada é vazia dela. As vinte e duas letras do alfabeto hebraico
expressam as articulações específicas daquela força criativa. Aquele que domina
seus mistérios tem a chave para entender a natureza de cada coisa.
União de Opostos:
O universo inteiro é uma união dinâmica de macho e fêmea.
A alma-vida do universo, conhecida como Shechiná, e a Luz Infinita, anseiam por
se reunir, como a alma humana anseia por se reunir com sua origem dentro de
D'us. O estudo de Torá e o cumprimento das mitsvot provocam essas uniões,
permitindo assim que a luz nova e transcendental penetre no cosmos.
Tikun:
O mais notável dos cabalistas, Rabi Yitschak Luria,
conhecido como “o Ari” (o leão), conseguiu explicar muitas passagens arcanas do
Zohar por meio de uma doutrina de tikun, que significa “conserto”. Revertendo o
modelo padrão, o Ari explicou que o mundo foi criado num estado quebrado, e o
ser humano foi colcoado nele para recolher as peças espalhadas e consertar sua
integridade. O resultado eventual é a união da existência finita com a Luz
Infinita, além até daquilo que era no início da criação.
Como a Cabalá se encaixa no mundo moderno?
A Cabalá tem o potencial de amainar o conflito entre o
frio mundo exterior que observamos e o cálido mundo interior do observador.
Nos últimos cem anos, a ciência desnudou a complicada e
pura vastidão do mundo físico numa maneira antes inconcebível. Descobrimos uma
impressionante harmonia pela qual todo o universo físico é visto como uma
singularidade, toda partículo integralmente relacionada a toda outra partícula,
uma harmonia pela qual até a matéria e a energia em si mesmas são
essencialmente uma única dinâmica.
A tecnologis nos deu meios para partilhar e examinar este
conhecimento que era inimaginável há uma geração. Programar nossos próprios
ambientes virtuais nos enriquece com uma metáfora pela qual podemos imaginar o
que significa criar um mundo e sustentar sua existência a cada momento.
A humanidade deveria ser tomada por reverência e
assombro, mas em vez disso temos sido deixados no frio. Ironicamente, em nossa
busca pela unidade da lei fisiica, temos nos afastado daquela unidade, cavando
um vácuo devastador entre o mundo difícil e material que nos cerca e o mundo
suave e humano que arde no interior. Ao mediar este divórcio, nos mesmos nos
tornamos órfãos.
A Cabalá cura esta ferida. Descreve o mundo ao redor na
linguagem da nossa psique. Ela nos põe em contato com um mundo composto não de
matéria crua, mas de mente inimaginável.
O cientistas descreve o universo dentro das dimensões de
tempo e espaço, em termos que ele pode contar e mensurar. Porém nem tudo que
conta pode ser contado. Uma das obras mais antigas da Cabalá, o Livro da
Formação, descreve ainda outra dimensão: aquela da vida, consciência e alma.
Tudo que existe no tempo e no espaço, aprendemos, é primeiro encontrado no
fundo daquela dimensão interior.
É uma dimensão com a qual estamos intimamente
familiarizados.
O artista olha para uma árvore e vê não uma estrutura
celular de carbono, mas beleza, vida e magnificência. O amante da música escuta
num quarteto de cordas não as vibrações das cordas de nylon e sua série de
tons, mas a luta pela resolução dentro da alma do compositor. O crítico
literário lê dentro das palavras do romance os pensamentos do autor, dentro dos
pensamentos as atitudes, dentro das atitudes a percepção do mundo que gera tais
atitudes, e dentro daquela percepção a persona do próprio autor.
Assim também, o cabalista vê dentro de cada exemplo da
realidade não sua presença palpável e definida, mas uma energia divina
sustentando toda a existência, sempre nova como a água da cachoeira é renovada
a cada momento, gerando e regenerando cada detalhe do vácuo absoluto, imbuindo
cada coisa com suas propriedades particulares e com vida, cada instante da
existência em sua maneira particular. E dentro daquela dinâmica da criação, o
cabalista vê o próprio D'us.
Como resultado, temos uma afinidade com este universo ao
redor. Assim como sentimos dentro de nós mesmos camada sobre camada de
personalidade, mais profundamente cada extrato da consciência, e ainda dentro
de tudo isso uma indefinível essência do ser, também podemos perceber
profundamente dentro do universo uma sentença infinitamente maior que a nossa,
e uma essência que transcende o conhecimento e o saber juntos.
Na verdade, somos os filhos daquela essência
incognoscível, nossas mentes um pálido reflexo de sua luz dentro das águas
barrentas do mundo material, nossas almas seu próprio sopro dentro daqueles
limites corpóreos.
Por que precisamos agora da Cabalá?
O franco estudo da Cabalá atualmente não é apenas porque
precisamos da inspiração que ele fornece, mas porque este é um estágio vital na
evolução do mundo.
Divulgar os ensinamentos da Cabalá numa forma que a mente
possa entender prepara o mundo para a Era Messiânica.
A suprema fase deste mundo é uma era messiânica na qual
“a ocupação do mundo inteiro será apenas conhecer a D'us”. Isso não significa
simplesmente saber que há um D'us, mas conhecer Seu universo como Ele o
conhece, e a sabedoria por trás disso como aquela sabedoria é uma com Ele. A
preparação para este tempo já começou, e estamos nela.
A obra principal da Cabalá, o Zohar, descreve uma era que
espelhará o dilúvio de Nôach – dessa vez com um mundo inundado com sabedoria em
vez de água:
“No seiscentésimo ano da vida de Nôach… todos os
mananciais da grande profundeza se abriram, e as janelas do céu ficaram
abertas…” – Bereshit, 7:11
Sobre isto, o Zohar declara:
“No 6º século do 6º milênio os portões da sabedoria
sobrenatural serão abertos, como as fontes de sabedoria terrena, preparando o
mundo para ser elevado ao sétimo milênio.”
O sexto século do sexto milênio do calendário judaico
corresponde ao período de 1740-1840, na verdade um período de explosivos
avanços em tecnologia e ciência. Ao mesmo tempo, os portões da sabedoria
sobrenatural foram abertos através dos mestres chassídicos da Cabalá.
Agora é hora de partilhar ambas as sabedorias, a terrena
e a celestial, para fundi-las como uma só e inundar o mundo até que seja
cumprida a promessa do profeta:
“A terra ficará repleta com a consciência de D'us como a
água cobre o oceano.” - Yeshayahu 11:9
Onde posso aprender a Cabalá autêntica?
Fale com seu rabino. Talvez ele esteja dando aulas
sobre Cabalá, ou algum tópico a partir de uma perspectiva cabalística.
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