domingo, 30 de novembro de 2014

O MISTÉRIO DOS NÚMEROS E A BÍBLIA

O MISTÉRIO DOS NÚMEROS E A BÍBLIA


 
 
 
 
 
 
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Quem não é familiarizado com os mistérios matemáticos, ficará tão fascinado como eu com as características do ciclo numérico 142857, resultante da divisão de um por sete: 1¸7 = 0,14285714285714285714285714285714 Além da curiosa repetição dos algarismos nesta operação, ao serem multiplicados pelos fatores um até o seis, os mesmos dígitos 142857 aparecerão, em ordem alternada Contudo, ao começar a lê-los a partir do número um – propositadamente em negrito para que o leitor siga esta orientação – a fila numérica continua a mesma.
142857142857142857142857142857142857
X 1X 2X 3X 4X 5X 6
=142857=285714=428571=571428=714285=857142
Somente quando a multiplicação é operacionalizada por sete é que todos os números do ciclo cedem lugar para o nove: 142857 x 7 = 999999. Outra peculiaridade desta fila numérica é que, não importa por quais fatores seja multiplicada, a soma dos números dos resultados, sempre será um múltiplo de nove:
OperaçãoResultadoSoma dos nºs. do resultado 
142857X 385549999455+4+9+9+9+9+4+5 = 549X6=54
142857X 14332047140812+0+4+7+1+4+0+8+1= 279X3=27
142857X 1245717795696491+7+7+9+5+6+9+6+4+9=639X7=63
142857X4462857086+2+8+5+7+0+8 = 369X4=36
         . Pelas características desta seqüência numeral, Malba Tahan, em seu livro “O Homem que calculava” (Ed. Record), atribui a ela uma áurea de mistérios que  os místicos procuram desvendar. Obviamente o autor, mais interessado em despertar o gosto pela matemática do que dissertar pelos caminhos do ocultismo traçou esta comparação para motivar a imaginação e a curiosidade, qualidades necessárias para enfrentar os desafios dos problemas matemáticos. Não tenho grandes amores por números, mas a singularidade desta cadeia numérica direcionou minha imaginação para o mundo bíblico.
Relacionei os fatores multiplicativos de um ao sete com cada dia que Deus usou para criar o universo. A correlação ficou maior quando soube que a multiplicação dela por oito é que desencadeia a decomposição dos seus elementos, especificamente o sete, que passa a ser representado por seis e um: 142857 X 8 = 1142856. Tomei o número sete, do ciclo, como o dia do descanso de Deus, que foi o afetado pelo oito, que indiquei como o início da ação humana. Ou seja, quando homens e mulheres passaram a tomar decisões, mexeram até no descanso divino. E a partir destas, muitas outras reflexões surgiram. E tão singulares como o ciclo que as motivou.
         Acredito que você irá se identificar com as idéias que apresento usando como base reflexiva o ciclo misterioso 142857. Os números podem ajudar o ser humano a conhecer-se? Creia! Tudo é possível para quem tem fé!
        a ação divina explicada pelos números

Os números mostram algo mais que a quantificação de coisas? Podem mostrar, se dermos a eles outros significados. Assim, para que o ciclo numérico 142857 possa dizer algo além dele próprio precisa ser carregado de sentido. Faremos isto estabelecendo uma conexão individual de cada elemento do conjunto com os atos criadores de Deus, tomando a indicação temporal como referência daquilo que realmente importa, que é a ação divina ou humana, no dia relacionado aos dígitos do número cíclico.
1No primeiro dia Deus separou a luz das trevas (Gn 1, 3-5). Por isso o número um Indica tensão bipolar (saber e ignorância, força e fraqueza, e outros tantos antônimos possíveis).
4O quarto ato divino foi criar os luzeiros que regulam o tempo (Gn 1,14-19). O dígito quatro, pois, se relaciona com a sabedoria no uso do tempo e coerente divisão das tarefas.
2No segundo dia Deus estabeleceu distinção entre as realidades terrestre e celeste (Gn 1,6-8). O algarismo dois explicita a relação harmoniosa entre o divino e o humano
8Não há indicativo bíblico, mas podemos supor que o ser humano passou a agir no oitavo dia, e se deixou iludir pela serpente. O número oito mostra o desejo insaciável das coisas.
5No quinto dia Deus cria os seres vivos alados, marítimos e terrestres (Gn 1, 20-23) O dígito cinco aponta para a integração da vida com outras formas de existência.
7Após seis dias criando, no sétimo Deus descansou. O algarismo sete indica satisfação de viver em harmonia espiritual.
            Já temos um sentido para os mistérios do ciclo 142857 estabelecido com a conexão dos atos criadores de Deus. Porém, é preciso fazer com que os números zero, três, seis e nove, até agora ausentes, apareçam. E não podemos simplesmente inseri-los, mas eles devem surgir como fruto dos novos significados dados à fila dos algarismos 142857. Uma dupla numérica deste conjunto – dois e oito – poderá nos ajudar.
O dois foi relacionado com a harmonia que deve existir entre as realidades divina e humana, já o oito, aponta o desejo insaciável pelas coisas materiais. A junção ou soma deles indica que a harmonia humana somente será concretizada quando as pessoas buscarem em Deus, e não nas coisas materiais, a felicidade. Então, podemos tanto somar oito mais dois, como justapô-los. A justaposição, porém, pressupõe a precedência do dois, porque a harmonia com o divino deve ser uma preocupação anterior à busca da realização material. É desta forma, e por estes motivos que dez e vinte e oito serão usados como fatores multiplicadores de 142857.
142857 X 10 = 1428570142857 X 28= 3999996
            Os quatro números que faltavam – zero, três, seis e nove – apareceram no resultado das multiplicações. Como os outros, eles também precisam ser carregados de sentido:
0Indica a surpresa na história de quem se abre para a vida
3Aponta tensão relacional, causa do excesso de autoconfiança.
6Mostra a criatividade – sexto dia – criação do ser humano
9Revela a busca da perfeição como forma de servir ao próximo
            Agora que os números mostram mais que quantidade, podemos usa-los para entender a Bíblia, a vida e as pessoas.
LENDO O LIVRO DOS SALMOS COM A AJUDA DO CICLO MISTERIOSO 142857
            As pessoas abrem o livro dos salmos para nele buscar consolo e esperança para os momentos difíceis e alegres, assim como luzes para as decisões. E lêem salmos indicados por outros, ou aleatoriamente, abrindo o texto sagrado e passando os olhos naquele que aparecer. Mas há dois salmos específicos para cada um de nós e que possuem em seus versículos idéias ou sentimentos presentes em nossa vida. Como descobrir quais são estes?  Há duas alternativas. A primeira é ler os cento e cinqüenta textos, analisa-los para verificar qual se enquadra com você. A segunda alternativa é utilizar o ciclo 142857 da seguinte forma:
1- Para descobrir o salmo que se aplica para os seus momentos alegres, e que se identifica com seu jeito de viver, multiplique o ciclo misterioso pela data do seu nascimento. Os dois primeiros números do resultado indicam o seu salmo.
Por exemplo, alguém que tenha nascido no dia cinco, multiplica este número por 142857. O resultado é: 714285.  Portanto, o salmo será o 71.
2- Seus momentos de ansiedade ou tristeza serão mais iluminados se você ler o salmo que também possui suas características. Para descobri-lo, multiplique novamente o ciclo 142857 pelo número que indica o mês do seu nascimento.
.           Se você nasceu em novembro, faz a seguinte operação: 142857 X 11 = 1571427. Portanto, o salmo 15 será aquele que o ajudará a viver ainda mais seus momentos alegres. Faça a experiência para confirmar se o que eu digo não é verdade! Certamente os salmos indicados pela multiplicação da data ou o mês do seu nascimento trarão em suas palavras uma identificação com a sua vida. E será neles que você buscará equilíbrio espiritual, tanto na alegria como na tristeza.
            Uma forma que exige mais trabalho, mas ajuda a encontrar um salmo específico para a vida, independente dos momentos tristes ou alegres é a soma dos números da data, mês, ano e hora do nascimento. Vamos exemplificar: Alguém que tenha nascido no dia 13 de agosto de 1964 às 16 horas e doze minutos faz a seguinte conta:
1+3+8+1+9+6+4+1+6= 39.
Portanto, o fator 39 será usado para a multiplicação do ciclo numérico. Assim, 142857 x 39 = 5571423. O salmo específico para esta pessoa é o cinqüenta e cinco.
            Como já disse, tudo é possível para aquele que crê. Nosso mundo é envolto nos mais profundos mistérios. Por mais que o ser humano busque desvenda-los, sempre aparecem outros. E o mistério maior é que testei com várias pessoas esta forma de encontrar o salmo específico e todas elas afirmaram que aquele indicado pela multiplicação estava de acordo com suas vidas e elas se identificavam com as palavras lidas.  Agora é você testar para verificar se o mistério também se revela em sua vida através dos salmos indicados pela curiosa seqüência numérica 142857.
No primeiro dia Deus separou a luz das trevas. Por isso o número um tem um forte indicativo de tensão bipolar, que se estabelece entre o s
No quarto dia Deus firmou os astros no céu, estabelecendo-os como reguladores do tempo. O algarismo quatro, indica a sabedoria do uso do tempo.
O segundo ato criador estabeleceu a separação entre a terra e o universo, mantendo a unidade das duas realidades. Disto resulta o sentido do dois como o indicativo da unidade de realidades diferentes.
Após a criação, sétimo dia, Deus entrega ao ser humano tudo o que fez para que ele decida tudo com sabedoria. Não há uma indicação bíblica, mas pode-se supor que o oitavo dia foi aquele que o pecado entrou no mundo. Por isso o número oito aponta para a confusão.
Foi somente no quinto dia que Deus criou os seres vivos alados, marítimos e terrestres. O dígito cinco é indicador da harmonia dos seres entre si.
E depois de ter criado tudo, Deus descansou. O algarismo sete aponta para a sensação de realização do dever cumprido.
1-primeiro diaCriação da luz e separação do dia e da noite
4- quarto diaCriação dos astros que regulam o tempo
2– segundo diaFormação do nosso planeta e sua integração no firmamento maior chamado de céu.
8– oitavo dia
    Ação humana
Não há o indicativo bíblico, mas podemos supor que foi o momento inicial da ação humana.
5- quinto diaCriação dos seres vivos, alados, marítimos e terrestres.
7- sétimo diaDescanso de Deus

domingo, 23 de novembro de 2014

Judeus não acreditam em Jesus

Por que os judeus não acreditam em Jesus?

      
  
RESPOSTA: 

Por séculos os judeus foram perseguidos por sua fé e prática religiosa. Muitos tentaram impor suas idéias e aniquilar o judaísmo. Nem as cruzadas, nem a inquisição implacável, nem os pogroms conseguiram manipular nossas almas cumprindo seu intento.

O judaísmo mantém sua chama sempre viva.

A história comprova: os judeus continuam rejeitando o Cristianismo. Por quê?

Porque somos simplesmente judeus, nascemos e vivemos o judaísmo e temos nossas próprias convicções.

Mas quando judeus são seguidamente questionados sobre esta questão e não-judeus frequentemente perguntam: "Por que os judeus não acreditam em Jesus?" Preparamos alguns argumentos com o objetivo, não de depreciar outras religiões, pois respeitamos a todos e por esta razão não fazemos proselitismo, mas sim apenas para esclarecer a posição judaica.



Por que os judeus não acreditam em Jesus? Porque:

1. Jesus não preencheu as profecias messiânicas

2. Cristianismo contradiz a teologia judaica

3. Jesus não personifica as qualificações pessoais do Messias

4. Versículos bíblicos "referindo-se" a Jesus são traduções incorretas

5. A crença judaica é baseada na revelação nacional

Veja também:

6. Judeus e Gentios

7. Trazendo o Messias






1. JESUS NÃO PREENCHEU AS PROFECIAS MESSIÂNICAS

O que o Messias deveria atingir? A Torá diz que ele:

a - Construirá o terceiro Templo Sagrado (Yechezkel 37:26-28)

b - Levará todos os judeus de volta à Terra de Israel (Yeshayáhu 43:5-6).

c - Introduzirá uma era de paz mundial, e terminará com o ódio, opressão, sofrimento e doenças. Como está escrito: "Nação não erguerá a espada contra nação, nem o homem aprenderá a guerra." (Yeshayáhu 2:4).

d - Divulgará o conhecimento universal sobre o D'us de Israel - unificando toda a raça humana como uma só. Como está escrito: "D'us reinará sobre todo o mundo - naquele dia, D'us será Um e seu nome será Um" (Zecharyá 14:9).

O fato histórico é que Jesus não preencheu nenhuma destas profecias messiânicas.




2. CRISTIANISMO CONTRADIZ A TEOLOGIA JUDAICA

a - D'us em três?

A idéia cristã da trindade quebra D'us em três seres separados: o Pai, o Filho e o Espírito Santo (mateus 28:19).

Compare isto com o Shemá, a base da crença judaica: "Ouve, ó Israel, o Eterno nosso D'us, o Senhor é UM" (Devarim 6:4). Os judeus declaram a unicidade de D'us todos os dias, escrevendo-a sobre os batentes das portas (Mezuzá), e atando-a à mão e cabeça (Tefilin). Esta declaração da unicidade de D'us são as primeiras palavras que uma criança judia aprende a falar, e as últimas palavras pronunciadas antes de morrer.

Na Lei Judaica, adorar um deus em três partes é considerado idolatria - um dos três pecados cardeais, que o judeu prefere desistir da vida a transgredir. Isto explica porque durante as Inquisições e através da História, os judeus desistiram da vida para não se converterem.



b - Um homem como deus?

Os cristãos acreditam que D'us veio à terra em forma humana, como disse Jesus: "Eu e o Pai somos um" (João 10:30).

Maimônides devota a maior parte do "Guia para os perplexos" a idéia fundamental que D'us é incorpóreo, significando que Ele não assume forma física. D'us é eterno, acima do tempo. É infinito, além do espaço. Não pode nascer, e não pode morrer. Dizer que D'us assume forma humana torna D'us pequeno, diminuindo tanto Sua Unidade como Sua Divindade. Como diz a Torá: "D'us não é um mortal" (Bamidbar 23:19).

O Judaísmo diz que Messias nascerá de pais humanos, com atributos físicos normais, como qualquer outra pessoa. Não será um semi-deus, e não possuirá qualidades sobrenaturais. De fato, em cada geração vive um indivíduo com a capacidade de tornar-se o Messias. (veja Maimônides - Leis dos Reis 11:3).



c - Um intermediário para a oração?

É uma idéia básica na crença cristã que a prece deve ser dirigida através de um intermediário - i.e., confessando-se os pecados a um padre. O próprio Jesus é um intermediário, pois disse: "Nenhum homem chega ao Pai a não ser através de mim."

No Judaísmo, a prece é assunto totalmente particular, entre cada pessoa e D'us. A Torá diz: "D'us está perto de todos que clamam por Ele" (Tehilim 145:18). Além disso, os Dez Mandamentos declaram: "Não terá outros deuses DIANTE DE MIM," significando que é proibido colocar um mediador entre D'us e o homem. (veja Maimônides - Leis da Idolatria cap. 1).



d - Envolvimento no mundo físico

O Cristianismo freqüentemente trata o mundo físico como um mal a ser evitado. Maria, a mais sagrada mulher cristã, é retratada como uma virgem. Padres e freiras são celibatários. E os mosteiros estão em locais remotos e segregados.

Em contraste, o Judaísmo acredita que D'us criou o mundo físico não para nos frustrar, mas para nosso prazer. A espiritualidade judaica vem através do envolvimento no mundo físico de maneira tal que ascenda e eleve. O sexo no contexto apropriado é um dos atos mais sagrados que podemos realizar.

O Talmud diz que se uma pessoa tem a oportunidade de saborear uma nova fruta e recusa-se a fazê-lo, terá de prestar contas por isso no Mundo Vindouro. As escolas rabínicas ensinam como viver entre o alvoroço da atividade comercial. Os judeus não se afastam da vida, elevam-na.






3. JESUS NÃO PERSONIFICA AS QUALIFICAÇÕES PESSOAIS DO MESSIAS

a - Messias como profeta

Jesus não foi um profeta. A profecia apenas pode existir em Israel quando a terra for habitada por uma maioridade de judeus. Durante o tempo de Ezra (cerca de 300 AEC), a maioria dos judeus recusou-se a mudar da Babilônia para Israel, e assim a profecia terminou com a morte dos três últimos profetas - Chagai, Zecharyá e Malachi.

Jesus apareceu em cena aproximadamente 350 anos após a profecia ter terminado.



b - Descendente de David

O Messias deve ser descendente do Rei David pelo lado paterno (veja Bereshit 49:10 e Yeshayáhu 11:1). Segundo a reivindicação cristã que Jesus era filho de uma virgem, não tinha pai - e dessa maneira não poderia ter cumprido o requerimento messiânico de ser descendente do Rei David pelo lado paterno!



c - Observância da Torá

O Messias levará o povo judeu à completa observância da Torá. A Torá declara que todas as mitsvot permanecem para sempre, e quem quer que altere a Torá é imediatamente identificado como um falso profeta. (Devarim 13:1-4).

No decorrer de todo o Novo Testamento, Jesus contradiz a Torá e declara que seus mandamentos não se aplicam mais. (veja João 1:45 e 9:16, Atos 3:22 e 7:37).






4. VERSÍCULOS BÍBLICOS "REFERINDO-SE" A JESUS SÃO TRADUÇÕES INCORRETAS

Os versículos bíblicos apenas podem ser entendidos estudando-se o texto original em hebraico - que revela muitas discrepâncias na tradução cristã.



a - Nascimento virgem

A idéia cristã de um nascimento virgem é extraído de um versículo em Yeshayáhu descrevendo uma "alma" que dá à luz. A palavra "alma" sempre significou uma mulher jovem, mas os teólogos cristãos séculos mais tarde traduziram-na como "virgem". Isto relaciona o nascimento de Jesus com a idéia pagã do primeiro século, de mortais sendo impregnados por deuses.



b - Crucifixão

O versículo em Tehilim 22:17 afirma: "Como um leão, eles estão em minhas mãos e pés." A palavra hebraica ka'ari (como um leão) é gramaticalmente semelhante à palavra "ferir muito". Dessa maneira o Cristianismo lê o versículo como uma referência à crucifixão: "Eles furaram minhas mãos e pés."



c - Servo sofredor

Os cristãos afirmam que Yeshayáhu (Isaías) 53 refere-se a Jesus. Na verdade, Yeshayáhu 53 segue diretamente o tema do capítulo 52, descrevendo o exílio e a redenção do povo judeu. As profecias são escritas na forma singular porque os judeus (Israel) são considerados como sendo uma unidade. A Torá está repleta de exemplos de referências à nação judaica com um pronome singular.

Ironicamente, as profecias de perseguição de Yeshayáhu referem-se em parte ao século 11, quando os judeus foram torturados e mortos pelas Cruzadas, que agiram em nome de Jesus.

De onde provêm estas traduções erradas? S. Gregório, Bispo de Nanianzus no século IV, escreveu: "Um certo jargão é necessário para se impor ao povo. Quantos menos compreenderem, mais admirarão."






5. A CRENÇA JUDAICA É BASEADA NA REVELAÇÃO NACIONAL

Das 15.000 religiões na História Humana, apenas o Judaísmo baseia sua crença na revelação nacional - i.e., D'us falando a toda a nação. Se D'us está para iniciar uma religião, faz sentido que Ele falará a todos, não apenas a uma pessoa.

O Judaísmo,é a única entre todas as grandes religiões do mundo que não confia em "reivindicações de milagres" como base para estabelecer uma religião. De fato, a Torá afirma que D'us às vezes concede o poder de "milagres" a charlatães, para testar a lealdade judaica à Torá (Devarim 13:4).



Maimônides declara (Fundações da Torá, cap. 8):

"Os Judeus não creram em Moshê (Moisés), nosso mestre, por causa dos milagres que realizou. Sempre que a crença de alguém baseia-se na contemplação de milagres, tem dúvidas remanescentes, porque é possível que os milagres tenham sido realizados através de mágica ou feitiçaria. Todos os milagres realizados por Moshê no deserto aconteceram porque eram necessários, e não como prova de sua profecia.

"Qual era então a base da crença judaica? A revelação no Monte Sinai, que vimos com nossos próprios olhos e ouvimos com nossos ouvidos, não dependendo do testemunho de outros... como está escrito: 'Face a face, D'us falou com vocês...' A Torá também declara: 'D'us não fez esta aliança com nossos pais, mas conosco - que hoje estamos todos aqui, vivos.' (Devarim 5:3)."

O Judaísmo não são os milagres. É o testemunho da experiência pessoal de todo homem, mulher e criança.






6. JUDEUS E GENTIOS

O Judaísmo não exige que todos se convertam à religião. A Torá de Moshê é uma verdade para toda a Humanidade, seja judia ou não. O Rei Salomão pediu a D'us para considerar as preces de não-judeus que vão ao Templo Sagrado (Reis I, 8:41-43). O profeta Yeshayáhu refere-se ao Templo Sagrado como uma "Casa para todas as nações." O serviço no Templo durante Sucot realizava 70 oferendas de touros, correspondendo às 70 nações do mundo. De fato, o Talmud diz que se os Romanos tivessem percebido quantos benefícios estavam conseguindo do Templo, jamais o teriam destruído.

Os judeus nunca buscaram ativamente converter as pessoas ao Judaísmo, porque a Torá prescreve um caminho correto para que os gentios o sigam, conhecido como "As Sete Leis de Nôach." Maimônides explica que qualquer ser humano que observe fielmente estas leis morais básicas recebe um lugar apropriado no céu.



Para um estudo mais completo sobre as Sete leis de Nôach clique aqui.






7. TRAZENDO O MESSIAS 

De fato, o mundo está desesperadamente necessitado da Redenção Messiânica. A guerra e a poluição ameaçam nosso planeta; o ego e a confusão estão erodindo a vida familiar. Na mesma extensão em que estamos conscientes dos problemas da sociedade, é a extensão em que ansiamos pela Redenção. Como declara o Talmud, uma das primeiras perguntas que um judeu recebe no Dia do Julgamento é: "Você ansiou pela vinda do Messias?"

Como podemos apressar a vinda de Mashiach? A melhor maneira é amar generosamente toda a humanidade, cumprir as mitsvot da Torá (da melhor maneira que pudermos) e encorajar outros para que as cumpram também.

O Mashiach pode chegar a qualquer momento e tudo depende de nossas ações. D'us estará pronto quando estivermos. Pois, como disse o Rei David: "A Redenção chegará hoje - se derem atenção à Sua voz."




 
  Por Rabino Shraga Simmons - Aish.com

segunda-feira, 17 de novembro de 2014

A Circuncisão do Coração
Parashá em Foco - 'Eqev

Por Sha’ul Bentsion

I - Introdução
"Circuncidai, pois, o prepúcio do vosso coração, e não mais endureçais a vossa cerviz.” (Devarim/Deuteronômio 10:16)
A Parashá desta semana traz essa afirmação do Eterno, de que o povo deveria circuncidar o prepúcio do coração.
Embora todos concordem que essa é uma expressão figurativa, a circuncisão do coração é objeto de muita confusão. E, por essa razão, merece uma investigação mais aprofundada.
Algumas religiões chegam até a se apropriar dessa expressão, fazendo com que alguns pensam que isso seja uma inovação, e que de alguma forma a circuncisão do coração seja um substituto para a circuncisão do prepúcio, também prescrita na Torah.
O simples fato de ambas serem mencionadas pela própria Torah, sem qualquer correlação entre elas, já por si só mostra o quão errôneo é esse raciocínio. Mas, ainda assim, para muitos, a dúvida persiste.
Porém, mesmo sendo objeto de grande dúvida, a circuncisão do coração é tão importante que é mencionada como condição para aproximar-se do Criador na restauração de todas as coisas. 

Observe:
"Assim diz Adonay YHWH: Nenhum estrangeiro, incircunciso de coração ou incircunciso de carne, entrará no meu santuário, dentre os estrangeiros que se acharem no meio dos
filhos de Israel.” (Yehezqel/Ezequiel 44:9)
Ora, é fácil saber como ser circunciso de prepúcio. Mas, como ser circunciso no coração? Para responder a isso, é preciso avaliar a expressão cuidadosamente.
II - Análise do Tanakh: Dura Cerviz
A primeira dica do que seja a circuncisão do coração aparece na própria passagem acima indicada.
O texto hebraico usa um recurso chamado paralelismo antitético, onde duas partes do texto são colocadas como antagônicas para expressar o mesmo sentido.
Em outras palavras, o coração circuncidado é a antítese da dura cerviz.
O interessante de explorar a questão da dura cerviz é que ela é tratada no próprio Tanakh.
Sobre isso, a Torah diz:
"Porque conheço a tua rebelião e a tua dura cerviz; eis que, vivendo eu ainda hoje convosco, rebeldes fostes contra YHWH; e quanto mais depois da minha morte?” (Devarim/Deuteronômio 31:27)
Aqui, a Torah equipara a dura cerviz com a rebeldia, isto é, o recusar-se a seguir as instruções do Criador.
"O homem que muitas vezes repreendido endurece a cerviz, de repente será destruído sem que haja remédio.” (Mishlê/Provérbios 29:1)"Mas não escutaram, nem inclinaram os seus ouvidos; antes endureceram a sua cerviz,
para não ouvirem, e para não receberem correção.” (Yirmiyahu/Jeremias 17:23)
Em ambos os trechos acima, a dureza de cerviz aparece como uma rejeição à correção.
"Porém não deram ouvidos; antes endureceram a sua cerviz, como a cerviz de seus pais,
que não creram em YHWH seu Elohim. E rejeitaram os seus estatutos, e a sua aliança
que fizera com seus pais, como também as suas advertências, com que protestara contra eles; e seguiram a vaidade, e tornaram-se vãos; como também seguiram as nações, que
estavam ao redor deles, das quais YHWH lhes tinha ordenado que não as imitassem. 

E deixaram todos os mandamentos de YHWH seu Elohim, e fizeram imagens de fundição,
dois bezerros; e fizeram um ídolo do bosque, e adoraram perante todo o exército do céu, e serviram a Ba’al." (Melakhim/2 Reis 17:14-16)"Mas não me deram ouvidos, nem inclinaram os seus ouvidos, mas endureceram a sua cerviz, e fizeram pior do que seus pais.” (Yirmiyahu/Jeremias 7:26)
Endurecer a cerviz é apresentado como o se recusar a dar ouvidos ao Eterno. Mais especificamente, em seu apelo para que o povo andasse em obediência aos Seus caminhos.
"Além disto, também se rebelou contra o rei Nabucodonosor, que o tinha ajuramentado por Elohim. 

 Mas endureceu a sua cerviz, e tanto se obstinou no seu coração, que não se converteu a YHWH Elohim de Israel.” (Divrê haYamim/2 Crônicas 36:13)
O paralelismo sinônimo entre endurecer a cerviz e obstinar o coração ajuda a compreender a relação entre a dura cerviz, e a circuncisão do coração.
O coração circunciso é o oposto do coração obstinado.
III - O Coração


Para, todavia, compreender melhor a expressão, é importante recordar que lev
(לב), ou coração, para o semita, não é o mesmo que para um ocidental.
"Não se desviará a ira de YHWH, até que execute e cumpra os desígnios do seu coração [libo = בוִל]; nos últimos dias entendereis isso claramente.” (Yirmiyahu/Jeremias 23:20)
"Ao homem pertencem os planos do coração [lev - בֵל]; mas a resposta da língua é deYHWH.” (Mishlê/ Provérbios 16:1)


"os quais maquinam maldades no coração [belev - בֵלְב]; estão sempre projetando guerras.” (Tehilim/Salmos 140:3)
"Os meus dias passaram, malograram-se os meus propósitos, as aspirações do meu coração [levavi - יִבָבְל].” (Iyov/Jó 17:11)
Como se pode perceber, o coração na cultura semita não se refere figurativamente às emoções.
Para os israelitas, o coração era o centro dos desejos, dos propósitos, dos planos, dos desígnios e dos pensamentos.
Ou seja, um coração obstinado se refere a uma pessoa que se recusa a mudar de ideia. Se recusa a se sujeitar aos planos e à vontade do Criador, ao invés dos seus
próprios.
IV - Análise do Tanakh: Circuncisão do Coração
Já a expressão circuncidar o coração aparece poucas vezes no Tanakh. Abaixo, os versículos de onde se pode extrair a ideia do que seja:
"Eu também andei para com eles contrariamente, e os fiz entrar na terra dos seus inimigos; se então o seu coração incircunciso se humilhar, e então tomarem por bem o
castigo da sua iniquidade.” (Wayiqra/Levítico 26:41)
Observa-se que a circuncisão de coração está associada à humildade, visto que parece ser isso de que carece o incircunciso de coração, que se recusa a aceitar o
castigo de sua iniquidade.
"E YHWH teu Elohim circuncidará o teu coração, e o coração de tua descendência, para
amares a YHWH teu Elohim com todo o coração, e com toda a tua alma, para que vivas.” (Devarim/Deuteronômio 30:6)
A circuncisão do coração é condição para que possamos amar o Eterno.
É importante ressaltar que também o amor é algo que, na cultura semita, diverge do entendimento ocidental.
Rambam (Maimônides) assim define a ideia de amar o Eterno, no Sefer haMiswot (Livro dos Mandamentos):
 "A terceira miswa é a de que somos ordenados a amar o Altíssimo, isto é, a meditar sobre e examinar de perto as Suas miswot, Seus mandamentos, e Suas obras, para
compreendê-Lo: e através desse entendimento atingir uma sensação de êxtase. Esse é o objetivo da miswa de amar.” (Mandamento Positivo 3)
Ou seja, para se obter essa sensação do êxtase de viver a Torah, é necessário primeiro dar ouvidos ao Criador. Aparentemente, é aí que entra a circuncisão do coração.
O termo também aparece nos profetas. O que mais traz informação a respeito é Yirmiyahu (Jeremias), que afirma:
“Se voltares, ó Israel, diz YHWH, se voltares para mim e tirares as tuas abominações de diante de mim, e não andares mais vagueando; e se jurares: Como vive o Senhor, na
verdade, na justiça e na retidão; então nele se bendirão as nações, e nele se gloriarão.
Porque assim diz YHWH aos homens de Yehudá e a Yerushalayim: Lavrai o vosso terreno alqueivado, e não semeeis entre espinhos. Circuncidai-vos ao Senhor, e tirai os prepúcios do vosso coração, ó homens de Judá e habitadores de Jerusalém, para que a minha indignação não venha a sair como fogo, e arda de modo que ninguém o possa apagar,
por causa da maldade das vossas obras.” (Yirmiyahu/Jeremias 4:1-4)
Pelo contexto, a circuncisão do coração está associada ao compromisso com o Criador, e com a teshuvá.
V - Resumo do Tanakh
Como se pode perceber, portanto, a circuncisão do coração é essencialmente se deixar corrigir pelo Eterno, a fim de fazer a Sua vontade.
Devemos constantemente colocar nossas vidas sob verificação e nos indagarmos onde é que o Eterno deseja nos corrigir.
Semelhantemente, devemos comparar nossos ideais, projetos e desejos com os valores que o Eterno nos ensinou na Torah.
Observe que a Torah não espera que varramos os nossos desejos para debaixo do tapete e finjamos que não queremos o que queremos. Mas sim que abdiquemos do desejo em prol do ideal do Eterno. Isso é ter o coração circuncidado.
Um exemplo análogo é quando um casal vai ao cinema. Ele quer assistir um filme
de ação, e ela quer assistir uma comédia romântica. Ao declararem, um ao outro, o que
desejam, o homem diz: OK, vamos assistir à comédia romântica.
Não precisamos fingir diante do Eterno ou de nós mesmos que não temos desejo de transgredir. Porém, se mesmo quando temos o desejo numa direção, optamos por agir de outra forma, isso é ser circunciso de coração.
Mas, é importante ir além, e entender melhor como a questão se verifica na prática.
VI - A Circuncisão do Coração: Três Visões Exegéticas
Abaixo, três exegetas judeus da Idade Média, que analisaram a questão e apresentaram suas conclusões sobre a circuncisão do coração.
Primeiramente, Ibn ‘Ezra escreve:
“Circuncidai o prepúcio do vosso coração [significa] evitar os desejos rudes que são grosseiros, como o prepúcio; ou talvez seu sentido seja purificar o coração para compreender a verdade.” (Comentário de Devarim 10:16)
Assim como o prepúcio oculta a carne, para Ibn ‘Ezra o prepúcio do coração seriam os desejos mais mundanos, por assim dizer, que acabariam por ocultar coisas
mais sublimes, que estariam nas camadas mais internas do coração, figurativamente falando.
Para Ibn ‘Ezra, portanto, aquele que é circunciso de coração é o que é capaz de deixar de agir de forma egoísta, materialista, carnal, para focar nos ideais do Eterno.
O foco de Ibn ‘Ezra está no relacionamento do homem para com o Criador.

Já Rambam (Maimônides) foca na relação entre pessoas.
"Educação é outra virtude promovida pela Torah. O homem deve ouvir as palavras do seu próximo. Não deve ser obstinado, mas deve ceder ao desejo de seus companheiros,
responder ao seu apelo, agir conforme os seus desejos, e fazer o que eles querem.
Assim, a Torah ordena: “Circuncidai, pois, o prepúcio do vosso coração, e não mais endureçais a vossa cerviz.” [Dt. 10:16]; “Guarda silêncio e ouve” [Dt. 27:9] “Se quiserdes,
e obedecerdes.” [Is. 1:19] Aqueles que ouvem e aceitam tudo aquilo que é correto são representados pelo dito: “Ouviremos, e cumpriremos” [Dt. 5:24] ou, de forma figurativa:
“Leva-me tu; correremos após ti.” [Ct. 1:4]” (O Guia dos Perplexos - Parte III - Capítulo 3)
Para Rambam, é como se não houvesse diferença entre a relação do circunciso de coração para com o Criador e para com o próximo, pois isso é algo da natureza da
pessoa, e não do tipo de relação.
Um circunciso de coração é uma pessoa educada, e não obstinada. Em outras palavras, não é uma pessoa teimosa. Pessoas teimosas precisariam, portanto, circuncidar
os seus corações.
Rambam entende que a maneira que o Eterno usa para nos despertar para os Seus caminhos é através das palavras de pessoas que são tementes a Ele, e que compartilham a verdade para conosco.
Sendo assim, um circunciso de coração saberia reconhecer suas transgressões, falhas, e necessidade de melhoria através das palavras de outras pessoas, cuja vida também seja orientada pela Torah.
Rambam também enfatiza que o circunciso de coração é uma pessoa que sabe ouvir. Em sendo assim, pessoas que têm dificuldade de ouvir, ou querem falar mais do que ouvem, devem circuncidar seus corações.
Outro grande racionalista, Rav Bahya ibn Paquda, aponta ainda um terceiro foco:
"A humildade é adequada quando você encontra um homem piedoso e puro, temente a Elohim, instruído na Torah e diligente no seu serviço a Elohim. Assim, também, se alguém
te demonstrou bondade e favor, você tem a obrigação de reconhecer isso a ele. E quanto mais se a sua bondade é tão grande e significativa que você não tem possibilidade de
retribuí-la a ele. Semelhantemente, você deve deduzir por si mesmo o seu serviço ao Eterno , tal como é dito: “Se então o seu coração incircunciso se humilhar, e então tomarem por bem o castigo da sua iniquidade, também Eu me lembrarei da minha
aliança” [Lv. 26:41-42]" (Hovot Levavot - Shaar ‘Avodat haElohim)
Como visto, a humildade é fundamental para o ato de circuncidar o coração. 

Ibn Paquda então procura esclarecer de onde vem a humildade.
Para ele, a humildade é fruto do reconhecimento da bondade do Eterno. É perceber que temos, com Ele, uma dívida impagável.
Para Ibn Paquda, quando alguém nos dá alguma coisa muito boa, nossa tendência é reconhecer aquilo que foi feito para nós. Ou, pelo menos, esse deveria ser o curso normal de ação.
Se somos assim para com aqueles que nos dão boas dádivas, argumenta Ibn Paquda, quanto mais com o Criador, que nos deu a vida, e que é quem nos concede tudo aquilo que temos.
Ou seja, o foco deve ser em reconhecer Quem Ele é e o que Ele fez por nós, para que daí decorra a circuncisão de coração.
VII - Conclusão e Prática
A pergunta final do leitor, para a conclusão, certamente será: Como circuncidar o coração?
É difícil arriscar um roteiro para algo que é mais conceitual do que concreto.
Porém, o autor deste material se arriscaria a dizer que, se um roteiro for possível, ele
certamente não será muito diferente do abaixo apresentado:
1) Reconhecer quem Ele é e o que fez por você.
2) Entender que você tem com Ele uma dívida de gratidão.
3) Entender que, por Ele ser quem é, merece ser servido.
4) Reconhecer e entender os seus próprios desejos, sem tentar ocultá-los.
5) Abrir-se para ouvir a Torah e os ensinamentos do Criador.
6) Procurar ouvir mais do que falar, especialmente no que diz respeito ao seu comportamento pessoal.
7) Compreender que tais ensinamentos podem vir a partir de pessoas próximas a nós, com uma vida também pautada na Torah.
8) Comparar os seus próprios desígnios com os desígnios do Criador.
9) Sujeitar os seus desígnios aos do Criador, passando por cima de sua própria vontade.
10)Deixar de lado a teimosia.
11)Reconhecer e aceitar seus erros, com humildade de espírito.
12)Aceitar qualquer correção que venha do Criador para te alinhar à vontade dEle.
13)Arrepender-se perante Ele.
14)Buscar corrigir seus erros e se voltar para Ele, exclusivamente.
15)Procurar seguir a Sua vontade da melhor forma possível.
Ao seguirmos tais passos, ou ações relativamente semelhantes, certamente
poderemos dizer que temos circuncidado nossos corações.
Então estaremos livres para podermos amar o Eterno de todo nosso coração. Pois
o coração incircunciso não é capaz de amar de verdade.
Esforcemo-nos para sermos circuncisos de coração, e certamente contribuiremos
para ver o princípio da Gueulá (Redenção).


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sexta-feira, 14 de novembro de 2014

Os mistérios do Livro da Criação



Os mistérios do Livro da Criação



Coisas Judaicas                                               

“O sentido da revelação é concedido àqueles que têm a mente desarmada para o mistério” (Abraham Joshua Heschel)

Por Sheila Sacks

Talvez o mais antigo e misterioso de todos os textos do judaísmo místico, o Sêfer Ietsirá (O Livro da Criação), que trata das origens do mundo, tem sido estudado por teólogos, filósofos e historiadores ao longo de mais de dois mil anos. O rabino norte-americano Arieh Kaplan, falecido aos 48 anos, em 1983, foi um dos inúmeros eruditos que se debruçaram sobre esse pequeno texto (1.300 palavras, em sua versão curta) envolto em superstições e proibições, em razão das dificuldades que o mesmo apresenta para o seu entendimento. De forma generosa e até ousada, Kaplan, que antes de se dedicar aos estudos da teologia judaica trabalhou como físico para o governo dos Estados Unidos, se dispôs a realizar a difícil tarefa de tornar mais acessível aos leigos, através de suas pesquisas, análises e comentários, os ditos e as expressões contidos neste texto milenar.
Na apresentação da tradução brasileira, o maçom e estudioso da Cabalá (a dimensão mística do judaísmo), o paraense Erwin Von-Rommel Vianna Pamplona, alerta para a complexidade da obra. “Este não é um livro fácil”, escreve. “Necessita de pré-requisitos para ser aprendido.” O tradutor lista então certas condições indispensáveis ao leitor para o entendimento da obra: equilíbrio emocional, persistência, determinação, tranquilidade e merecimento, esse último item a ser atingido pela caridade e reza. Erwin também aconselha que a leitura do texto seja compartilhada por duas pessoas, porque “o praticante solitário pode, em dado momento, perder a noção do que é realidade e imaginação”.

À parte esses cuidados, Erwin Von-Rommel faz uma afirmação empolgante: assegura que para o neófito o livro se constituirá na porta de entrada para os mistérios do Universo. Dando como exemplo a sua própria experiência como estudioso da Cabalá (‘recebimento’, em hebraico), ele diz que comprovou, no campo material, o poder dos ensinamentos interpretados e analisados por Kaplan, que lançam maiores luzes no conteúdo desse texto obscuro com “fortes insinuações mágicas”.

Texto remonta ao patriarca Abraham

Os primeiros comentários conhecidos sobre o Sefer Ietsirá datam do século 10. À época, o rabino Saadia Gaon atribuiu a sua origem ao patriarca Abraham (Avraham), o primeiro hebreu da história. Nascido na Mesopotâmia no século 18 antes da Era Comum (atual Iraque), o patriarca viveu e morreu em Canaã (hoje Israel), sendo versado nos mistérios da astrologia e das letras hebraicas. Daquele início da trajetória do povo de Israel até os séculos seguintes, os ensinamentos teriam sido passados oralmente através das gerações. Entretanto, algumas fontes dizem que já havia comentários escritos sobre o Livro da Criação no período do Segundo Templo (516 a.E.C. a 70 E.C.). 

Um dos envolvidos nos mistérios do Sêfer Ietsirá seria Menhachem, o essênio, que profetizou que Herodes seria rei. Essa seita judaica monástica e ascética que vivia no deserto, em Qumran, a 32 quilômetros de Jerusalém (do século 2 a.E.C. até o século 1) e cujos rituais e práticas foram conhecidos com a descoberta dos rolos do Mar Morto, em 1947, mantinha um comportamento religioso ortodoxo e rigoroso no cumprimento das leis de Moisés. O historiador Flavio Josefo (século 1), em seu livro sobre as guerras judaicas contra os romanos, afirma que os essênios podiam predizer o futuro mediante diversas purificações e métodos dos profetas. Eles tinham desapego aos bens materiais e se empenhavam na busca da evolução espiritual. Menachem teria sido morto pelos soldados romanos no ano 4 a.E.C., segundo o historiador israelense Israel Knohl. Outra figura histórica que teria vivido na comunidade de Qumran seria Yochanan ha-Matbil - João, o Batista, que morreu em 25 da E.C. O teólogo alemão Otto Betz assinala que o pregador recebeu forte influência mística da seita, principalmente no tocante às orações e hinos.

Letras e números formam os caminhos

Mas, é no século 16 que surge a versão escrita do Sêfer Ietsirá mais aceita pelos cabalistas, devido ao refinamento do texto e por estar em concordância com o Sêfer ha-Zohar (O Livro do Esplendor) – a obra principal e mais sagrada da Cabalá. Finalizada pelo rabino Isaac Luria (1534-1572), em Jerusalém, o texto comporta 1.800 palavras. O interessante é que muitos estudiosos especulam que os ensinamentos originais seriam limitados a 240 palavras.

Segundo Kaplan, a obscuridade do texto impõe uma cuidadosa análise de cada palavra e sua correspondência na literatura bíblica (Torá/Pentateuco, Neviim/ Profetas e Ketuvim/Escritos) e talmúdica (de Talmud, do hebraico ‘aprendizado’, obra de compilação, comentários e interpretação das leis e tradições judaicas). Quando o Sêfer Ietsirá se inicia assinalando que “com 32 caminhos místicos de Sabedoria gravou Yah (o Eterno)”, esse número corresponde a soma das 22 letras do alfabeto hebraico com os 10 dígitos ou dez Sefirot – as fontes nas quais os números se originam.
Os cabalistas observam que esses 32 caminhos são aludidos na Torá (do hebraico ‘ensinamento’) no capítulo do Gênesis, quando 32 vezes aparece o nome de D’us no relato da Criação. Outro detalhe significativo: o número 32 é escrito em hebraico com as letras Lamed e Bet, que se lê Lev, a palavra hebraica para coração. Também a primeira letra do Gênesis é justamente Bet, da palabra Bereshit (No princípio), e a última letra do Torá é Lamed, de Israel, formando novamente a palavra coração. É importante ressaltar que a Torá é vista como o coração da Criação, sendo as letras entendidas tanto como responsáveis pelo começo do mundo – já que em cada ato da Criação está escrito “D’us disse“ – como também por sustentá-lo constantemente. Acerca da Torá, um dos muitos mestres do texto bíblico, o rabi Elazar ben Padat que chefiou a academia de Tiberíades, na Terra Santa, em 279 da E.C., defendia os poderes existentes no livro sagrado: “Os parágrafos da Torá não estão em ordem. Se estivessem na ordem correta, qualquer um que lesse seria capaz de ressuscitar os mortos e fazer milagres.” 

Segundo a tradição judaica os patriarcas através de suas visões proféticas transmitiam oralmente a Lei de D’us. Só mais tarde, Moshé (Moisés), o maior profeta e líder do povo hebreu, colocou parte dessa tradição por escrito na Torá. Mas o nível de interpretação mais secreto continuou sendo transmitido oralmente por Moshé para alguns iniciados, os nistarim (literalmente ‘os ocultos’).

Passado, presente e futuro juntos

Para Kaplan, se um indivíduo deseja obter uma experiência mística e aproximar-se da dimensão da Sabedoria (a Mente pura e indiferenciada), ele deve percorrer os 32 caminhos que os cabalistas antigos definem como “diferentes estados de consciência”. No livro “Universo Kabbalístico”, o inglês Z’ev bem Shimon Halevi, 79 anos, escritor e professor de Cabalá, ensina que as 10 Sefirot são ligadas por 22 caminhos-fluxo de letras que formam uma rede de subsistemas.
Essa busca pela Sabedoria é um anseio que persiste na alma humana indiferente ao progresso científico e tecnológico. O Talmud declara: “Quem é sábio? Aquele que percebe o futuro”. Kaplan explica que a Sabedoria é a força mental pura que transcende o tempo. “No nível da Sabedoria, o passado, o presente e o futuro ainda não foram separados. Portanto nesse nível, alguém pode ver o futuro exatamente como o passado e o presente.”
Ainda sobre a relação das Sefirot com o tempo, existe um dado interessante explicitado pelo cabalista Moisés ben Nachman, há 800 anos, no século 12. No livro “O Poder da Cabala”, o rabi Yehuda Berg, codiretor do “Kabbalah Centre” e autor de “Os 72 Nomes de D’us” (livro de exercícios de meditação), cita esse conceito de que existe um segredo cabalístico por trás da frase “Seis dias de Criação”, já que “um D’us todo-poderoso não necessitaria de qualquer quantidade de tempo para criar um Universo”. Os dias da Criação seriam as seis dimensões (sefirot) das 10 que precederam o nascimento de nosso Universo. Isso porque a Criação não tem nada a ver com o conceito de tempo conforme nós conhecemos. “Trata-se de um código para a união de seis dimensões do mundo superior em uma. As quatro que restam são as precursoras de nosso universo tridimensional (largura, comprimento e altura) e da quarta dimensão de espaço-tempo.” Assim, a realidade existiria em 10 dimensões, sendo que seis delas compactadas em uma.
Berg assinala que os nossos cinco sentidos nos impedem de ver ou experimentar a dimensão do tempo. ”São unicamente os limites de nossa consciência que nos impedem de perceber o ontem e o amanhã nesse exato momento.” Ele dá como exemplo um prédio de 30 pavimentos em que o observador esteja em um apartamento no 15º andar. Os andares abaixo, do 1 ao 14, representam o passado, o tempo que o trouxe até este momento. Os andares de 16 a 30 representam o futuro. Mas, o observador através dos seus cinco sentidos somente vê onde está, no 15º andar. Contudo, todos os andares existem - isto é, o passado, o presente e o futuro - como um todo unificado. E se ele for para fora do edifício e olhar de longe, poderá ver todos os 30 andares juntos.

Letras hebraicas como símbolos

Sobre a mística das letras hebraicas, o rabino Kaplan chama a atenção para os três aspectos que envolvem a interpretação das letras: 1 – a representação física, que é a maneira como elas são no texto; 2 - seu valor numérico (guematria), quando cada letra representa um número; 3 – a sonoridade da letra e o modo como é pronunciada. No primeiro aspecto, a forma física da letra no texto (sêfer) está vinculada ao espaço, visto que sua forma só pode ser definida no espaço, ou seja, no Universo. Sua utilização como número (sefar) implica em sequencia, que tem correspondência no tempo, ou Ano. Quanto ao som da letra, esse aspecto a remete à narração ou comunicação (sipur) e aplica-se à mente e à dimensão espiritual, ou  à Alma.

Um dos mais importantes eruditos judaicos, Iehuda Halevi, nascido em Toledo em 1075, afirma que as letras hebraicas não são meros sinais. Elas simbolizam com exatidão aquilo que designam. Em sua obra “Cuzari”, no capítulo sobre a santidade e a importância do idioma hebraico, ele assinala: “Não surpreende, portanto, que certas invocações ou amuletos feitos com estas letras sejam eficazes.”
Está escrito no Sêfer Ietsirá: “E criou Seu universo com três livros/com texto (Sêfer)/com número (Sefar)/e com comunicação (Sipur).”
Segundo Kaplan, essas três palavras (sêfer, sefar e sipur) definem a palavra sefirá (dimensão) e seu plural, sefirot. Na Cabalá, as 10 Sefirot são os conceitos básicos da existência, os canais pelos quais as emanações divinas fluem, e os meios através dos quais o homem se comunica com D’us. Todos os nomes das sefirot são derivados da Escritura: Kéter (Coroa), Chochmá (Sabedoria), Biná/Dáat  (Entendimento/Conhecimento), Chéssed (Amor), Guevurá (Força), Tiféret (Beleza), Nêtsach (Vitória), Hod (Esplendor), Iessód (Fundação) e Malchut (Realeza). Em sentido místico as sefirot se constituem em uma escada através da qual se pode ascender e se aproximar do Infinito.
De acordo com os comentaristas, o “princípio, a causa” é Kéter, e o “fim, o efeito” é Malchut, os pontos terminais das dimensões espirituais. Kéter também é identificado como “a Vontade”, a causa de todas as ações. Por estar mais perto de D’us, Kéter é chamada de “o Bem”. Já a sefirá Malchut, por ser a mais afastada e estar na direção oposta de D’us é dita como “o Mal”, com a ressalva de que o termo está associado aos estágios inferiores da Criação. A disposição completa das Sefirot é chamada de “A Árvore da Vida” e também está associada ao sonho de Yacoov (Jacob) – o terceiro e último patriarca hebreu, mais tarde chamado de Israel -  representado por uma longa escada apoiada na terra, cujo topo se estende céu adentro.

As bases para a meditação

Segundo Rambam – o médico e rabino Moisés Maimônedes (1135-1204), nascido em Córdoba e um dos mais reverenciados teólogos da história judaica – “todo o despertar de baixo motivo um despertar de cima”. Significa que quando se eleva mentalmente alguma coisa a sua essência espiritual, similarmente também se faz descer o sustento espiritual a esse objeto particular. Essa correspondência, para os cabalistas, pode gerar mudanças físicas no mundo. 

A respeito do mundo físico, a questão mais básica para muitos estudiosos se concentra na indagação: por que D’us criou um mundo físico? Qual o motivo da existência de um mundo físico, se D’us criou o universo pra dar o Bem a sua Criação e este Bem é puramente espiritual. Sabemos que o espaço físico só existe no mundo físico. No espiritual, não há o espaço na forma que conhecemos. Kaplan explica: “D’us criou o conceito de espaço. As coisas espirituais podem se ligar ao material do mesmo modo que a alma está ligada ao corpo. E o fato de o bem e o mal existirem no mesmo espaço físico também permite o bem superar ao mal neste mundo.”
Dessa forma, para influenciar alguma coisa no universo físico, deve-se fazer uso da forma física das letras hebraicas. Isso envolve técnicas de meditação que consistem em visualizar determinadas letras ou a combinação apropriada de letras, eliminando todos os outros pensamentos da mente. Por outro lado, para influenciar na dimensão espiritual, usa-se o som das letras ou de seus nomes.

Entretanto, o anseio de alcançar a Sabedoria (Chochmá), um estado puro de consciência não-verbal, esbarra na dificuldade de esvaziar a mente dos devaneios e reflexões que habitam normalmente os pensamentos das pessoas. As técnicas de meditação consistem em eliminar, por momentos – e através dos exercícios ir estendendo o tempo desses momentos – os pensamentos que habitam nossa mente, através da visualização ou repetição das letras hebraicas.

No Sefer Ietsirá está dito: “Ele as gravou (as 22 letras), esculpiu, permutou, pesou, transformou...”. Kaplan explica que cada letra representa um tipo diferente de informação e através das diversas manipulações das letras, D’us criou todas as coisas. Nota-se que as letras hebraicas têm três partes básicas: topo,centro e base. O topo e a base são feitas de linhas horizontais grossas, e o centro constituído de linhas verticais finas, como fossem lados de paredes a separar uma letra da outra. A meditação consiste em focalizar as letras hebraicas escolhidas, visualizando-as (gravando-as em sua mente), fazendo-as preencher toda a consciência, permutando-as ou manipulando-as através de seus valores numéricos e diferentes códigos. Escrever ou recitar as combinações das letras funcionaria como uma espécie de mantra para alcançar o estágio superior de consciência.

Essas técnicas, porém, funcionariam apenas como meios para limpar a mente de todo o pensamento. A experiência real das Sefirot só ocorre quando a pessoa se encontra em um estágio em que todos os processos pensantes estão silenciados e a mente se fecha a todo pensamento verbal e descritivo. Daí a recomendação do Sêfer Ietsirá: “Refreia tua boca de falar e teu coração de pensar.”

Os 231 portões da Criação

O Sêfer Ietsirá também faz uma conexão das 22 letras hebraicas com “231 Portões”. Segundo os cabalistas antigos, as letras que formam a palavra Yisrael (Israel) igualmente formam a palavra Yeshrla, que significa “existem 231”. É uma alusão de que a Criação teve lugar através de 231 portões. Outra constatação: o número 231 representa a quantidade de modos que duas letras diferentes do alfabeto hebraico podem ser conectar. Este também é o número de palavras de duas letras que podem ser formadas, sempre que a mesma letra não se repita e a ordem não seja considerada.

A meditação a respeito das conexões das 22 letras com os 231 portões é mostrada por Kaplan através da apresentação de vários quadros e tabelas em diferentes disposições das letras hebraicas e números formando sistemas de códigos, sequências e associações adotados por eruditos e cabalistas através dos séculos. Ele afirma que a utilização de Nomes Divinos também é efetiva na meditação, especialmente o Tetragrama, o nome mais elevado de D’us, que escrito com as letras hebraicas Yud, Hei, Vav e Hei unifica todas as Sefirot.  

Ainda sobre o Eterno, o Séfer Ietsirá declara: “Mestre único, D’us, Rei fiel”. Kaplan observa que ao descrever D’us, o livro não emprega a palavra Um (Echad, em hebraico), mas afirma que Ele é Único (Yachid), isto é, Ele é tão absolutamente único que não existe qualidade alguma que Lhe possa ser atribuída. “Embora não possamos dizer o que Deus é, pelo uso de atributos negativos nós podemos dizer o que Ele não é. Do mesmo modo, com atributos de ação, nós podemos falar o que D’us faz.” Em hebraico, a frase em questão se lê “El Melech Neeman” e as letras iniciais de cada uma das palavras formam o termo hebraico “Amen”, usado nas orações judaicas.

Enfim, o mistério do simbolismo está presente em todos os ensinamentos do Sêfer Ietsirá e Kaplan admite a complexidade em se entender suas expressões visto que todo o conceito do não-físico é de difícil compreensão para o ser humano. Um dos mais importantes teólogos judaicos do século 20, Abraham Joshua Heschel (1907-1972) dizia que a percepção da glória é uma ocorrência rara em nossas vidas. Isso porque, segundo ele, o homem falha em responder ao acontecimento do milagre. “Essa é a tragédia de toda a humanidade: ofuscar o milagre com a nossa indiferença. A vida é rotina, e a rotina é a resistência ao milagre” (do livro ‘Deus em Busca do Homem’). E de fato, recorrendo ao Zohar, a obra máxima da Cabalá (compilada e escrita pelo Rabi Shimon bar Yochai, no século 2), lá está dito: “Abram para mim uma abertura do tamanho do buraco de uma agulha, e Eu lhes abrirei os portões celestiais”.
Em 16.07.2012

segunda-feira, 10 de novembro de 2014

 Os Anussim e a Halakhá 1

Os Anussim e a Halakhá
Por Sha’ul Bentsion

I - Introdução
Este artigo é motivado por uma pergunta que chegou até o autor deste material: O 
que a halakhá diz sobre os Anussim? 

A pergunta veio acompanhada de outras: É verdade que, por que seus pais se converteram, eles deixaram de ser judeus? O que devem fazer? Devem buscar conversão? Entre outras tantas.

Muito tem sido dito sobre este tema Anussim. Contudo, qualquer coisa que seja dita, precisa ser comprovada. Quem afirma qualquer coisa tem, no mínimo, a incumbência de provar.

O autor deste material se sente à vontade para se aprofundar na questão, visto que é de família Ashkenazi, não tem nem deseja ter qualquer ganho pessoal ou retorno financeiro com a questão (algo que, aliás, a halakhá proíbe), e, portanto, não tem qualquer motivação pessoal, que não seja estritamente a observância da halakhá e o desejo de ver todos os judeus fazerem teshuvá. 

O autor também não gosta de, nem se envolve com, questões políticas, e portanto apresentará aqui a halakhá independente de quem se agradará ou se desagradará da verdade.

Para que não haja nenhuma dúvida, será aqui apresentada a halakhá a respeito do tema, tal qual codificada por Rambam (Maimônides).

Deve-se ressaltar que o que será apresentado aqui não é a opinião pessoal de Rambam, mas sim aquilo que ele condificou das decisões do Bet Din haGadol 
(Sanhedrin), isto é, da Suprema Corte Mosaica, sobre o tema. Isso é halakhá. Qualquer outra coisa é opinião pessoal, por mais que sejam pessoas proeminentes, não tem qualquer valor jurídico sobre Israel como um todo ou perante a Torá.

II - Deixa-se de ser judeu?
Mas, antes de adentrar a halakhá, é fundamental responder uma questão, citando Haz”al (os sábios, de abençoada memória): Um judeu perde sua identidade?
A resposta se encontra no Talmud Bavli:

 “Israel pecou. R. Aba ben Zavda disse: ‘Apesar de terem pecado, ainda são Israel.’ 
R. Aba disse: Assim o povo diz: ‘Uma murta, apesar de estar entre juncos, continua sendo uma murta, e assim é chamada.” (b. Sanhedrin 44a)

 © 2014 Kol haTorah - http://www.kol-hatorah.org - Proibida Reprodução sem Autorização Prévia Os Anussim e a Halakhá 2

Para bom entendedor, meia palavra basta. Um judeu jamais perde sua identidade. 
Mesmo se faz algo digno de um karet hanefesh, isto é, de ter sua alma cortada, se faz teshuvá (retorno) de seus maus caminhos, e se volta para a Torá.
Isso vale até mesmo para convertidos. Se ele se converteu, e depois deixou a fé judaica, é considerado um judeu desviado, e não um ex-judeu.

Sobre isso, a halakhá diz:

“Mesmo se depois [de se converter, o prosélito] adora falsas divindades, ele é como um 
judeu apóstata. Ao consagrar [uma esposa], sua consagração é válida, e é um mandamento devolver a ele seu objeto perdido. Pois uma vez que ele se imergiu, se tornou um israelita.” (Mishnê Torá - Sefer Qedushá - Issurê Biá 13:17b) 
Se isso é verdade acerca até mesmo dos convertidos, quem dirá de quem nasce judeu. 

                                             III - A Halakhá dos Anussim

Para não deixar nenhuma dúvida, a halakhá menciona especificamente os Anussim e seus descendentes. Isto é, os judeus que foram forçados a deixar sua religião, 
e os seus descendentes que cresceram criados de outra maneira. 

Afinal, Israel não teve que lidar com isso apenas na Inquisição. Muito pelo contrário, há milênios que o povo judeu sofre com esse tipo de situação, e o Sanhedrin já deixou instruções sobre como proceder. Assim sendo, não cabe a ninguém contestar.

“Quanto aos filhos desses que se desviaram e os filhos de seus filhos que foram dispersos pelos pais, tendo nascido em heresias, e educados em suas visões [religiosas]: 
São como bebês tomados cativos e criadas nas leis dos gentios. Seu status é de um Anuss [forçado], que, caso ouça posteriormente que ele é judeu, encontre judeus e os observe praticarem suas leis, ainda assim é considerado um Anuss [forçado], uma vez que foi criado no caminho errôneo dos seus pais. Isso se refere aos que foram levados [ao erro] por seus pais, e aos que se perderam.

Portanto, deve-se fazer esforço para trazê-los de volta em teshuvá, e aproximar-se deles por meio de relações amistosas, para que eles retornem à fonte fortalecedora, isto é, à Torá. E que nenhum homem se apresse em condená-los.” 
(Mishnê Torá - Sefer Shofetim - Hilkhot Mamrim 3:3b)

A halakhá não poderia ser mais clara. Os Anussim, e seus descendentes, são judeus. Não importa se por vinte gerações seus pais praticaram idolatria ou mantiveram 
preceitos de outras religiões.

Vale ressaltar ainda que desobedecer a uma halakhá da Corte Mosaica, e desencaminhar judeus legítimos (o que inclui prosélitos) da Torá são pecados graves. 
Especialmente se alguém sabe o que está fazendo e tem consciência da halakhá.

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A halakhá também deixa claro: “E que nenhum homem se apresse em condená-los." Lamentavelmente, nem todos têm dado ouvidos à halakhá. Nem por isso ela deixa de ser clara. 

Observe ainda que, se a pessoa fez teshuvá, não deve mais ser chamada de Anussim (forçado).

Quando muito, poderíamos dizer que se trata de um ex-Anuss (forçado). No entanto, apresentar alguém dizendo: “Esse é o Pedro, um ex-Anuss" faz tanto sentido quando dizer: “Esse é o André, um ex-idólatra”. O autor deste material considera que ainda é ofensivo.

Há apenas um rótulo que cabe aos que deixaram de ser forçados a outra religião, e adotaram sua judaicidade: judeus. E, se quiserem ser muito específicos: judeus sefaradim 
hispano-portugueses. Isso basta.

IV - Uma Nota Importante

É importante neste ponto esclarecer que a halakhá acima trata de pessoas que desejam regressar ao Judaísmo autêntico.

O autor deste material compreende que muitos Anussim se sintam tentados a frequentar comunidades híbridas de Judaísmo com Cristianismo, tal como grupos que se 
auto-denominam ‘Messiânicos’, entre outros.

O autor até se sensibiliza com a dificuldade psicológica e emocional de deixar para trás as crenças antigas, e entende que esses grupos acabem oferecendo uma falsa sensação de retorno, sem exigir um compromisso definitivo com a Torá e com o monoteísmo (o autor também passou por isso, conforme relatado no artigo “Minha História”)

Porém, é fundamental que os Anussim entendam que não deixam de ser Anussim (forçados), para se tornarem judeus que realizaram a plena teshuvá, se não deixarem 
para trás tais coisas, e regressarem à fé de seus antepassados.

Como o objetivo deste artigo não é ser um material anti-missionário (embora o autor tenha escrito alguns artigos nessa linha), limitar-se-á a apresentar a halakhá, que 
diz: “Os seguintes indivíduos não têm uma porção no mundo vindouro. Ao contrário, [suas almas] são cortadas e eles são julgados por sua grande iniquidade e pecados, para 
sempre: Os Minim… [hereges]

Cinco indivíduos são descritos como Minim [hereges]:

1) alguém que diz que não há Elohim nem governante do mundo;
2) alguém que aceita o conceito de um governante, mas mantém que existem dois ou mais.
3) alguém que aceita que existe um Mestre, mas mantém que Ele tem um corpo ou forma;
4) alguém que mantém que Ele não foi o Primeiro Ser ou Criador de toda a existência;

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Os Anussim e a Halakhá 4

5) alguém que serve a uma estrela, constelação ou outra entidade, de modo a serví-la como intermediário entre ele e o Eterno Senhor.

Cada um desses cinco indivíduos é um Min [herege]” (Mishneh Torah - Sefer haMadá` - 
Hilkhot Teshuvá 3:6-7)

Entenda, portanto, o leitor que não há como conciliar tais crenças com o Judaísmo. 
E isso é indiscutível e inegociável, pois a Torá diz:

"A ti te foi mostrado para que soubesses que ADONAY é Elohim; nenhum outro há senão Ele." (Devarim/Deuteronômio 4:35)

Sendo assim, é importante que o(a) Anuss(á) não tenha medo de investigar, fazer perguntas, e buscar a verdade, para que possa optar pela verdadeira fé de seus pais.

V - O Que Fazer?

Esclarecido isso, uma outra questão importante é: O que uma pessoa que é um 
Anuss (forçado) deve fazer?

A primeira coisa, é certificar-se de que tem ascendência por linhagem materna. 
Para o Judaísmo, assim como a filiação tribal é transmitida pelo pai, o status de cidadão de Israel, por deliberação do Sanhedrin, é transmitido pela mãe.
Isso pode ser visto em `Ezra (Esdras):

"Então Shekhanyah, filho de Yehi’el, um dos filhos de `Elam, tomou a palavra e disse a `Ezra: Nós temos transgredido contra o nosso Elohim, e casamos com mulheres estrangeiras dentre os povos da terra, mas, no tocante a isto, ainda há esperança para 
Israel. Agora, pois, façamos aliança com o nosso Elohim de que despediremos todas as mulheres, e os que delas são nascidos,conforme ao conselho do meu senhor, e dos que 
tremem ao mandado do nosso Elohim; e faça-se conforme a Torá." (‘Ezra 10:2-3)

Sendo assim, é necessário que haja alguma coisa por parte de mãe. Se não houver, é caso de conversão, o que é assunto para outro artigo.

Havendo algo, é preciso buscar o que em hebraico se chama de Hazaqá, que vem do termo Hazaq, que significa força. 

Isso significa que é preciso buscar alguma coisa que comprove sua origem. Isto pode ser feito de várias maneiras, e não é o objetivo deste artigo esgotar todas elas. 
Apresentarei aqui duas formas, apenas para título de ilustração.

Uma das formas pode ser através do testemunho de dois familiares. Pois um dos fundamentos da Torá é sempre depender de duas testemunhas para estabelecer a veracidade de um fato:

“Pela boca de duas testemunhas, ou pela boca de três testemunhas, se estabelecerá o fato." (Devarim/Deuteronômio 19:15)

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A halakhá traz essa questão com clareza quando fala sobre a linhagem de um kohen:

“O que significa um kohen cuja linhagem é estabelecida. Qualquer pessoa acerca de quem duas testemunhas testificam que ele é um kohen, filho de tal e tal, o kohen, e descendente de tal e tal, o kohen, estendendo até uma pessoa cuja linhagem não precise 
ser checada, isto é, um kohen que serviu no altar.” 
(Mishnê Torá - Sefer Qedushá - Issurê Biá 20:2)

Se duas testemunhas poderiam se apresentar e testificar sobre a linhagem de um homem, ao ponto dele ser aceito para servir no altar, quem dirá para ser aceito como um israelita comum.

Outra forma de se estabelecer o fato é através de alguma documentação ou testemunho genealógico que ligue a pessoa a famílias de Anussim, que se sabe que são 
de origem judaica. 

Se isso for feito, também é válido, pois a halakhá diz:
“Agimos sob a premissa de que todas as família são de linhagem aceitável e que é permitido se casar com seus descendentes como opção inicial e preferida.” 
(ibid - 19:17)

Existem outras formas, que podem ser analisadas caso a caso. O autor deste material reconhece que, dependendo do caso, isso pode ser complexo. Mas, entende 
que, com um pouco de esforço, tudo é possível, se a pessoa não desiste ao esbarrar na primeira dificuldade.

VI - O Exemplo dos Ashkenazim

Vale ressaltar ainda que essa dificuldade não é exclusiva dos descendentes da Inquisição.

Muitos Ashkenazim também têm dificuldades, pois muitas famílias vieram fugindo do holocausto sem documentos. Às vezes, apenas com a roupa do corpo. Já testemunhei inúmeros casos desse tipo.

O que fazem nessas circunstâncias? A mesmíssima coisa que os Anussim! 
Procuram registros dentre os mortos em campos de concentração, túmulos na Europa. ou traçam linhagem por meio de sobrenomes, ou até mesmo pelas cidades de origem. É claro que, por ser fato mais recente, é um pouco mais fácil obter tais 
informações, porém o processo é idêntico.

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VII - Palavra x Comprovação

Mas, o que fazer quando se tem a informação, mas se tem dificuldade de ajuntar provas?
Imagine o caso de uma pessoa que sabe que é judia, pois foi informada pelos avós maternos, porém não tem sobreviventes na família, desse lado. O que acontece nesse caso?

Pela halakhá, sua palavra basta, e deve ser aceita para fins de frequentar uma comunidade. A única restrição sendo se a pessoa, ou seus descendentes, optar(em) por se casar naquele meio:

“Quando uma pessoa chega e diz que ele era um estrangeiro, mas se converteu por um Bet Din, sua palavra é aceita. A boca que o proibiu foi a mesma que o permitiu. 
Quando isso se aplica? Na terra de Israel na era do Talmud, pois todas as pessoas podiam ser presumidas como sendo judias. Na Diáspora, contudo, ele deve trazer prova 
de conversão para posteriormente poder casar com uma israelita. Digo que essa é uma rigorosidade adicional adotada para proteger a pureza de nossa linhagem.” (ibid 13:10)
Se o único desejo da pessoa é frequentar um local, e ela já passou da idade de ter filhos, por exemplo, a informação basta. Não há necessidade de buscar comprovação, se não há casamento ou linhagem posterior.

Pela halakhá, não se deve exigir pedigree de qualquer pessoa à porta de uma sinagoga, visto que não se trata um judeu feito cachorro. No entanto, os Anussim devem também compreender que contribuem para tal situação quando procuram uma comunidade que não está bem preparada para lidar com a questão (geralmente comunidades Ashkenazim), e ele próprio se apresenta hesitante 
sobre sua judaicidade. É evidente que, se isso acontecer, ele passará por constrangimentos.

Por essa razão, é preciso buscar a certeza de sua própria judaicidade primeiro, para depois cobrar tal posição dos demais. O autor deste material, mesmo sendo de família Ashkenazi, cresceu afastado da comunidade judaica (vide “Minha História" no site 
do artigo). Mesmo assim, nunca precisou apresentar qualquer documentação para demonstrar ser judeu. Isso só ocorreu quando resolveu se preparar para se casar. 

VIII - Certificado de Retorno?

Uma coisa chama a atenção pela ausência. Em toda a halakhá sobre conversão e teshuvá, não existe uma vírgula sequer legitimando a prática de dar "certificado de retorno“ para Anussim. Tal coisa simplesmente não existe. Um judeu que retorna à Torá 
jamais precisa de documentação para tal coisa.

Mas, sempre que há uma situação complexa, surgem os aproveitadores. É portanto fundamental que se esclareça que tal documento tem validade legal nula perante 
a Torá, pois não é uma prática judaica de fato. 

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Os Anussim e a Halakhá 7

Uma pessoa que obtenha qualquer documento dessa natureza, na melhor das 
hipóteses, foi enganada e na realidade fez uma conversão com outro nome. Nesse caso, 
há de se questionar até mesmo se a conversão foi segundo a halakhá.
Na pior, perdeu tempo e dinheiro com um documento sem qualquer utilidade legal dentro do Judaísmo.

IX - A Postura de Quem Conhece
No geral, quem realmente conhece a halakhá e pesquisa a fundo a questão dos Anussim tem conhecimento e entendimento dos fatos, como, por exemplo, o rabino ashkenazi Aaron Soloveichik, que escreve:

 “Tomo a liberdade de escrever sobre o povo nas Américas que alega ser descendentes dos marranos [sic] na Espanha e em Portugal.
 Eles devem ser tratados como judeus plenos de todas as maneiras (contados para minyan, dados ‘aliyot, etc.)

 Somente quando um desses Anussim’deseja se casar com um judeu, ele ou ela deve passar por conversão plena." (Carta de 1o. de Nissan de 5754)
Vale ressaltar que Rav Soloveichik se refere aos casos em que há apenas alegação, sem uma comprovação.

Infelizmente, não é raro que pessoas preconceituosas respondam sem conhecer a halakhá. Ou que se achem no direito de mudar uma determinação do Sanhedrin.
Ninguém pode ir contra uma deliberação da Corte Mosaica (Sanhedrin), salvo em casos gravíssimos, se essa for contra a Torá. O que obviamente não é o caso aqui.
Não importa se quem está indo contra a halakhá é o fulano da esquina, ou é o grão-rabino da Lituânia. Sobre isso, vale ressaltar ainda as palavras de Rav Avraham Ben 
haRambam, filho de Maimônides:

“Não há que se crer em algo só por quem o disse" (Tratado sobre os Ditos dos Sábios)

X - Adendo: Mãos à Obra!

Isto posto, é importante também compreender que os Anussim devem se preocupar menos com serem aceitos, e mais com se fazerem aceitos.
Ou seja, devem parar de ficar batendo de sinagoga em sinagoga, e organizarem seus próprios grupos de estudo, suas próprias sinagogas, etc. Todas as comunidades judaicas sempre fizeram assim, historicamente.

Não é razoável achar que virá da comunidade Ashkenazi alguma espécie de "messias" que irá conduzir todos de volta a estruturas prontas. Além de ser irreal e fantasioso, também não é incumbência das comunidades Ashkenazim. 

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Os Anussim e a Halakhá 8

Até mesmo os judeus etíopes em Israel, ao fazerem `aliyá, montaram suas próprias comunidades, estabeleceram sua própria liderança, e não esperaram que outros o fizessem. 

Os próprios Ashkenazim quando vieram ao Brasil não procuraram comunidades sefaradim para aceitarem-nos, mas sim montaram suas próprias estruturas. 
Infelizmente, o brasileiro faz jus à fama de acomodado, e poucos estão dispostos a construir. A maioria quer apenas usufruir de estruturas prontas, e como pretexto para a 
inatividade, dizem nada saber. Ora, a halakhá não diz que uma comunidade deve ser exímia conhecedora do Judaísmo para se estabelecer! Isso se adquire com tempo e prática.

Sobre essa questão, o Hakham Mordekhai Lewi de Lopes, rabino que tem vasta experiência com o tema, diz:

 “…os anussim e os ex-anussim, isto é, aqueles que já regressaram abertamente às práticas do Judaísmo, com erros ou não, devem construir o seu próprio leque de opções, 
sem pedir permissão a outros grupos de judeus… isto é, formarem comunidades, 
fomentarem o crescimento socio-educacional-econômico entre os membros, erguerem esnogas, bethê medrách, etc., sem pedir licença a rabinos no Brasil ou Israel, que 
tampouco tem jurisdição alguma sobre os demais judeus do mundo. Na realidade, o rabinato de Israel só tem poder em Israel porque é imposto pelo Estado sobre a 
população, que simplesmente, queda sem saídas. E quem conhece, sabe que o tal rabinato é fonte de inumeráveis discórdias.

 Devem formar suas próprias instituições, escolherem seus mestres, formar novos mestres, seus tribunais (bathê din). Respeito se adquire, não pode ser comprado.
 Quem quiser ser membro de um clube, que filie-se aos clubes de futebol pelo pais. 
Querem uma sede social? Construam-na! Querem honrar vosso pais, tornem-se independentes e deixem de mendigar, e façam por onde terem respeito próprio. Rezar 
apenas não dá em nada, pois as tefilôth não são amuletos ou formulações mágicas. 
Judaísmo exige atitudes e estas atitudes, ou a falta delas, mostram quem é e quem não é israelita.”

Sábias palavras, que se resumem no seguinte: Mãos à obra, pessoal! 
Deve-se perder menos tempo preocupado com a aceitação do grupo X, Y ou Z 
(especialmente grupos racistas e hereges) e se preocupar com viver Judaísmo, e montar comunidades. Nem que comecem em suas próprias casas, com pessoas de sua vizinhança. Afinal, toda grande construção começa com um pequeno tijolo. 
Mas, se ninguém fizer nada porque supostamente seja difícil, árduo ou por falta de conhecimento, não haverá evolução. O desejo de servir ao Eterno e praticar a Torá 
devem sempre prevalecer!

Só assim os Anussim de hoje se transformarão nos 'judeus teshuvandos’ de amanhã, que o autor deste material acredita que terão um enorme papel na Gueulá 
(Redenção).

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XI - Conclusão

Sobre o tema, portanto, pode-se concluir que:
• Judeus não perdem sua identidade. Se estiverem vivendo em apostasia, devem fazer teshuvá, mas não precisam de nova conversão.

• Descendentes de judeus que se afastaram do Judaísmo, seja pela razão que for, continuam sendo judeus, desde que nascidos de ventre judeu.

• Os Anussim são judeus. 

• Deve haver esforço para aproximar os Anussim da Torá, e quem se posiciona contra 
eles desobedece uma halakhá do Sanhedrin, além de ser culpado pelo pecado gravíssimo de afastar judeus legítimos.

• Como existe deliberação da Corte Mosaica (halakhá), a opinião da pessoa X ou Y 
sobre o tema é irrelevante, pois somente a Corte Mosaica pode estabelecer jurisprudência para todo o povo judeu. 

• Os Anussim devem buscar confirmação (hazaqá) de que são nascidos de ventre judeu.
• A confirmação pode vir de várias maneiras. Inclusive, pelo testemunho de familiares, 
ou pelo fato da pessoa pertencer a famílias que se sabe, com certeza, serem de Anussim.

• A pessoa só precisa apresentar provas perante uma comunidade se pretende se casar.

• Não existe ‘Certificado de Retorno’. Tal documento ou é conversão disfarçada, ou não tem qualquer validade legal dentro do Judaísmo.
Tais informações vêm direto da halakhá, e portanto não cabe contestação. 
Somente uma outra Corte Mosaica (Sanhedrin), maior em conhecimento e importância que a anterior, poderia rever tal deliberação. 
Não é o autor quem traz tais informações, e sim Rambam (Maimônides) que, reconhecidamente, fez a única complicação completa da halakhá da Corte Mosaica de que se tem notícia até os dias atuais.
Os Anussim não devem, contudo, esperar que comunidades de judeus do Leste Europeu (Ashkenazim) venham ao seu socorro, ou estejam preparadas para lidar com a situação.
Devem montar suas próprias comunidades, mesmo que comecem pequeno e cresçam aos poucos. 

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Targum Rute Tradução de Samson H. Levey Capítulo 1. 1- Aconteceu nos dias do juiz de juízes que havia uma grande fome na terra de I...