segunda-feira, 25 de abril de 2011

Judaísmo e Bruxaria

Judaísmo e Bruxaria

by Rabbi Ahron Lopiansky
Entre D'us e o mundo de natureza esconde-se uma ponte "oculta". Atravessá-la é perigoso e um pequeno deslize significa cair no abismo da idolatria.

A maioria das crianças se impressiona com histórias de bruxas e diabos, como aparece nos filmes de Harry Potter e o Conde Voldemort. Já num mundo contrário a aquele, ou seja, racional, estas forças misteriosas adicionam um elemento de diversão e excitação e mexem com a imaginação. Eles permitem a uma criança sentir que existe um caminho para pelo qual podem ultrapassar um sistema impiedoso e insensível.

Nasceu pobre sem ser culpa sua? Não tem problema, uma maravilhosa fada virá até a porta da sua casa e lhe dará a fortuna que você tanto ansiava. Há alguém lhe atormentando impiedosamente? Um feitiço será lançado e ele se tornará um esquilo para o resto de sua vida.
Os filmes da Bruxa de Blair proporcionam aos adolescentes alguns momentos de excitação e medo, e uma leve sensação de que talvez realmente exista algo espreitando do lado de fora.

TRÊS ABORDAGENS GERAIS

Quando uma pessoa amadurece, três abordagens gerais em relação ao "oculto" e às forças externas começam a se manifestar.

Existem pessoas sérias, racionais que riem de tudo isso. Para elas o mundo é racional, determinado e qualquer outra coisa não faz sentido para elas.

Existe também, um segundo grupo de pessoas, que tendem a ser espirituais, artísticas, poéticas, etc. Estas sentem que o mundo tem uma dimensão espiritual, por isso, existem todos os tipos de forças e mistérios que a razão não pode compreender. Este é o mundo em que há a leitura da borra do café, cartas de tarô, bolas de cristal e previsões psíquicas.
Em seguida, existem pessoas profundamente religiosas, cuja visão de mundo é a de uma grande batalha entre as duas forças no mundo: a do bem e a do mal. O capitão da força do bem é D'us, ajudado por muitos anjos, santos, mártires, etc. O capitão da força do mal é o diabo, ajudado por demônios, espíritos e políticos maus. O mundo deles é ameaçado por gente como as pessoas más do livro de Harry Potter, devido a grande severidade com que é lidada a bruxaria na Bíblia.

NÃO JUDAICAS

Nenhuma destas três abordagens gerais estão de acordo com o Judaísmo. Qual é a perspectiva da Torá em relação à bruxaria?

A Torá tem uma opinião negativa em relação à bruxaria em seus variados formatos, como por exemplo:

"O feiticeiro não deve ter permissão para viver." (Êxodo 22:17)

" Quando entrares na terra que D'us lhe concedeu; não aprenderás a fazer conforme as abominações daqueles povos.Não se achará entre ti...nem adivinhador, nem agoureiro, nem feiticeiro...nem quem consulte os mortos. Pois todo aquele que faz tal coisa é abominação para D'us, e é por causa destas abominações que D'us está lhe dando sua terra." (Deuteronômio. 18:9-12)

Mas por que? Qual é o problema ?

A abordagem antagonista "diabo versus D'us" é um anátema para o Judaísmo por causa do dualismo que se encontra nela. D'us é Um, e só Um. Ele age de muitos modos diferentes, mas não existem "dois" exércitos no sentido completo da palavra.
O Judaísmo sim fala do "Satanás/diabo,"mas o vê como um agente de D'us, testando a sinceridade das ações do homem, a força de suas convicções, e a perseverança de sua fibra moral. Embora este "diabo" pareça atrair o homem para fazer o que é errado, ele não é uma criatura má. Mais do que isso, ele conduz uma "operação de picada"; atraindo para o lado ruim, mas na realidade trabalhando para D'us. Uma leitura superficial do início do livro de Jó transmite esta mensagem: D'us enviou "Satanás/diabo" para testar a retidão de Jó.

Da mesma forma que um dentista ou médico testa a firmeza de um dente ou osso sondando-os e da mesma forma também que o exército analisa a integridade e fidelidade de seus soldados testando-os, assim é que D'us faz com relação ao homem. Um teste revela o mérito interno das ações da pessoa, demonstrando realmente do que elas são feitas.
Então, se mágico e oculto existem, por que são tão maus?

MÁGICA BOA, MÁGICA MÁ

Nós também encontramos muitos tipos de "mágica boa" nas fontes talmúdicas, como bênçãos, amuletos etc. Então, como distinguimos entre estes dois tipos de forças espirituais?

A perspectiva mais usada é a de Nachmânides, um grande pensador. Tentaremos adaptar e explicar esta perspectiva.

Embora D'us seja o único criador do universo, Ele criou um sistema autônomo de "natureza" que serve como uma superfície intermediária entre D'us e o homem.
O sistema da natureza é auto-suficiente e tem suas leis e relações de causa e efeito. Então se uma pessoa utilizar este sistema sem recurso imediato de D'us, pode ser considerado como um tipo de ateísmo. É fácil pensar que o sistema se movimenta sozinho, independente de D'us. Gravidade, inércia, eletro-magnetismo, e etc, todos funcionam da mesma forma se a pessoa é um pecador ou um santo. Uma pessoa que acredita nos fenômenos de natureza sem se preocupar em si perguntar sobre sua causa, nem sendo sensível à manipulação de D'us nestes eventos naturais, é iludido pelo sistema a desacreditar em D'us.

Entre D'us e este mundo da natureza esconde-se uma ponte que chamamos "oculta" ou "quase-espiritual". Ela é capaz de mudar e desviar-se das regras da natureza, por milagres, mágicas, etc. Mas este mundo quase-espiritual, embora seja mais elevado do que o da natureza, não é o Divino. Tem suas regras e leis de operação e é talvez mais poderoso do que o mundo físico, mas certamente não é onipotente.
Então devemos usar este mundo do mesmo modo que usamos o mundo físico?
Segundo Nachmânides, de modo geral, D'us não deseja que nós façamos uso deste mundo. D'us quer que tomemos consciência Dele dentro do mundo natural, e através de Seus fenômenos. Alguém que subverte o sistema da natureza, usando constantemente o mundo sobrenatural, vai contra a vontade de D'us.

Em casos como estes, em que pessoas utilizaram estas forças sobrenaturais, elas sempre enfatizaram o fato de que os milagres gerados deste modo mostram a onipotência de D'us de superar os fenômenos naturais. Isto é semelhante (entretanto não é o mesmo que) os milagres que D'us mostrou a Israel no Egito com o objetivo de estabelecer verdades Divinas. Quando uma pessoa íntegra usa, por acaso, a intervenção Divina, ela se apóia nestas grandes verdades.

O PERIGO DE FAZER ERRADO

É neste momento que existe o perigo de fazer errado. Uma pessoa que percebe que as leis da natureza em relação a elas mesmas são insuficientes para explicar o mundo, ela penetra neste mundo mais espiritual e encontra uma mistura de todos os tipos de "seres espirituais." Se ele entender que estes são agentes de D'us, esta se torna uma experiência espiritual verdadeira. Mas, se ele entender de modo errado que estes seres são independentes de D'us, estará participando de uma adoração de ídolos! Estas forças, então se tornam uma fonte para o mal quando são vistas como um poder alternativo para D'us.

Talvez a melhor ilustração para esta dupla abordagem está no episódio da "serpente de cobre":

E as pessoas falaram mal de D'us e Moisés ... e D'us mandou entre o povo serpentes abrasadoras, que mordiam o povo e morreram muitos do povo de Israel. E disso D'us a Moshé faça uma serpente abrasadora (de cobre), põe-na sobre uma haste: e será que todo mordido que a olhar, viverá. Então Moisés fez uma serpente de cobre e a pôs sobre uma haste; sendo alguém mordido por alguma serpente, se olhava para a de cobre, sarava.. (Números 21:4-9)
A Mishná (Rosh Hashaná 29a) faz uma abordagem:
A serpente curou ou matou? Mais propriamente, quando Israel olhou ao céu e dedicou seus corações ao seu Pai Divino [eles eram curados], e quando não, eles se enfraqueciam.
Aqui temos ambas as facetas do sobrenatural: primeiramente, a natureza milagrosa da serpente fez com que as pessoas percebessem que a praga foi mandada por D'us, ou seja, Ele a criou, e então trabalharam para se melhorar. Desta forma, foi uma experiência espiritual positiva.

Mas, mais tarde as coisas se desintegraram e ao invés da serpente ser uma forma de reconhecimento a D'us, se tornou uma serpente curativa independente do poder de D'us. E isto era idolatria. Por essa razão, centenas de anos mais tarde, o Rei Hezekiah destruiu esta serpente de cobre, pois as pessoas a tinham transformado em ídolo!

ENTENDENDO A ADORAÇÃO DE ÍDOLOS

A adoração de ídolos é a percepção de que existem muitas forças com variados poderes sobre a humanidade e talvez até acima de D'us. O idólatra acha que pode usar estes "poderes" contra D'us se souber como arrancá-los para longe de D'us.

É como se o poder do D'us fosse investido numa arma de fogo que Ele segura em Sua mão. O idólatra acha que se arrancar esta arma de fogo de D'us, poderia, então controlar, ter todo o poder. Ele compara os feitiços da bruxaria com a habilidade de dominar D'us.
O exemplo principal deste tipo de pensamento é o do profeta do mal Bilam, que é chamado de feiticeiro pela Torá. Ele era uma pessoa com muito conhecimento nesta área do universo. Sempre conspirava em usar o mundo mágico contra D'us. Pensava que entendia a mente de D'us e que com uma poderosa manipulação, poderia ser mais esperto do que Ele!
De certo modo, esta é a pior forma de idolatria possível. Por um lado, a pessoa está ciente de algo "real." Não é um estranho que olha para uma pedra que uma mente primitiva fantasiou num d'us. Mais do que isso, é um poder que trabalha. Mas, mesmo assim é totalmente falso, porque nada é independente de D'us.

Para nós, o teste de "espiritualidade" é a moralidade. Qualquer forma de "espiritualidade" que não faz nenhuma demanda moral ao ser humano, não busca trazê-lo mais íntimo de D'us e não destaca o potencial Divino de homem, é espiritualidade falsa ou mal.
Se uma pessoa prática "rituais ocultos" e o conteúdo deles é um murmurar de palavras estranhas, fantasias estranhas, ou rituais estranhos, é, ou falso ou mal. Normalmente é falso, mas nos casos em que ele mexe com estes poderes, é mal, pois separou estes poderes de D'us.

Os grandes rabinos que executaram atos sobrenaturais, tinham o objetivo de trazer para casa uma mensagem sobre D'us. Eles ordenaram as pessoas a reconhecerem o Criador, desenvolverem seu caráter, serem bons com o próximo, serem honrados e féis, etc. Colocados num contexto maior de D'us, Torá e moralidade, estes milagres incomuns foram realmente revelações Divinas.

domingo, 24 de abril de 2011

A razão da queda dos dois templos sagrados


LEIS E TRADIÇÕES
A razão da queda dos dois Templos Sagrados

Tisha B'Av, o nono dia do mês judaico de Menachem Av, é um dia de luto nacional para o Povo Judeu porque nesta data foram destruídos o Primeiro e o Segundo Templo.
Com exceção de Yom Kipur, Tisha B'Av é a única data do nosso calendário na qual somos obrigados a jejuar durante mais de 24 horas. Mas, enquanto Yom Kipur é um dos dias mais felizes do ano, um dia de Perdão e Clemência Divina, Tisha B'Av é o dia mais triste do calendário judaico. É a culminação de um período de três semanas de luto nacional que se inicia em 17 de Tamuz - um dia de jejum que começa antes do amanhecer e termina após o pôr-do-sol.
Foi no dia 9 de Menachem Av que o Primeiro e o Segundo Templo Sagrado de Jerusalém foram destruídos. Construído pelo Rei Salomão, filho e herdeiro do Rei David, o primeiro Beit Hamicdash foi destruído em 422 antes da Era comum pelos exércitos de Nabucodonosor, rei da Babilônia.
O segundo, erguido sob a liderança de Ezra após a volta dos judeus de um exílio de 70 anos, na Babilônia, foi destruído 490 anos após o Primeiro Templo pelas legiões romanas que exilaram os judeus da Terra de Israel.
Jejuamos e lamentamos em Tishá B'Av a destruição do Templo Sagrado por ser esta a causa primordial do sofrimento do Povo Judeu. As conseqüências foram dramáticas: exilado da Terra de Israel, nosso povo se dispersou pelos quatro cantos do mundo, permanecendo durante dois mil anos à mercê de outras nações. Foram dois milênios de perseguição, discriminação, expulsões, pogroms e mortes que culminaram na Shoá.
A destruição do Templo Sagrado, Morada de D'us na Terra, teve sérias conseqüências e continua tendo, não só para o Povo Judeu, mas para a humanidade como um todo. Poucos sabem que o Templo não era apenas o local mais sagrado da cidade mais sagrada da Terra, mas, em termos espirituais, era o escudo protetor do mundo, pois os serviços lá realizados expiavam não somente os pecados dos Filhos de Israel, mas também os de toda a humanidade. Desde a destruição do Templo, os homens perderam uma grande fonte de proteção.
Nossos Sábios ensinam que nas gerações em que o Templo não for reconstruído é como se o mesmo tivesse sido novamente destruído. Isto significa que continuam sendo cometidos os mesmos pecados e erros que causaram a queda do Primeiro e Segundo Templo. Somente quando aprendermos com estes erros, quando deixarmos de cometê-los, o Terceiro Templo será construído, estabelecendo na Terra a utopia com a qual o homem sempre sonhou.
Por que o Primeiro Templo caiu
No Talmud, no Tratado de Yoma, está escrito que o Primeiro Templo foi destruído porque na época os judeus cometiam três pecados capitais: idolatria, imoralidade (adultério e incesto) e assassinato. Mas, ainda no Talmud, o Tratado de Nedarim aponta para outra razão. Está escrito que o Primeiro Templo caiu porque antes de estudar a Torá os judeus não recitavam a bênção apropriada.
Idolatria, imoralidade e assassinato - pecados tão graves que um judeu não pode cometê-los nem para salvar sua vida - podem até justificar a destruição do Templo e o exílio do nosso povo da Terra de Israel. Mas o fato de não recitar uma bênção antes de estudar Torá parece ser uma infração técnica, algo que não poderia ter conseqüências tão catastróficas. No entanto, explicam nossos Sábios que o fato de os judeus cometerem pecados cardeais tão graves, que levaram à destruição do Primeiro Templo, está ligado à forma como se relacionavam com a Torá.
Pergunta o Maharal de Praga, grande cabalista famoso por ter construído o Golem: "Por que a Terra está-se perdendo? A resposta dada por ele é que a Torá foi abandonada. E o que significa abandonar a Torá? Significa não a bendizer". Pois, abençoar a Torá antes de estudá-la - declarando "Santificado és Tu, o Eterno,.... que nos deste a Tua Torá" - é reconhecer que esta pode ser uma dádiva, mas que a Torá ainda pertence a D'us, não a nós. Por outro lado, não recitar a bênção antes de estudá-la, significa removê-la da esfera da santidade. É tratar a Torá, que é a Vontade e a Sabedoria Divina, como qualquer outra obra literária, estudando-a como se fosse matéria da história ou do direito. É transformar o sagrado em profano - e esta é a própria definição de sacrilégio. É ofender tanto à própria Torá como Àquele que a outorgou ao Povo Judeu.
Apesar de D'us estar disposto a relevar muitos dos erros e pecados que cometemos, a omissão em relação à bênção da Torá é algo que Ele não pode ignorar. Fica mais fácil entender a gravidade disso através de uma simples analogia: se alguém se machucar, a dor é transmitida ao cérebro. Mas a ferida mais perigosa é aquela que atinge diretamente o cérebro. Diminuir a santidade da Torá é atingir o âmago do judaísmo, pois esta é como um fio de alta tensão que conecta o homem finito com o Criador Infinito. Se alguém decidir brincar com esse fio de alta tensão - ao interpretar a Torá da forma que lhe convém, mudando ou revogando suas leis, ou a explorando em benefício próprio - corre o risco de ferir sua alma. Ao tratar a Torá como se fosse uma obra humana e não Divina, rompe a ligação desse fio espiritual com sua Fonte. Quando isso acontece, escreve o Maharal de Praga, a Torá trazida por Moshé dos Céus à Terra perde a sua permanência. Deixa de ser a Árvore da Vida e passa a ser uma árvore cortada de sua Raiz, e, inexoravelmente, definhará e acabará por morrer. Isso foi o que levou o povo a cometer pecados tão graves, na época do Primeiro Templo.
Na realidade, os três pecados cometidos foram a matriz de todas as transgressões. A idolatria representa todos os pecados contra D'us; a imoralidade sintetiza todos os que são cometidos por causa de desejos imorais e egoístas; e o assassinato simboliza toda a maldade que o homem comete contra outros seres humanos. Em muitos casos, tais pecados são cometidos quando os homens abandonam a Palavra de D'us, desconectando-se Dele.
Ao ser arrancada de sua Raiz, a Torá se torna apenas mais um código de leis, que pode ser mudado ou até descartado. Não surpreende, portanto, que justamente na época em que os judeus não costumavam bendizer a Torá, a idolatria se tenha disseminado. Ambos os fenômenos são meios pelos quais o homem remove de si o jugo Celestial. Como ressalta o Talmud, os judeus jamais praticaram a idolatria por serem tolos o suficiente para acreditarem em seu poder. Muito pelo contrário: as pessoas adoravam estátuas, estrelas e um bezerro de ouro por serem objetos inanimados, sem poder algum, que nada proíbem ou exigem, e que não punem. Por outro lado, ao nos transmitir Sua Vontade através da Torá, D'us nos deu uma longa lista do que devemos e do que não podemos fazer, e Ele está sempre atento às nossas ações e omissões.
É de extrema importância ressaltar que ofender a Torá não é uma questão de observância religiosa, mas sim de como cada um de nós se relaciona com a Vontade Divina. Aquele que a honra, a considera sagrada, a Palavra de D'us, mesmo que ele próprio não viva sempre de acordo com suas leis ou seu espírito. Tal pessoa vive em um universo centrado no Todo Poderoso. O problema surge quando o indivíduo se coloca no centro do universo e acredita que a Torá deve adaptar-se a ele. Quando isso acontece, a pessoa abandona a Torá de D'us e a transforma em sua própria Torá. E quanto mais a pessoa segue este caminho, maior dano espiritual causa. As conseqüências, como na época da queda do Primeiro Templo, são pecados contra D'us e contra o homem.
Por que caiu o Segundo Templo
Uma das conseqüências da destruição do Primeiro Templo foi o exílio babilônico, que durou 70 anos. Foi um exílio extremamente curto, como um piscar de olhos, quando comparado ao de 2.000 anos iniciado após a queda do Segundo Templo. Mas, por que o Segundo Templo foi destruído? E por que o segundo exílio foi desproporcionalmente mais longo e mais difícil do que o primeiro? O Talmud nos responde: durante a época do Segundo Templo, apesar de serem judeus observantes, os judeus odiavam uns aos outros. Estudavam a Torá da maneira correta, seguiam suas leis e até faziam atos de bondade e caridade. Mas se odiavam e difamavam uns aos outros, nutriam ressentimentos e se alegravam com a desgraça alheia. Nossos Sábios, então, concluem: se a extensão do exílio é uma medida para avaliar a gravidade de um pecado, o ódio entre judeus é pior do que ofender a Torá e cometer os três pecados cardeais.
De fato, Maimônides escreve que a Torá foi dada para estabelecer a paz no mundo. Seu propósito é aproximar os judeus de D'us e, também, uns dos outros. É verdade que quando alguém - por rancor ou indiferença, e não por falta de conhecimento - deixa de abençoar a Torá, ele a ofende. Mas quando um judeu odeia outro judeu, seu ato é muito pior: ele nega a Torá, pois invalida seus objetivos. Além do mais, o ódio entre judeus é uma afronta à Unidade d'Aquele que nos deu a Torá. É verdade que sabemos muito pouco sobre D'us, mas sabemos que Ele é absolutamente Um. Quando nós, Seu Povo, estamos unidos, refletimos a Sua Unidade.
Rashi, o clássico comentarista da Torá, escreve que quando esta foi dada no Monte Sinai, os judeus estavam tão unidos quanto um homem com um único coração. Foi esta unidade que os tornou merecedores da Revelação de D'us e da outorga de Sua Palavra. O maior momento da história judaica aconteceu quando o povo estava unido. Não surpreende, pois, que o pior acontecimento da epopéia judaica - o dia de Tishá B'Av, no qual o Segundo Templo foi destruído, levando os judeus ao seu mais longo exílio - tenha ocorrido quando prevaleciam as lutas internas e a desunião entre nós.
Unidade no seio de nosso povo, não significa que todos devamos concordar sobre todo e qualquer assunto. Significa, porém, que jamais devemos deixar de nos ver como parte de um organismo único. Quando judeus odeiam judeus - quando se ressentem, caluniam e se rejeitam, uns aos outros - estão prejudicando mais o Povo Judeu do que o conseguiriam os nossos inimigos. Não há guerra mais cruel e devastadora do que a guerra fratricida, travada entre irmãos. Uma analogia pode ajudar a entender este princípio: doenças do sistema auto-imune são as mais terríveis e em muitos casos letais. Ocorrem quando o organismo deixa de se reconhecer como uma unidade e passa a considerar certas partes dele mesmo como elementos estranhos, indesejáveis. Reage como se estivesse diante de invasores, tentando expulsá-los. No caso de certas doenças, o resultado é fatal.
Essa analogia explica a razão para a destruição do Segundo Templo e para os 2.000 anos de exílio. Quando os judeus se voltam uns contra os outros - quando tratam outros judeus como indesejáveis - estão agindo como a doença auto-imune, inconscientes de que estão atacando não um corpo estranho, mas a si mesmos.Portanto, ainda que seja inegável que há diferenças importantes e, às vezes, dolorosas entre os diferentes grupos que integram o Povo Judeu, jamais podemos esquecer que somos todos partes de um mesmo organismo. Um indivíduo pode estar insatisfeito com algumas correntes judaicas - pode desaprovar seus costumes, visão política ou grau de observância religiosa - mas ninguém pode negar que todos fazemos parte do mesmo povo e que, apesar das discordâncias e dos argumentos, são "meu osso e minha carne" (Gênese 29:14). Como nos ensina o misticismo judaico, o Povo Judeu faz parte de uma única alma cujas faíscas encarnam em corpos diferentes.

O Terceiro Templo de Jerusalém será mais grandioso que os dois primeiros. Ele poderia e deveria ter sido construído há muitos e muitos anos. Se ainda não foi - se nós ainda jejuamos e nos lamentamos em Tishá B'Av - é porque ainda não retificamos totalmente os pecados que levaram à queda dos dois Templos.
O Zohar, obra fundamental da Cabalá, fala do triângulo espiritual que une D'us, Sua Torá e Seu Povo. O Rebe de Lubavitch, que dedicou sua vida para acabar com o exílio do Povo Judeu, ensinou que se encontrarmos um judeu que ama a D'us, mas que não tem amor pelo seu povo e pela Torá, devemos dizer-lhe que seu amor não perdurará. No entanto, se encontrarmos um judeu que ama seu povo, mas que não tem amor por D'us e pela Torá, devemos trabalhar com ele para alimentar seu amor por seu povo até que este transborde em direção aos outros dois, até que os três amores se unam em um único nó forte que jamais há de se romper.
Quando nós nos unirmos, como indivíduos e como povo, e nos aproximarmos de D'us e de Sua Torá, teremos finalmente retificado os erros das gerações que nos precederam. Quando isso acontecer, todos os judeus retornarão a Israel e o Terceiro Templo será construído. Como todos os nós do triângulo que unem D'us, Sua Torá e Seu Povo jamais serão rompidos, não haverá outro exílio e o Terceiro Templo perdurará para sempre. Este servirá como proteção e bênção para toda a humanidade, e a santidade da Terra de Israel se espalhará e cobrirá todos os cantos da Terra.

Pessach na visão astral judaica

Pessach na visão astral judaica
por Rabino Avraham Cohen


O Sefer Yetzirá, Livro da Formação, considerado o mais antigo livro da Cabalá, tem sua autoria atribuída ao nosso primeiro patriarca, Avraham Avinu. Essa obra revela os segredos da Criação e, entre outros ensinamentos místicos, o mistério da Astrologia segundo o judaísmo.


O Sefer Yetzirá ensina que D'us canaliza para o mundo energia e vitalidade Divina através dos corpos celestiais.

De acordo com o mesmo, cada um dos doze meses do calendário judaico corresponde a um signo do zodíaco, uma cor, uma letra do alfabeto hebraico, um dos cinco sentidos, um órgão ou membro do corpo e uma das Doze Tribos de Israel. Na astrologia judaica, o mês em que a pessoa nasce exerce influência sobre sua personalidade. Seu signo indica o tipo de energia que ela poderá desenvolver e a fraqueza que deverá superar ao longo da vida. Em outras palavras, o judaísmo sustenta que a personalidade do ser humano é influenciada por seu signo.

Na Astronomia, chama-se de zodíaco o conjunto de constelações ao longo da elíptica - o caminho aparente percorrido pelo sol durante o ano. Como os planos das órbitas dos planetas em torno do Sol são quase coincidentes, além do astro-rei os planetas também são encontrados no zodíaco. Daí a importância desse conjunto de constelações.

Tradicionalmente, há doze constelações no zodíaco: Áries (Carneiro), Taurus (Touro), Gemini (Gêmeos), Câncer (Caranguejo); Leo (Leão); Virgo (Virgem); Libra (Balança); Scorpius (Escorpião); Sagittarius (Sagitário, o arqueiro); Capricornius (Capricórnio, a cabra do mar), Aquarius (Aquário, o carregador de água), Pisces (Peixes). Na Astrologia, o zodíaco é constituído pelos signos que dividem a elíptica em 12 zonas - correspondentes às 12 constelações tradicionais, todas elas com a mesma longitude celestial. Uma ressalva: a partir de 1930, quando a União Astronômica Internacional padronizou as constelações, passou-se a incluir no zodíaco uma 13a constelação, a Ophiuchus (o Serpentário).

De acordo com o Sefer Yetzirá, os 12 filhos de Jacob, que se tornaram as Doze Tribos de Israel, representam as 12 diferentes raízes de alma das quais descendem o Povo Judeu. Estas correspondem aos 12 signos tradicionais do zodíaco e aos 12 meses do calendário judaico. No que tange à existência de uma 13ª constelação no zodíaco, é interessante notar que uma das Doze tribos de Israel, a de Yossef, foi dividida em duas tribos - Menashé e Efraim; portanto, há 12 tribos de Israel, que, na realidade, são 13. Ao mesmo tempo, o calendário judaico é tradicionalmente composto por 12 meses; porém, em anos bissextos, há um 13º mês - Adar II. É provável que a divisão da tribo de Yossef, dando origem a uma 13ª tribo, e a adição de um 13o mês em anos bissextos, correspondam à 13ª constelação, Ophiuchus, adicionada ao zodíaco no século 20. Interessantemente, Ophiuchus, segue o signo de Peixes, que corresponde ao mês de Adar. Isto dá a entender que a 13ª constelação corresponde ao mês que segue Adar, a dizer, Adar II, pois não poderia ser Nissan, que é a primeira constelação (Áries). No calendário judaico, Nissan corresponde ao primeiro mês do ano.

Cada um dos 12 meses judaicos está relacionado a uma das 12 letras dentre as 22 que constituem o alfabeto hebraico. Correspondem, também, às 12 características da alma, como a visão, a fala, o pensamento, entre outros, e a um órgão do corpo humano. É importante ressaltar que a ordem desses corpos celestes está relacionada aos sete dias da semana. Em certos idiomas, essa conotação se faz evidente pelos próprios nomes atribuídos aos dias da semana. Na língua inglesa, por exemplo, Sunday significa, o dia do sol; Monday, o dia da lua; Saturday, o dia Saturno, e assim por diante. Em espanhol, essa relação é ainda mais evidente. Além do mais, cada mês judaico está ligado a um dos quatro elementos básicos - terra, fogo, ar e água. Finalmente, cada um dos 12 meses está relacionado a uma combinação específica das quatro letras que formam o impronunciável Nome Divino, o Tetragrama.

Analisaremos, a seguir, à luz do zodíaco, os três primeiros meses do calendário judaico: Nissan - signo de Áries, Iyar - signo de Touro, e Sivan - signo de Gêmeos. Estes três meses estão ligados, mais do que todos os outros, ao nascimento e à formação do Povo Judeu. Porém, antes de procedermos, é extremamente importante esclarecer o papel do zodíaco no judaísmo. O signo é apenas um instrumento utilizado pelo Criador para dirigir o mundo. O signo em si não tem qualquer poder independente. Além disso, o Povo Judeu, em virtude de ter recebido a Torá, alcançou um nível espiritual acima do zodíaco. Os signos são apenas canais através dos quais as forças espirituais vêm a terra. Quanto mais contato alguém tem com D'us e Sua Torá, isto é, com a dimensão espiritual do universo, menos suscetível essa pessoa será à influência das forças astrológicas.

O zodíaco é estudado no judaísmo para se adquirir autoconhecimento: para descobrir talentos e habilidades inatas e para ajudar a identificar a missão da pessoa no mundo. É expressamente proibido utilizar o zodíaco para tentar prever o futuro. Além de proibida, tal atividade costuma ser fútil, pois o ser humano sempre pode melhorar seu destino através da oração e da prática de boas ações, principalmente da generosidade aos outros. Quanto mais aperfeiçoamos nossa conduta e nos ligamos a D'us, mais Ele muda o curso natural dos eventos de forma a nos beneficiar. Portanto, a pessoa que verdadeiramente busca D'us e tem fascínio pelo misticismo deve saber que a Torá torna supérfluas e errôneas as previsões astrológicas. O estudo da Torá, principalmente de sua dimensão oculta, é infinitivamente mais poderoso e benéfico do que a tentativa de se prever o futuro ou tentar, quiçá, manipulá-lo através do estudo da Astrologia.

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