Judeus na China
Ninguém sabe ao certo quando os chineses tiveram o primeiro contato com os judeus. Certos historiadores afirmam que, a partir do século VIII, os mercadores judeus que viajavam pelo mundo chegaram "A China", nação mercantilista por excelência.
Documentos datados de 717 atestam o estabelecimento no império chinês, de comerciantes judeus vindos do Oriente Médio. Uma carta
escrita por volta do ano 718, por um mercador interessado em vender algumas ovelhas, e descoberta na região ocidental da China, há cerca de um século, é um dos inúmeros sinais que, segundo estudiosos, comprovam a centenária presença judaica no país. A carta, escrita em judeu-persa com letras hebraicas, em um tipo de papel produzido até então apenas pelos chineses, utiliza uma linguagem comercial comum na Ásia Central, no período. Posteriormente, foi encontrado nas Cavernas de Mil Budas, em Dunhuang, um outro documento em hebraico: uma das selichot.
Circulam várias histórias sobre a vida dos judeus na China. Uma delas conta que em 880, um judeu chamado Eldad HaDani, foi capturado por bandidos e levado à China, onde foi libertado por um comerciante de origem judaica. Este episódio é mencionado por Rashi e por Hasdai ibn Shaprut. Outra referência à presença judaica foi encontrada em meio a documentos do diretor-geral dos Correios de Bagdá, Ibn Khurdadbih, na qual mencionava mercadores judeus conhecidos como Radanitas, que viajavam pelas regiões da Espanha, França e China. No século X, o cronista muçulmano Abu Kaid a-Sirafi escreveu sobre a captura da cidade de Khanfhu (provavelmente Guang-chu, ou Cantão), nos anos 877 e 878, mencionando o massacre de muçulmanos, cristãos e mercadores judeus na região.
Há também relatos de encontros de viajantes cristãos com judeus no final do século XII. Outro relato foi feito por Marco Polo em seus diários de viagem, em 1286, afirmando ter encontrado judeus em Khanbalik (Pequim), durante sua visita à corte do rei Kubilai Khan. Pouco depois, o missionário franciscano John de Montecorvino reafirmava em suas cartas, a presença judaica no país e, em 1326, o missionário Andrew de Perugia escrevia dizendo que os judeus de Guang-chu recusavam-se obstinadamente a abrir mão de sua fé e aceitar o batismo. Em 1342, John de Marignoli contou, em correspondência, ter participado de “gloriosas disputas” intelectuais em Pequim com muçulmanos e judeus. O viajante muçulmano Ibn Battuta também falou sobre a presença judaica na China, quando chegou na cidade de Hangzhou, em 1346. Segundo narra, ele e seu grupo entraram na cidade através de um portão chamado “Portão dos judeus”, enfatizando que ali viviam “muitos judeus, cristãos e turcos, adoradores do sol”.
Novas evidências da vida judaica na China apareceram posteriormente, em meados do século XVI, mais uma vez na troca de correspondência entre missioná-rios, entre os quais Francisco Xavier, posteriormente canonizado pelo trabalho que realizou no Extremo Oriente. O viajante português Galleato Pereira, ao escrever sobre o tempo em que ficou preso na China, entre 1549 e 1561, afirmou que nos tribunais chineses gentios e judeus faziam os juramentos cada um em sua própria fé.
A vida dos judeus em territórios chineses pode ser considerada tranqüila, pois não há registro de perseguições pelas autoridades, fato que teria levado à assimilação. Dizem os estudiosos que esta situação deve-se ao fato de que a filosofia confucionista, vigente na China desde o século V a.E.C., não perseguia os seguidores de outras religiões.
A comunidade judaica de Kaifeng
Coube ao jesuíta Matteo Ricci “descobrir”, no início do séc. XVII, os judeus de Kaifeng. Segundo seus relatos, a comunidade judaica de Kaifeng observava escrupulosamente as leis da Torá, falava o hebraico e sua sinagoga era suntuosa. Infelizmente a revolução chinesa de 1644, que levou ao poder a dinastia Ching, provocara a destruição da sinagoga e dos livros sagrados, além de um declínio geral na vida comunitária judaica. Apesar da sinagoga ter sido reconstruída, a vida judaica perdeu grande parte de sua vitalidade após esses eventos.
No século XVIII, os jesuítas que visitaram a cidade de Kaifeng aproximaram-se dos judeus e estudaram os seus textos sagrados. Durante este período, houve intensa troca de cartas entre Pequim e Roma e este material se tornou parte dos arquivos do Vaticano. Nessas cartas os religiosos descreviam a vida cotidiana e os costumes dos judeus chineses, ressaltando o orgulho e a maneira como cuidavam da sinagoga.
Jean Domenge, jesuíta que visitou os judeus chineses em 1722, fez alguns esboços da parte interna e externa da sinagoga de Kaifeng, registrando o grau de assimilação que já havia no seio da comunidade judaica local. De acordo com a descrição de Domenge, a sinagoga de Kaifeng seguia o estilo arquitetônico local, com muitas áreas dedicadas aos ancestrais e personagens ilustres da histórica judaica. Denominada Templo da Pureza e da Verdade – nome comum também para as mesquitas – tinha uma área separada para o sacrifício de animais. No seu interior, havia também uma mesa na qual se queimava incenso em honra dos patriarcas Abraham, Itzhak e Jacob.
Durante o Shabat, de acordo com Domenge, os judeus liam a Torá, mas somente depois que esta fosse colocada em uma “cadeira especial para Moisés”. Acima da cadeira, havia uma placa com os seguintes dizeres em dourado: “Longa vida para o Grande Imperador Qing (referência ao nome da dinastia). Era uma exigência do governo para os templos judaicos, muçulmanos, confucionistas, budistas e taoístas, que vigorou até o estabelecimento da República da China, em 1911. Nas sinagogas, no entanto, os judeus incluíram em hebraico a prece do Shemá, acima do texto em chinês, já que esta não poderia ser compreendida pelos não-judeus. Desta maneira, somente D’us e eles sabiam que o Todo-Poderoso estava acima de tudo.
Documentos dos jesuítas mencionam também dois monumentos com inscrições, erguidos na área externa da sinagoga de Kaifeng. Uma das inscrições, datada de 1489, fala sobre a história e a crenças dos judeus, ressaltando o ano de 1421, quando o imperador conferiu o sobrenome Zhao ao médico judeu An Ch’em, ato que simbolizou a aceitação dos judeus na socie-dade chinesa. A partir dessa data, os judeus poderiam integrar-se aos serviços públicos. Esta inscrição também mencio-na o que seria o início da presença judaica em Kaifeng, em 960. Nesse ano, seguindo a Rota da Seda, um grupo de judeus persas – mercadores ou refugiados de perseguições em seu país de origem – instalaram-se na cidade, sendo recebidos pelo então imperador da Dinastia Sung, do qual ouviram as seguintes palavras: “Vocês vieram para a nossa China. Respeitem e preservem os costumes de seus ancestrais e os reverenciem aqui em Pien-liang (Kaifeng)”.
No mesmo texto, ainda, conta-se que a primeira sinagoga foi construída em 1163. Na parte de trás deste monumento, há uma inscrição datada de 1512 que sugere a existência de comunidades judaicas em outras regiões da China, como por exemplo, a doação de um rolo de Torá feita pelo sr. Gold (Jin, em chinês), de Hangzhou, para a comunidade de Kaifeng. Na inscrição encontra-se também uma tentativa de traçar um paralelo entre os princípios básicos do confucionismo e do judaísmo, algo facilmente identificável, pois ambas as religiões enfatizam a aplicação de princípios morais na vida cotidiana.
Segundo pesquisas feitas por historiadores, desde a sua chegada a Kaifeng, os judeus se instalaram em um bairro que se tornou conhecido como “A Rua
Daqueles que Ensinam as Escrituras”. A primeira sinagoga foi construída no entroncamento das ruas “Mercado da Terra” e “Deus do Fogo”. O monumento erguido em 1489 marcava a reinauguração do templo que fora destruído durante uma enchente.
Ainda segundo estudiosos da presença judaica na China, foi durante a dinastia Ming (de 1368 a 1644) que um imperador determinou os sete sobrenomes que os judeus poderiam adotar: Ai, Lao, Jin, Li, Shi, Zhang e Zhao. Aliás, até hoje, eles podem ser identificados por esses mesmos nomes. Dois deles chamaram a atenção dos historiadores – Shi e Jin, que significam respectivamente Stone e Gold, sobrenomes muito comuns entre os judeus ocidentais.
Em 1724, o então imperador Yong Zheng proibiu o proselitismo e a presença de missionários de qualquer religião no país. Assim, o contato entre judeus do país e de outras nações tornou-se cada vez mais difícil, fazendo crescer a assimilação. Uma carta de um judeu de Kaifeng, datada do século XIX, reflete bem a situação: “De manhã e de noite, com lágrimas em nossos olhos e oferendas de incensos, imploramos que a nossa religião possa florescer novamente. Temos procurado em todos os cantos, mas não encontramos ninguém que pudesse entender as letras do Grande País (Hebraico) e isto nos deixa profundamente tristes”.
A ausência de rabinos e uma sinagoga em decadência foram as principais razões para a falta de perspectiva futura para a comunidade judaica. Embora os costumes da circuncisão e da cashrut ainda fossem mantidos, a pobreza crescente entre a população judaica – e também entre seus vizinhos chineses – levou à venda de algumas áreas da sinagoga e também dos manuscritos sagrados, muitos adquiridos por missionários protestantes. Alguns destes documentos encontram-se atualmente na Biblioteca Klau do Hebrew Union College, em Cincinnati (EUA).
Os poucos judeus que ainda vivem em Kaifeng quase não conhecem o hebraico e mantêm as tradições dos seus ancestrais mescladas com as da cultura chinesa. No entanto, não têm a menor dúvida quanto ao fato de seremdescendentes dos mercadores judeus recebidos pelo imperador em 960.
A Era Moderna e o surgimento de outras comunidades
Como vimos, Kaifeng, principalmente a partir do estabelecimento de mercadores judeus na China, foi sem dúvida o grande centro judaico do século XII até o XIX. Mas, com o início da Era Moderna, há um renascimento da vida judaica na China.
O tratado de Nankin, de 1842, e a abertura dos portos chineses ao comércio com o Ocidente levou para Xangai a primeira imigração judaica moderna. Comerciantes judeus vindos do Oriente Médio, principalmente de Bagdá, instalam-se na cidade, fazendo-a prosperar. Entre as famílias que lá se estabelecem, podemos mencionar os Sassoon, Hardouyi, Ezra e Kadoory. Várias sinagogas são erguidas por estas famílias: a sinagoga Beth Aaron, que não existe mais, pelos Hardouyi; a sinagoga Ohel Rachel, por Victor Sassoon. A atual sede do Shangai Children Palace era a suntuosa residência dos Kadoory. Em 1920 a comunidade de Shangai tinha 700 membros e mantinha relações amigáveis com os chineses.
Na década de 1930, inicia-se uma segunda imigração de judeus para a China, composta basicamente de judeus russos. Incentivos dados às minorias pelo governo de Moscou para povoar a região, em função de um projeto conjunto sino-russo – a construção de uma ferrovia que ligava a Rússia à Ásia Oriental – faz com que os judeus russos se instalem tanto em Harbin, ao norte do país (na Manchúria), centro do projeto, como na cidade de Tientsin.
A Comunidade da Minoria Judaica foi estabelecida em Harbin em 16 de fevereiro de 1903 e contava com 500 pessoas. O seu primeiro rabino foi Shevel Levin, que já tinha trabalhado como líder espiritual em Omsk e em Chita, na Sibéria. No início do século XX, a população de Harbin aumentou com a chegada de judeus que fugiam dos pogroms e de soldados russos que haviam lutado contra o Japão. Em 1910, a população judaica da cidade girava em torno de dez mil pessoas. Com a Revolução Russa de 1917 e a guerra civil que se seguiu, mais judeus se refugiaram em Harbin, atigindo a marca de 20 mil em1920. Foram também para Tianjin e Shangai.
Longe da opressão dos czares, os judeus passaram a ter um papel proeminente na sociedade de Harbin, trabalhando na Bolsa de Valores e assumindo cargos municipais. Atuavam também nas empresas de carvão, na exportação de óleo de soja e feijão, trigo e peles para a Rússia, Europa e América. Tornaram-se donos de fábricas, cafés e restaurantes. A comunidade mantinha ainda dois bancos, um hospital, uma escola e um lar para idosos, além de possuir um refeitório que oferecia refeições gratuitas aos necessitados e um serviço de assistência social. Sem dúvida, a comunidade de Harbin foi um refúgio para aqueles que fugiam da Rússia. Apesar de a maioria dos judeus da região falar russo e ídiche, rapidamente aprenderam também o chinês. Os jovens eram membros de movimentos como Betar e Macabi e as atividades sionistas proliferavam, despertando na juventude o desejo de emigrar para Eretz Israel. Havia comunistas e socialistas e debates intensos marcavam a vida comunitária. Entre as lideranças locais destacavam-se o rabino Aaron Kiselev, que viveu em Harbin de 1913 até a sua morte, em 1949; e o dr. Abraham Kaufman, presidente do Conselho Na-cional Judaico.
Com a ocupação da Manchúria pelo Japão, em 1931, os judeus viram a sua liberdade diminuir, gradativamente. Alguns decidiram partir para países do Ocidente, outros voltaram para a Rússia – voluntária ou forçosamente; outros grupos estabeleceram-se em Pequim, Tienjin, Shangai e Hong Kong, cidades nas quais havia comunidades judaicas bem estruturadas. Em 1903, por exemplo, havia três sinagogas em Shangai.
Com a ascensão do nazismo na Europa, a cidade recebeu 25 mil judeus, pois era o único lugar do mundo para onde se podia emigrar sem visto e que aceitava receber judeus. A maioria chegava sem recurso algum e eram ajudados pela comunidade judaica de Shangai.
Com a conquista da cidade pelos japoneses – aliados dos nazistas durante a Segunda Guerra – inúmeros judeus foram mantidos em regime semi-interno num gueto criado em Hongkew. As condições de vida eram intoleráveis e centenas de judeus acabaram morrendo de fome. Com o fim da guerra, a maioria dos judeus que haviam sobrevivido decidiram deixar a China.
Em 1945 foi a vez dos russos reocuparem a Manchúria, acusando em seguida as lideranças judaicas de cooperação com os japoneses e traição à Rússia.
Muitos foram presos e morreram nos campos de trabalhos forçados de Stalin. Abraham Kaufman, por exemplo, foi interrogado durante três anos seguidos na conhecida prisão Lubyanka, em Moscou, e condenado a dez anos de trabalhos forçados. Sobrevivendo, apesar de tudo, reuniu-se com a família em Israel.
Tentando refazer a trajetória de seus pais, a professora Zvia Borman visitou a cidade de Harbin, em 1999. Ela andou pelas lápides do cemitério judaico e encontrou o túmulo do rabino Kiselev. Entrou na velha sinagoga e visitou a antiga escola secundária judaica. O hospital agora é um estabelecimento chinês e a escola para crianças tornou-se um instituto educacional coreano. A casa em que seus pais moravam foi derrubada e em seu lugar erguida uma moderna construção em estilo ocidental. Segundo Zvia, sua família foi a última a deixar a cidade, estabelecendo-se em Israel, na cidade de Natânia.Ressurgimento judaico
A vida judaica está ressurgindo na China, apesar do judaísmo não ser reconhecido pelo governo chinês como religião, assim como não o são os outros credos. Em 29 de novembro do ano 2000, em Shangai, foram oficiados os serviços religiosos de Rosh Hashaná, na Sinagoga Ohel Rachel, pela primeira vez nos últimos 50 anos. Construída pela família Sassoon em 1920, não está aberta ao público durante o ano, exceto através de visitas organizadas. A cidade possui, também, uma biblioteca e um museu judaico. O Consulado Geral de Israel da cidade serve como ponte entre o Estado de Israel e as províncias de Shangai, Jiangsu, Zhejiang e Anhui. Seu objetivo é aumentar o intercâmbio cultural, comercial e tecnológico entre os dois povos.
Os judeus tiveram um papel preponderante na história de Hong Kong desde os primeiros anos da cidade como colônia britânica. Oriundos de Bagdá, Norte da África e Grã-Bretanha, marcaram sua presença na região, como revelam nomes de ruas e avenidas, entre as quais a Via Nathan e a Avenida Kadoory. Durante a Segunda Guerra Mundial, o Gueto de Hongkew tornou-se o lar de aproximadamente 20 mil refugiados da Europa Central.
Segundo estimativas, há cerca de vinte mil judeus vivendo atualmente em Hong Kong, vindos principalmente dos Estados Unidos, Inglaterra, França, África do Sul e Israel. Mais de 30 mil visitantes judeus passam pela região anualmente, levados por negócios ou apenas lazer. Com sinagogas, museus e um Centro Comunitário Judaico, Hong Kong oferece várias opções para quem busca uma vida plena de judaísmo.
Em 1991 foi fundada a Escola Carmel, em Hong Kong, a primeira escola judaica do leste asiático e uma das mais respeitadas instituições internacionais de ensino, com mais de 250 alunos da pré-escola ao ensino médio, oferecendo um currículo secular que segue os moldes das escolas americanas e um programa de estudos judaicos.
Há também uma comunidade judaica em Pequim na qual são realizados serviços religiosos de Shabat, comemoração das Grandes Festas e uma série de outras atividades. A Kehilá de Pequim, como é denominada, faz parte do consórcio judaico da Internet, Shamash. n
Bibliografia:
Return to China, artigo publicado na edição de 22 de junho de 2001 do Jewish Chronicle
Gross, Davic C., The Jewish People’s Almanac
The Jews of China, artigo publicado pelo Dr. Wendy Abraham, do Departamento de Línguas Asiáticas da Universidade de Stanford
Jewish Communities of the World, pelo Dr. Avi Beker, Institute of the World Jewish Congress
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Anos mais tarde, porém, o mesmo rabino decidiu escrever-lhe e pedir desculpas por sua atitude, dizendo que pensara que a carta recebida no passado fosse uma fraude. Hung-Mo, no entanto, não tem a menor dúvida sobre o fato de ser judeu e sempre fala das lembranças de sua infância, quando o pai o levava ao cemitério e lhe mostrava lápides com inscrições em hebraico.
Rumores sobre a existência de um judeu em Taipé despertaram a curiosidade do rabino Marvin Tokayer que, durante suas atividades como líder espiritual em Tóquio, decidiu visitar a ilha para saber se os boatos eram verdadeiros. Ao chegar a Taipé, o religioso encontrou um obstáculo para localizar Hung-Mo – o fato de inúmeras pessoas terem o mesmo nome. Para localizar o indivíduo correto, o rabino Tokayer fez uma pesquisa nos registros demográficos e chegou a Hung-Mo averiguando um item específico – o hebraico, citado como segunda língua.
Ninguém sabe ao certo quando os chineses tiveram o primeiro contato com os judeus. Certos historiadores afirmam que, a partir do século VIII, os mercadores judeus que viajavam pelo mundo chegaram "A China", nação mercantilista por excelência.
Documentos datados de 717 atestam o estabelecimento no império chinês, de comerciantes judeus vindos do Oriente Médio. Uma carta
escrita por volta do ano 718, por um mercador interessado em vender algumas ovelhas, e descoberta na região ocidental da China, há cerca de um século, é um dos inúmeros sinais que, segundo estudiosos, comprovam a centenária presença judaica no país. A carta, escrita em judeu-persa com letras hebraicas, em um tipo de papel produzido até então apenas pelos chineses, utiliza uma linguagem comercial comum na Ásia Central, no período. Posteriormente, foi encontrado nas Cavernas de Mil Budas, em Dunhuang, um outro documento em hebraico: uma das selichot.
Circulam várias histórias sobre a vida dos judeus na China. Uma delas conta que em 880, um judeu chamado Eldad HaDani, foi capturado por bandidos e levado à China, onde foi libertado por um comerciante de origem judaica. Este episódio é mencionado por Rashi e por Hasdai ibn Shaprut. Outra referência à presença judaica foi encontrada em meio a documentos do diretor-geral dos Correios de Bagdá, Ibn Khurdadbih, na qual mencionava mercadores judeus conhecidos como Radanitas, que viajavam pelas regiões da Espanha, França e China. No século X, o cronista muçulmano Abu Kaid a-Sirafi escreveu sobre a captura da cidade de Khanfhu (provavelmente Guang-chu, ou Cantão), nos anos 877 e 878, mencionando o massacre de muçulmanos, cristãos e mercadores judeus na região.
Há também relatos de encontros de viajantes cristãos com judeus no final do século XII. Outro relato foi feito por Marco Polo em seus diários de viagem, em 1286, afirmando ter encontrado judeus em Khanbalik (Pequim), durante sua visita à corte do rei Kubilai Khan. Pouco depois, o missionário franciscano John de Montecorvino reafirmava em suas cartas, a presença judaica no país e, em 1326, o missionário Andrew de Perugia escrevia dizendo que os judeus de Guang-chu recusavam-se obstinadamente a abrir mão de sua fé e aceitar o batismo. Em 1342, John de Marignoli contou, em correspondência, ter participado de “gloriosas disputas” intelectuais em Pequim com muçulmanos e judeus. O viajante muçulmano Ibn Battuta também falou sobre a presença judaica na China, quando chegou na cidade de Hangzhou, em 1346. Segundo narra, ele e seu grupo entraram na cidade através de um portão chamado “Portão dos judeus”, enfatizando que ali viviam “muitos judeus, cristãos e turcos, adoradores do sol”.
Novas evidências da vida judaica na China apareceram posteriormente, em meados do século XVI, mais uma vez na troca de correspondência entre missioná-rios, entre os quais Francisco Xavier, posteriormente canonizado pelo trabalho que realizou no Extremo Oriente. O viajante português Galleato Pereira, ao escrever sobre o tempo em que ficou preso na China, entre 1549 e 1561, afirmou que nos tribunais chineses gentios e judeus faziam os juramentos cada um em sua própria fé.
A vida dos judeus em territórios chineses pode ser considerada tranqüila, pois não há registro de perseguições pelas autoridades, fato que teria levado à assimilação. Dizem os estudiosos que esta situação deve-se ao fato de que a filosofia confucionista, vigente na China desde o século V a.E.C., não perseguia os seguidores de outras religiões.
A comunidade judaica de Kaifeng
Coube ao jesuíta Matteo Ricci “descobrir”, no início do séc. XVII, os judeus de Kaifeng. Segundo seus relatos, a comunidade judaica de Kaifeng observava escrupulosamente as leis da Torá, falava o hebraico e sua sinagoga era suntuosa. Infelizmente a revolução chinesa de 1644, que levou ao poder a dinastia Ching, provocara a destruição da sinagoga e dos livros sagrados, além de um declínio geral na vida comunitária judaica. Apesar da sinagoga ter sido reconstruída, a vida judaica perdeu grande parte de sua vitalidade após esses eventos.
No século XVIII, os jesuítas que visitaram a cidade de Kaifeng aproximaram-se dos judeus e estudaram os seus textos sagrados. Durante este período, houve intensa troca de cartas entre Pequim e Roma e este material se tornou parte dos arquivos do Vaticano. Nessas cartas os religiosos descreviam a vida cotidiana e os costumes dos judeus chineses, ressaltando o orgulho e a maneira como cuidavam da sinagoga.
Jean Domenge, jesuíta que visitou os judeus chineses em 1722, fez alguns esboços da parte interna e externa da sinagoga de Kaifeng, registrando o grau de assimilação que já havia no seio da comunidade judaica local. De acordo com a descrição de Domenge, a sinagoga de Kaifeng seguia o estilo arquitetônico local, com muitas áreas dedicadas aos ancestrais e personagens ilustres da histórica judaica. Denominada Templo da Pureza e da Verdade – nome comum também para as mesquitas – tinha uma área separada para o sacrifício de animais. No seu interior, havia também uma mesa na qual se queimava incenso em honra dos patriarcas Abraham, Itzhak e Jacob.
Durante o Shabat, de acordo com Domenge, os judeus liam a Torá, mas somente depois que esta fosse colocada em uma “cadeira especial para Moisés”. Acima da cadeira, havia uma placa com os seguintes dizeres em dourado: “Longa vida para o Grande Imperador Qing (referência ao nome da dinastia). Era uma exigência do governo para os templos judaicos, muçulmanos, confucionistas, budistas e taoístas, que vigorou até o estabelecimento da República da China, em 1911. Nas sinagogas, no entanto, os judeus incluíram em hebraico a prece do Shemá, acima do texto em chinês, já que esta não poderia ser compreendida pelos não-judeus. Desta maneira, somente D’us e eles sabiam que o Todo-Poderoso estava acima de tudo.
Documentos dos jesuítas mencionam também dois monumentos com inscrições, erguidos na área externa da sinagoga de Kaifeng. Uma das inscrições, datada de 1489, fala sobre a história e a crenças dos judeus, ressaltando o ano de 1421, quando o imperador conferiu o sobrenome Zhao ao médico judeu An Ch’em, ato que simbolizou a aceitação dos judeus na socie-dade chinesa. A partir dessa data, os judeus poderiam integrar-se aos serviços públicos. Esta inscrição também mencio-na o que seria o início da presença judaica em Kaifeng, em 960. Nesse ano, seguindo a Rota da Seda, um grupo de judeus persas – mercadores ou refugiados de perseguições em seu país de origem – instalaram-se na cidade, sendo recebidos pelo então imperador da Dinastia Sung, do qual ouviram as seguintes palavras: “Vocês vieram para a nossa China. Respeitem e preservem os costumes de seus ancestrais e os reverenciem aqui em Pien-liang (Kaifeng)”.
No mesmo texto, ainda, conta-se que a primeira sinagoga foi construída em 1163. Na parte de trás deste monumento, há uma inscrição datada de 1512 que sugere a existência de comunidades judaicas em outras regiões da China, como por exemplo, a doação de um rolo de Torá feita pelo sr. Gold (Jin, em chinês), de Hangzhou, para a comunidade de Kaifeng. Na inscrição encontra-se também uma tentativa de traçar um paralelo entre os princípios básicos do confucionismo e do judaísmo, algo facilmente identificável, pois ambas as religiões enfatizam a aplicação de princípios morais na vida cotidiana.
Segundo pesquisas feitas por historiadores, desde a sua chegada a Kaifeng, os judeus se instalaram em um bairro que se tornou conhecido como “A Rua
Daqueles que Ensinam as Escrituras”. A primeira sinagoga foi construída no entroncamento das ruas “Mercado da Terra” e “Deus do Fogo”. O monumento erguido em 1489 marcava a reinauguração do templo que fora destruído durante uma enchente.
Ainda segundo estudiosos da presença judaica na China, foi durante a dinastia Ming (de 1368 a 1644) que um imperador determinou os sete sobrenomes que os judeus poderiam adotar: Ai, Lao, Jin, Li, Shi, Zhang e Zhao. Aliás, até hoje, eles podem ser identificados por esses mesmos nomes. Dois deles chamaram a atenção dos historiadores – Shi e Jin, que significam respectivamente Stone e Gold, sobrenomes muito comuns entre os judeus ocidentais.
Em 1724, o então imperador Yong Zheng proibiu o proselitismo e a presença de missionários de qualquer religião no país. Assim, o contato entre judeus do país e de outras nações tornou-se cada vez mais difícil, fazendo crescer a assimilação. Uma carta de um judeu de Kaifeng, datada do século XIX, reflete bem a situação: “De manhã e de noite, com lágrimas em nossos olhos e oferendas de incensos, imploramos que a nossa religião possa florescer novamente. Temos procurado em todos os cantos, mas não encontramos ninguém que pudesse entender as letras do Grande País (Hebraico) e isto nos deixa profundamente tristes”.
A ausência de rabinos e uma sinagoga em decadência foram as principais razões para a falta de perspectiva futura para a comunidade judaica. Embora os costumes da circuncisão e da cashrut ainda fossem mantidos, a pobreza crescente entre a população judaica – e também entre seus vizinhos chineses – levou à venda de algumas áreas da sinagoga e também dos manuscritos sagrados, muitos adquiridos por missionários protestantes. Alguns destes documentos encontram-se atualmente na Biblioteca Klau do Hebrew Union College, em Cincinnati (EUA).
Os poucos judeus que ainda vivem em Kaifeng quase não conhecem o hebraico e mantêm as tradições dos seus ancestrais mescladas com as da cultura chinesa. No entanto, não têm a menor dúvida quanto ao fato de seremdescendentes dos mercadores judeus recebidos pelo imperador em 960.
A Era Moderna e o surgimento de outras comunidades
Como vimos, Kaifeng, principalmente a partir do estabelecimento de mercadores judeus na China, foi sem dúvida o grande centro judaico do século XII até o XIX. Mas, com o início da Era Moderna, há um renascimento da vida judaica na China.
O tratado de Nankin, de 1842, e a abertura dos portos chineses ao comércio com o Ocidente levou para Xangai a primeira imigração judaica moderna. Comerciantes judeus vindos do Oriente Médio, principalmente de Bagdá, instalam-se na cidade, fazendo-a prosperar. Entre as famílias que lá se estabelecem, podemos mencionar os Sassoon, Hardouyi, Ezra e Kadoory. Várias sinagogas são erguidas por estas famílias: a sinagoga Beth Aaron, que não existe mais, pelos Hardouyi; a sinagoga Ohel Rachel, por Victor Sassoon. A atual sede do Shangai Children Palace era a suntuosa residência dos Kadoory. Em 1920 a comunidade de Shangai tinha 700 membros e mantinha relações amigáveis com os chineses.
Na década de 1930, inicia-se uma segunda imigração de judeus para a China, composta basicamente de judeus russos. Incentivos dados às minorias pelo governo de Moscou para povoar a região, em função de um projeto conjunto sino-russo – a construção de uma ferrovia que ligava a Rússia à Ásia Oriental – faz com que os judeus russos se instalem tanto em Harbin, ao norte do país (na Manchúria), centro do projeto, como na cidade de Tientsin.
A Comunidade da Minoria Judaica foi estabelecida em Harbin em 16 de fevereiro de 1903 e contava com 500 pessoas. O seu primeiro rabino foi Shevel Levin, que já tinha trabalhado como líder espiritual em Omsk e em Chita, na Sibéria. No início do século XX, a população de Harbin aumentou com a chegada de judeus que fugiam dos pogroms e de soldados russos que haviam lutado contra o Japão. Em 1910, a população judaica da cidade girava em torno de dez mil pessoas. Com a Revolução Russa de 1917 e a guerra civil que se seguiu, mais judeus se refugiaram em Harbin, atigindo a marca de 20 mil em1920. Foram também para Tianjin e Shangai.
Longe da opressão dos czares, os judeus passaram a ter um papel proeminente na sociedade de Harbin, trabalhando na Bolsa de Valores e assumindo cargos municipais. Atuavam também nas empresas de carvão, na exportação de óleo de soja e feijão, trigo e peles para a Rússia, Europa e América. Tornaram-se donos de fábricas, cafés e restaurantes. A comunidade mantinha ainda dois bancos, um hospital, uma escola e um lar para idosos, além de possuir um refeitório que oferecia refeições gratuitas aos necessitados e um serviço de assistência social. Sem dúvida, a comunidade de Harbin foi um refúgio para aqueles que fugiam da Rússia. Apesar de a maioria dos judeus da região falar russo e ídiche, rapidamente aprenderam também o chinês. Os jovens eram membros de movimentos como Betar e Macabi e as atividades sionistas proliferavam, despertando na juventude o desejo de emigrar para Eretz Israel. Havia comunistas e socialistas e debates intensos marcavam a vida comunitária. Entre as lideranças locais destacavam-se o rabino Aaron Kiselev, que viveu em Harbin de 1913 até a sua morte, em 1949; e o dr. Abraham Kaufman, presidente do Conselho Na-cional Judaico.
Com a ocupação da Manchúria pelo Japão, em 1931, os judeus viram a sua liberdade diminuir, gradativamente. Alguns decidiram partir para países do Ocidente, outros voltaram para a Rússia – voluntária ou forçosamente; outros grupos estabeleceram-se em Pequim, Tienjin, Shangai e Hong Kong, cidades nas quais havia comunidades judaicas bem estruturadas. Em 1903, por exemplo, havia três sinagogas em Shangai.
Com a ascensão do nazismo na Europa, a cidade recebeu 25 mil judeus, pois era o único lugar do mundo para onde se podia emigrar sem visto e que aceitava receber judeus. A maioria chegava sem recurso algum e eram ajudados pela comunidade judaica de Shangai.
Com a conquista da cidade pelos japoneses – aliados dos nazistas durante a Segunda Guerra – inúmeros judeus foram mantidos em regime semi-interno num gueto criado em Hongkew. As condições de vida eram intoleráveis e centenas de judeus acabaram morrendo de fome. Com o fim da guerra, a maioria dos judeus que haviam sobrevivido decidiram deixar a China.
Em 1945 foi a vez dos russos reocuparem a Manchúria, acusando em seguida as lideranças judaicas de cooperação com os japoneses e traição à Rússia.
Muitos foram presos e morreram nos campos de trabalhos forçados de Stalin. Abraham Kaufman, por exemplo, foi interrogado durante três anos seguidos na conhecida prisão Lubyanka, em Moscou, e condenado a dez anos de trabalhos forçados. Sobrevivendo, apesar de tudo, reuniu-se com a família em Israel.
Tentando refazer a trajetória de seus pais, a professora Zvia Borman visitou a cidade de Harbin, em 1999. Ela andou pelas lápides do cemitério judaico e encontrou o túmulo do rabino Kiselev. Entrou na velha sinagoga e visitou a antiga escola secundária judaica. O hospital agora é um estabelecimento chinês e a escola para crianças tornou-se um instituto educacional coreano. A casa em que seus pais moravam foi derrubada e em seu lugar erguida uma moderna construção em estilo ocidental. Segundo Zvia, sua família foi a última a deixar a cidade, estabelecendo-se em Israel, na cidade de Natânia.Ressurgimento judaico
A vida judaica está ressurgindo na China, apesar do judaísmo não ser reconhecido pelo governo chinês como religião, assim como não o são os outros credos. Em 29 de novembro do ano 2000, em Shangai, foram oficiados os serviços religiosos de Rosh Hashaná, na Sinagoga Ohel Rachel, pela primeira vez nos últimos 50 anos. Construída pela família Sassoon em 1920, não está aberta ao público durante o ano, exceto através de visitas organizadas. A cidade possui, também, uma biblioteca e um museu judaico. O Consulado Geral de Israel da cidade serve como ponte entre o Estado de Israel e as províncias de Shangai, Jiangsu, Zhejiang e Anhui. Seu objetivo é aumentar o intercâmbio cultural, comercial e tecnológico entre os dois povos.
Os judeus tiveram um papel preponderante na história de Hong Kong desde os primeiros anos da cidade como colônia britânica. Oriundos de Bagdá, Norte da África e Grã-Bretanha, marcaram sua presença na região, como revelam nomes de ruas e avenidas, entre as quais a Via Nathan e a Avenida Kadoory. Durante a Segunda Guerra Mundial, o Gueto de Hongkew tornou-se o lar de aproximadamente 20 mil refugiados da Europa Central.
Segundo estimativas, há cerca de vinte mil judeus vivendo atualmente em Hong Kong, vindos principalmente dos Estados Unidos, Inglaterra, França, África do Sul e Israel. Mais de 30 mil visitantes judeus passam pela região anualmente, levados por negócios ou apenas lazer. Com sinagogas, museus e um Centro Comunitário Judaico, Hong Kong oferece várias opções para quem busca uma vida plena de judaísmo.
Em 1991 foi fundada a Escola Carmel, em Hong Kong, a primeira escola judaica do leste asiático e uma das mais respeitadas instituições internacionais de ensino, com mais de 250 alunos da pré-escola ao ensino médio, oferecendo um currículo secular que segue os moldes das escolas americanas e um programa de estudos judaicos.
Há também uma comunidade judaica em Pequim na qual são realizados serviços religiosos de Shabat, comemoração das Grandes Festas e uma série de outras atividades. A Kehilá de Pequim, como é denominada, faz parte do consórcio judaico da Internet, Shamash. n
Bibliografia:
Return to China, artigo publicado na edição de 22 de junho de 2001 do Jewish Chronicle
Gross, Davic C., The Jewish People’s Almanac
The Jews of China, artigo publicado pelo Dr. Wendy Abraham, do Departamento de Línguas Asiáticas da Universidade de Stanford
Jewish Communities of the World, pelo Dr. Avi Beker, Institute of the World Jewish Congress
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O Ultimo Judeu de Taipé
Shih Hung-Mo acredita ser o último judeu de Taipé.
Com uma aparência oriental, afirma que seus pais e antepassados
viviam abertamente como judeus, mas ele, em função
do contexto do país, prefere não fazer muito alarde
sobre a sua identidade. Hung-Mo fala hebraico e, logo após
a criação do Estado de Israel, escreveu para um rabino
importante pedindo ajuda para chegar ao Estado Judeu, mas não
foi levado a sério. Anos mais tarde, porém, o mesmo rabino decidiu escrever-lhe e pedir desculpas por sua atitude, dizendo que pensara que a carta recebida no passado fosse uma fraude. Hung-Mo, no entanto, não tem a menor dúvida sobre o fato de ser judeu e sempre fala das lembranças de sua infância, quando o pai o levava ao cemitério e lhe mostrava lápides com inscrições em hebraico.
Rumores sobre a existência de um judeu em Taipé despertaram a curiosidade do rabino Marvin Tokayer que, durante suas atividades como líder espiritual em Tóquio, decidiu visitar a ilha para saber se os boatos eram verdadeiros. Ao chegar a Taipé, o religioso encontrou um obstáculo para localizar Hung-Mo – o fato de inúmeras pessoas terem o mesmo nome. Para localizar o indivíduo correto, o rabino Tokayer fez uma pesquisa nos registros demográficos e chegou a Hung-Mo averiguando um item específico – o hebraico, citado como segunda língua.
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