terça-feira, 4 de junho de 2013


"E saberás hoje e considerarás no teu coração, que o Eterno, Ele é D-us, em cima, nos céus, e embaixo, na terra; não há nada além Dele]". (Deuteronômio, 4: 39).
Nossos mestres ensinam que há quatro níveis de interpretação no estudo da Torá. O primeiro nível, Pshat, é o significado literal do Texto Sagrado. O segundo nível, Remez, é o significado figurativo, o ensinamento insinuado, contido em cada uma das palavras e dos versos dos Cinco Livros de Moisés. O terceiro nível, Drush, é o significado interpretativo e homilético - o ensinamento moral e filosófico que a Torá visa transmitir. Por fim, o quarto nível e o mais profundo é chamado de Sod, segredo - é o significado esotérico e místico das palavras da Torá, popularmente chamado de Cabalá. Pshat, Remez, Drush e Sod formam um acróstico em hebraico, a palavra Pardês, que significa "Pomar". Pois estudar a Torá em seus quatro níveis significa adentrar-se pelo "Pomar de D'us", ou seja, no Paraíso.
O Zohar, que é a obra fundamental do misticismo judaico, assim afirma: "Se você não aceita ou acredita na tradição mística, chamada "Alma da Torá", obviamente não compartilhou da Revelação da Torá, no Monte Sinai". Em outras palavras, um estudo da Torá que não inclua seus segredos é um corpo sem alma.
Apresentaremos aqui uma introdução a uma faceta dos níveis de interpretação da Torá: a Guimátria, ou Numerologia Judaica. Antes de enveredarmos pelos ensinamentos básicos da Guimátria, é fundamental ressaltar um princípio do judaísmo: de que D'us, ao outorgar a Torá no Monte Sinai ao povo de Israel, entregou a Moisés não apenas a Torá Escrita, mas transmitiu-lhe, também, a Torá Oral. O núcleo desta é o Talmud, que explica e elucida a Torá Escrita e suas leis.
Um dos famosos ensinamentos do Talmud é a afirmação de Rabi Eliezer ben Yossi Haglili, que formula 32 regras para explicar a Torá. A 29a regra é a Guimátria. Este sistema de numerologia judaica baseia-se no fato de cada uma das 22 letras do alfabeto hebraico, do Alef ao Tav, possuir um valor numérico. As primeiras 9 letras estão associadas às unidades (1, 2, 3, ..., 9); as 9 letras seguintes estão associadas às dezenas (10, 20, 30, ..., 90); e as últimas quatro estão associadas às centenas (100, 200, 300, 400).
Muitos trechos do Talmud citam a Numerologia Judaica como sendo um instrumento de apoio muito valioso na tomada de decisões, principalmente no que diz respeito à Lei Judaica (Halachá). Aprendi com meu professor, o rabino Y. David Weitman, que o Rabi Yossef Caro, autor do Shulchan Aruch, Código de Lei Judaica, revelou que a palavra Guimátria pode ser dividida em outras duas: Guei (vale) e Mitúria (da montanha). Rabi Yossef Caro explicou que quando temos uma dúvida sobre algo que, a princípio, não entendemos na Torá, esta nos parece ser uma "montanha", de difícil escalada. E a Guimátria, disse o Sábio, transforma a montanha à nossa frente em um "vale" de compreensão.
Vejamos um exemplo de Guimátria aplicada, que se encontra numa passagem talmúdica que discute as leis de um nazirita - pessoa que, nos tempos bíblicos, fazia votos de se abster de tomar vinho, cortar o cabelo e ter contato com os mortos. No Talmud, Rabi Matná afirma que a duração do nazirato é de 30 dias. Esta lei não é explicitada na Torá Escrita, mas na Torá Oral. Contudo, Rabi Matná, ao fazer uso da Guimátria, demonstra que esse ensinamento sobre o nazirato também se encontra, mesmo que de forma oculta, no Pentateuco. Rabi Matná aponta que a palavra "yihye - será" (Números 6,5), que no Texto Sagrado é usada para se referir ao nazirita, tem valor numérico de 30, revelando, portanto, que a duração do nazirato deve ser de 30 dias.
Associando números às letras hebraicas
A Torá possui 304.805 letras, formando 79.976 palavras. Ao analisar o verbo "contar", podemos defini-lo como: "verificar o número", "a quantidade de", "computar". O verbo contar também significa - em alguns idiomas além do português - "narrar" ou "relatar", como em "contar uma história". Desta forma, fica ressaltada a interação muito íntima entre números e letras, já que o verbo contar pode englobar os dois significados.
A palavra grega "geometria", um ramo da matemática que estuda as dimensões e suas relações numéricas, assemelha-se à palavra hebraica "Guimátria", que, na língua portuguesa é chamada de "gemátria". Mais tarde, surgiu o termo latino "gramática" para identificar o estudo da língua. Outra vez, vê-se a ligação entre números e letras, pois "Guimátria", "geometria" e "gramática" parecem ter a mesma etimologia. É notável que Guimátria faz lembrar duas outras palavras da língua grega: Gama e Tria. Sabe-se que a letra Gama é a terceira - Tria - do alfabeto grego, assim como a letra Guímel também é a terceira letra do alfabeto hebraico, possuindo um valor numérico de três.
Quando engenheiros ou arquitetos planejam construir algo, começam por desenvolver um projeto, uma planta. De forma similar, o Midrash cita que D'us, ao criar este mundo, utilizou a Torá como sua planta e as letras do alfabeto hebraico como agentes criadores. As letras hebraicas do Lashon Hakodesh, a Língua Sagrada, são consideradas como "pedras", enquanto as letras das demais línguas são os "tijolos". Pedras são criadas por D'us, tijolos são feitos pelos homens.

Nenhum comentário:

Postar um comentário

Targum Faz Rute

Targum Rute Tradução de Samson H. Levey Capítulo 1. 1- Aconteceu nos dias do juiz de juízes que havia uma grande fome na terra de I...