terça-feira, 28 de janeiro de 2014

A REVELAÇÃO DA DIVINDADE

A REVELAÇÃO DA DIVINDADE
(Mathan Torah)

“Ama ao próximo como a ti mesmo (Levítico 19, 18 )”
Rabbi Akiva diz: “esta é uma grande regra na Torah”

Essa afirmação exige explicação. Porque a palavra lei (a palavra lei em hebraico também significa total – Chaim Ratz) indica uma soma de detalhes que, quando reunidos, formam o total acima. Portanto quando ele diz, sobre a mitzvah ‘ama ao próximo como a ti mesmo’, que esta é uma grande regra na Torah, devemos entender que todas as outras 612 mitzvot (preceitos) na Torah, com todas as suas interpretações, não são mais nem menos que a soma dos detalhes inseridos e contidos nessa única mitzvah de ‘ama ao próximo como a ti mesmo’. Isso é surpreendente, porque pode ser dito quanto aos preceitos entre o homem e seu próximo, mas como é possível que esse único preceito dê fundamento a todos os preceitos entre o homem e o Senhor, que são a vasta maioria?
E ainda que nós nos esforcemos para encontrar um modo de conciliar suas palavras, vem-nos um segundo dito, ainda mais notável, sobre um convertido que se apresentou a Hilel e pediu-lhe: ‘Ensina-me toda a Torah enquanto eu fico num pé só’. E ele respondeu: ‘nada que você odeia, faça ao seu amigo (a tradução do Aramaico para ‘ama ao próximo como a ti mesmo’) e o resto significa: vá estudar’. Apresenta-se então uma clara lei (Halacha), que em todos os 612 preceitos e todos os escritos na Torah não há nenhum preferível ao ‘ama ao próximo como a ti mesmo’, porque eles somente procuram interpretar e permitir-nos observar o preceito de amar ao próximo sem reservas, pois ele diz especificamente: ‘o resto significa: vá estudar’. Isso quer dizer que todo o resto da Torah são interpretações desse único preceito, que não pode ser completo senão pelos outros.
Antes que nos aprofundemos no âmago disto, precisamos observar esse preceito cuidadosamente, como nos foi dito: ‘ama ao próximo como a ti mesmo’. A expressão ‘a ti mesmo’ nos diz que é preciso amar ao amigo na mesma medida em que você ama a si mesmo, e de modo algum menos do que isso. Quer dizer que você precisa constantemente estar alerta para satisfazer as necessidades de cada um da nação israelita, assim como você está alerta para satisfazer às suas próprias. Isso é completamente impossível, pois não são muitas as pessoas que podem satisfazer suas próprias necessidades durante o dia de trabalho, assim, como se pode dizer a elas que satisfaçam os desejos da nação inteira? E nós não podemos de modo algum pensar que a Torah exagera, pois ela nos avisa para não adicionar nem subtrair, para demonstrar que essas palavras são leis que nos foram dadas com extrema precisão.
E se isso ainda não for o bastante para vocês, deixem-me dizer que a simples explicação desse preceito de amar seu companheiro é ainda mais severa – pois nós devemos colocar as necessidades de nossos amigos à frente das nossas próprias, como nossos sábios escreveram quanto ao versículo ‘porque ele está feliz contigo (Deuteronômio, 15, 16)’, que se refere ao escravo hebreu: ‘se ele tiver só um travesseiro, e se ele dormir com esse travesseiro e não o der ao seu escravo, ele não observa ‘porque ele está feliz contigo’, pois ele se deita em um travesseiro e o escravo, no solo. E se ele não se deitar no travesseiro, mas também não o der ao escravo, esta é a lei sodomita. Portanto, contra a sua vontade, ele deve dar o travesseiro ao escravo, enquanto o mestre dorme no chão’.Também encontramos a mesma instrução na frase sobre a medida do amor ao próximo, pois aqui também se compara a satisfação das necessidades do amigo com a satisfação das próprias necessidades, como no exemplo ‘porque ele está feliz contigo’, relativo ao escravo hebreu. Assim aqui também se ele tem apenas uma cadeira e seu amigo não tem nenhuma, há um veredicto de que se ele se sentar na cadeira e não a der ao seu amigo, ele descumpre o mandamento de ‘ama ao próximo como a ti mesmo’, porque ele não satisfez as necessidades de seu amigo como ele satisfaz as suas próprias. E se ele não se sentar na cadeira, nem a der ao seu amigo, isso é tão ruim quando a regra sodomita. Assim ele precisa deixar que seu amigo se sente na cadeira enquanto ele fica de pé, ou senta-se no chão. Entende-se que esta é a lei relativa a tudo o que está ao seu dispor, que seu amigo não tem. E agora vamos ver se esse preceito é de algum modo praticável.
Primeiro nós precisamos entender por que a Torah foi dada à nação israelita e não a todos os povos no mundo. Será que há, D’us proíba, algum nacionalismo envolvido aqui? Naturalmente, apenas uma pessoa insana poderia pensar assim. De fato nossos sábios examinaram essa questão, e isso é o que eles querem dizer com as palavras: ‘D’us a deu a todas as nações e línguas, e eles não quiseram recebê-la’. Mas o que eles acham surpreendente é por que então, nós fomos chamados o povo escolhido, como está escrito: ‘o Senhor vosso D’us vos escolheu (Deuteronômio 7,6)’, se não havia outra nação que quisesse isso? Além do mais, pode ser que o Senhor tenha vindo com a Torah em Suas mãos para negociar com esses povos selvagens? Uma tal coisa nunca foi ouvida antes e é completamente inaceitável.
Mas quando nós entendermos completamente a essência da Torah e das mitzvot que nos foram dadas, e o seu propósito, como nossos sábios nos instruíram, que é o propósito da grande criação que está diante de nossos olhos, então compreenderemos tudo. Pois o primeiro postulado é que não há ato sem propósito. E não há exceção aqui, a não ser para os seres humanos mais humildes, ou para as crianças. Assim, é certo que o Criador, cuja exaltação está acima de nossa compreensão, não praticaria um ato grande ou pequeno sem um propósito.Sobre isso, nossos sábios nos dizem que o mundo foi criado apenas para o propósito de observar Torah e mitzvot, ou seja, como aprendemos de nossos sábios, que o objetivo do Criador desde quando Ele criou Sua criação, é revelar Sua Divindade a outros. Porque a revelação de sua Divindade atinge a criatura como uma prazerosa generosidade, sempre crescente, até que atinja a medida desejada. E assim os humildes se elevam com verdadeiro reconhecimento e tornam-se a carruagem para Ele, e ascendem a Ele até que encontrem sua plenitude final: ‘nem os olhos viram um D’us além de Ti (Isaías 64,3)’. E por causa da grandeza e glória dessa perfeição, nem a Torah nem a profecia exprimiram uma única palavra de exagero aqui, como dizem nossos sábios: ‘Todos os profetas não fizeram suas profecias, senão para os dias do Mashiach, para o mundo vindouro, nem o olho viu um D’us além de Ti’.Essa perfeição está expressa na Torah, na profecia e nas palavras de nossos sábios, pela simples palavra ‘adesão’. Mas pelo uso comum dessa palavra pelas massas, ela perdeu quase todo o seu conteúdo. Mas se você detiver sua mente sobre essa palavra somente por um instante, você será inundado por sua maravilhosa dimensão, pois você poderá imaginar a exaltação do Criador e a humildade da criatura, poderá perceber o que significa adesão das criaturas com o Criador e por que nós atribuímos a essa palavra o propósito da inteira criação.Portanto o propósito da inteira criação é que as humildes criaturas sejam capazes, através da observação da Torah e das mitzvot, de elevar-se mesmo acima, até que alcancem a adesão com seu Criador.
Mas aqui vêm os Kabbalistas e perguntam: Por que nós já não fomos criados nessa elevada dimensão de adesão, desde o início? Que razão Ele teria para nos dar esse fardo e o labor da criação, e a Torah e as mitzvot? E eles responderam: ‘Aquele que come aquilo que não é seu, tem medo de olhar na sua face’, ou seja, aquele que come e tem prazer naquilo que vem do labor de seu amigo tem medo de olhar na sua face, porque assim ele se torna mais e mais humilhado até que perca toda a humanidade. E porque aquilo que emana da Sua perfeição não pode ser falho, Ele nos deu lugar para ganhar nossa própria exaltação, através de nosso trabalho em Torah e mitzvot.Essas palavras são extremamente profundas e eu já as expliquei em meu livro Panim Me’irot and Mashbirot para a Árvore da Vida na primeira divisão, e no livro Talmud Esser haSefirot – Reflexão Interna, Parte 1. Aqui eu as explicarei resumidamente para que todos as entendam.
É como um homem rico, que escolhe um homem no mercado e o alimenta, e dá-lhe ouro e prata e tudo o que ele deseje todos os dias, e a cada dia o cobre com mais presentes do que no dia anterior. Finalmente o homem rico pergunta: por favor me diga, todos os seus desejos foram satisfeitos? E o homem pobre do mercado responde, não ainda, pois como seria prazeroso e maravilhoso se todas essas posses e coisas preciosas viessem a mim através de meu próprio trabalho, como vieram a você, e eu não estivesse recebendo a caridade das suas mãos. O homem rico disse então: nesse caso, nunca nasceu uma pessoa que pudesse satisfazer seus desejos.Isso é natural, porque por um lado ele experimenta um grande prazer e aproveita as coisas mais e mais, na medida em que o homem rico as dá, mas por outro lado, é duro para ele tolerar a vergonha da excessiva bondade com que o rico o agracia. Isto porque há uma lei natural, de que o receptor sinta vergonha e impaciência ao receber presentes gratuitos do doador, como resultado da compaixão ou piedade. Daqui deriva uma segunda lei, de que nunca haverá ninguém capaz de satisfazer completamente as necessidades de seu amigo, porque ao fim não poderá dar a ele a natureza e a forma da auto-possessão, que somente se atinge com a desejada perfeição.Mas isso se refere somente às criaturas, enquanto que, quanto ao Criador, é completamente impossível e inaceitável. E é por isso que Ele preparou para nós a labuta e a preocupação com Torah e mitzvot, para produzirmos nossa exaltação por nós mesmos, porque então a delícia e o prazer que dEle, vêm a nós, ou seja, tudo o que está incluído na adesão com Ele, serão nossas posses, que vieram a nós através de nossos próprios esforços. Então nós nos sentiremos como os proprietários, sem o que, não é possível haver a sensação de plenitude.
De fato nós precisamos examinar o coração e a fonte dessa lei natural, e quem é que gerou o flagelo da vergonha e impaciência que nós sentimos quando recebemos caridade de alguém. É uma lei reconhecida pelos cientistas, que cada ramo traga a mesma natureza de sua raiz, e que todos os comportamentos da raiz, o ramo também deseje, procure e anseie. E por outro lado, todos os comportamentos que não estejam na raiz, seu ramo se distancia deles e não consegue tolerá-los, e é prejudicado por eles. Essa lei se encontra entre cada raiz e cada ramo, e não pode ser quebrada.Agora se abre perante nós a porta para compreender a fonte de todos os prazeres e dores que subsistem neste mundo. Pois como o Senhor é a raiz de suas criações, tudo o que subsiste nEle e se estende a nós, diretamente dEle, nós sentimos como prazeroso, delicioso, porque nossa natureza está próxima à nossa raiz.Comportamentos que não subsistam nEle, e que não se estendam diretamente dEle, de acordo com a própria polaridade da criação, são contra nossa natureza e difíceis para nós de tolerar. Por exemplo, nós amamos descansar e odiamos nos mover muito, de modo que nós não fazemos nem um único movimento se não for para atingir o repouso. Isto é porque nossa raiz é imóvel, em constante repouso, e nenhum movimento existe nEle, D’us proíba. Assim, o movimento também é odiado por nós, e contrário à nossa natureza.Pelo mesmo raciocínio, nós amamos a sabedoria, a força e a riqueza, porque tudo isto subsiste nEle, que é nossa raiz. E assim nós odiamos seus opostos, tais como a tolice, a fraqueza e a pobreza, porque não subsistem nEle, e por isso nos são intoleravelmente odiosos e nocivos.
É isto que nos dá o intolerável sabor da vergonha e impaciência quando recebemos caridade de outros, por meio da caridade, porque no Criador não existe, D’us proíba, nada parecido com a recepção de favores, porque de quem Ele poderia receber? E como esse elemento não existe em nossa raiz, nós o sentimos como repulsivo e asqueroso. Por outro lado, nós sentimos delícia e prazer com cada doação que fazemos aos outros, pois nosso comportamento subsiste em nossa raiz, que é benevolente.
Agora encontramos um modo de investigar o propósito da criação, que é a adesão com Ele em sua verdadeira aparência. Essa exaltação e adesão, que está garantida a vir a nós através de nosso trabalho em Torah e mitzvot, não é mais nem menos que a equivalência dos ramos com sua raiz, da qual cada bondade, prazer e sublimidade torna-se uma extensão natural - como dissemos acima, esse prazer está somente na equivalência de forma com o Criador. E quando nos equalizamos a cada comportamento que está em nossa raiz nós sentimos delícia, e tudo o que não está em nossa raiz torna-se intolerável, repugnante ou consideravelmente doloroso para nós. E nós naturalmente achamos que nossa única esperança depende de nossa equivalência com nossa raiz.
Essas são as palavras de nossos sábios quando perguntaram: ‘Por que D’us se importaria se alguém corta (*para matar o gado) na garganta ou no pescoço?’ – Afinal, as mitzvot foram dadas para purificar o povo, e essa purificação significa a purificação do corpo sombrio, que é o propósito que emerge da observação das mitzvot.‘Uma mula selvagem se transformará em homem’ (Jó, 11,12), porque quando ele sai do âmago da criação, ele está em extrema imundície e baixeza, ou seja, uma multiplicidade de amor próprio que está impressa nele, de quem cada movimento gira somente em torno de si mesmo, sem uma partícula de doação aos outros.Nessa situação ele está na mais extrema distância da raiz, na outra extremidade, pois a raiz é toda doação sem nenhuma ínfima sugestão de recepção, enquanto o recém-nascido é totalmente recepção para si mesmo, sem nenhuma ínfima sugestão de doação. Por isso essa situação é considerada como o ponto mais baixo e corrupto, que é nosso mundo humano.Na medida em que ele cresce, ele recebe de seu ambiente porções de ‘doação aos outros’, dependendo dos valores e do desenvolvimento de seu ambiente. E então ele é iniciado em Torah e mitzvot pelo propósito do amor próprio, para recompensa neste mundo e no próximo, o que é chamado não para o Seu nome, porque ele não pode ser acostumado de outra forma.Quando ele cresce mais alguns anos, ele é ensinado como deve observar mitzvot em Seu nome, o que significa, com uma especial intenção, somente para trazer contentamento ao seu Criador, como disse o RAMBAM: ‘não se deve dizer a mulheres e crianças para observar Torah e mitzvot pelo Seu nome, porque não podem suportar isto. Somente quando crescem e adquirem conhecimento e sabedoria pode-se lhe dizer para trabalhar pelo Seu nome’. E como disserem nossos sábios: ‘de não pelo Seu nome, a pessoa vem a pelo Seu nome’, o que é definido como a intenção de dar contentamento ao seu Criador, e não por nenhum amor próprio.Através do remédio natural do estudo de Torah e mitzvot pelo Seu nome, que o doador da Torah conhece, nossos sábios disseram: ‘o Criador disse: eu criei a má inclinação, e criei a Torah como tempero’, que a criatura desenvolve e marcha adiante em degraus da supra citada exaltação, até que ela perca todas as reminiscências de amor próprio e todas as mitzvot em seu corpo aflorem, e ela desempenhe todas as suas ações somente para beneficiar, de modo que até mesmo a necessidade que ela receba flua na direção da doação, ou seja, para que ela possa doar. E isso é o que nossos sábios disseram: ‘as mitzvot não foram doadas senão para purificar o povo com elas’.
Há duas partes na Torah: 1) mitzvot entre o homem e D’us, e 2) mitzvot entre o homem e seu próximo, e ambas almejam a mesma coisa – trazer a criatura ao propósito final de adesão com Ele.Além disso, mesmo o lado prático de ambas é realmente um e o mesmo, porque quando alguém pratica um ato pelo Seu nome, sem nenhuma mistura de amor próprio, ou seja, sem encontrar nenhum benefício para si mesmo, então a pessoa não sente nenhuma diferença em estar trabalhando pelo amor de seu próximo ou pelo amor do Criador.Isto é porque é uma lei natural para qualquer ser que qualquer coisa fora de seu próprio corpo seja considerada irreal e vazia, e qualquer movimento que a pessoa faça para amar seu próximo, ela o faz pela luz que retorna, e receberá alguma recompensa que finalmente virá a ela e lhe servirá para seu próprio bem. Portanto, tal ato não pode ser considerado ‘amor ao próximo’, porque é julgado pelo seu fim, e é como o aluguel, que ao final não é pago. Porém, o ato de alugar não é considerado amor ao próximo.Mas fazer qualquer espécie de movimento tendo como causa somente o amor aos outros, ou seja, sem uma partícula de luz em retorno, e nenhuma esperança de qualquer espécie de auto-gratificação é completamente impossível. Sobre isto, diz-se no Zohar que ‘todo ato de misericórdia que eles praticam é apenas para si mesmos’.Isso significa que todas as boas ações que eles fazem, seja para seus amigos ou para seu D’us, não são por causa de seu amor pelos outros, mas por causa de seu amor por si mesmos. E isso é assim, porque isto (*o amor ao próximo) é completamente anti-natural.Assim, somente aqueles que observam Torah e mitzvot estão qualificados para isto, porque treinando-se para observar Torah e mitzvot para dar contentamento ao seu Criador, a pessoa gradualmente se separa do âmago da criação natural e adquire uma segunda natureza, que é o supra-mencionado amor ao próximo.Foi isto que trouxe osCabalistas do Zohar a excluir as nações do mundo do problema de amar ao próximo, quando disseram que ‘cada ato de misericórdia que eles praticam é apenas para si mesmos’, porque elas não estão envolvidas em observar Torah e mitzvot em Seu nome, e o tema de sua adoração a seus deuses é por confiar na recompensa neste mundo e no próximo. Portanto, sua adoração aos seus deuses é por causa de seu amor próprio, e eles nunca praticarão nenhuma ação que esteja fora dos limites de seus próprios corpos, e então não serão capazes de se elevar nem mesmo um fio de cabelo acima de sua natureza básica.
Portanto podemos ver claramente que para aqueles que observam Torah e mitzvot em Seu nome, não há diferença entre as duas partes da Torah, nem mesmo no lado prático, porque antes que pratique isto, a pessoa é compelida a sentir qualquer ato de doação, seja quanto ao próximo seja quanto a D’us, como de um vazio inconcebível. Mas através de grande esforço, lentamente a pessoa se eleva e adquire uma segunda natureza, e então chega ao propósito final, que é a adesão com Ele.Neste caso, é razoável pensar que a parte da Torah, que lida com a relação entre o homem e seu próximo, é mais capaz de trazer a pessoa ao objetivo desejado, porque o trabalho em mitzvot entre a pessoa e o Senhor é fixo e específico e a pessoa se acostuma a ele facilmente, e tudo o que é feito por hábito já não é mais útil, enquanto as mitzvot entre a pessoa e seu próximo se modificam, são irregulares, são exigências constantemente renovadas para onde quer que a pessoa se volte. Assim sua virtude é muito mais eficiente e certa, e sua intenção é mais próxima.
Agora podemos entender as palavras de Hillel HaNassi para Giora, que a essência da Torah é: ama ao próximo como a ti mesmo, e as demais seiscentos e doze mitzvot são apenas interpretação disto. E mesmo as mitzvot entre o homem e D’us também são consideradas uma qualificação para esta mitzvah, como disseram nossos sábios: ‘A torah e as mitzvot não foram dadas para outro objetivo além de purificar Israel com elas’, o que é a purificação do corpo, até que a pessoa alcance uma segunda natureza definida por seu amor ao próximo, ou seja, o único preceito de ‘Amar ao próximo como a si mesmo’, que é o objetivo final da Torah, após o que a pessoa imediatamente atinge a adesão a D’us.Mas não se deve ficar surpreso pelo fato de isto não estar definido nas palavras: ‘E amarás o Senhor teu D’us com todo o teu coração e com toda a tua alma e com toda a tua força’ (Deuteronômio 6,5). Isto é porque de fato, com relação ao homem, que ainda está dentro da natureza da criação, não há diferença entre amar a D’us e amar ao próximo, porque nada além dele mesmo é real para ele. É por isso que aquele prosélito pediu a Hillel HaNassi para explicar-lhe o objetivo desejado pela Torah, para que ele atingisse seu objetivo com facilidade e não precisasse percorrer um longo caminho, como ele disse: ‘ensina-me toda a Torah enquanto eu fico num pé só’. Assim Hillel definiu a Torah para ele como amor ao próximo, porque seu objetivo está mais próximo e se revela mais rápido, já que é à prova de enganos e tem exigências.
Nas palavras acima encontramos um modo de compreender nosso conceito anterior (itens 3 e 4) sobre o preceito de ‘amar ao próximo como a si mesmo’, e como a Torah nos compele a fazer algo que não pode ser feito.De fato, vejam que por essa razão a Torah não foi dada aos nossos santos pais – Abraham, Isaac e Yakov, mas somente após o êxodo do Egito, e após eles terem se tornado uma nação de seiscentas mil pessoas de vinte anos de idade ou mais. Pois então a cada membro da nação foi perguntado se concordava com o trabalho exaltado, e uma vez que eles aceitaram em fazê-lo em seus corações e almas, e disseram ‘nós faremos e ouviremos’ (Êxodo, 24, 7), então tornou-se possível observar o total da Torah, e o que antes era considerado impossível tornou-se possível.Porque é certo que se seiscentas mil pessoas abandonarem seu trabalho pela satisfação de suas próprias necessidades, e não se preocuparem com nada além de cuidar para que seis amigos nunca sintam a falta de coisa alguma, e mais ainda, que elas observem isto com um poderoso amor em seus corações e em suas almas, no completo significado do preceito de ‘ama ao próximo como a ti mesmo’, então está além de qualquer dúvida que nenhum homem da nação precisará se preocupar com seu próprio bem-estar.Por isso ele se torna completamente livre de assegurar sua própria sobrevivênca e pode, com facilidade, observar o preceito de amar ao próximo como a si mesmo, obedecendo a todas as condições expostas nos itens 3 e 4. Afinal, por que ele se preocuparia com sua própria sobrevivência quando seiscentos mil amigos amorosos e leais estão prontos, com grande cuidado, a assegurar que nada lhe falte em suas necessidades?Assim, uma vez que todos os membros da nação concordaram, eles imediatamente receberam a Torah, porque agora eles eram capazes de observá-la. Mas antes que eles se tornassem uma completa nação, e certamente durante a era de nossos pais, que eram únicos na terra, eles não estavam qualificados para observar verdadeiramente a Torah em sua forma desejável. Isto é porque com um número pequeno de pessoas é impossível até mesmo começar o assunto das mitzvot entre o homem e seu próximo, na extensão de amar ao próximo como a si mesmo, como explicamos nos capítulos 3 e 4. É por isso que eles não receberam a Torah.
De tudo o que foi dito, podemos compreender uma das frases mais surpreendentes de nossos sábios: a que diz que todos em Israel são responsáveis uns pelos outros, o que parece ser completamente injustificado, pois se alguém pecar, ou cometer alguma maldade que desagrade ao seu Criador, e não tenha proximidade com Ele, como é possível que o Senhor responsabilize a todos nós? Está escrito: ‘Os pais não serão levados à morte pelos filhos... todo homem deve ser levado à morte por seu próprio pecado’ (Deuteronômio 24, 16). Assim, como é possível dizer até mesmo sobre aquele que seja um completo estranho, de quem você não sabe nada, nem sobre seu paradeiro, que você é responsável por seus pecados? 
E se isso não for o bastante para você, nossos sábios dizem: ‘Rabbi Elazar, o filho do Rabbi Shimon, diz: como o mundo é julgado pela sua maioria, e o indivíduo é julgado por sua maioria, se ele pratica uma mitzvah, ele faz o mundo inteiro justo, e se ele comete um pecado, ele faz o mundo inteiro pecador, como foi dito: um pecador causa a perda de muito bem’.Portanto o Rabbi Elazar, filho do Rabbi Shimon, fez-me responsável pelo mundo inteiro, já que ele pensa que todos no mundo são responsáveis uns pelos outros e cada pessoa traz mérito ou pecado para o mundo inteiro. Isso é surpreendente de fato.De acordo com o que foi dito acima, podemos entender as palavras dos sábios de um modo muito simples, pois mostramos que cada uma das 613 mitzvot refere-se à única mitzvah de ‘ama ao próximo como a ti mesmo’. E concluímos que tal estado somente pode existir em uma nação em que todos os membros concordem com isto.
Autor: Cabalista Rabbi Yehuda Ashlag

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