terça-feira, 14 de abril de 2015

Onde estão os profetas?

                           


                     



Profeta é um indivíduo que recebe uma mensagem de D’us para transmitir ao povo. Maimônides relaciona a profecia como um dos 13 alicerces da fé judaica que "D’us Se comunica com a humanidade por meio da profecia."

Mas o que há de tão especial nestas mensagens?

O propósito das mensagens comunicadas a profetas não é para revelar o propósito da existência ou legislar as leis da vida. Está contido na Torá e suas 613 mitsvot (preceitos), que D’us comunicou a todos nós, juntos no Monte Sinai. Quando D’us passou a mensagem com a revelação no Sinai, Ele refreou-Se e deixou-a para que nós a estudássemos e a explicássemos. O Talmud relata um caso no qual Sábios de Torá estavam debatendo um ponto na Lei da Torá e uma voz celestial pronunciou-se em apoio da opinião da minoria; os Sábios não se impressionaram, e silenciaram a voz citando a declaração da Torá sobre si mesma: "ela não está no céu" (Devarim 30:12).

O objetivo da profecia é fazer correções de curso na direção da sociedade judaica, ou na direção da sociedade em geral. Às vezes um profeta vem para predizer o futuro, quando D’us considera necessário que saibamos o que está para vir para nos encorajar em nossa missão na vida. Outras vezes é para nos lembrar que estamos aquém daquilo que Ele espera de nós, e nos advertir das sombrias conseqüências que isso trará se não melhorarmos. Algumas vezes, D’us usou um profeta para transmitir mensagens pessoais a um indivíduo (especialmente para alguém importante, cujas ações poderiam ter um efeito em grande escala, como um rei). 

Um profeta pode também transmitir uma instrução específica que não esteja contida na Torá como uma ordem "somente uma vez" vinda do Alto; nestes casos, deve-se seguir aquela instrução mesmo que seja contrária a uma ordem universal da Torá. Uma profecia, no entanto, jamais conterá uma nova mitsvá nem a anulação de uma mitsvá; um profeta alegando tal comunicação por parte de D’us prova que é um falso profeta.

Assim, Yeshayáhu foi enviado para descrever a era messiânica que é a culminação e recompensa de nossos esforços. Yirmiyáhu previu a destruição do Templo Sagrado. Yoná foi enviado a Nínive para advertir seus habitantes de que a cidade seria destruída a menos que eles se arrependessem de seus atos perversos. Shmuel levou a mensagem de D’us ao Rei Shaul para empreender guerra contra Amalek, ao passo que Eliyahu foi enviado para conduzir o famoso desafio dos dois novilhos no Monte Carmel (embora isso violasse temporariamente a proibição da Torá contra oferecer sacrifícios fora do Templo Sagrado). Porém nenhum profeta jamais disse qualquer coisa que fosse produto de sua própria mente. Eles falaram e agiram somente a mandado de D’us.

Como alguém se torna um profeta?

Primeiro, a pessoa tem de se fazer merecedora. Maimônides relaciona os seguintes critérios: é preciso ser sábio, com a mente lúcida e clara; de caráter impecável, e totalmente em controle dos próprios desejos e paixões; ter uma constituição calma e alegre; e abominar a materialidade e as frivolidades da vida, devotando-se inteiramente a conhecer e servir a D’us.

Tudo isso, no entanto, não faz surgir a profecia – apenas torna alguém um recipiente, digno de recebê-la. A verdadeira recepção da profecia vem do Alto, por escolha Divina. Embora "escolas de profecia" no antigo Israel treinassem aspirantes a profetas para que se tornassem receptivos à profecia, através de extensa meditação e estilo de vida rigorosamente espiritual, o aluno-profeta não podia fazer com que a profecia chegasse até ele por meio de ações específicas. Assim como a percepção extra sensorial ou poderes psíquicos, a profecia poderia manifestar-se subitamente, sem quaisquer sinais de aviso ou preparação por parte do profeta. O que ocorria era que D’us selecionava uma pessoa através da qual falar – e não da outra forma.

Como os profetas são verificados?

Em primeiro lugar, a pessoa deve ser conhecida como alguém que possui os atributos acima descritos. Então, se alguém deste calibre anuncia que recebeu uma profecia, presume-se que está dizendo a verdade. Porém o supremo teste é a precisão de suas profecias: se aquilo que disse que aconteceria realmente acontece, sabemos que é um profeta; caso contrário, sabemos que não é.

(Isso, no entanto, aplica-se somente à previsão de um evento positivo, pois uma vez que uma promessa Divina de algo bom é comunicada através de um profeta, jamais há uma retratação: no entanto, se o profeta adverte, em nome de D’us, que uma calamidade está destinada a acontecer e isso não ocorre, esta não desmente sua profecia, pois um decreto para o mal pode ser removido por meio de prece e arrependimento. Evidentemente, simplesmente predizer o futuro sem possuir as características de um profeta não faz de ninguém um profeta.

Como é experimentar a profecia?

Como a transmissão de um sinal de muitos megawatts a um instrumento de baixa voltagem, a profecia muitas vezes sobrecarrega o equipamento mental do receptor. A profecia freqüentemente provoca desmaio, insanidade temporária, espasmos musculares involuntários e tremores. Alguns profetas conseguiam receber o sinal durante o sono, tendo sonhos extremamente enigmáticos, como um quebra-cabeças, que eles decifravam ao acordar. Os profetas não tinham as conversas mentais ou verbais com D’us como se vê nos filmes de Hollywood. A única exceção foi Moshê, que falou com D’us "como um homem conversando com seu amigo" (Shemot 33:11).

Quais são as regras básicas da profecia?

Dos 613 mandamentos da Torá, alguns se referem à profecia. Estes incluem:

1 – Obedecer às instruções do profeta.

2 – Não duvidar ou testar as promessas ou advertências Divinas transmitidas pelos profetas.
E para o profeta:

3 – Cumprir pessoalmente as instruções de D’us (i.e., "pratique aquilo que prega").

4 – Não suprimir uma profecia que recebeu (como Yoná tentou).

5 – Não profetizar em nome de outros deuses (mesmo se o conteúdo for verdadeiro).

Quem foram os profetas?

Houve milhares de profetas na história judaica (conhecemos também pelo menos um profeta não-judeu, Balaam). A esmagadora maioria, porém, transmitiu mensagens específicas ao tempo e circunstâncias em que foram enviados para transmitir. Suas profecias, portanto, não foram registradas para a posteridade, e até seus nomes são desconhecidos para nós. Muitos desses profetas eram cidadãos comuns – estudantes, artesãos, fazendeiros – que, em virtude de sua integridade e elevada sensibilidade ao espiritual, foram selecionados por D’us para receber uma profecia. Muitas vezes eles não sabiam o que os atingira, somente mais tarde perceberam que tinham recebido uma profecia. Alguns, como Yoná, sabiam o que era, mas tentavam fugir dela (uma proibição da Torá, como foi dito acima).

O Talmud relaciona 55 profetas "históricos" cujas profecias foram registradas no Tanach porque contêm uma mensagem relevante a todas as gerações. A maioria desses era figuras públicas que profetizavam com freqüência e se tornaram líderes de seu povo por toda a vida. Neles estão incluídos os 15 profetas cujas palavras foram registradas em livros individuais que levam seus nomes: Yeshayáhu, Yirmiyáhu, Ezekiel e doze outros de menor importância, incluindo Amos, Hosea, Nahun e mais alguns. Os outros 40, que podem ou não ter profetizado em tempo integral, são mencionados em vários locais do Tanach, como Nathan (os Livros de Samuel) e Ido (Crônicas). Além desses houve um número não exato de experiências proféticas sem registro por escrito. O Rei Shaul fez algumas profecias durante algum tempo, mas não se sabe o que foi dito a ele.

A profecia parece ter sido em grande parte uma experiência masculina – 48 dos 55 profetas "históricos" foram homens, embora não possamos saber se isso reflete a proporção geral profetas/profetisas. As sete profetisas mais importantes são: Sara (mulher de Avraham, mãe de todos os judeus; incidentalmente, D’us disse a Avraham que "ela é superior a ti em profecia"), Miriam (irmã de Moshê), Devora (a única mulher entre os "Juízes"), Chana (mãe de Samuel), Avigayil, Chuldá e Esther (famosa por causa de Purim).

Existe profecia atualmente?

A era da profecia oficialmente chegou ao fim há 23 séculos. A última geração de profetas foi aquela que começou a profetizar antes da destruição do Primeiro Templo Sagrado, em 423 AEC, embora alguns daquela geração sobrevivessem ao exílio de 70 anos na Babilônia e vivessem para ver a construção do Segundo Templo. O mais famoso, Ezekiel, profetizou na Babilônia, e três profetas, Chaggai, Zacharia e Malachi, foram membros da "Grande Assembléia" que liderou o povo durante os primeiros anos do retorno da Babilônia. Mordechai e Esther também foram membros da geração que pranteou a destruição do Primeiro Templo e testemunhou a construção do segundo. Com o desaparecimento daquela geração, "a profecia deixou Israel".

Apesar disso, o princípio de que "D’us se comunica com a humanidade por intermédio da profecia" permanece uma fundação da fé judaica. Uma forma menor de profecia, conhecida como ruach hacôdesh (inspiração Divina), permanece privilégio dos tsadikim, os homens e mulheres justos de todas as gerações. 

Segundo a tradição, um dos maiores profetas, Eliyahu, nunca morreu, e introduzirá a vinda de Mashiach. O próprio Mashiach é um profeta ("aproximando a profecia de Moshê", segundo Maimônides), e na Era Messiânica, a profecia se tornará um fenômeno universal – nas palavras do Profeta Yoel: "E acontecerá depois que Eu derramarei Meu espírito sobre toda a carne, e seus filhos e filhas profetizarão; seus anciãos terão sonhos, seus jovens terão visões." 

E numa carta aos judeus do Iêmen, Maimônides relata uma antiga tradição de que "pouco antes da Era Messiânica, a profecia retornará ao povo judeu."

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