A lavagem ritual das mãos Dois dos conceitos mais mal compreendidos na Torá são os de tumá e tahará, traduzidos como "impuro" e "puro". Eles freqüentemente evocam reações negativas, no entanto, ambos referem-se a planos espirituais e não físicos. As leis referentes à tumá e tahará pertencem à categoria dos mandamentos para os quais não se fornecem motivos; são supra-racionais, "acima" da razão, além do que o próprio intelecto pode apreender. E é precisamente porque elas são de tão alto nível espiritual que transcendem completamente a razão. A Chassidut explica que, na essência, a tumá, impureza espiritual, pode ser definida como a "ausência de kedushá", santidade. Kedushá é chamada "vida", "vitalidade": ela é aquilo que está unida e emana da Fonte de toda a vida - o Criador. A verdadeira santidade, segundo a Chassidut, significa terbitul; isto é, quando a existência independente de cada um é "anulada" para D'us. Por outro lado, aquilo que é distante ou separado da sua Fonte é chamado "morte", "impureza" ou tumá. De acordo com a lei judaica, a morte é a causa principal de tumá e o nível de impureza mais grave provém do contato com um cadáver. Daí, as forças do mal serem chamadas, na terminologia chassídica, de sitrá achra, o "outro lado". É o que está "de fora", o que está distante da presença de D'us e da santidade. Florescem na região onde Ele está mais oculto e menos sentido, onde há menos kedushá, santidade. Em um lugar onde D'us é menos sentido, naturalmente, existe mais espaço para a "oposição" a Ele. Santidade é sinônimo de bitul, anulação, não tem qualquer existência verdadeira independente de D'us. Num nível mais profundo, quando rejeitamos o mal e escolhemos o bem e, mais ainda, quando transformamos o próprio mal em bem, efetuamos uma elevação não só em nós mesmos, mas no mundo inteiro, elevando-o para mais perto da última perfeição. Se despojarmos o termo "impuro" da sua conotação física e percebermos o seu verdadeiro sentido espiritual, veremos que seu significado é uma ausência de santidade. Por que deve existir tumá? Que propósito a impureza pode ter na Criação? "O Onipotente criou uma coisa em oposição à outra", conta-nos o livro de Eclesiastes (7:14) e segundo a interpretação da Chassidut, tudo no campo de kedushá tem a sua contrapartida no profano. Por um lado, essas regiões opostas são criadas a fim de que possamos ter "livre arbítrio" no nosso comportamento. Num nível mais profundo, quando rejeitamos o mal e escolhemos o bem e, mais ainda, quando transformamos o próprio mal em bem, efetuamos uma elevação não só em nós mesmos, mas no mundo inteiro, elevando-o para mais perto da última perfeição. Daí, no enfoque mais profundo, o propósito final de tumá, do "outro lado", é que atinjamos os níveis mais elevados. A ocultação é apenas externa; como diz o conhecido dito chassídico: "Toda descida objetiva uma ascenção maior". E toda ocultação de D'us, todos os aparentes obstáculos, são para a finalidade de uma revelação maior. Quando a alma desce a este mundo para se envolver num corpo material, ela sofre uma descida incomparável à sua existência anterior puramente espiritual. O próposito dessa descida, porém, é para que a alma possa subir ainda mais alto na sua apreensão de D'us e atingir uma hierarquia ainda mais elevada do que possuia antes de descer para este mundo. Ela pode alcançar essa elevação somente através do veículo do corpo e do serviço de D'us neste mundo físico e interior. Assim por um lado existe mais ocultação e mais impureza no mundo material; por outro lado, somente através das lutas aqui a alma será capaz de subir mais alto. O estado de nidá, "impureza" A partir dessa explicação poderemos entender melhor alguns dos diversos aspectos abrangidos no conceito de "impureza" pelo judaísmo. Tomemos como exemplo o ciclo mensal da mulher. Todo mês, há nela um potencial de santidade capaz de ativar o sublime poder espiritual da criação, que atinge um ápice no seu corpo (uma"ascenção"). Quando este potencial não é preenchido e a kedushá se afasta, os remanescentes, agora sem vida, são removidos do corpo. E por isso essa "descida" é suscetível de tumá, culminando num estado temporário de impureza (nidá}.Não se deve esquecer, porém, que é precisamente por causa do alto nível de Divindade envolvido no processo criativo, que ocorre essa tumá. Mas aqui novamente essa "descida" para nidá é com o propósito de uma ascenção maior, através da purificação no micvê e um novo ciclo de subida para um nível mais alto de kedushá no mês seguinte. O micvê capacita a pessoa a alcançar um nível mais alto, a ascender ainda mais do que no mês anterior. Neste sentido, o micvê e o ciclo mensal da mulher podem ser comparados ao Shabat e ao ciclo semanal de cada judeu. A alternância do dia santo de Shabat com os dias mundanos da semana é o mesmo ciclo de ascenção e descida - recomeçando a cada sete dias. Os sete dias mundanos levam ao Shabat no qual o mundo se torna elevado, purificado e ascende à sua Fonte. E cada judeu recebe então uma "alma extra", que torna a perder quando o Shabat se vai e ele tem que "descer" novamente para as lutas da semana. Essas mesmas lutas, nas quais nos engajamos durante os seis dias, purificam a nós e ao mundo, e se tornam elevadas no Shabat, nos capacitando a subir cada vez mais alto, toda semana, em constante progressão. Sono e vigilância Tomemos um outro ciclo - a alternância cotidiana do sono e da vigília. De acordo com a lei judaica, cada pessoa, ao acordar, deve lavar as mãos para remover o "espírito de impureza" que adere a elas durante o sono. Quando dormimos, há um"afastamento de kedushá do corpo" - enquanto a alma "ascende à sua Fonte", em cima. Novamente, esse "rebaixamento natural" permite que a "impureza" se instale. Nossas mãos estão em estado de tumá ao acordarmos, mas elas não estão "más". O mesmo vale para tumá durante o ciclo mensal da mulher. É o resultado de um certo afastamento da kedushá, mas não é um estado de degradação ou de inferioridade. O Rebe oferecia uma compreensão ainda mais profunda da natureza interior dessas descidas. Segundo ele, desde que a descida é de fato uma preparação necessária para a ascenção e seu propósito final é a elevação - a descida nada mais é do que uma parte da própria subida. Por fora tem a aparência de uma descida; por dentro, ela é realmente um aspecto de ascenção. Netilat Yadayim Netilat yadayim é o nome que se dá a todas as lavagens rituais que visam exclusivamente a purificação das mãos. Seu nome deve-se ao utensílio usado para a mesma denominado "natlá", do aramaico. Outro motivo é baseado no sentido da palavra netilá que indica elevação, uma vez que, quando lavadas, as mãos devem ser erguidas para que as águas atinjam toda sua extensão. O mesmo deve ser feito ao recitar a berachá. A maneira correta de proceder a netilá, é deixar a mão entreaberta para que a água possa atingir também as pontas dos dedos. Razões da netilat ao acordar Há alguns motivos porque os nossos sábios instituíram netilat yadayim ao despertar:
Há algumas opiniões que dizem ser o sono o causador deste processo, enquanto outras determinam que a própria noite desencadeia este fato.
Foi instituída a netilat yadayim antes das refeições quando se come pão, com a finalidade de purificar as mãos antes do manuseio dos alimentos, idéia que vem reforçar a importância da santificação de todos os aspectos da nossa vida. E na realidade os nossos sábios interpretaram o versículo que diz: "e vos santificarei", explicando que se refere e faz alusão à netilá antes das refeições. Netilat yadayim - ao acordar Logo ao despertar, após ter dito o Modé Ani, deve-se proceder à netilat yadayim. Antes da netilá deve-se evitar o seguinte: a) pronunciar o nome de D'us ou palavras daTorá; b) andar dois metros; c) manusear alimentos, bebidas ou roupas; d) tocar as mãos nos olhos, nariz, ouvidos, boca ou demais orifícios do corpo. Como devemos evitar andar dois metros antes da netilá é recomendável preparar na véspera um recipiente com água e uma bacia e deixá-los próximo à cama, a fim de realizar a netilá imediatamente ao acordar. Se possível deve-se procurar utilizar um recipiente de duas alças. Deve-se cuidar em não mergulhar ou tocar na água antes da netilá a fim de não impurificá-la. Se a netilá foi feita antes do raiar do sol, ao amanhecer, deve-se tornar a realizá-la (pois a própria noite é causadora da impureza), porém sem repetir a bênção. Ao dormir de dia, despertando, também, deve-se proceder a netilá sem a bênção. Procedimento da netilá ao despertar
Refeições nas quais é necessária a netilá:
Como se procede a netilá e seus preparativos
O motivo porque os nossos sábios não instituiram dizer a berachá antes da própria netilá (no início da mitsvá - como nos outros preceitos) é que supunham que as mãos da pessoa estivessem impuras antes da netilá, não estando ela, portanto, apta a recitar uma berachá. Caso tenha esquecido de recitar a berachá antes de esfregar as mãos, deve-se recitar a mesma, antes de enxugá-las. Se também antes de enxugar, ela foi esquecida, faz-se a berachá depois, ao lembrar. Deve-se erguer as mãos ao recitar a berachá, conforme o costume Chabad (para outros costumes, consulte o rabino de sua congregação). Que água deve ser usada para a netilá? Para a netilá é necessário utilizar água que não teve sua cor e aparência modificadas, tanto pelo lugar em que se encontra ou por algo que caiu e se misturou a ela mesma (como vinho, cerveja etc.), o que a torna inapta para a netilá. Água não potável é inapta para a netilá. Portanto, água salgada do mar também não deve ser utilizada. Porém pode-se mergulhar as mãos no mar fazendoTevilat (imersão) Yadayim (das mãos). Também é necessário que a água da netilá não tenha sido utilizada para nenhuma finalidade anteriormente e que nada tenha sido mergulhado dentro dela. O recipiente para a netilá O recipiente a ser utilizado deve conter (de uma só vez) no mínimo 86 ml. Deve estar inteiro sem nenhum orifício ou fendas. Mesmo que abaixo do orifício ou da fenda até a superfície do recipiente haja uma capacidade de 86 ml é inapto para a netilá. A força propulsora da netilá A água do recipiente deve chegar às mãos proveniente de uma força humana (da própria pessoa ou de outra). Água que cai por si (automaticamente) é inadequada para a netilá. Por isso, não havendo um recipiente (caneca, copo) onde encher a água da torneira deve-se proceder da seguinte maneira: abrir a torneira com uma mão, umedecendo com o jato inicial a outra mão e em seguida por três vezes na outra mão repetindo o processo (pois apenas o primeiro jato d'água a cair é considerado conseqüência direta e extensão da força humana que abriu a torneira). A berachá BARUCH ATÁ A-DO-NAI E-LO-HÊNU MÊLECH HAOLÁM ASHER KIDESHÁNU BEMITSVOTÁV VETSIVÁNU AL NETILAT YADAYIM. Bendito és Tu, ó Senhor nosso D'us, Rei do Universo, que nos santificou com os Seus mandamentos e nos ordenou sobre o lavar das mãos. |
segunda-feira, 3 de fevereiro de 2014
A lavagem ritual das mãos
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