terça-feira, 24 de junho de 2014

“Redenção Quântica”

“Redenção Quântica” – © 2010 - Rabino Avraham Chachamovits 

Pêssach marca a redenção do Povo de Israel. Redenção significa que de um nível de realidade, com suas características e determinantes, a consciência deste Povo expandiu-se para um grau com novas características e determinantes. De fato, como é bem sabido Egito, em Hebraico Mitsráyim, representa constrições, Maytsarim. Portanto, qualquer expansão de fronteiras físicas e da consciência implica na liberação de um impedimento, bloqueio, e constrição determinante da realidade vivenciada até então. Quando o Povo de Israel saiu do Mitsráyim, eles imediatamente iniciaram um novo grau de percepção da realidade que jamais tinham imaginado. Sim, durante os momentos finais desta redenção, as 10 pragas milagrosas que recaíram sobre o Egito já revelavam graus da realidade de uma outra ordem do que eles (e os egípcios) estavam acostumados. Esta era uma fase de revelação precursora da redenção, portanto contendo já elementos vívidos do que estaria por vir. Isto é comum em todas as fases de transição na realidade física, pois como ela espelha o espiritual, e o espiritual é um domínio de qualidade e não quantidades, a maneira da realidade física mostrar “alterações” se dá através de fases. Nestas fases, qualidades afins gradualmente se unem na “direção” de qualidades adjacentes, até a formação de uma nova e diferente fase da anterior.
Quando o Povo de Israel fisicamente deixou seu cativeiro, graças à misericórdia e evidente intervenção Divina, arque tipicamente eles alteraram também a sua capacidade de perceber a realidade, ou seja, o movimento aqui em baixo/ações implicou em uma mudança/nova fase em cima, na consciência/mundos superiores. Ainda sim, houve aqueles chamados de érev rav (“as multidões dos povos”) em que o dito Judaico se aplicou: “Mesmo a maior das montanhas pode ser bloqueada da visão pela menor das moedas”, pois ainda que participassem desta erupção na realidade, se recusaram a aceitá-la1. Mas igual, a ideia de afetarmos os mundos superiores é o conceito fundamental místico judaico de que todos os Olamót (“mundos espirituais”), incluindo este mundo, são interconectados. Entretanto, o nosso mundo material, a razão final para a Criação, tem um lugar especial nesta inter conectividade, a saber, 

ele se encontra em uma posição central e de destaque sobre todos os mundos. Isto significa que latente em nosso universo reconhecido, e exatamente devido à luz de D-us ser bloqueada pelo grau físico da matéria, existe o potencial extraordinário de propiciar alinhamento e afetar o funcionamento dos mundos superiores. A razão desta força tão singular de nossa realidade é devida ao fato de que, este mundo, é a base dos mundos, assim como uma âncora podendo estabilizar ou não todo o fluxo da Ór Ayin Sóf (“A Luz Divina”) que descende dos níveis espirituais mais elevados até aqui. Portanto, todas as ações em baixo, no mundo físico, afetam profundamente os mundos superiores que por sua vez “respondem” a esta agitação do nível inferior, da âncora. Obviamente isto tem grandes implicações em nossas vidas, pois estabelece a dinâmica de “causa e efeito” (na vida de cada um) gerada por nós mesmos, em acordo com as nossas ações aqui. Ou seja, nós criamos a nossa realidade! E isto é possível (e real), pois D-us nos deu bechirát chófshit – “livre arbítrio” para atuarmos em nosso universo, de acordo com as forças e regras particulares operantes aqui.
Agora, a nossa dimensão física, a realidade em que estamos tão acostumados a vivenciar, é constituída por uma quarta dimensão, mais elevada, entretanto associada diretamente a este grau de nossa percepção: a dimensão do tempo. Portanto, percebemos as coisas não somente em termos de sua materialidade, mas de sua posição na linha do tempo, o “quando” das coisas. Estas dimensões estão sujeitas as outras dimensões transcendentais que estabelecem um processo cíclico de renovação constante. A renovação cíclica é a essência de todo o processo criativo, e a percepção deste processo nos habilita em tomarmos parte nele. Isto significa que podemos nos renovar, e assim mudar a direção de nossas vidas, ainda que os temas particulares se manifestem ciclicamente, pois cada ciclo traz novas oportunidades de renovação. É por esta razão que a Hagadá de Pêssach afirma que, “Em cada geração a pessoa precisa se sentir como se tivesse saído pessoalmente do Egito”. E os mestres da Torá ainda ensinam que é preciso sair do Egito diariamente! Ou seja, se ficamos presos no tempo e dimensões físicas que restringem a nossa consciência, então não há renovação, mas somente a estagnação e a total perda da capacidade de sobrepujar os nossos limites e fraquezas. Agora, se nos conectamos com o tempo transcendental – o processo intrínseco de revitalização de toda a Criação – que é “marcado espiritualmente” pelos arquétipos que construíram a nossa realidade, temos a força espiritual de mover adiante e romper com nossas amarras. Se a pessoa se sente como tendo ela mesmo saído do Mitsráyim, ela pode expandir suas fronteiras de consciência, implicando na liberação de algum
impedimento, bloqueio, e constrição determinante de sua realidade vivenciada até então. E esta possibilidade de “acessar” milagres do passado e presente e receber uma porção deles de modo que estes milagres forjem novos graus de consciência e assim, realidade para a pessoa, afetam de modo profundo toda a nossa experiência de vida. Veja que um nês (“milagre”) tem uma energia espiritual fortíssima, pois representa uma revelação de YKVK na realidade do grau de Elokim/HaTeva/Natureza. Através da dimensão do tempo, que é mais elevado do que as dimensões físicas, os milagres são acessados. Assim, um dia de redenção como o dia de Pêssach contém em si o próprio arquétipo de todas as redenções e os aspectos vários que fazem parte deste momento – incluindo a liderança deste processo pela Mão Guiadora da Providência Divina revelada. O mundo todo existe neste dia com uma força de redenção superior. Se pessoas sabem como acessar esta força espiritual, consciente ou até inconscientemente, elas serão – em algum grau – redimidas de seus Maytsarim, iniciando uma nova fase da realidade delas e do mundo em geral. Isto é assim mesmo que a percepção seja limitada e até fortemente negada pelo érev rav do momento.
E de fato, neste Pêssach 5770, logo nos primeiro dia da festa, no dia 15 de Nissân (terça-feira, 30 de Março de 2010), tivemos uma mostra fundamental de mudança de fase mundial de realidade, ainda que para tantos este evento talvez possa ter passado despercebido. Neste dia, cientistas do centro de pesquisa Cern (localizado na fronteira entre a França e a Suíça, perto de Genebra) começaram a promover colisões de partículas a energia muito elevada e a velocidade próxima à da luz a fim de criar miniversões do “Big Bang”, evento que deu origem ao Universo. Isto significou a abertura das portas à Nova Física, a um novo período de descobertas na história da humanidade. Neste dia de Redenção esplendorosa, feixes de partículas começaram a circular em direções opostas no túnel oval de 27 quilômetros do Grande Colisor de Hádrons, ou LHC na sigla em inglês, a uma energia de 3,5 tera-elétron volts (TeV), ou 3,5 bilhões de bilhões de elétron volts. Quando as partículas colidiram umas com as outras, cada colisão criou uma explosão que permitiu e continuará a permitir que milhares de cientistas vinculados ao projeto em todo o mundo rastreiem e analisem o que aconteceu um nanossegundo depois do verdadeiro Big Bang, 13,7 bilhões de anos atrás! Os cientistas esperam que a grande experiência lance luz sobre mistérios importantes do cosmos, como a origem das estrelas e dos planetas e o que exatamente é a matéria escura, que acredita-se ser responsável por cerca de 25% do Universo físico. Os pesquisadores, no decorrer dos estudos no LHC, também esperam encontrar prova real da existência da energia escura, que representa os cerca de 70% restantes do cosmos. E com esta nova era da física, pela primeira vez, cosmologistas buscarão “provar” a existência de outros universos paralelos e de dimensões além das conhecidas.
Certamente, este é um grande momento de redenção da consciência mundial que tem vivido nas constrições do Egito científico. A Torá nos ensina sobre todos estes assuntos há milhares de anos. Dimensões superiores, universos paralelos, matéria e energia escura, etc. Mas agora, mesmo o próprio “mundo secular” que é desprovido de fé se aproximará, se D'us quiser, da conclusão simples e de máxima importância de que Mêlo Kól Ha’aretz Kevodô (“Sua Glória preenche todo o mundo”2). Esta convergência de Torá e ciência é uma marca inaugural da Era Messiânica, um tempo de milagres. Afinal, o vivenciar mundial destas “novas” descobertas extraordinárias revelarão de fato (aos que precisam de milagres revelados para adquirirem fé) que os Olamót existem, que frequencias mais baixas ou altas de luz ocultam dimensões que operam com leis completamente distintas das nossas, e que este universo é sim habitado por infinitas criaturas que os nossos sentidos não percebem, e tantas outras miríades de coisas que o mundo, antes imaturo e não pronto, ignorava com arrogância ou explicava de modo ainda infantil ou acadêmico. Acima de tudo, se tornará cada vez mais impossível evitar lidar com este sublime conhecimento do “novo universo” que se abre, como não sendo o produto das revelações da Providência Divina na Natureza. O homem sem fé precisará finalmente vislumbrar que não existe Natureza, pois Ein Ód Milvadô (“Não existe outro/nada além d’Ele”3) –  tudo é H'shem e a Natureza é apenas a sua luva!
E sobre a visão prejudicada de tantos, inclusive da comunidade científica, está escrito: “Somente eu, Daniel, percebi a visão. E os homens que me acompanhavam não a enxergaram”4. Veja que, a realidade objetiva da manifestação Divina é uma experiência muito subjetiva, e a tendência é sempre ver aquilo que realmente se deseja ver. Verdadeiramente, D-us se revelou Ele mesmo no Egito. Aqueles que quiseram crer – judeu ou gentio5 – seguiram Ele no deserto. Eles viram. Mas, os que se recusarem a ver a nova realidade e crer em D-us – judeu ou gentio – não viveram para gravar as suas experiências. Ele não viram. E assim como D-us removeu “uma nação do meio de uma nação”, 

Ele agora permite que de partículas subatômicas já conhecidas pela ciência seja removida uma nova “nação de estruturas” ainda mais refinadas e extraordinárias que compõem a realidade. E estes milagres mostrarão a grandeza inexplicável da criação, obra do Mestre do Universo. Sim, pois agora e através do instrumento da ciência que serve a D-us como tudo, poder-se-á inaugurar a Era Final da evolução da humanidade. De um novo grau de entendimento espiritual como nunca antes houve, pois este será o tempo quando “A glória do S‑nhor se revelará, e toda a carne [ou seja, através dos nossos sentidos físicos] juntamente a verá”6, e a experiência do Divino será atingida em plenitude. E como traz a Hagadá, este será o tempo em que “Continuamente nos devotarmos ao agradecer, louvar, exaltar, glorificar, honrar, abençoar, enobrecer e aclamar Ele quem realizou todos estes milagres para nossos antepassados e para nós mesmos [hoje em dia]”, pois todas estas novidades imprimirão na consciência humana o sentido de espanto e deslumbrar profundos a D'us. E que isso seja assim muito em breve em nossos dias amém ve’amém, sélah.  



1 Hoje em dia é igual, e de fato o Ari”zal ensina que todo o érev rav reencarnará na geração final – a nossa, portanto, já estão aqui – que testemunhará a Redenção Final do único e verdadeiro Mashiach, amém. 

         2 Isaías 6:3. 3 Deuteronômio 4:35. 4 Daniel 10:7. 5 O Ari”zal explica que isso se refere ao Judeu de dentro dos Judeus e do gentio de dentro dos gentios (ver Sha’ar HaPasukim, Shemot). Estes gentios elevados são os chamados Bnêi Nôach.
                                                            6 Isaías 40:5.

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