Nordeste dos judeus esquecidos.
O Sertão nordestino é pano de fundo desta viagem às raízes do Brasil onde costumes e tradições apontam uma origem judaica que se confronta com o judaísmo oficial à partir do momento em que um grupo de pessoas resolver reivindicar essa identidade. Veja fotos do documentário no canal CÂMERA IDISH. O que têm em comum Luciano Oliveira, um jovem médico da Paraíba, João Medeiros, um engenheiro aposentado de Natal e Odmar Braga, um policial negro pernambucano? Os três nasceram em famílias cristãs do sertão nordestino mas seguem a religião judaica. Não se converteram. São judeus retornados. Curioso? Inusitado? Judaísmo no sertão? E o que dizer do Monsenhor Araújo, um padre renomado do Seridó, extremamente católico, que se apresenta como judeu da diáspora? E de dona Cabocla, nascida e criada no vilarejo de Venha Ver, Rio Grande do Norte, beata, devota de 26 santos, e com hábitos nada cristãos como orar para Lua Nova, sepultar os mortos com mortalha e sem caixão e jogar fora as "águas" da casa quando falece alguém? Alguns costumes entre tantos outros arraigados na cultura sertaneja - como não comer carne de porco, colocar pedrinhas em túmulos, cobrir os espelhos durante o luto - que até duzentos anos atrás levavam seus praticantes às fogueiras da Inquisição Portuguesa como judaizantes. Para Dona Cabocla, hábitos inconscientes... Para o Monsenhor Araújo, apenas uma herança histórica... Para Luciano, João e Odmar, indícios para assumir a condição judaica... E o que acontece quando os judeus do sertão se confrontam com o judaísmo oficial representado pela ortodoxia? São aceitos como judeus? O documentário "A Estrela Oculta do Sertão" coloca frente a frente dois lados de uma mesma moeda. Ao confrontar o judaísmo oficial com o judaísmo dos retornados são trazidas à tona questões como tolerância, identidade, preconceito e fé. Até que ponto o reconhecimento do outro é mais importante do que a própria crença em quem somos? COMO SURGIU A IDÉIA DO PROJETO? A idéia do documentário 'A Estrela Oculta do Sertão' surgiu há cinco anos a partir da leitura de uma matéria de jornal sobre uma pequena vila - menos de 800 habitantes - no extremo oeste do Rio Grande do Norte chamada Venha Ver. Segundo a reportagem um rabino americano havia constatado que a população local, apesar de totalmente católica, possuía hábitos nada cristãos, principalmente os relacionados aos costumes de morte. Os habitantes, cujas famílias viviam na região há mais de 3 séculos, casavam entre si, conheciam sua genealogia e tinham certas práticas que eram passadas dentro da família, sem caráter religioso. Enterravam os mortos em terra limpa, sem caixão, envolvidos em mortalha, lavavam os corpos e cortavam as unhas dos defuntos, jogavam fora as águas da casa durante o velório. Rituais semelhantes aos praticados no judaísmo, muitos deles tão antigos que não são tão usuais hoje em dia. O curioso é que Venha Ver se encontra numa das áreas mais pobres do país, possui apenas uma rua, uma igreja e um posto médico... o acesso é díficil, por estrada de terra, nos arredores moram cerca de 2500 pessoas, a maioria sem luz elétrica... a nós coube a pergunta: como essa parte da população poderia ter hábitos judaicos? Como o judaísmo teria chegado ao Sertão? A partir daí começamos uma longa jornada que nos levou aos nossos colonizadores. O Brasil foi descoberto em 1500 pelos portugueses, apenas 3 anos depois do decreto do rei Dom Manuel que obrigou todos os judeus em Portugal a se converterem ao catolicismo. Ficaram conhecidos como cristãos novos, marranos, conversos, anusim. Era o início da Inquisição Portuguesa que só foi abolida em 1821. O que pouca gente sabe é que em Portugal, nesta época, 10% da população de 1 milhão de habitantes - cerca de 100 mil pessoas - era de origem judaica. Para se ter uma idéia, segundo o IBGE, o Brasil de hoje, século XXI, tem 120 mil judeus... somos 180 milhões de habitantes! Em 2002, realizamos o documentário Caminhos da Memória - A Trajetória dos Judeus em Portugal onde fomos à procura dos resquícios da presença judaica em território lusitano. O contato com historiadores e antropólogos nos deu embasamento e, de certa forma, nos direcionou para o documentário que queríamos fazer desde o início: sobre as raízes judaicas do Brasil... afinal fomos colonizados pelos portugueses! Segundo a historiadora da USP Anita Novinsky - autoridade mundial em Inquisição Portuguesa - 1 em cada 3 portugueses que aqui chegaram nas primeiras décadas do Descobrimento era cristão novo. No entanto, o que se iniciou como um trabalho de registro de costumes e tradições, sem conotação religiosa, algo mais próximo da antropologia, ganhou vida e emoção quando chegou às nossas mãos a carta de um jovem médico da Paraíba que dizia-se judeu de origem cristã nova mas que não era reconhecido como tal pelo judaísmo oficial.
Foi o fio de uma meada que nos levou aos Estados de Pernambuco, Rio Grande do Norte e Paraíba onde entrevistamos outros nordestinos na mesma situação. Pessoas que ao revirarem o passado descobriram que suas famílias tinham tradições de origem judaica, que mantiveram os costumes através de casamentos endogâmicos, e que, ao resolver retornar à religião judaica, encontravam as portas fechadas. Casos como o da família Medeiros de Natal - já na terceira geração de retornados; do poeta negro pernambucano Odmar Braga e seus filhos e de Luciano Oliveira, o jovem médico da carta são uma amostra de um fenômeno que vem ganhando cada vez mais força no nordeste: a consciência do marranismo.
Desembarcamos em Recife em janeiro de 2004 e durante um mês rodamos o sertão - principalmente da Paraíba e Rio Grande do Norte, região do Seridó - indo até o extremo oeste do RN, na cidade de Venha Ver. Passamos por Natal, Mossoró, Caicó, João Pessoa. Encontramos especialistas, famílias que retornaram ao judaísmo, famílias católicas com costumes judaicos. Constatamos em Venha Ver o que havíamos lido no jornal...
O documentário 'A Estrela Oculta do Sertão' tem 85 minutos de duração. A primeira metade se passa no Nordeste apresentando os personagens e mostrando o que existe na cultura brasileira que pode ser apontando como de origem judaica. Já a segunda acompanha a vinda do médico Luciano Oliveira, de 26 anos, a São Paulo, o encontro com a comunidade oficial e o confronto com os rabinos ortodoxos. A partir daí são levantadas questões ligadas a preconceito, tolerância, fé, reconhecimento. Quem determina afinal se uma pessoa pode ou não seguir determinada religião? Os outros ou a própria pessoa? As respostas ficam para o espectador... ver menos
Por Gilberto - Novembro 27 2010
Olá, preciso contactar voce, para saber mais sobre os Judeus em nosso estado: 83 9 9936 9100 ( efigenio Moura)
ResponderExcluir