segunda-feira, 20 de junho de 2016

GOY, GOY… OU GOY?

GOY, GOY… OU GOY?
Muita tristeza, confusão e decepção surge por conta do emprego da palavra goy, para se referir a pessoas não judias. Esse termo é frequentemente utilizado de forma errada, e assim gera muitas dúvidas. É importante, portanto, esclarecê-las.
Antes de tudo, convém dizer que o hebraico bíblico é uma língua muito antiga, e com vocabulário pequeno. Claro, a vida era bem mais simples nos tempos antigos. Ninguém falava sobre internet, DNA, motor a combustão, antibióticos e tantas outras palavras modernas. 
Muitas palavras, com o passar do tempo, assumiram diversos significados agregados, a medida que a vida ia se sofisticando. O caso clássico é o da palavra Pessa'h que, dependendo do contexto, pode se referir ao sacrifício pascoal, ao feriado do primeiro dia da Festa dos Ázimos, ao jantar que se faz na referida festa, ou à própria Festa dos Ázimos, que dura 7 dias. 
Outro exemplo: A palavra nefesh pode significar uma pessoa, um ser vivo, um cadáver, o estado de espírito de alguém, sua profissão, seu apetite, etc. Tudo derivando do sentido original de vitalidade. 
Da mesma forma ocorre com tantas outras palavras não existe na literatura judaica um sentido único para a palavra goy.  E isso está por trás da confusão e dificuldade de muitos.
O sentido original da palavra simplesmente significa povo ou nação. Uma das primeiras promessas dadas a Abraão foi: “Eu farei de ti um grande goy…” (Gn. 12:2). 
Da mesma forma, o Eterno diz, acerca do povo de Israel: “e vós sereis para mim… goy santo.” (Ex. 19:6)
O problema começa quando se traduz o termo goyim como ‘gentios’. E isso se estabeleceu com o predomínio do Cristianismo. Sobre o termo, diz a Wikipedia:
“A palavra gentio designa um não israelita e deriva do termo latino gens (significando "clã" ou um "grupo de famílias") e é, muitas vezes, usada no plural. Os tradutores cristãos da Bíblia usaram esta palavra para designar coletivamente os povos e nações distintos do povo Israelita.” 
Porém, tal tradução foi um grave erro cometido pelos tradutores cristãos, pois acabou atribuindo à palavra um sentido que no original hebraico simplesmente não existia. 
Basta um versículo para provar que a tese dos tradutores cristãos era equivocada. Observe o que diz o ETERNO quando Rebeca estava grávida de Esaú e Jacó: 
REVOLUÇÃO MONOTEÍSTA
OU GOY?
“Dois goyim há no teu ventre, e dois povos se dividirão das tuas estranhas, e um povo será mais forte do que o outro povo, e o mais velho servirá ao mais moço.” (Gn. 25:23)
Como poderia o termo se referir ao coletivo de nações israelitas, quando tão claramente Israel é chamado de goy a todo instante, e o plural goyim aqui, e noutros trechos, inclui a nação de Israel?
O conceito inserido pelos tradutores faz parecer que as Escrituras judaicas seriam preconceituosas. 
Na maioria das vezes, o termo goyim é empregado, na Bíblia judaica, para se referir às nações ao redor de Israel, que eram, todas elas, nações idólatras. Observe o exemplo abaixo: 
“E agora eu entreguei todas estas terras na mão de Nabucodonosor, rei de Babilônia, meu servo…Todos os goyim lhe servirão, e a seu filho, e ao filho de seu filho, até que venha o tempo da sua própria terra; e então muitas nações e grandes reis se servirão dele.” (Jr. 27:6,7)
 Sabemos que Nabucodonosor não governou o planeta inteiro. Tanto o contexto quanto a história deixam claro que o termo se refere à região do Oriente Médio antigo, e não a absolutamente toda a humanidade. 
Já observamos, portanto, que o termo goy significa povo ou nação, já foi usado para se referir a Israel e que ‘todos os goyim’ pode ser empregado para as nações adjacentes, e não para a terra toda. Vimos ainda como tradutores cristãos corromperam o uso da palavra.
Um outro uso na Bíblia judaica também é de menção importante, onde o Eterno diz: “Não aprendais o caminho dos goyim, nem vos espanteis com os sinais do céu; porque deles se espantam os goyim, pois os costumes dos povos são vaidade; corta-se do bosque um madeiro e se lavra com machado pelas mãos do artífice.” (Jr. 10:2,3)
Pelo contexto, se observa que o ‘caminho dos goyim’ é um eufemismo para a idolatria. E se refere  ao costume das nações adjacentes a Israel. 
Esse uso é importantíssimo, pois viria a influenciar toda a literatura judaica posterior, que começou a utilizar o termo abreviado ‘goy’ para se referir ao ‘homem que anda segundo os costume das nações’. Isto é, para o homem que pratica a idolatria. 
Foi então que o termo começou a ser utilizado para indivíduos, coisa que na Bíblia judaica jamais ocorre. 
Porém, o contexto quase sempre era o supracitado. Infelizmente, muitos hoje supõem que o termo indique necessariamente um indivíduo estrangeiro, o que não é verdade. 
Observe que, no hebraico, já existia desde o princípio uma palavra que significa estrangeiro. Trata-se da palavra nokhri, que aparece 46 vezes na Bíblia judaica!
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O TERMO NAS ESCRITURAS Nas 561 vezes em que o termo goy ( )גוי
aparece no Tanakh, não há uma instância sequer em que signifique um indivíduo de origem estrangeira.
Cerca de 40 dessas referências são à própria nação de Israel.
ORIGEM ETIMOLÓGICA O radical גו é de origem fenícia. Originalmente, significando ‘comunidade’. 
No fenício, a palavra também não implicava referência a estrangeiros.
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Maimônides, um dos maiores sábios do povo judeu, disse muito enfaticamente: 
“Sempre que nos referimos a um ‘goy’, sem qualquer descrição adicional, significa alguém que adora falsas divindades.” (Mishnê Torá - Sefer Qedushá - Hilkhot Ma’akhalot Assurot 11:8)
É justamente por isso que um judeu reza, todas as manhãs, dizendo ao Eterno: ‘Bendito és, que não me fizeste um goy.’ O que ele está dizendo é: ‘Bendito és, que não me fizeste alguém que está entre os que seguem os caminhos da idolatria.’ 
Não há no Judaísmo um conceito de de que o judeu seja dotado de superioridade moral, espiritual ou coisa semelhante. Isso não quer dizer, infelizmente, que não haja dentro do povo judeu extremistas e desinformados. O povo judeu, como todos os povos da terra, é composto de pessoas boas e ruins, pessoas sãs e insanas, ideias brilhantes e estapafúrdias. 
Excessos como o supracitado devem ser combatidos, assim como se deve combater a ideia popular entre muçulmanos de que os judeus sejam os donos do mundo, ou entre denominações cristãs que julgam ter a verdade, e acreditam que todas as demais estão condenadas. 
Em sendo assim, está mais do que na hora de aposentar o uso amplo, geral e irrestrito do termo, pois só colabora para fomentar uma confusão, que acaba gerando uma desnecessária animosidade entre monoteístas judeus e monoteístas de outras nações. 
Mas, como não vivemos em um mundo ideal, no qual imperariam o bom senso e a erudição, é melhor sempre estar atento quando se deparar com o termo ‘goy’.
Convém indagar-se as seguintes questões: Qual é o sentido do termo nesse texto em particular? Acaso se refere a uma nação (Israel inclusive)? Se estiver no plural, se refere a nações adjacentes a Israel, a todo o planeta, ou a nações idólatras? Se estiver no singular, refere-se a um idólatra, ou há outro sentido?
Da mesma forma que há religiões que equivocadamente acreditam que a alma está no sangue, por mau emprego do termo nefesh, a leitura fora de contexto pode ser muito perigosa. Convém então prezar pela boa interpretação de qualquer passagem.
A IMPORTÂNCIA DO ORIGINAL 
Um dos principais problemas da leitura das Escrituras a partir somente de textos traduzidos é a impressão que certas ideias sejam bíblicas, quando na realidade foram introduzidas por tradutores.
Frequentemente, o retorno ao original pode desfazer tais equívocos com relativa facilidade. 



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