Existe na humanidade uma notável tendência a ignorar e recusar o que não é conhecido. Se eu não entendo o sentido da religião do outro, os gostos do outro, os costumes do outro, ou simplesmente não gosto deles, o caminho mais rápido, menos trabalhoso, para lidar com as diferenças é simplesmente dizer que são costumes primitivos, esquisitos e desprezíveis. Assim são criados os preconceitos. Isso ocorre o tempo todo!
No mundo cristão, é comum aparecerem mitos sobre o “Antigo Testamento”, sobre a “Lei de Moisés”. Isso acontece porque esses assuntosnão são os assuntos centrais do cristianismo. O cristão entende de Novo Testamento. Do Antigo, só o que é usado para justificar o Novo e as historinhas para crianças. Quem quiser comprovar o que estou dizendo, pergunte a um cristão mediano qual era o sentido dos sacrifícios. Muitíssimo provavelmente ele só vai falar em “pecado”. Pergunte-lhe sobre o que acontecia se uma pessoa pecasse, e ele vai, provavelmente, falar em morte. Pergunte-lhe sobre quais eram as ofertas que os sacerdotes recebiam, e ele vai resumir tudo ao “dízimo” de todos os ganhos financeiros das pessoas, que, como sabemos, nunca existiu! Você pode constatar também que o cristão tem a convicção plena de que Jesus cumpriu profecias messiânicas, de forma que ele nem sequer entende como é possível neste mundo que alguém não associe aquelas profecias a Jesus. Apesar disso, ele nunca leu as ditas “profecias” dentro do contexto do livro inteiro, apenas as leu com um olho no texto e outro no Novo Testamento! Assim é muito fácil fazer distorções! É necessário “ouvir o que diz” o Antigo Testamento sobre ele mesmo!
Mas não estou culpando os cristãos por esses desconhecimentos, nem poderia fazê-lo. O cristianismo é baseado no Novo Testamento, não na Torá. O judaísmo é baseado na Torá. Portanto, quem mais sabe de Torá é o judaísmo. Claro como águas cristalinas, mas difícil de entrar na cabeça de alguns. Como a meta deste blogue é espalhar a informação sobre o “Antigo Testamento”, para quebrar esses paradigmas equivocados, aqui vão ser desmistificadas quatro ideias errôneas e distorcidas sobre a Torá que o cristianismo moderno tende a construir. Trata-se de frases prontas e princípios que continuamente são afirmados pelas pessoas, fazendo juízos de valor, sobrepondo o Novo Testamento, “livro do amor e civilização”, ao Antigo, que parece ser um livro de barbaridades e derramamento de sangue. Vamos ao ponto:
Mito nº 1 – A Torá é indiferente ao estrangeiro (não-judeu)
Nenhum outro mito poderia ser colocado em primeiro lugar. A mais frequente acusação ao povo judeu religioso (e, consequentemente, às fontes de sua religião) diz que esse povo “se sente o único para Deus”, “vê os gentios como impuros”, “não se mistura com os não-judeus”, “quer um messias político só para sua nação” etc. Continuamente, essas palavras são ditas em púlpitos de igrejas, em tom de acusação, deixando as pessoas com caras de assustadas e certa postura “defensiva” em relação a um povo tão “na sua”. Alguns dizem “ainda bem que os judeus foram rejeitados”, coisas desse tipo. Parecem sugerir que “no regime da Lei” nenhum não-judeu tem vez, estão todos separados de Deus e amaldiçoados. Esse preconceito está baseado no Novo Testamento, que sugere essas ideias (Mt 15, 25-26; Jo 4, 22; Ef 2, 11-12; I Co 12, 2 etc.).
Infelizmente, esse também sempre foi o argumento preferido dos antissemitas, dos nazistas, das pessoas que causaram a morte de milhões e milhões de judeus através da história. O antissemita Haman, por exemplo, segundo o livro de Ester, alegou como motivo para o genocídio dos judeus que estes são “um povo, cujas leis são diferentes das leis de todos os povos, e que não cumpre as leis do rei; por isso não convém ao rei deixá-lo ficar.” (Ester 3, 8).
Todas essas oposições podem ser resumidas assim: são respostas ao fato de o povo judeu crer-se escolhido por Deus. De acordo com a Torá, Deus disse:
“Agora, pois, se diligentemente ouvirdes a minha voz e guardardes a minha aliança, então sereis a minha propriedade peculiar dentre todos os povos, porque toda a terra é minha.” (Ex 19, 5).
Isso significa que se Israel guardasse as leis da Torá, somente assim ele seria o povo particular. A etnia judaica não garante qualquer benefício, a não ser que o judeu aceite o pacto com o único Deus, que é o Deus de toda a terra e que foi o Deus de Adão, Noé, Enoc (não judeus) até Abraão, início da nação judaica! Deus falou com este último, de acordo com Gênesis 18, 17 – 19:
“E disse o Senhor: Ocultarei eu a Abraão o que faço, Visto que Abraão certamente virá a ser uma grande e poderosa nação, e nele serão benditas todas as nações da terra? Porque eu o tenho conhecido, e sei que ele há de ordenar a seus filhos e à sua casa depois dele, para que guardem o caminho do Senhor, para agir com justiça e juízo; para que o Senhor faça vir sobre Abraão o que acerca dele tem falado.”
O povo judeu é uma etnia assim como a japonesa, a indígena ou a africana! A única diferença se faz a partir do momento que essa etnia começa a fazer o que é certo, assume uma aliança nacional com Deus, cumpre as leis dadas pelo Senhor, e portanto vira um modelo para outros povos. É muito mais fácil educar o mundo através de um referencial (uma cultura monoteísta, que pode ser a cultura de um povo) do que através de uma mensagem global a princípio. Não caberia o mundo inteiro no Sinai¹. Coube o povo de Israel. As demais nações veriam o povo de Israel e elogiariam o seu modelo, desejando adquirir suas características (deve-se ler Nm 24, 5-9 e Dt 4, 6). O foco era abençoar todas as nações da terra, como está explícito na história de Abraão, e não criar um povo com pedigree.
Muitos não sabem, mas a Torá (Lv 22, 24-25) cita regras para que se aceitem sacrifícios de não-judeus no Tabernáculo (futuro Templo de Jerusalém)! Se um não-judeu quisesse adorar Deus, portanto, nada o impediria. Temos no Tanakh (Bíblia Hebraica, “Antigo Testamento”) histórias de estrangeiros que tiveram um relacionamento próximo com o único Deus: Raabe (Js 6, 25), Rute (Rt 1, 16), Naamã (II Rs 5, 17), sem falar de todos os anteriores à Torá, que, portanto, não eram fiéis da Lei de Moisés. O profeta disse que a casa de Deus seria chamada “casa de oração para todos os povos” (Is 56, 7). O rei Salomão disse, em oração:
“Assim também ao estrangeiro, que não for do teu povo Israel, quando vier de terras remotas por amor do teu grande nome, (...) vindo eles e orando nesta casa; Então, ouve tu desde os céus, do assento da tua habitação, e faze conforme a tudo o que o estrangeiro te suplicar; a fim de que todos os povos da terra conheçam o teu nome, e te temam, como o teu povo Israel;” (II Crônicas 6, 32-33).
As demais nações, independentemente de aceitar a religião israelita tinham suas soberanias, suas terras dadas por Deus, e não deveriam ser molestadas. Não deveria haver uma conquista sem critério:
“(...) Informem o povo de que deverão atravessar a terra dos seus parentes, os edomitas, descendentes de Esaú, que viveu aqui em Seir. Os edomitas estão desconfiados de vocês, e têm medo; portanto sejam cautelosos. Não provoquem nenhum conflito! Porque lhes dei a eles toda esta região acidentada do monte Seir. É uma área que será sempre deles; por isso não vos darei nem sequer um torrão dessa terra. Paguem-lhe todo o alimento ou água que precisarem enquanto passarem por lá. O Senhor vosso Deus tem cuidado de vocês e vos tem abençoado em cada momento destes quarenta anos que têm andado por este grande deserto; nada vos tem faltado em tempo algum.” (Dt 2, 3-7)
“Depois o Senhor avisou-nos: 'Também não devem atacar os moabitas, visto que não vos darei nada daquela terra. Pertence aos descendentes de Lot.” (idem, 2, 9).
A postura do povo judeu frente ao estrangeiro nunca deveria ser de opressão, e se o estrangeiro viesse buscar abrigo com judeus, deveria ser amado e bem acolhido, de acordo com vários mandamentos da Lei Divina (leia Ex 22, 21; 23, 9; Lv 19, 33).
Se alguns judeus historicamente têm odiado, têm tido preconceito e desconfiança para com os não judeus (o que é totalmente errado e contra a Lei), foi porque os judeus sempre viveram em comunidades isoladas, sendo vítimas do antissemitismo. Todas as palavras duras da literatura judaica sobre os não-judeus são frutos de experiências terríveis de que o povo judeu nunca se viu livre. Apesar disso tudo, a Lei é clara e existe no culto verdadeiro lugar para todas as nações (Sl 117), devendo o povo judeu ser apenas um modelo. Para o não judeu que ama o povo de Israel existe normalmente a opção de se tornar um judeu via conversão ou, se preferir, pode seguir apenas os mandamentos morais fundamentais (incluindo ser estritamente monoteísta), e nenhum judeu rabínico tradicional fiel à Torá vai acusá-lo ou rejeitá-lo.
Mito nº 2 – Sacrifícios são uma das coisas mais importantes na Torá
"De fato, segundo a Lei, quase todas as coisas são purificadas com sangue, e sem derramamento de sangue não há perdão." (Hebreus 9, 22). Esse versículo do Novo Testamento é constantemente citado por cristãos como tudo que uma pessoa precisa saber para concluir que sem derramar sangue em sacrifício ninguém pode obter o verdadeiro perdão divino. Alguns chegam a desafiar os judeus perguntando-lhes onde estão os sacrifícios judaicos hoje, ao passo que os cristãos teriam a cobertura do sangue humano de Jesus, que seria um substituto dos sacrifícios de uma vez por todas.
Existem dezenas de textos cristãos que afirmam que Jesus morreu para perdão de pecados humanos (Mt 26, 28; Rm 3, 25; 5, 8-9; IICo 5, 14; Gl 3, 13; IIPe 2, 24 etc.). Ninguém pode negar que essa é uma das crenças principais do cristianismo ou de qualquer movimento que negue o título de cristão mas siga o Novo Testamento. Mas qual é realmente a ideia do chamado Antigo Testamento sobre os sacrifícios animais? Ela coincide com a ideia do autor da Carta aos Hebreus ou é diferente dela?
Com certeza a ideia do autor de “Hebreus”, se a assumimos como afirmação absoluta, não está de acordo com o que diz a Torá. No Antigo Testamento podemos encontrar a palavra expiação associada explicitamente a meios que não envolvem derramamento de sangue, como ofertas vegetais (Lv 5, 11-13), incenso (Nm 16, 46-48), dinheiro (Ex 30, 16) e principalmente oração e confissão do pecado (I Rs 8, 46 -50; Os 14, 1-2). Mais do que isso, lemos sobre nossos profetas o tempo todo criticando severamente a fixação das pessoas em oferecerem sacrifícios. Vários profetas afirmaram que o que Deus quer não são sacrifícios e outros ritos religiosos feitos superficialmente, e sim comportamento reto neste mundo:
“Agradar-se-á o Senhor de milhares de carneiros, ou de dez mil ribeiros de azeite? Darei o meu primogênito pela minha transgressão, o fruto do meu ventre pelo pecado da minha alma? Ele te declarou, ó homem, o que é bom; e que é o que o Senhor pede de ti, senão que pratiques a justiça, e ames a benignidade, e andes humildemente com o teu Deus?” (Miquéias 6, 7-8).
“Assim diz o Senhor dos Exércitos, o Deus de Israel: Ajuntai os vossos holocaustos aos vossos sacrifícios, e comei carne. Porque nunca falei a vossos pais, no dia em que os tirei da terra do Egito, nem lhes ordenei coisa alguma acerca de holocaustos ou sacrifícios. Mas isto lhes ordenei, dizendo: Dai ouvidos à minha voz, e eu serei o vosso Deus, e vós sereis o meu povo; e andai em todo o caminho que eu vos mandar, para que vos vá bem” (Jeremias 7, 21-23). Veja também Is 1, 11-16; Sl 51, 15- 17; Dt 12, 30 – 32.
O ideal nunca foi o sacrifício, o rito religioso. O ideal é o arrependimento sincero, a volta ao caminho verdadeiro. É importante lembrar uma importante prática que sempre deve ser feita, de acordo com a Torá: A confissão dos pecados, chamada em hebraico “vidui” (וידוי). A pessoa que faz um pecado deve confessar a Deus verbalmente o que fez, da melhor forma que puder, insistindo em que não se orgulha do que fez e que não deseja tornar a fazê-lo. A fonte dessa prática está em Nm 5, 6-7. De acordo com os sábios judeus, a pessoa que oferece sacrifícios por pecado não obtém a expiação pelo ato, a não ser que confesse²!
De acordo com a opinião de Maimônides, grande médico, filósofo e codificador da lei judaica, os sacrifícios nem mesmo eram uma prática “ideal” da Torá, e sim uma concessão feita por Deus ao povo hebreu pelo fato de que todas as religiões que os israelitas conheciam tinham sacrifícios. As pessoas não conheciam uma forma de adoração que não tivesse sacrifício ³! Dizer aos hebreus recém-saídos do Egito que Deus não precisava de sacrifícios era como dizer hoje que Ele não precisa de nossas orações. Não funcionaria! Muita gente não sabe, mas os sacrifícios não começaram com o povo hebreu de jeito nenhum! Podemos ler em textos de praticamente todos os outros povos antigos sobre sacrifícios muito parecidos com os descritos na Torá. O que a Torá realmente fez foi criar regulamentações para esses sacrifícios, determinando onde e como eles deveriam exclusivamente ser oferecidos, além de proibir que eles fossem feitos a outros deuses, insistindo no ritual contínuo dos sacrifícios ao Deus verdadeiro.
As pessoas do mundo antigo acreditavam que Deus (ou os deuses) precisava de sacrifícios para se alimentar. Essa é a origem dos sacrifícios. Dizer que não existem outras formas de se conseguir o perdão de nossos pecados a não ser pelo sacrifício de sangue assemelha-se a reduzir Deus ao que os povos primitivos reduziam! Na verdade, Ele, sendo Autossuficiente, não precisa de nenhuma de nossas práticas, nem por um momento.
Outros mitos que não custa nada citar aqui são os que dizem que todos os sacrifícios eram para expiar pecado e que todo pecado requeria um sacrifício. Nem um nem outro condiz com a verdade. Havia diversos tipos de sacrifícios, como, por exemplo, holocaustos (Nm 28, 3ss) que eram oferecidos (dois) todos os dias para Deus e os sacrifícios de pazes (Lv 3) que eram oferecidos para louvar o Senhor, cumprir votos ou mesmo como uma forma de agradecimento— o próprio ofertante consumia a maior parte da carne deste tipo de sacrifício. Sacrifícios acompanhavam a subida dos judeus a Jerusalém por ocasião das festas (Ex 23, 14ss) e até fases da vida, como o nascimento de filhos, após um período de purificação da mãe após o parto (Lv 12, 6). Por outro lado, nem todo pecado requeria um sacrifício. Para citar um único exemplo: não existe na Lei nada que diga que se a pessoa comesse carne de animais proibidos deveria apresentar sacrifícios. Na verdade, a grande maioria dos sacrifícios de pecado eram oferecidos por ações feitas inconscientemente. Para melhor desmistificar todas as questões envolvendo sacrifícios, sugiro que o leitor procure ler o livro de levítico, ou seus primeiros capítulos pelo menos, em uma tradução judaica tradicional com comentários rabínicos.
Mito nº 3 – Não há tolerância para transgressores, de acordo com a Torá.
O terceiro mito diz respeito às pessoas que descumprem as leis da Torá. Acho que todos os cristãos evangélicos já ouviram frases como “ninguém conseguiu cumprir a Lei”, “no tempo da Lei era morte pra quem pecasse”, “agora no tempo da graça tem o perdão; na Lei não tinha perdão” e “quem falha em um mandamento da Lei falha na Lei toda”. Todas essas frases são preconceituosas! Não fazem sentido, porque Deus não daria uma lei nacional para Israel, chamando suas cláusulas de “estatutos perpétuos”, fazendo maravilhas jamais vistas em outro episódio da humanidade ao entregá-la, diante de milhões de testemunhas oculares, comandando que os pais contassem as leis para os filhos eternamente, e tudo isso para quê? Para fazer uma “brincadeirinha” com o povo e criar regras impossíveis de serem cumpridas e, como se não bastasse, não ter tolerância para os transgressores, provavelmente condenando-os à morte!
Se a questão dessas frases é “ninguém merece totalmente o favor de Deus por cumprir obras”, concordamos. O ser humano é falho e defeituoso, e é isso que nós somos, não há que perder o sono por isso! Tudo que o Senhor faz por nós é fruto de Sua infinita misericórdia e bondade. Não há dúvidas quanto a isso. Nossas obras não são suficientes para agradecer sequer por Deus ter nos criado. Ele não precisava ter nos criado, mas nos criou com amor! No entanto, não é só isso que está implicado nessas frases. As frases têm como pano de fundo a crença em que a Torá deveria trazer justificação (termo relacionado à salvação), mas não o faz, porque seus mandamentos não são cumpridos. Mas será que a Torá serve para “salvar as pessoas”? Do ponto de vista do Antigo Testamento, os seres humanos nem mesmo estão condenados espiritualmente desde o nascimento. O que existe é o princípio da recompensa e punição. Tudo que o homem faz “volta pra ele” neste mundo ou no vindouro. Não existe no Antigo Testamento o conceito de uma pessoa pagar o preço por outra (Ex 32, 32 -33; Jr 32, 19; Ez 18 etc.). As leis da Torá estão muito mais contidas em um contexto de ética no dia a dia do que em questões de “ir para o céu”. Mas isso é outro assunto.
Não vamos perder o foco: em primeiro lugar, é necessário cumprir todos os mandamentos da Torá? Os mandamentos são 613, 248 do tipo “farás”, ou seja, comandos a que devemos obedecer, e 365 do tipo “não farás”, proibições, naturalmente. Todos esses mandamentos e proibições devem ser cumpridos por todas as pessoas? A resposta é NÃO! Nem todos os 613 mandamentos devem ser cumpridos por todos! Havia mandamentos cumpridos só pelos sacerdotes (abençoar o povo, fazer o serviço do Tabernáculo etc.), alguns deles só podem ser cumpridos pelos homens (circuncisão etc.), alguns eram feitos condicionalmente (mandamentos relacionados a doenças, a pecados), alguns só pelos homens ricos, proprietários de gado e terras produtivas (as várias dádivas para os sacerdotes, levitas, pobres, leis relacionadas a escravos etc.), alguns eram mandamentos para a coletividade, não para indivíduos (destruição de Amaleque, construção do templo e nomeação de um rei), a redenção de um filho primogênito só poderia ser feita pelo pai de um filho (do sexo masculino) primogênito, e um montante imenso dos preceitos só vigoram durante a existência do Templo em Jerusalém! No fim das contas, apenas 60 dentre os 248 mandamentos de tipo “farás” são sempre aplicáveis! ⁴
Pouco mais de 24% dos mandamentos de tipo “farás” são sempre vigentes para todos os israelitas! Portanto, é falsa a ideia de que todos os 613 mandamentos da Torá devem ser cumpridos por todos. Consequentemente, o argumento “ou cumpre os 613 ou não cumpriu nenhum” é absurdo. Se alguém perguntar, no entanto, se há perdão para o sujeito que falha nos mandamentos a que ele é estritamente obrigado, estará fazendo uma boa questão. A resposta é “CLARO!”. Ora, a própria Torá prevê a questão do pecado, e oferece um dos mandamentos positivos (“farás”) para a confissão (vidui), que já citamos acima. Há também o Iom Kipur, ou dia do perdão, em que há a promessa de perdão para qualquer pessoa que cumpra o ritual. Veja:
“E isto vos será por estatuto perpétuo: no sétimo mês, aos dez do mês, afligireis as vossas almas, e nenhum trabalho fareis nem o natural nem o estrangeiro que peregrina entre vós. Porque naquele dia se fará expiação por vós, para purificar-vos; e sereis purificados de todos os vossos pecados perante o Senhor.” (Levítico 16, 29-30)
Portanto, temos a promessa do Eterno que através de nosso arrependimento e “aflição” (jejum de 24 horas etc.), podemos alcançar a graça de Deus e o perdão por nossas muitas faltas.
Mas e a pena de morte? As pessoas não tinham a morte como resultado de seus pecados contra a Lei de Moisés? Quase nunca! É verdade que a pena de morte está prevista na Torá, mas, ao contrário do que uma leitura superficial e distorcida do livro de Êxodo parece sugerir, ninguém vivia fiscalizando o próximo para pegá-lo no pecado e aplicar a pena de morte instantânea. Esse mito da pena de morte sem critérios vem da má compreensão de expressões como “certamente morrerá” e “será extirpado de seu povo”. Apesar de Ex 21, 12 parecer sugerir que quem praticava homicídio era morto de imediato, lemos em Nm 35, 12 que havia o julgamento, e em Dt 16, 18 que havia o tribunal. É ingenuidade achar que a sociedade sob a Torá era um “Velho Oeste” em que estava instalado um regime de retaliação sem critério!
A tradição judaica⁵ nos faz saber que os critérios para que uma pessoa fosse condenada à morte eram extremos: o pecador deveria ter sido advertido claramente sobre os perigos de ser condenado, deveria haver testemunhas confiáveis que depusessem, um tribunal de 23 juízes era necessário para julgar o caso, a maioria a favor da condenação deveria ser de dois juízes ou mais, se o réu fosse condenado, o tribunal era considerado um “tribunal destrutivo”, entre outros detalhes muito estritos! Tudo isso era feito para tornar impossível que um inocente fosse condenado. Rabinos como Rabi Aquiva, por exemplo, disseram que se tivessem feito parte de um tribunal, ninguém jamais teria sido condenado à morte. Os casos de “julgamento” que aparecem no Novo Testamento, “a mulher adúltera”, por exemplo, não condizem com qualquer sistema judaico tradicional de julgamento, e possuem grandes contradições e problemas. Nem sequer havia na Torá a pena de jogar pedras numa pessoa até a morte. Durante a execução da pena chamada “sequilá” (palavra traduzida como “apedrejamento”) a pessoa era jogada sobre a pedra, e não o contrário!
Outra grande maluquice é dizer que a morte era a pena universal para os descumpridores da Lei. Há quem diga isso! Muitíssimas transgressões eram punidas (na ausência do Templo em Jerusalém, não pode haver tribunal judaico prescrevendo castigos), após o devido julgamento, com açoites, indenizações em dinheiro, sacrifícios ou a pessoa não era punida senão por Deus.
Ou seja, os judeus tradicionais não são a favor de sair matando pecadores! A pena de morte na Torá era apenas um fator inibidor do crime, apenas aplicável, provavelmente, em casos extremos em que o pecador agisse de forma desafiadora e pública. A crença em que a pena de morte é o “cartão postal” da Lei é resultado do antissemitismo. Por favor, amigo cristão, pare de chamar a Torá de “doutrina da morte”, de dizer que “no tempo da Lei era o regime da morte”, coisas desse tipo! Além de não estar sendo verídico, você está militando contra a Lei do Eterno, promovendo o afastamento da Bíblia e divulgando o ateísmo! Duvida? É só procurar o sites ateus que usam argumentos distorcidos sobre a pena de morte e outras questões do Antigo Testamento!
Vou citar mais alguns exemplos de tolerância que podemos ver claramente na Torá. Duas vezes lemos que Deus interviu acrescentando às próprias leis para torná-las mais tolerantes e benéficas para as pessoas: quando algumas pessoas não puderam celebrar a Páscoa por estarem impuras na data certa (Números 9, 6-10) e no caso das filhas de Zelofeade (Números 27, 7), em que mulheres apareceram perante Moisés para reclamar direito a heranças. Lemos em II Cr 30 que as pessoas não estavam puras como deveriam para celebrar a Páscoa — a primeira Páscoa em muito muito tempo, diga-se de passagem— mas fizeram mesmo assim e Deus as abençoou. Elias, o profeta, ofereceu sacrifícios fora do lugar determinado, o que poderia ser tido como transgressão da Torá (I Rs 18; compare com Dt 12, 13-14). Em Josué lemos que o povo havia deixado de praticar a circuncisão (Js 5, 5), em Neemias 8, 14 lemos sobre a primeira festa dos tabernáculos em muitos anos e em II Cr 34, 15 sabemos que a Torá escrita ou parte dela havia sido deixada de lado pelo povo! Ou seja, em pouquíssimas partes da Bíblia lemos sobre um povo de Israel fiel à Lei de Moisés, e nem por isso Deus deixou de se fazer presente na história desse povo. Deus não é intolerante, e sim paciente e compassivo, como lemos:
“(...) Porque eu, o Senhor teu Deus, sou Deus zeloso, que visito a iniquidade dos pais nos filhos, até a terceira e quarta geração daqueles que me odeiam. E faço misericórdia a milhares dos que me amam e aos que guardam os meus mandamentos.” (Êxodo 20, 5-6).
Mito nº 4 – A Torá ordena a aplicação de leis desumanas
Já tratamos da questão da pena de morte no mito anterior. Existem, no entanto, outras práticas “causadoras de desconforto” que podem ser atribuídas à Lei Mosaica através de uma leitura superficial e desconectada dos sábios do judaísmo. Falar sobre todas as barbaridades que são atribuídas à Torá é uma tarefa para um artigo muito maior, e não é a intenção, portanto, deste texto. Mas vamos tentar desmistificar, de forma resumida, cinco pontos que deixam os leitores ocidentais do Antigo Testamento profundamente perplexos e desconfiados. As pessoas pensam: como o mesmo Deus do Novo Testamento poderia ter ordenado isso? A verdade é que é raríssimo que uma pessoa procure pela resposta dessa pergunta. Muito mais fácil é assumir que sim, o Antigo Testamento era uma grande barbaridade! Muitas pessoas dizem isso! No entanto, essa não pode ser uma postura sincera de uma pessoa que diz crer no Deus do Antigo Testamento! É necessário estar pronto para explicar algo mais sobre esses aparentes problemas! Vamos aos textos:
- “Olho por olho, dente por dente” – A lei de Talião era aplicada na Torá? Uma leitura superfidial de certos versículos de Êxodo faz pensar que sim, que a punição para a pessoa que causava um dano era exatamente a mesma que ela havia causado. Muita gente repete o tempo todo que “no tempo da Lei era assim”. A tradição judaica, no entanto, explica que a palavra táhat, geralmente traduzida como “por” (olho porolho –Êx 21, 24), significa “no lugar de”, “em restituição a”. Ora, arrancar o olho de uma pessoa que causou a cegueira em seu próximo não vai em nada trazer benefício à pessoa ferida! O Talmud traz exemplos para mostrar como o entendimento excessivamente literal desse texto não poderia ser justamente aplicado na realidade: e no caso de o agressor já ser cego de um olho? Haverá justiça em tirar-lhe o olho restante? E se o agredido já era cego antes da agressão? O agressor será punido em dois olhos? Qual é então o entendimento correto dessa frase? Compensação monetária! Que o criminoso tenha que pagar, de acordo com o que tribunal julgar apropriado, de modo proporcional!
- Escravidão – Mas e a escravidão? Vamos negar também que havia escravidão na Torá? Bem, a palavra que aparece na Torá no lugar em que há “escravo” nas bíblias em português é ‘éved, que significa servidor, servo. É a mesma palavra que se aplica a nós enquanto adoradores do Deus Único. Se a pergunta é: “o servo bíblico teria o mesmo tratamento de escravos como conhecemos, sem nenhum direito, totalmente propriedades do seu dono?”, a resposta é NÃO! Um hebreu só seria servo, de acordo com a aplicação da Torá, em dois casos: ou ele havia roubado e, por não poder pagar pelo que roubou, era vendido (Ex 22, 3) ou havia vendido sua força de trabalho, em situação de extrema pobreza (Dt 15, 12; Lv 25, 29). O convertido ao judaísmo não poderia ser vendido como escravo (Lv 25, 41), O serviço desnecessário, degradante e excessivo era totalmente proibido para o servo hebreu (Lv 25, 43), ele não poderia ser vendido num leilão, da mesma forma que faziam com os escravos (Lv 25, 42), além de só ser vendido a israelitas e ser tratado como os da casa do senhor (Dt 15, 16)! Além disso, está dito na Bíblia que o servo recebia a liberdade no ano do jubileu (Lv 25, 40). Em resumo, as leis do servo hebreu eram tantas e tão amplas que os sábios disseram “quem compra um servo compra um senhor para si mesmo!” (Hilkhôt ‘avadim 1, 9). É verdade que de acordo com a Torá o servo cananeu não teria o mesmo tratamento do servo hebreu, descrito acima, mas os sábios ordenaram que também o servo cananeu não fosse maltratado. O servo estrangeiro inclusive deveria passar por um processo de conversão ao judaísmo (ver Talmud Berakhot 47b, em que lemos sobre se um servo pode ser libertado para formar minian)! É interessante notar que nem tudo o que está permitido pela Torá deve ser obrigatoriamente praticado. Está claro que a escravidão é um horror e que a liberdade sempre foi um dos grandes valores da Torá! Lemos em Gênesis sobre o homem ser criado à imagem de Deus, e em Êxodo sobre o povo de Israel ter sido libertado por Deus da “casa da servidão”. Lemos acima sobre não oprimir o estrangeiro, pois fomos estrangeiros. Não se pode pensar que é interessante, do ponto de vista da Lei de Deus, que a escravidão seja praticada! Pode-se dizer que certos pontos da Lei foram concedidos, num primeiro momento, para responder às necessidades da comunidade dos hebreus recém-saídos do Egito; e daí para a frente, cabe à humanidade evoluir de acordo com os valores de Deus.
- Genocídio – Talvez nenhum dos outros temas aqui cause tanto desconforto, constrangimento e dúvidas quanto este. Como assim o Deus Único mandou que os hebreus exterminassem povos inteiros, incluindo mulheres e crianças? Como é possível?! Felizmente, existe um artigo muito bem escrito, fruto da pesquisa de Sha’ul Bensiion, sobre este assunto. Chama-se “Mistérios do Tanakh: Torá e Genocídio” ⁶. Em suma, Bensiion mostra que há textos que proíbem a assimilação do povo hebreu com aqueles povos cuja aniquilação total aparentemente fora ordenada (Dt 7, 1-4). Ora, isso só faria sentido se houvesse sobreviventes dos povos citados! O autor mostra também textos que falam sobre Deus expulsando os povos (Ex 23, 28-30) e sobre a sobrevivência posterior de povos que “deveriam ter sido destruídos” (Rt 1, 1-4 cp Dt 2, 29. 34), assim como mostra a prática da época de Josué, que era destruir as famílias governantes, não o povo (Js 11, 12). Bensiion demonstra linguisticamente que a tradução de `am (“povo”) pode variar para “líderes”, e que a ideia de totalidade, como encontrada na Bíblia Hebraica, não é absoluta.
- Opressão sobre as mulheres e estupro – Esta “barbaridade” também é uma das preferidas dos acusadores. Usando textos da parachá (porção da Torá) chamada Ki Tessê (Iniciada em Dt 21, 10), eles mostram que a Torá “defende a escravidão sexual de mulheres vencidas durante uma guerra”. Usam também o finalzinho do capítulo 22 de Deuteronômio para afirmar que se um homem estuprasse uma mulher, a pena pelo seu crime seria o casamento com ela! Vamos responder a cada parte de uma vez. O primeiro texto não fala em momento algum sobre “escravidão sexual”, muito pelo contrário! A Lei ordena que o homem hebreu, nesse caso, se case com a mulher cativa, após essa haver guardado o luto por sua vida passada, não a tratando como escrava, sendo seu marido como de qualquer outra mulher (vv. 13-14). Deve-se ter em mente que essas leis, hoje acusadas anacronicamente de serem desumanas, eram avanços em relação ao que acontecia no mundo antigo, e não somente isso: ainda ocorre em nossos dias, quando vemos em noticiários que soldados consideram o estupro de mulheres “do inimigo” um direito! A Torá ordena o casamento com a mulher! Dt 23, 15 ordena que o campo militar israelita seja lugar de santidade, o que se interpreta inclusive como lugar em que não ocorre um comportamento sexual imoral ⁷. A respeito do suposto “estupro seguido de casamento”, sabemos, através da tradição ⁸, que a moça só se casaria se consentisse nisso, e não seria obrigada.
- Apedrejamento do filho rebelde – A leitura superficial de Dt 21, 18 ss. leva as pessoas a pensarem que a Torá prega o apedrejamento imediato de crianças teimosas. Essa é mais uma das passagens “chocantes” da Bíblia, que figuram em todos os sites “ateus proselitistas”. O problema está em isolar essa passagem de sua aplicação pelos tribunais judaicos. Ninguém morreria sem passar pelos tribunais, como já vimos acima quando falamos da pena de morte. De acordo com os rabinos, o “filho teimoso e rebelde” só poderia ser um menino com a idade entre 13 e 13,5 anos, que roubasse dinheiro suficiente para comprar uma quantidade estipulada de carne, que comia mal assada, em má companhia, fora da casa de seu pai ⁹!! Ou seja, mais uma vez, percebemos que a quantidade de detalhes necessários para levar à execução da pena capital era tão grande que a aplicação, de acordo com o judaísmo tradicional rabínico, era impossível! Diz o Talmud (Bavli, Sanhedrin 71a) que esse caso do filho teimoso e rebelde “nunca ocorreu, e nem ocorrerá no futuro”! Ou seja, a lei era um espantalho para inibir o comportamento rebelde e teimoso. O leitor não é forçado a acreditar que o que está dito na tradição judaica reflete a aplicação da Torá no decorrer de toda a existência do seu texto, mas deve notar a verdade: a aplicação das penas descritas na Torá jamais foi imediata, sem julgamento e sem critérios. Os textos trazem uma orientação geral, mas o procedimento do tribunal que julgaria o processo (ver novamente Nm 35, 12 e Dt 16, 18) não é descrito na Torá, de forma que não se pode afirmar que a “aplicação da barbaridade” após o julgamento era a regra!
Em resumo, sempre que alguém aparecer sugerindo que a Torá é uma compilação de regras primitivas, com pena de morte a torto e a direito, é necessário levar em consideração alguns critérios, para que não se chegue a uma conclusão injusta e parcial, com inclinação a desprezar a Lei Mosaica:
1- A pessoa conhece minimamente o texto? Há quem venha falar sem nem conhecer!
2- Ela consultou diferentes versões, ou, melhor ainda, foi ver no original?
3- Ela relacionou o texto a outras passagens, para tentar chegar a um entendimento, ou caiu no versículo “de paraquedas”?
4- Ela tem conhecimento de tradição judaica? Citou o entendimento de alguém do judaísmo a respeito da questão? É necessário “ouvir o acusado” também!
Conclusão
Não se deve falar de um assunto sobre o qual não se sabe! É errado afirmar uma coisa só porque vem do senso comum. E se o senso comum estiver errado? Deve-se buscar informação antes de formar o conceito sobre alguma coisa, ou serão formados preconceitos! Parece-me grave que alguns cristãos, pessoas que estudam a Bíblia, desprezem o fundamento e início da Bíblia, formando apenas visões totalmente superficiais e ingênuas dos textos. Tais pessoas não percebem que estão lutando contra os próprios fundamentos da fé deles! É exatamente isso que está acontecendo! Como posso dizer que a Torá possui barbaridades, é excludente, sanguinária e intolerante para com quem não consegue cumpri-la — apesar de cumpri-la “ser uma tarefa impossível”—, e ainda assim ter minha fé baseada em cima desse livro! Não faz o menor sentido. Está mais que na hora de se fazer justiça ao “Antigo Testamento”, mostrando suas coisas boas, suas verdades, o que ele realmente ensina, e não a imagem que se tem dele.
¹ Existe um midrach (ensinamento na forma de relato) que afirma que no Sinai foram ouvidas vozes em 70 idiomas, para que as 70 nações de então tivessem acesso à mensagem da Torá. Outro midrach mostra que os dez mandamentos estão escritos em 620 letras, representando os 613 mandamentos dos hebreus e os 7 mandamentos básicos de toda a humanidade (chamados 7 mandamentos dos filhos de Noé). Ambos falam da universalidade da mensagem do Sinai.
² Maimônides, Michnê Torá, Hilkhôt Techuvá 1, 2.
³ Leia mais a esse respeito, inclusive vendo a opinião de Maimônides em seu “Guia dos Perplexos”, no seguinte artigo nosso: http://biblia-hebraica.blogspot.com.br/2015/12/elementos-pagaos-na-biblia-um-problema.html
⁴ Fonte: Maimômides, sêfer hamisvot.
⁵ Em muitíssimas questões, a Torá escrita não dá detalhes profundos, ou até mesmo quaisquer detalhes sobre a forma como os preceitos devem ser feitos. Essa constatação, além de outras evidências, deixa clara a existência de uma tradição fora da Torá escrita que explicava como o israelita deve proceder. Essa tradição é chamada no judaísmo de “Torá oral”. Um futuro artigo será preparado sobre esse tema.
⁷ Para leituras complementares, ver, em inglês, o artigo “Parashat Ki Tesse Part II
On Torah Advances for Human Rights”, do Sephardic Institute, disponível emhttp://judaicseminar.org/bible/ki_tese2.pdf
⁸ Michnê Torá, H. Na`ará betulá 1, 3
⁹ Sanhedrin 68b, 70a; Rambam, H. Mamrim 7, 2;5.
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