terça-feira, 1 de dezembro de 2015

ÉTICA DO SINAI –

O QUE 22 ANOS DE EXÍLIO FAMILIAR ENSINOU A YOSSEF?



(por R. Joaquim Aharón Filho).
Hashem ajudou Yossef também na prisão. O oficial encarregado dos presos percebeu que podia confiar completamente em Iosséf e ordenou: "Que Iosséf não seja vigiado como os outros presos. Ele tem permissão para circular livremente. Eu o nomeio supervisor dos outros presos." Por 10 anos Yossef esteve na prisão como supervisor. (MIDRÁSH)
Pirkêi Avóth IV, 22 – Rabi Yaacov costumava a ensinar: “Uma hora de ‘PENITÊNCIA’ e de realização de ‘BOAS OBRAS’ neste mundo é mais bela do que toda a vida por vir; e mais bela é ainda uma hora de ‘BEATITUDE’ no mundo futuro do que toda a vida presente...”
ANTES DE TRATARMOS O ASSUNTO DA VENDA E DA PRISÃO DE YOSSEF NO EGITO, CABE-NOS PERGUNTAR “PORQUE OS JUSTOS SOFREM?” VEREMOS UMA RESPOSTA DO ZÔHAR, PARASHÁ VAYÊSHEV–
Rabi Chiyá falou sobre o texto: Por isso me escutem vós homens de entendimento. Longe esteja de D’us que Ele pudesse fazer maldade; e do Todo Poderoso que Ele pudesse cometer iniquidade. Pois a obra do homem lhe será devolvida e fará que cada um tenha um fim encontrado segundo seus caminhos (Iyóv 34:10-11).
Continuou seu discurso: D’us ao criar o mundo teve a intenção de baseá-lo sobre a justiça, e tudo o que acontece no mundo há de ser pesado com as medidas de justiça, pois se assim não fosse, o mundo não seria salvo de perecer, D’us protegeu o mundo pondo ao seu redor um escudo de misericórdia, que tempera a pura justiça e evita que seja destruído o mundo.
Assim, o mundo é governado com misericórdia e pode persistir. Porém, podeis perguntar: Não é pouca coisa o homem ser castigado por D’us imerecidamente? A resposta é, como se afirmou, que quando o sofrimento ataca a um homem justo, isso se deve ao amor que D’us tem para com ele.
Hacadósh Barúch Hú quebranta o corpo do Tsadik para poder dar mais força a sua alma, de modo que possa aproximar-se de Hashem com um amor ainda maior. Pois é necessário que o corpo humano esteja fragilizado (para não ansiar pelas paixões carnais) e a alma esteja fortalecida (nos preceitos da Torá), de modo que o homem possa ser amado por D’us.
Como hão afirmado os companheiros de estudos da Torá, Hacadósh Barúch Hú inflige sofrimento aos Tsadikim (justos) no Olam Hazê (neste mundo), para que possam merecer o Olam Habá (o Mundo Vindouro).
Porém, aqueles (ímpios, RASHÁYIM) cuja alma está fragiliza e seu corpo está fortalecido (com as delícias e paixões da carne), a esse, D’us o odeia.
Porque D’us não se apraz nele, não lhe inflige dor neste mundo e permite que sua vida flua brandamente com facilidade e comodidade, e se efetua um ato virtuoso o recompensa neste mundo, desta forma, nada lhe cabe como pão no Olma Habá (mundo futuro).
Isso concorda com a paráfrase aramaica do texto da Torá feita por Onkelos: "Ele deu a paga aos que O odeiam em seu rosto" (Devarim 7:10), que diz: "Ele deu o pago aos que O odeiam neste mundo". Então, o homem justo que é continuamente quebrantado é amado de Hacadósh Barúch Hú.
Bem, várias dificuldades surgem quando fazemos tal afirmação. Em primeiro lugar, sabemos que a Shechiná não reside em meio a ambientes tristes, senão somente onde há alegria. Por esta razão Eliseu disse: "Agora, traga-me um músico, e assim aconteceu que quando o trovador executava, a mão do Eter-no veio sobre ele" (II Rs. 3:15).
A mesma lição nós aprendemos de Yaacov, de que a Shechiná partiu de sobre ele durante os anos em que estava se afligindo por Yossef, mas ela retornou tão pronto quando lhe chegou noticias alegres acerca de Yossef, quando, como está escrito, "o espírito de Yaacov, o pai deles, reviveu" (Bereshíth 45:27).
Sendo assim, podemos perguntar – onde se acha o espírito alegre no homem justo de corpo quebrantado, dado que ele se encontra atormentado por seus sofrimentos? E não sabemos (através da literatura talmúdica) de muitos homens justos, queridos pelo Todo Poderoso, que nunca foram presa de sofrimento agudo ou de debilidade física?
Por que agora tal discriminação? Por que há justos fisicamente robustos e de bom ânimo e há outros presos nas minas romanas? Umas das explicações dadas é que os primeiros nasceram de pais justos, enquanto os outros, ainda que sejam justos, seus pais não foram.
Mas muitos dos sábios se opõem a isso que foi afirmado acima, pois também, temos visto em nossa geração muitos homens justos que são filhos de pais justos, e, mesmo assim, estão sofrendo males corporais e sofrem durante toda a sua vida. Aqui há um segredo indesvendável, pois os caminhos de D’us se baseiam na verdade e na justiça.
Em conexão com este verso, encontrei nos livros dos antigos sábios de Israel, um conceito hermético e junto dele havia outro conceito de difícil analogia, ambas iguais. Este era o conceito: há um período que a lua (Israel quanto às mitsvóth) está defeituosa, o juízo a visita, e o sol (a Shechiná) está escondido dela (para os pecados serem expiados).
Bem, durante todo o tempo em que a lua está cheia, em toda esta estação, as almas dos filhos dos homens se libertam para que entrem na Terra Santa, havendo eles se reunido previamente para este propósito (como em Pêssach, no relato do Êxodo).
Então, das almas que ela põe em liberdade durante o período em que está debaixo da sentencia (quando a lua está defeituosa), cada alma judia sempre será vítima de degradação e pobreza, e acaba sofrendo outros castigos, independentemente de que seja pecaminosa ou justa.
Porém, está claro entre nós que a reza pode evitar toda sentença de castigo. Mas as almas libertas durante o período da lua cheia (a semelhança do Pêssach do relato do Êxodo), num grau de completude e de uma correnteza de águas eternas que fluem (pela influencia desta lua cheia), estão destinadas a gozar de abundância de todas as coisas boas.
Já a riqueza, os filhos, a saúde física e todo o resto estão sob a influência do mazal de quando as almas vieram ao este mundo, que se unem à Lua Cheia (Israel quando está cumprindo fielmente a Torá), tornando cada alma perfeita e bendita através dela (do milagre referente à libertação nacional das potências estrangeiras que dominavam Israel).
Assim, vemos que todas as coisas dependem do mazal, de acordo com o dizer da Cabalá: "Filhos, vida e sustento não dependem dos méritos do homem, senão apenas do Mazal".
Daqui, concluímos que todos os que se acham afligidos neste mundo, a pesar de ser verdadeiramente justos, sofrem pelo infortúnio de suas almas (estarem expiando Israel). Mas, em compensação, Hacadósh Barúch Hú, se compadece deles no Olam Habá.
Rabi Eleazar disse: Todos os atos do Todo Poderoso concordam com a justiça e Seu propósito é purificar sua alma (do Tsadik) da escória que se lhe adere neste mundo, e trazê-la ao Mundo Vindouro.
Quando o corpo está quebrantado, a alma se purifica. Assim, Hashem traz dores e sofrimentos ao homem justo neste mundo para que possa ganhar a vida eterna. A este respeito está escrito: "O Eter-no prova aos justos..." (Tehilim 11:5).
SEGUNDO OS MIDRASHIM, YOSSEF ERA UM TSADÍK NOTÁVEL, MAIS DO QUE SEUS ANTECESSORES, E INCLUSIVE SEUS DESCENDENTES E SUCESSORES, TANTO QUANTO MOSHÉH OU SH’MUEL.
AS QUATRO ÚLTIMAS PARASHYIÓTH DE BERESHÍTH SÃO DEDICADAS A CONTAR SUA HISTÓRIA, NUM TOTAL DE 12 CAPÍTULOS, DE BERESHÍTH 37 A 50, EXCETUANDO-SE BERESHÍTH 38 (QUE CONTA O CASO DE YEHUDÁH) E BERESHÍTH 49 (O TESTAMENTO DE IA’ACÓV ÀS 12 TRIBOS).
EM BERESHÍTH 37, YOSSEF TEM 17 ANOS DE IDADE E É VENDIDO COMO ESCRAVO. SERVE UM ANO NA CASA DE POTIFAR COMO ESCRAVO, E APÓS 12 ANOS DE PRISÃO SE TORNA VICE-REI DO EGITO, AOS 30 ANOS DE IDADE.
PASSAM-SE SETE ANOS DE FARTAS COLHEITAS NO EGITO, E COMEÇAM OS SETE ANOS DE SECA. NO 1º ANO VÊ SEUS IRMÃOS, E NO 2º ANO RECEBE IA’ACÓV EM CASA. ISSO DÁ UM TOTAL DE 22 ANOS.
O TEHILIM 119 FOI COMPOSTO POR YOSSEF E DEPOIS RECOMPILADO POR DAVID HAMÉLECH. TRATA-SE DE UM SALMO COMPOSTO POR OITO VERSOS DEDICADOS A CADA UMA DAS 22 LETRAS DO ÁLEF-BÊITH (ALFABETO HEBRAICO).
Vamos aqui apenas trazer alusões em cada letra (em seu conjunto de oito versos) à vida de Yossef e o que ele aprendeu, e tentou nos ensinar para sermos também tsadikim.
(א) ALEF- 119:1 BEM-AVENTURADOS AQUELES QUE SÃO ÍNTEGROS NAS HALACHÓT E ANDAM NAS TRILHAS DA TORÁT HASHEM. (8) OS TEUS DECRETOS COMPREENDI E POR ISSO NÃO ME DESAMPARASTES.
Yossef estudou a Torá com Ia’acóv, e com 17 anos, ao ser levado pro Egito entendeu que a família de Avraham iniciaria os seus 400 anos de escravidão a partir de seu episódio com seus irmãos.
Porém manteve-se fiel ao Eter-no e compreendeu o propósito. A Shechináh foi com ele no Egito, e a tristeza de Ia’acóv contribui para o Rúach Hacodésh acompanhar agora Yossef.
(ב) BÊITH- 119:9 COMO PODERÁ O JOVEM MANTER-SE ÍNTEGRO NA SUA HALACHÁ? SE ESFORÇAR-SE AO CUMPRIMENTO DE TUA PALAVRA. (10) A TI BUSQUEI COM TODO MEU CORAÇÃO, NÃO PERMITAS QUE ME DEIXE DESVIAR DE TUAS MITSVÓTH.
Aos 18 anos, idade em que a Mish’náh (Pirkêi Avóth 6:25) recomenda o casamento, Yossef é constantemente seduzido por Zuleica, a esposa de Potifar. Um rapaz numa terra de alta imoralidade sexual, vivendo como escravo e supervisor, que se deparava com cenas pornográficas, resiste às tentações e é condenado à prisão.
(ג) GUÍMEL- 119:17 SEJA MISIRICORDIOSO COM TEU SERVO, PARA QUE EU VIVA E OBSERVE A TUA PALAVRA. (23) PRÍNCIPES SE UNEM PARA FALAR CONTRA MIM, MAS TEU SERVO CONTINUA A RELEMBRAR SUAS LEIS.
Com o ocorrido, Yossef poderia ter sido decapitado por violentar sua senhora, mas Potifar entende que seu escravo deveria ser afastado de Zuleica, que transbordava em ira de mulher rejeitada por um estrangeiro.
Yossef se tornou boato em toda a corte egípcia durante 10 anos, pois ele era mordomo de um dos três oficiais mais importantes de Faraó, o chefe dos açougueiros.
Mesmo na prisão, repassou todos os ensinamentos de seu pai e praticou a “Caridade e Misericórdia” com seus amigos de cela, como seu bisavô Avraham fizera e continuou servindo a Hashem dessa forma, amando o próximo com a si mesmo.
(ד) DALÉTH- 119:25 PROSTRADA AO PÓ ESTÁ MINHA NEFÉSH; REVIVE-A CONFORME A TUA PROMESSA. (31) APEGO-ME A TEUS ESTATUTOS, Ó ETER-NO! NÃO ME DEIXES FICAR CONFUNDIDO E ENVERGONHADO...
Yossef humilhava-se a Hashem, mas não se submetia aos costumes egípcios. Ele manteve em sua mente que de certo, em algum momento a revelação dada nos sonhos do passado iriam se concretizar. Mesmo em terras do Nilo não adorou outros deuses nem deixou de lado a fidelidade do D’us de Avraham, Yits’chák e Ia’acóv.
(ה) HÊI- 119:36 INCLINA MEU CORAÇÃO PARA AS TUAS MITSVÓT, E NÃO PARA A GANÂNCIA E À AMBIÇÃO. (37) DESVIA OS MEUS OLHOS DE CONTEMPLAREM FUTILIDADES E PRESERVA-ME TUAS HALACHÓTH.
A prisão onde Yossef estava era especial. Não era outra se não de presos políticos. A história afirma que o Faraó da época era proveniente dos hicsos, povo de origem semita que conquistou o Egito e depôs os antigos monarcas.
O exemplo disso, é que podemos traduzir o cargo de Potifar como oficial dos torturadores. Assim a prisão em que Yossef estava, era concebida para “traidores do Estado”.
Como sabemos, Yossef se tornara supervisor do cárcere, e sabemos que há muitos “favores” feitos aos presos que mostram a condição mais vil e abjeta que o ser humano pode chegar: sexo, drogas, assassinatos... De tudo isso Yossef pedia por “salvação”, pois a pior derrota em qualquer batalha é perder em sua própria mente.
(ו) VAV- 119:42 TEREI ENTÃO UMA RESPOSTA AOS QUE ME AFRONTAM, POIS EM TUA PALAVRA CONFIEI. (46) DE TEUS TESTEMUNHOS FALAREI PERANTE REIS, E NÃO SEREI ENVERGONHADO.
No cárcere, ao lidar com os “políticos” do Egito, Yossef teve que aprender a ter a Guevurá de seu avô Yits’chák, uma determinação em ensinar os conceitos da Torá num país idólatra, com pessoas corrompidas, cuja vida girava em torno do “bem-estar” do rei Faraó.
Palavras de insulto a um estrangeiro, pobre, de língua rudimentar e preso por um motivo tão vil é o que Yossef ouvia, talvez ele era humilhado assim diariamente. Mas manteve-se firme em sua Emunáth Hashem.
(ז) ZÁYIN- 119:50 ELA (A TORÁ) É MEU CONFORTO EM MEIO À AFLIÇÃO, POIS TUA PROMESSA PRESERVA MINHA VIDA. (52) LEMBREI TEUS JULGAMENTOS DESDE TEMPOS PASSADOS E COM ISSO, ME SENTI CONFORTADO.
Yossef entendia que cada ano na prisão era uma experiência de governança que jamais esqueceria. As rebeliões só ocorriam quando o que se pedia não era dado.
Há um exemplo no Tana”ch de política intolerante, onde em 1 Rs. 12 onde Roboão (então reis das 12 tribos) tenta aumentar os impostos e dominar à força as 10 tribos do Norte, o que causou o cisma, e o início de liderança de Jeroboão sobre Israel, afrontando Yehudá.
Infelizmente, Jeroboão quis governar não segundo a Torá, mas segundo o coração do homem. Yossef não conseguiria em sua geração expiar o caso de Roboão X Jeroboão na prisão.
(ח) CHETH- 119:61 HORDAS DE ÍMPIOS ME DESPOJARAM, MAS DE TUA TORÁ NÃO ME ESQUECI. (63) MINHA AMIZADE SE ESTENDE A TODOS QUE TE TEMEM E AOS QUE GUARDAM TUAS MITSVÓT.
Em Pirkêi Avóth 5:14, lemos que um justo (chassídico) diz que “o que é meu é seu, e o que é seu é seu.” Certamente Yossef além de ajudar as pessoas no cárcere, também era vitima de roubos, mas a Torá não permitiu ele criar e alimentar ódio em seu coração.
Podemos dizer que isso influenciou o sustento que Yossef deu aos irmãos, pois não guardou mágoa no coração, nem alimentou ódio enquanto no cárcere.
(ט) TÊTH- 119:69 ÍMPIOS FORJARAM CALÚNIAS CONTRA MIM, MAS EM VERDADE DE TODO CORAÇÃO GUARDEI TEUS PRECEITOS.
(70) SEUS CORAÇÕES SE TORNARAM INSENSÍVEIS, COMO SE FOSSEM, REVESTIDOS DE GORDURA, MAS EU CONTINUO ENCONTRANDO PRAZER EM TUA TORÁ.
Os anos se passavam e o caso de Yossef permanecia sem solução. Para os espectadores externos, a vida pode se resumir a eventos isolados que nada tem a ver com o tempo real na vida das pessoas envolvidas.
Vivemos numa sociedade que o tempo todo julga os outros sem dar nenhuma oportunidade de mudança de vida, e seus corações pesados como de Faraó veda-nos a mudança tão esperada.
Só há um refúgio: a Toráh. Ao lermos, por exemplo, os primeiros três capítulos de Shemót, ali estão 400 anos de escravidão! Durante todo esse tempo, os israelitas só puderam confiar que Hashem estava certo em tratá-los assim.
Na última geração clamaram a D’us contra o extermínio total, isso faz-nos lembrar dos alemães sorridentes que cantarolavam enquanto matavam seis milhões de judeus, acreditando que Hashem os entregou a morte e esse era o destino final dessa herança do passado.
Mas, eis que surge o Estado de Israel, a Alemanha perde a guerra e Hitler deixa de existir.
(י) IUD- 119:78 SEJAM CONFUNDIDOS OS MALÉVOLOS QUE ME DIFAMAM COM CALÚNIAS; QUANTO A MIM CONTINUAREI A MEDITAR NOS TEUS PRECEITOS. (79) QUE TORNEM A VOLTAR-SE PARA MIM OS QUE TE TEMEM E OS QUE CONHECEM AS TUAS LEIS.
Fim dos 10 anos de prisão. Yossef ora para Hashem enviar alguém que no Egito tivesse respeito pelo D’us de Avraham Avínu e o tirasse do cárcere. D’us ouve e permite que um escândalo ocorra no palácio real: o oficial dos copeiros e o chefe dos padeiros atentam contra a vida do Faraó.
(כ) CAF- 119:82 OS MEUS OLHOS SE ENCHERAM DE LÁGRIMAS AO ESPERAR POR TUA PALAVRA ENQUANTO PERGUNTO: QUANDO ME CONSOLARÁS? (83) PAREÇO-ME COM O ODRE RESSECADO PELA FUMAÇA, MAS DE TEUS ESTATUTOS NÃO ESQUEÇO.
Quando o copeiro e o padeiro chegaram, Yossef sabia que as ferramentas das engrenagens do milagre divino tinham chegado. Num dia de extremo calor, onde Yossef ajudava a extrair pedras preciosas junto com os presos políticos menos afortunados, ao ver os oficiais do rei, ele chora ao pressentir o sobrenatural que estava por vir.
Hashem envia dois sonhos. O copeiro seria perdoado e Yossef sente que seu dever era plantar uma semente no coração do copeiro para que ao sair inocentado, contasse o caso de Yossef a Faraó, mas o chefe dos copeiros o esquece dois anos no cárcere.
(ל) LÂMED- 119:94 A TI PERTENÇO, SALVA-ME, POIS SOMENTE BUSCO CUMPRIR A TORÁ. (96) PARA TUDO HÁ LIMITES, MENOS PARA TUAS MITSVÓT, CUJA GRANDEZA É INFINITA.
Yossef percebe o abandono do chefe dos copeiros, e aprende que, embora devemos criar oportunidades, a confiança só pode ser completamente depositada no Eter-no. Por isso, ele pede para que haja um limite aos 12 anos de prisão.
(מ) MÉM- 119:98 A TORÁ ME TORNOU MAIS SÁBIO QUE OS MEUS INIMIGOS; POI SEMPRE A TENHO DIANTE DE MIM. (103) Ó, QUÃO DOCES SÃO AS TUAS PALAVRAS AO MEU PALADAR, MAIS QUE O MEL PARA A MINHA BOCA!
Através do cárcere, Hashem tornou Yossef em alguém preparado a lhe dar com Faraó. Ao conversar com tantos políticos e ao se lembrar dos ensinamentos de seu pai Ia’acóv quanto à Torá, quando completou 30 anos interpreta os sonhos faraônicos na Parasháth Mikêts [em hebraico significa “fim”].
O Rúach Hacodesh reveste Yossef e ele interpreta o sonho e a resposta arde no coração de Faraó lhe dando “paz de espírito”. Hashem convence a Faraó que Yossef seria alguém capacitado, mais do que todos os sábios egípcios para a tarefa dos armazéns, e entrega-lhe o vice-reinado.
(נ) NUN- 119:105 A TUA PALAVRA É LÂMPADA PARA OS MEUS PÉS E LUZ PARA O MEU CAMINHO. (108) ACEITA FAVORAVELMENTE AS OFERTAS DOS MEUS LÁBIOS E ENSINA-ME OS TEUS JUÍZOS.
Yossef está sendo orientado por Hashem em todas as decisões jurídicas pelo país do Egito. Inclusive, os sacerdotes acabam tendo que estudar Judaísmo e acabam se circuncidando. A própria história mostra um rei no Egito chamado Amnófis IV que teria feito uma reforma religiosa, influenciado pelo vizir, em prol do monoteísmo.
(ס) SAMÊCH- 119:119 REJEITAS AOS QUE DE TEUS ENSINAMENTOS SE AFASTAM, PORQUE VIVEM EM MENTIRA E FALSIDADE. (120) PURGASTE DA TERRA COMO ESCÓRIA TODOS OS ÍMPIOS, POR ISSO AMO OS TEUS DECRETOS.
Lógico que nem todos os sacerdotes apoiaram Yossef. Logo após sua morte, os sacerdotes deram um golpe de Estado e colocaram no trono Tutancamón que restaurou o politeísmo egípcio.
Ao menos na geração de Yossef até os egípcios tornaram-se “B’nêi Nôach”, o que significou em uma mudança de vida a um país idólatra. Conta o Midrásh, que na verdade, para vender os cereais, Yossef mandou que se circuncidassem, como aconteceu com a cidade de Shechém em relação à Dináh.
(ע) ÁYIN- 119:121 AGI COM JUSTIÇA E INTEGRIDADE; NÃO ME ABADONES NA MÃO DOS EGÍPCIOS. (126) É CHEGADO O MOMENTO DA INTERVENÇÃO DIVINA, POIS ELES [MEUS IRMÃOS] INFRIGIRAM TUA TORÁH.
Para o leitor atento, verá que no lugar de “egípcios” o Tanâ”ch trás “meus opressores”.
Acontece que em hebraico é uma mesma palavra “mits’ráyim” que quer tanto dizer opressores, quanto egípcios.
Yossef orou pela Teshuvá dos irmãos, pois Yossef é o primeiro “juiz” de toda a história de Israel, pois não só julgou seus irmãos, como também o Mundo Antigo. Ele esperou que Hashem trouxesse seus irmãos para o Egito, e não foi à Canaã por conta própria.
(פ) PÊH-119:133 CONDUZA MEUS PASSOS POR TUA VEREDA, PARA QUE DE MIM NÃO SE APODERE INIQUIDADE ALGUMA. (135) FAÇA RESPLANDECER O TEU ROSTO SOBRE O TEU SERVO, E ENSINA-ME TEUS ESTATUTOS.
Agora no palácio real, Yossef estava rodeado de homens corrompidos pelo poder. Cada decreto tinha que ser preciso e inquestionável para a lógica egípcia.
Assim como hoje várias leis são tidas por injustas, no passado um erro déspota podia encerrar-se com um golpe de Estado, inaugurando-se uma nova dinastia, o que incluía o que chamamos hoje de “queima de arquivo” (todos os funcionários reais eram assassinados).
Yossef orava para que voltasse a ver seu pai Ia’acóv e sua família, mas se fosse à procura deles, os egípcios poderiam achar que “Tsafenát Panêach” seriam um impostor ou um espião (interessante é que esse é o motivo da prisão dos hebreus de Canaã).
(צ) TSADÍK-119:139 EM MEU ZELO PELA TORÁ SENTI REVOLTA CONTRA MEUS OPRESSORES, POR TEREM IGNORADO TUAS PALAVRAS. (141) MESMO SENDO JOVEM E OLHADO COM DESPREZO, JAMAIS ESQUECI A TUA TORÁ.
Yossef era um grande tsadík. O Midrásh conta que o seu nível de santidade era maior que de seus irmãos. Eles o venderam por que pensavam que Yossef herdaria sozinho de Ia’acóv, e que seu pai os expulsaria como ocorreu como Yishma’el e Avraham.
Realmente há tsadikim que ficam chateados com a letargia da humanidade e da leniência dada aos que são benonim (que não são completamente justos). Porém, deve-se aprender que Hashem é misericordioso com todos e abrir mão de “Justiça”, pois podemos ser condenados a expiar pelos outros.
(ק) KUF- 119:147 LEVANTEI-ME ANTES DO AMANHECER PARA IMPLORAR A TI, ANSIANDO POR TUA PALAVRA. (148) MEUS OLHOS SE ANTECIPAM ÀS VIGÍLIAS DA NOITE PARA QUE, SOBRE O TEU MANDAMENTO, EU PUDESSE MEDITAR.
Yossef cumpriu o propósito de durante sete anos, armazenar alimentos de tal forma que se levantava de madrugada e dormia já de noite. Não deixou de relembrar às mitsvót e cumpri-las agora que estava no poder.
Em Pirkêi Avóth 4:11, Rabi Ionatan ensina: “Quem cumpre a Torá na indigência, cumpri-la-á na opulência; quem a violar na opulência fará o mesmo no dia da indigência.”
Yossef cumpriu o conselho acima, pois cumpriu a Torá quando estava com o pai, na casa de Potifar, no cárcere, e agora na corte egípcia, onde muitos se corromperiam.
(ר) RÉSH-119:157 EMBORA MUITOS FOSSEM MEUS OPRESSORES [EGÍPCIOS] E PERSEGUIDORES [NA CASA DE MEU PAI], NÃO ME DESVIEI DOS TEUS TESTEMUNHOS.
(158) ENFRENTEI OS TRAIDORES QUE ENCONTREI EM MEU CAMINHO, PORQUE A TUA PALAVRA [DE AMAR O PRÓXIMO] NÃO OBSERVAVAM.
Yossef agora começa a receber pessoas do mundo inteiro no palácio real para comercializar os alimentos. Muitos egípcios que zombaram dele, agora pediam alimento a ele. Logo quando subiu o trono, casou-se com a enteada da mulher responsável por sua prisão cujo nome no Egito era Assenáth bat Zuleica.
Segundo os Midrashim, Assenáth era filha de Dináh bat Léah, porém como a sua presença no arraial era insuportável, Ia’acóv a manda embora e ela vai ao Egito, chegando na casa de Potifar e Zuleica, que a adotam por filha.
Hashem faz um escravo, hebreu, jovem e prisioneiro governar o país que na época era o mais rico do mundo. O próprio Napoleão Bonaparte ficou impressionado com a tecnologia egípcia e fundou a egiptologia no início do século XIX (1801-1900).
(ש) SHIN- 119:161 SEM CAUSA OS PRÍNCIPES ME PERSIGUIRAM, MAS MEU CORAÇÃO TEMEU SOMENTE AFASTAR-SE DE SUA PALAVRA.
(165) SHALOM COMPLETA HÁ PARA OS QUE AMAM TUA TORÁ E NÃO TEM OBSTÁCULOS INTRANSPONÍVEIS PARA ELES. (166) ESPERO POR TUA SALVAÇÃO, Ó HASHEM, E TUAS MITSVÓT TENHO CUMPRIDO.
Os irmãos de Yossef por ele são chamados de “príncipes”. Sem causa, pois o ódio foi gratuito, pois não entendiam as revelações dadas a seu irmão “caçula”.
Ele se depara com seus irmãos após 20 anos e os põem a prova para que o coração deles fosse-lhe revelado. Seu exílio no Egito fora obra de Hashem ou mero capricho humano? Seus irmãos o odiavam ou queriam se vingar de Rachel, sua mãe? Se fosse contra Rachel, venderiam como escravo Bin-yamin por vingança ou conveniência?
Tais perguntas foram dissipadas ao fato dos irmãos terem desesperadamente livrar Binyamin da prisão e consequente venda à escravatura e de Yehudáh se dispor a ficar no lugar do irmão, retificando seu erro de ter influenciado seus irmãos na venda de Yossef.
(ת) TAV- 119:171 DE MEUS LÁBIOS TRANSBORDARÃO LOUVORES, QUANDO ME ENSINARES OS TEUS ESTATUTOS. (176) COMO UMA OVELHA PERDIDA ESTIVE DESGARRADO; BUSCA TEU SERVO, Ó HASHEM, PORQUE TEUS MANDAMENTOS JAMAIS ESQUECI.
Yossef vê Benyamin e depois de 22 anos se encontra com o pai. São agora 70 hebreus no Egito, que em 400 anos se tornarão 600.000 hebreus. Yossef compreendeu o propósito e vive mais 17 anos sustentando seu pai e volta a Canaã para enterrá-lo.
Aqui há Tik’váh (ESPERANÇA) para os nossos irmãos da Bêith Yossef no exílio romano de nossos dias. Não temam, Hashem será com vocês mesmo se não há uma sinagoga que vos recebam no Shabáth, ou vocês estão sem a Bríth Miláh ou o estudo da Toráh.
Que todos os judeus marranos do Brasil orem ao Eter-no D’us para que chegue a redenção final através da Teshuvá que todos os B’nêi Anoussim tem feito ao Judaísmo Ortodoxo, até que Mashíach ben David se revele em nossos dias edificando o Templo Sagrado e reunindo as doze tribos dispersas no planeta terra no Estado de Israel, veim’rú veamén!

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