domingo, 3 de novembro de 2013

O Acendimento das Velas na Visão da Cabalá: Por Asher Crispe

                                                            

Nos mandamentos da Torá, encontram-se numerosos exemplos de distinção e diferença entre os gêneros. Embora muitos dos mandamentos se apliquem igualmente a todos, existem, mesmo assim, mandamentos específicos que se aplicam apenas a homens ou apenas a mulheres.

Sob as perspectivas da análise cabalística ou chassídica, cada um dos mandamentos tem uma dimensão interior que reflete uma realidade espiritual oculta. Com frequência isso é mencionado como a intenção mística ou cavanot, que anima e inspira cada um dos mandamentos.1

Com isso em mente, pode-se esperar encontrar uma articulação da natureza do gênero expresso nos diferentes mandamentos que são específicos para um gênero.

Um exemplo de um mandamento que é designado para as mulheres é a mitsvá de acender as velas do Shabat.2 Este ato específico a um gênero é excepcionalmente rico em sua história de interpretação cabalística e se presta imediatamente a uma descrição detalhada do feminino, em geral, e das mulheres, em particular.3 Embora existam muitas interpretações sobre o significado interior de mulheres acendendo velas do Shabat, algumas dimensões recorrentes são continuamente enfatizadas. Apresentaremos a seguir um conjunto fundamental de reflexões que são desenvolvidas através de fontes cabalísticas e chassídicas.

Para começar, deve-se meditar sobre a formulação abstrata da dimensão interior de acender velas do Shabat. Como ocorre com muitos dos mandamentos e costumes no Judaísmo, o Arizal fornece um modelo matemático que serve como um resumo simbólico para registrar, de maneira disfarçada, a essência dessas intenções místicas. Sem entrar numa discussão detalhada sobre a natureza da estrutura matemática da Torá, deveria ser suficiente dizer que a metodologia normativa da exegese cabalística frequentemente emprega ferramentas matemáticas ao formular uma interpretação. A base para esses tipos de ações interpretativas vem da tradição de relacionar as letras hebraicas com os números.4 Assim, as palavras que têm correspondência numérica são entendidas como possuindo tanto relacionamentos linguísticos quanto conceituais.

No caso das velas do Shabat. o Arizal quer enfatizar os principais ingredientes que formam uma vela, ou ner em hebraico. Neste exemplo, ele relaciona a vela a vários pares de nomes Divinos. A fórmula consiste da união de três pares de nomes, dos quais o primeiro é a união do Tetragrama (formado pelas letras yud, hei, vav e hei) e o nome Divino. Eu serei (Ekiy-h) que é numericamente equivalente a 26 mais 21.5 O segundo par também envolve o Tetragrama, porém nessa união está ligado com o nome Divino Elokim, que é numericamente equivalente a 26 mais 86. O terceiro e último par inclui, mais uma vez, o Tetragrama acoplado com o nome Divino A-dnut que é numericamente equivalente a 26 mais 65. Para resumir, juntos estes seis nomes (26, 21, 26, 86, 26, 65) totalizam 250, que é o valor numérico da palavra vela, ner em hebraico. Assim, a vela que uma mulher acende antes do Shabat contém, segundo o Arizal, a estrutura da união de seis nomes Divinos na ordem dos três pares.6

Para entender o que está sendo sugerido aqui, deve ser feita uma breve introdução ao uso cabalístico dos nomes Divinos. Como princípio geral, cada nome denota um relacionamento específico. Por exemplo, assim como uma pessoa pode ser chamada por muitos nomes diferentes: filha, irmã, esposa, mãe, aluna, professora, etc., dependendo da pessoa com quem está se relacionando e em qual contexto, assim também D'us é chamado por muitos nomes. Na Cabalá, estes nomes designam vários módulos de manifestações Divinas em relacionamentos específicos. Apesar disso, uma pessoa não sugeriria que seus nomes diferentes estão vindo para implicar que ele ou ela são múltiplas pessoas. Além disso, nenhum desses nomes identifica sua essência existencial! Assim, D'us é Um e Único, apesar do interminável número de nomes usados para descrever a auto-expressão de D'us. A função do nome é meramente um meio de identificação para o outro.7

O que, então, os nomes na formulação acima mencionada significam? Em primeiro lugar, o Tetragrama, que aparece repetidamente em cada um dos pares, representa o nome ou identidade essencial de D'us. As quatro letras se permutam para escrever a palavra havayah que significa Existência. Em outras palavras, este nome representa D'us sendo manifesto como a própria Existência. As letras em si formam os radicais das palavras em hebraico para passado, presente e futuro, indicando que este nome reflete D'us acima do tempo, tornando passado, presente e futuro como um só. Em resumo, o Tetragrama reflete a natureza imutável de D'us, a própria superestrutura que funda toda a existência.8

O nome Adnut vem da palavra que significa autoridade. Este nome denota o poder de exercer a Divina influência numa maneira que pode ser adequadamente recebida. Isso reflete a interação de D'us com a realidade concreta estabelecendo a física, para que possa se integrar com a espiritual. O valor numérico deste nome, 65, equivale às palavras câmara ou palácio (heichal em hebraico). Assim, a dimensão exterior da Divindade é uma forma de auto-projeção na criação. Como parábola, uma dimensão da Divindade é comparada a um rei que possui um castelo, o castelo nada tem de seu próprio caráter, mas em vez disso é meramente um receptáculo que é preenchido com o caráter do rei. O edifício é uma exteriorização do próprio rei manifestando sua intenção e vontade.9

O nome Elo-kim, que aparece primeiro no versículo de abertura da Torá, é empregado no decorrer da narrativa da criação. Por causa disso, fontes cabalísticas se referem a Elo-kim como o nome através do qual D'us estabeleceu e instalou a estrutura fundamental de toda a criação.
Além disso, na Cabalá, o nome Elo-kim geralmente se refere à natureza, pois a palavra hebraica para natureza (hateva) é numericamente equivalente ao nome Elokim (86). Assim, este nome reflete D'us como manifesto através da natureza, o que configura uma economia estruturada da Divina influência.
10 O nome Ekey-h foi primeiro usado em conexão com a redenção do povo judeu do Egito. 

Moshê perguntou a D'us o que deveria fazer quando declarasse ao povo que D'us os estava tirando do exílio e eles perguntassem: Qual é o Seu nome? A resposta que D'us dá é: Assim dirás aos Filhos de Israel: (Eu serei) me enviou a vocês.11 Assim o significado do nome Eu serei é considerado como o nome identificado com redenção, a capacidade de ir além dos limites.12 Na Cabalá, este nome às vezes é chamado o nome da mãe. Assim como a imagem da condição de exílio é comparada a um feto restringido dentro das limitações do útero, também a redenção é retratada como o processo de nascimento. A capacidade de dar à luz, de libertar das limitações, é um processo de tornar-se, de vir a ser, de declarar eu serei, que é facilitado pela mãe.

À luz disso, estes três pares de nomes podem ser entendidos como as três uniões ou casamentos.13 Aqui, o termo constante em cada um desses pares (o Tetragrama) é considerado como sendo o noivo, enquanto os termos dinâmicos que variam segundo a situação representam a noiva. Quando os relacionamentos entre todos esses nomes são postos em ação, cada um possui determinadas vantagens sobre o outro. Em última análise, ambas as categorias de nomes são exigidas, tanto a estática quanto a dinâmica. Esta diferença cria uma tensão positiva entre a capacidade masculina de estar fixada e a capacidade feminina de produzir a mudança.

No Midrash é relatada uma parábola de um rei que tinha uma única filha, sobre quem ele disse que não foi movido pelo seu amor por ela até que a chamou de minha filha. Então o relacionamento progrediu, fazendo com que ele a amasse ainda mais, a tal ponto que quando disse que não estava movido em seu amor por ela até que a chamasse de minha irmã. Então novamente o relacionamento progrediu e ele a amou ainda mais, e disse que não era movido em seu amor por ela até chamá-la de minha mãe.

Na Cabalá, vemos que os três níveis de filha, irmã e mãe correspondem aos três pares ou casamentos de nomes Divinos descritos nas kavanot da vela do Arizal.14 A união do noivo, o Tetragrama com “Elokim”, corresponde ao nível de minha irmã. Finalmente, a união do Tetragrama e “Eu serei” corresponde ao nível de minha mãe. Todos os três níveis simbolizam estados diferentes do feminino no Judaísmo. De baixo para cima, a escada da subida vai de filha para irmã para mãe. As três experiências da filha, irmã e mãe estão conectadas com o acendimento das velas do Shabat, no qual a narrativa de seu serviço espiritual está entranhado na própria ação que realizam.

Quando a mulher está ao nível da filha, ela passa pelo nivel no qual o rei a nutre do alto. Ela não possui nada de seu, mas sim é o espelho da vontade do rei. Num nível ainda mais profundo, vê-la como sua filha, é dizer que ela vem dele. Em outras palavras, como ocorre com todos os filhos, ela incorpora uma extensão de seu ser. Uma pessoa vive além de si mesma através dos filhos. Em essência, é o próprio filho. Assim, com o nome “Adnut”, que reflete a capacidade de D'us para interagir com a realidade concreta, a comparação pode ser feita com a imagem de uma filha. A filha serve especificamente como a extensão da vida do rei, que segue o princíio geral do poder feminino de receber do masculino, ampliando-o e desenvolvendo-o.15

O nome Elokim se encaixa na relação do rei ao nível de minha irmã, O amor entre irmão e irmã é como o amor calmo entre iguais. Não há a dessimetria que existe no relacionamento pai-filho que indica outros dois exemplos. Consequentemente, o caráter essencial do relacionamento entre os princípios masculino e feminino é como a união de iguais. Isso segue o conceito da manifestação Divina como a natureza dada que o nome Elokim significa, natureza.

O terceiro nível significa o aprofundamento do amor ainda mais, após a posição em que o rei sente que há um nível comum entre ele e esta mulher. Aqui, sob uma certa perspectiva, ele reconhece que tudo que ele deseja – seu senso total de auto-consciência – vem dela. Da mesma forma, é declarado, a mulher justa é a coroa de seu marido.16 Na Chassidut, a capacidade de uma mulher dar à luz, de ser chamada mãe, significa sua capacidade inata de determinar a realidade através da sua criatividade. Embora o poder de dar à luz, segundo seu significado simples, reflita a capacidade de ter filhos, a implicação espiritual mais ampla refere-se a todas as formas de criatividade, como criatividade espiritual, intelectual, artística, etc.

Assim, para contrabalançar a situação onde o marido dá para sua filha numa situação unilateral, há uma dupla dessimetria, por meio da qual a mulher também desempenha o papel de criá-lo e formá-lo, onde ele é uma expressão de sua essência. Daí, todos os três exemplos mostram a opinião da Torá sobre gênero. Em geral, onde há um nível de distinção de gênero, a Torá concede vantagens que são diferentes e únicas tanto para os homens quanto para as mulheres, cada qual possuindo o poder de influenciar positiva ou negativamente o outro, até de criar e nutrir o outro. Estas são as duplas tensões que devem permanecer no lugar adequado.

A ponte que une essas tensões, porém, é o tipo de terceira posição neutra que fica no meio. O amor natural entre irmão e irmã permanece no campo da igualdade e reciprocidade – um nível que está, de certa forma, inteiramente além da distinção de gêneros.

Para colorir estes relacionamentos ainda mais, deve-se mostrar outro nível de detalhe. O Tanach alude a três níveis na chama de uma vela que imitam os relacionamentos acima mencionados. No Livro de Yechezkel há um versículo que declara que havia um elétron fora do meio do fogo.17 Com isso aprendemos que a parte interna da chama, aquela que abraça o pavio consumindo o azeite, é identificada como o chashmal ou elétron. Isso aparece como a parte preta ou azul escura da chama. A parte principal da chama, aquela que fornece a luz, é chamada aish ou fogo. De um outro versículo em Yechezkel aprende-se sobre o terceiro nível da chama, que é mencionado como um brilho que a cerca.18 Este nível de nogah, o halo sutil ou aura que tremula ao redor da beira do fogo da chama, é o mais difícil de ver. Está num nível quase invisível e deve-se ajustar os olhos para percebê-la. Este é o significado interior de por que uma judia é instruída a primeiro fechar os olhos após acender as velas do Shabat e então abrir os olhos, Ao fazê-lo, seus olhos se dilatarão e consequentemente estarão receptivos a ver este nível de nogah que cerca a chama.

Podemos ver uma alusão cabalística ainda mais profunda nesses três níveis que são vistos através da sua equivalência numérica. A palavra para chama em hebraico, shalhevet totaliza 737, a soma das três partes da chama conforme descritos acima: chashmal=378 – aish=301 e nogah=58, que juntos somam 737.19

Aqui, a subida da chama, de elétron a fogo até o brilho, representa a subida das mulheres do nível de filha a irmã a mãe. Para começar, o aspecto da chama que é o trabalho essencial da chama, o processo de combustão, transforma a grosseira fisicalidade do azeite na relativa espiritualidade do fogo. Este é o trabalho da filha. O aspecto masculino que vê o relacionamento com sua contrapartida feminina como puramente físico, como uma projeção de si mesmo, exige transformação. O processo inicial é um trabalho para quebrar o molde. A respeito dela dessa forma é importante ver-se numa maneira semelhante – que sua visão dela seja a sua auto-expressão. Quando ela toma aquela percepção material e a consome, torna-se espiritual e sobe ao próximo nível da chama. No nível da chama, a luz natural fornecida reflete o amor natural entre iguais – aquela do rei chamando-a de irmã. O amarelo esbranquiçado do fogo da vela age como a fonte principal de luz para o mundo ao redor da vela. O nível do fogo é gentil e tranquilo perto do nível ativo do elétron que trabalha para consumir o azeite. Aqui, o feminino entra em equilíbrio, refletindo um estado natural de equilíbrio no relacionamento.

Finalmente, o terceiro nível é o mais alto, no qual o brilho representa o futuro da chama, uma nova altura na qual ela aspira estar. Então, o brilho reflete o nome, eu serei, aquele no qual está o potencial, além da economia da chama – que ainda não veio à existência, mas vai nascer. Este é o nível da mãe. Uma consciência de que tudo que está atualmente presente, até numa igualdade natural de homem para mulher, ainda vai chegar a uma dimensão mais elevada – o Mundo Vindouro – onde o princípio feminino é visto como estando no topo, criando e determinando a realidade. Portanto, isso se torna um ciclo por meio do qual o início se conecta ao fim, permitindo que o processo comece de novo em níveis cada vez mais altos, como a mãe se eleva ainda mais, tornando-se novamente a filha.20

A Chassidut explica o seguinte versículo: A alma de um ser humano é a vela de D'us21 como refletindo a intenção interior de acender as velas do Shabat. Isso é para sugerir que está em poder da mulher acender as almas de todos os seres humanos – ser o catalisador para eles emergirem da dormência espiritual e se tornarem lindas chamas expressivas que se elevem na direção de seu Criador. Seu talento, quando expressado de maneira ideal, deveria inspirar não apenas sua própria alma, mas também as almas daqueles que a cercam, para fazê-los ter a sua própria força espiritual independente. Então, ao tornar-se uma fonte tão forte de luz e calor espirituais, essas almas fazem nascer novas almas numa cadeia infinita de criatividade.

Uma vela elevando sua chama pode ter um número infinito de outras velas acesas, sem diminuir o próprio fogo. Assim também, uma alma que se eleva em seu amor, com todo o coração e com toda a alma e com toda sua força, em seu amor a D'us, pode acender interminavelmente o mesmo sentimento naquelas almas ao redor.

NOTAS
1. Exemplos de Kavanot cabalísticas por trás de cada mandamento podem ser encontrados em vários textos da Cabalá. Entre eles estão Sha’ar Hakavanot e Pri Etz Chaim de Rabi Chaim Vital (ambos são uma apresentação da Cabalá Luriânica).
2. Embora a exigência também recaia sobre os homens, a mulher da casa acende em prol da família. Assim, essa mitsvá está sempre associada com o serviço espiritual das mulheres, e os mandamentos específicos a elas. Paar mais detalhes veja Shulchan Aruch 263:3 e a Mishnah Berurah.
3. Numerosas fontes na Cabalá fazem a distinção entre masculino e feminino, e o gênero macho e fêmea. Veja por exemplo Shiur Komach, cap. 18 de R. Moshê Cordovero. Com frequência uma qualidade feminina nas mulheres será apropriada para descrever a condição humana em geral ou às vezes o relativo aspecto feminino dentro do homem. Veja também Shir HaShirim e seus comentários, onde a experiência da noiva é associada com a experiência coletiva de todo o povo judeu, tanto homens quanto mulheres.
4. Veja Pardes Rimonim Gate 30 de R. Moshê Cordovero bem como Torat Natan vol. 3 sob Chesbon de R, Natan Tzvi Kanig.
5. Todos os nomes Divinos mencionados neste ensaio foram ligeiramente alterados em aderência à proibição cabalística de escrevê-los ou pronunciá-los como realmente são.
6. Veja Pri Etz Chaim, Sha’ar Chanuka, cap. 4 e Sha’ar Shabat, cap. 4. Veja também Sha’ar HaKavanot, Kabalat Shabat, Drush Hashlishi.
7. Veja Sefer HaLikutim, vol. 20, nota sobre Shem/Shemot.
8. Veja Sefer HaLikutim, vol. 8 sobre o nome...
9. Veja Seer Há’arochim Chabad, vol. 1 sobre o nome...
10. Veja Torat Natan, vol. 1 Shem Elok-m.
11. Veja Shemot 3:13-14
12. A palavra para “Egito” em hebraico significa restrições e limitações. Todas as redenções são modeladas após essa redenção inicial, ou seja, são redenções a partir de limitações.
13. O termo união na Cabalá também encerra a conotação espiritual de juntar ou combinar para o matrimônio.
14. Veja Torah Ohr, 33 d de Rabi Shneur Zalman de Liadi.
15. Veja Sefer HaLikutim sobre ... e ...
16. Provérbios 12:4. O conceito da coroa na Cabalá representa a super-consciência como é mostrada na imagem de uma coroa que rodeia a cabeça definindo, por assim dizer, as fronteiras da própria consciência. Ao ser a coroa do seu marido, a mulher justa inspira e desenvolve a vontade e a consciência de seu marido, num certo sentido dando-o à luz.
17. Yechezkel 1:4.
18. Ibid.
19. Como mencionado na palestra em áudio de Rabi Yitschak Ginsburgh, “A Chama Sempre Ascendente” registrada em Rechovot em 1997.
20. Veja ibid.
21. Provérbios 20:27.

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