segunda-feira, 18 de julho de 2016

Korach

Uma Mensagem Nova e Forte



Uma grande pessoa

Korach não era uma pessoa qualquer. Primeiramente, pois era muito rico. Na tradição judaica, quando se diz que uma pessoa é muita rica, utiliza-se a expressão “rico como Korach”. Era um Quehatita, a família dos levitas encarregada de transportar as peças mais sagradas do tabernáculo, como vemos nos primeiros capítulos do livro. E nossos sábios ensinam que, o próprio Korach era um dos responsáveis por carregar a Arca da Aliança, e para alcançar este mérito era necessário possui valores muito elevados. De acordo com nossos sábios, ele tinha chegado a experimentar, inclusive, “Ruach Hacódesh” – Espírito de Santidade, referente a um nível abaixo da profecia, contudo próxima a ela, nível este alcançado pelo Rei David ao escrever os Salmos, e o Rei Shlomo ao escrever Eclesiastes ou o Shir Hashirim (Cântico dos Cânticos). Além disso, sabemos através do Livro de Crônicas (6:19-23) que da linhagem de Korach, sairia o profeta Samuel, dezesseis gerações mais tarde, que a tradição indica ter, sozinho, acançado as virtudes de Moshe e Aharon, juntos. Desta maneira, assumimos que muitas destas virtudes teriam sido herdadas de seus antepassados.

Como é possível, então, que uma pessoa de um nível espiritual tão elevado cometesse um erro tão grave?

Parece que, foi precisamente esta grandeza que o levou ao erro. Pois Korach cometeu um erro que somente uma grande pessoa pode cometer.
Todos são santos

Sua reclamação foi a seguinte: “Toda a congregação é santa, e entre todos está o Senhor, por que vocês se colocam acima da congregação do Senhor?”

Esta reivindicação pode nos parecer estranha, pois esta visão pode até parecer correta. É verdade que toda a congregação de Israel é santa. É verdade que o Tabernáculo do Criador repousava no acampamento. O Criador escolheu a todos e a cada um destes, e não se trata de uma escolha humana, mas sim, celestial. E, portanto, esta eleição é como se fosse uma nova criação, como afirma o profeta Yesha’yáu (Isaías 43:21): “Eu criei este povo para que cantem meus louvores”, e a criação de D’us não pode ser anulada.

O próprio Criador repeti várias vezes na Torá: “Sereis santos” (Levítico 19:2, entre outros), não é imperativo, como uma ordem, mas sim em um presente constantemente, como uma verdade, estabelecendo um fato. A santidade é parte integral do povo de Israel, algo que não se pode lutar contra. Neste sentido, não há nada de novo nas palavras de Korach, e nem nada de errado.

Acusação de nepotismo

Mas então aparece o segundo ponto: “por que vocês se colocam acima da congregação do Senhor?”. Se todos são bons, a liderança de alguns não é necessária. Este é, de fato, um dos ideais para o nosso futuro, no qual nossos Sábios descrevem que não precisaremos aprender com o Mashiach, pois a função deste será, somente, ensinar os caminhos de D’us aos outros povos. Já nós, membros do povo de Israel, “não ensinaremos uns aos outros, uma vez que todos Me conhecerão, desde o menor até o maior” (Yirmyahu – Jeremias 31:33).

Este ponto de vista, de que “toda a congregação é santa e entre eles está o Senhor” temos escutado no cristianismo. Para refutar a escolha divina do povo de Israel, o Cristianismo afirma que não há diferenças entre nação e nação, sendo todos dignos de serem servos do Senhor e não pode haver ninguém “acima” dos demais. Korach afirmava, referindo-se a Moshe e Aharon, e os cristãos afirmam, referindo-se a todo o povo de Israel. Todos os seres humanos são criados à imagem e semelhança do Criador, todos são Seus filhos, com igualdade de direitos. Não pode ser que apenas um povo possa ter alcançado o status de “povo escolhido”. E se aconteceu, no passado, uma escolha divina (isto não pode ser negado, uma vez que a Torá afirma explicitamente isso), chegou um momento da história em que esta eleição é anulada, e, desde então, os cristãos afirmam que todos os seres humanos são iguais.

De acordo com o Midrash, Korach reclamou dos privilégios extraordinários que Aharon possuia como Sumo Sacerdote, e declarou que todos os mandamentos da Torá não eram divinos, e sim “uma enganação” epóptica de Moshe para favorecer seu irmão, e esta foi na verdade, a intenção por trás das palavras de Korach, ao gritar “por que vocês se colocam acima da congregação do Senhor?”, pois toda esta história se trata de uma invenção de Moshe.

Korach e o Cristianismo

Nossos Sábios, nos primeiros séculos do cristianismo, temendo a perseguição contra os judeus que continuou ao longo dos vinte séculos de governos cristãos, esconderam suas críticas ao cristianismo através destas palavras do Midrash sobre Korach, uma vez que a mensagem era basicamente a mesma .

Korach queria eliminar o valor divino nos mandamentos da Torá, atribuindo a estes uma interpretação humana, válida, mais ou menos, dependendo “da hora e local”. Ou seja, uma invenção de Moshé.

Os cristãos, na prática, dizem o mesmo. Os mandamentos da Torá são inúteis. As epístolas, tradicionalmente atribuídas a Paulo de Tarso, afirmam claramente: o cumprimento dos mandamentos “é velho e ultrapassado, falta pouco para estas desaparecerem” (Heb 8,13). Assim, o mandato anterior foi cancelado porque era fraco e inútil, pois a lei de Moshe não era perfeita, e no lugar desta “surgiu” uma esperança melhor (Heb 7,18). Poderíamos propor uma outra razão para a “abolição dos mandamentos” pelos primeiros cristãos, como refletido nos Atos dos Apóstolos (15:20), quando afirmam que não queriam “impor mais cargas do que as necessárias” aos neófitos não-judeus que eram incorporados ao Cristianismo, sem se converter ao judaísmo. Mas o cristianismo eliminou esta razão de seus livros, adotando a primeira, que fala de “fraqueza e inutilidade”.

Nova e forte

De qualquer forma, o cristianismo católico não pratica quase nenhum dos mandamentos da Torá, exceto talvez os ‘Dez Mandamentos’ (em algumas seitas cristãs impõem tudo, mas no final das contas, não são tão estritos quanto o judaísmo o é). Apenas os Dez Mandamentos, dizem eles, foi dado pelo Criador no grande dia, quando Ele os anunciou ao Povo nos pés do Monte Sinai, já todos os outros são “fracos e inúteis”. Esta Torá é chamada da “lei de Moisés” para enfatizar sua origem humana, na opinião destes.

Obviamente que, nós, fieis à Palavra Divina e à tradição de nossos pais e mestres, afirmamos que toda a Torá é divina e que todos os mandamentos vêm do Criador. Não se pode falar de “antiquado” ou “fraco e inútil” e, que, “a lei de Moisés não é perfeita”. Quem diz isso não tem a menor ideia do que está dizendo.

Todos aqueles que têm o prazer e o dever de estudar a Palavra de D’us expressada na Sagrada Torá, apreciam o valor de cada verso, de cada palavra e até mesmo de cada letra deste enorme tesouro que foi confiada a nós pelo próprio Criador. Nós lêmos, meditamos, aprofundamos, comparamos versos, e sempre, encontramos neles, algo novo. Respeitamos as interpretações de nossos sábios e as validamos para verificar, por nós mesmos, como chegaram em tal conclusão. Comprovamos, diariamente, que a mensagem da Torá é continuamente nova, e nunca perdeu sua força; E, ainda, útil como sempre foi e nunca será ultrapassada.

É especialmente importante para todos aqueles que têm crescido rodeado de idéias cristãs, aprofundar-se no estudo desta porção semanal da Torá, observando o diálogo entre Moshe e seu primo Korach, as consequências desta discussão, e compreender o significado da dupla punição que lhe foi aplicada (queimar com o fogo e ser engolido pelo abismo). Assim como, quais as diferenças entre Korach e seus seguidores, etc. Pois, como vimos, nesta Parashá são apresentados diversos pontos importantes desta discussão tão antiga com o cristianismo, aclarando, ainda mais, nossos pontos de vista.

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