quinta-feira, 10 de abril de 2014

"O Velho Testamento foi um erro"

"O Velho Testamento foi um erro"
Quase todos os lares, se não todos, possuem uma Bíblia Sagrada. Difícil encontrar uma pessoa que nunca a tenha lido, pelo menos alguns trechos. Mas muita gente não parou para analisar o porquê ela está dividida em Velho Testamento e Novo Testamento.
Minha intenção é apenas levantar uma reflexão para que possamos rever nossos conceitos de ética e tolerância com as outras religiões. O Velho Testamento foi um erro. Essa nomenclatura foi escolhida pelo Cristianismo para denominar os livros hebraicos que passaram a compor a Bíblia Cristã. Mas esse é um nome pejorativo e carregado de preconceitos e ideologias.
O Cristianismo tomou o livro sagrado da religião judaica, o Tanach, que é um acrônimo do conjunto principal dos livros judaicos, formado pela Torá (conhecido no mundo ocidental também como pentateuco), Neviim (livro dos profetas) e Ketuvim (escritos), e o nomeou Velho ou Antigo Testamento em oposição ao Novo Testamento, conjunto de livros sagrados cristãos.
Quando se diz que algo é velho, ou antigo, o primeiro que vem à nossa mente é a ideia de antiquado, ultrapassado, até mesmo inválido, ainda mais quando comparado com a existência de “algo novo”, no caso o Novo Testamento. Na teoria psicanalítica da constituição do sujeito, diz-se que é pelo outro que o sujeito se constitui. Nesse caso, o Cristianismo usou da credibilidade do “outro”, de um livro sagrado que já existia, e da história do povo judeu, e os depreciou, para assim constituir-se como sujeito de uma nova religião, com um novo livro, o “novo testamento”, que é baseado no livro de outra religião, que passou a ser chamado de velho.
Se a intenção desse uso é menosprezar a aliança feita com o povo judeu no Monte Sinai e enaltecer e corroborar com a teoria da chamada “nova aliança”, o erro já começa pelo próprio uso do termo testamento. Enquanto testamento tem o significado de uma manifestação unilateral de última vontade, o termo original em hebraico referente ao pacto feito com o povo judeu e “brit”, que significa um acordo bilateral. E esse acordo ou pacto feito com o povo judeu está mais vivo do que nunca, prova disso é a existência do povo judeu, que conseguiu sobreviver por vários milênios após inúmeras perseguições e tentativas de extermínio. O povo judeu esta de pé, tem hoje um lar judeu na sua terra ancestral Israel, e continuam vivendo e cumprindo a mesma Torá dada a Moisés, dia após dia.
O uso desse termo Velho Testamento é contrário até mesmo ao ensinamento do próprio Jesus, que disse que não veio revogar a Lei, ou Torá, mas cumpri-la. Por que então dizer que é um testamento velho? Por que chamar de velho algo que até mesmo o “fundador” do Cristianismo disse que não veio revogá-lo? Além disso, essa nomenclatura também carrega implicitamente uma outra ideologia, que é a teologia da substituição, que diz que o povo judeu, Israel, foi substituído pelo Israel “espiritual”, que seriam os crentes em Jesus, além da substituição da Lei de Moisés pela Lei de Jesus. Essa teoria, juntamente com a teoria do deicídio (teoria que acusa os judeus de terem matado “D’us”, ou Jesus), serviu de base e justificativa para milhares de assassinatos de judeus ao longo desses dois mil anos.
Mas deixando essas questões históricas polêmicas de lado, o nosso problema central aqui é a usurpação de um livro sagrado que foi guardado cuidadosamente por centenas de anos, por judeus que de geração em geração tomaram todos os cuidados para manter esses escritos e suas traduções mais próximas possíveis do original, e o seu desmerecimento por meio dessa nomenclatura pejorativa. Seria justo usurpar um livro sagrado de outra religião, colocar o nome que bem entender e divulgá-lo sem autorização do povo e cultura que o escreveu?
Tudo bem, digamos que o Cristianismo tenha uma espécie de “usucapião” sobre o uso do livro judaico na sua própria bíblia. Mas justo seria corrigir esse erro histórico e passar a chamá-lo não mais de Velho ou Antigo Testamento, mas usar um nome que respeite a religião judaica e seu livro sagrado, fazendo uma divisão da Bíblia sagrada cristã em algo como “Bíblia Judaica” e “Bíblia Cristã” ou “Livros Judaicos” e “Livros Cristãos”. O termo Velho Testamento foi um erro, mas ainda pode ser corrigido."
POR: * Wagner Caetano Miguel Veloso

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