quarta-feira, 30 de abril de 2014

A História dos Judeus no Nordeste do Brasil

A História dos Judeus no Nordeste do Brasil
Arnoldo Wiznitzer – Os Judeus no Brasil Colonial

Em 1549 a Coroa Portuguesa nomeou para o Brasil um Governador Geral,
tendo como sede deste governo a Bahia, capital da nova terra.
Até então a Inquisição Portuguesa não havia sido introduzida no
Brasil. Mas, devido ao grande número de marranos e cristãos novos,
Portugal outorgava em 1580 poderes inqu...
isitoriais ao bispo da Bahia.
Os jesuítas foram autorizados a auxiliar os bispos no preparo de
processar os heréticos e extraditar os acusados para os tribunais da
Inquisição em Lisboa.
Também no ano de 1580, foi feita a unificação de Portugal e Espanha,
e por toda a parte da Península Ibérica foram intensificadas as
atividades da Inquisição.
Finalmente, em o dia 28 de Março de 1591, foi nomeado pela Corte
Portuguesa o Sr. Heitor Furtado de Mendonça como visitador oficial da
Inquisição de S. Tomé, Cabo Verde, Brasil e S. Vicente (mais tarde,
Rio de Janeiro).
O visitador Mendonça chegou à Bahia em 9 de Junho de 1591, onde
nomeou uma comissão inquisitorial; publicou um Auto-de-Fé, uma carta
monitória e um termo de graça para a cidade da Bahia e seus arredores
num raio de uma légua. Os objetivos desta visitação incluíam não
apenas a perseguição aos judeus e judaizantes, como também a
descoberta de práticas sexuais contra a natureza, bruxaria e insulto
à Igreja Católica. Os judeus que professavam a fé católica, mas que
observavam ritos e costumes judaicos eram a presa mais importante
desta busca.
Visitação do Santo Ofício em Pernambuco em 1593-95.
Heitor Furtado de Mendonça chegou finalmente em Recife no dia 21 de
Setembro de 1593, estabelecendo lá uma comissão inquisitorial. As
comunidades de judeus marranos e cristãos novos incluindo muitos
cripto-judeus eram bem representativos nesta capitania, devido à
inquisição destes colonos juntamente com Fernando de Noronha, o
responsável pela introdução do cultivo de cana-de-açúcar e engenhos
para a produção de açúcar em escala industrial para exportação.
O primeiro processo no Estado de Pernambuco foi contra Diogo Dias
Fernandes e sua mulher, marranos brasileiros, que possuíam uma Torá
(Rolo dos Livros do Pentateuco). Esta família freqüentava a sinagoga
de Camaragibe, localizada na fazenda de Bento Dias Santiago, onde se
reuniam os judaizantes de Pernambuco.
Mas o decreto datado de 4 de Abril de 1601 cancelava o decreto de 27
de Janeiro de 1587 que proibia os judeus portugueses de saírem de
Portugal e venderem suas propriedades sem permissão. Já no começo de
1605 o rei obteve perdão geral do papa, válido por um ano e abrangia
todos os cristãos novos e suas transgressões passadas. O preço deste
ato veio mencionado na patente real de 1º de Fevereiro de 1605 e é
equivalente a 1.700.000 cruzados em dinheiro, mas a condição do
débito do tesouro real num montante de 225.000 cruzados pelos
descendentes dos cristãos novos da Nação Hebréia em Portugal.
De conformidade com as condições do acordo, os tribunais
inquisitoriais portugueses puseram em liberdade 410 prisioneiros
(entre eles, os brasileiros, Ana Alcoforada Brites da Costa e Ana da
Costa), aos quais foi reposto apenas uma pena formal (1)
Assim, um grande êxodo de cristãos-novos deixou Portugal e veio para
o Brasil estabelecendo-se nos Estados da Bahia, Pernambuco e Rio de
Janeiro.
Como já foi mencionado anteriormente, milhares de judeus portugueses
e espanhóis imigraram também para a Holanda. O motivo da escolha era
a maior liberdade de crença e culto ali permitido.
Muitos judeus cristãos-novos e marranos brasileiros mantinham
contatos pessoais e relações comerciais com os judeus de Amsterdã.
O Tratado de Utrecht em 1579 estipulava que pessoa alguma, no
território da Holanda seria perseguido por motivo de suas convicções
ou práticas religiosos. Assim, muitos judeus não só de Portugal e
Espanha, mas também da Antuérpia e França imigraram para a Holanda.
A vida cultural e religiosa desses judeus floresceu rapidamente.
Fundaram na Holanda três congregações: Beth Jacob, Neweh Shalom e
Beth Israel, bem como uma Escola Talmúdica de Torah e um Colégio Ets
Hayim.
Amsterdã conseguiu dois rabinos, Menasseh ben Israel e Isaac Aboab da
Fonseca. Ambos tinham sido católicos (de famílias marranas) e foram
os primeiros a receberem educação rabínica em Amsterdã.
Este último imigrou para Recife e foi conhecido mais tarde como o
primeiro rabino a fundar a Congregação Tsur Israel (Rocha de Israel).
A conquista da Bahia pelos holandeses ocorreu no dia 8 de Maio de
1624. A expedição era composta de 26 navios armados de 450 canhões e
tripulados for 3.300 homens sob o comando do Almirante Jacob
Willekens e do vice Peter Heyn.
Os holandeses proclamaram imediatamente sua política de tolerância
religiosa e ofereceram proteção aos residentes da cidade, ganhando
assim, apoio da população local, em especial dos marranos, que
detinham o poder econômico pelo cultivo e dos engenhos de cana-de-
açúcar.
Ao contrário dessa outorga de tolerância religiosa, os holandeses
ordenam que os jesuítas fossem expulsos e seus conventos fechados. Ao
mesmo tempo, declarava-se que a Igreja Cristã Reformada, de origem
protestante, fosse representada como a religião do Estado. Assim,
milhares de marranos, agora numa situação privilegiada uniram-se à
Expedição Holandesa de 1629, que (como já frisei anteriormente) era
composta por 56 navios com 1.170 canhões e marinheiros. Auxiliados
por um judeu chamado Antônio Dias Paparobalos, que por muitos anos
fora comerciante em Pernambuco antes de partir para a Holanda; serviu
ao desembarque das forças expedicionárias holandesas como guia
principal naquele território. No dia 14 de Fevereiro de 1630, Recife
estava sob domínio dos holandeses.
Para os judeus marranos e cristãos novos parecia-lhes estar num
paraíso, onde as regras da Inquisição não mais ali prevaleciam.
Fez-se destacar o Goverador-Geral do Brasil-Holandês, João Maurício
de Nassau, que durante seu bem sucedido governo, motivou muitos
judeus portugueses e holandeses a imigrarem para o Brasil. Como
exemplo, em 1638 Manuel Mendes da Costa chefiava um grupo de duzentos
jovens que vieram em dois navios da Holanda para o Brasil. No meio
dele havia classe de elite, os letrados, doutores e líderes
espirituais.
A trégua de Aliança defensiva entre Portugal e Holanda para lutarem
contra a Espanha, beneficiou ainda mais a imigração de marranos, quer
de Portugal, quer da Holanda.
Várias fazendas de engenhos açucareiros pertenciam a judeus, onde
instalavam suas sinagogas nas próprias fazendas, como destacamos do
livro "Senhores de Engenho – Judeus em Pernambuco Colonial 1542-
1654" – de José Alexandre Ribemboim:
Diogo Fernandes e Branca Dias. Engenho de Camaragibe-PE.
- Ambrósio Fernandes Brandão. Engenho de Inobi.
- David Senior Coronel (Duarte Saraiva). Engenho Bom Jesus.
- Moisés Navarro. Engenho de Juriçaca – Cabo.
- Matheus da Costa. Engenho de João Tenório Medina – Ipojuca.
- Abraham Izhach. Ferreiro-PE.
- André Gomes Pina. Engenho de Muribara.
- Antônio Barbalho Pinto. Engenho de Tibirí .
- Baltazar Rodrigues Mendes. Engenho de Embiapecu.
- Duarte Nunes. Engenho de Cacáu.
- Fernão do Vale. Engenho S. Bartolomeu.
- James Lopes da Costa. Engenho na Várzea do Capiberibe.
- Estevão Ribeiro, Fernão Soares, Filipe Diniz da Paz,
Francisco Pardo e muitos outros.

Vários outros proprietários eram Jacob Valvende, Moses Neto, Jacob
Zaculto, João Lafará, Gil Correia, Gabriel Castanha, Gaspar Francisco
da Costa, Atias Avraham Açevedo, Fernão Martins, David Atias,
Benjamim de Pina, etc.
Findando o domínio holandês em 1654, volta o domínio de Portugal e,
conseqüentemente, os processos inquisitoriais.
A propósito, com o término do domínio holandês, os judeus marranos e
cristãos novos tomaram diferentes rumos:
- Uma boa parte voltou para Holanda (este será abordado no
próximo capítulo).
- Uma outra boa parte foi para o Caribe e América. Lá
reforçaram a fundar a cidade de Nova Amsterdã, hoje Nova York. Prova
disto é que no Cemitério da Congregação Shearíth Israel, há o túmulo
de Benjamim Bueno Mesquita que deixou o Brasil em 26 de Janeiro de
1654, embarcando com outros jovens no navio Volk rumo a Martinica,
indo mais tarde morrer com seu filho Joseph Bueno em New Bower. Pouco
depois de haver chegado a Nova York, faleceu e foi enterrado.
- Outra grande parte permaneceu no Brasil imigrando-se mais
para o Sudeste, especialmente para Minas Gerais, onde iniciava o
Ciclo de Ouro em Itaberaba, Ouro Preto, Mariana, Ponte Nova. O
resultado foi uma imigração em massa para a região de Minas Gerais,
Parecida, na opinião de Arnold Wiznitzer, com o que se realizou na
Califórnia cento e cinqüenta anos mais tarde. Por isso, o Estado de
Minas Gerais passou a ser o centro de maior concentração de judeus
portugueses, marranos e cristãos novos. Construindo caminho pelo Rio
de Janeiro, dirigiam-se para as montanhas de Minas Gerais, onde se
encontravam mais distantes dos grandes centros inquisitoriais e mais
seguros para criarem seus filhos explorando o comércio do ouro e das
pedras preciosas.
Os processos inquisitoriais não paravam. Abaixo encontramos uma lista
de judeus brasileiros que foram executados pela Inquisição em Lisboa –
no período de 1644-1748.

Auto-de-fé - Nomes - Dossiê:

· 10 de julho, 1664 - Gaspar Gomes - 5019
· 15 de dez., 1647 - José de Lins (Isaac de Castro)- 1550
· 14 de julho, 1686 - Theotônio da Costa - 2816
· 30 de julho, 1709 - Rodrigo Alvares - 999
· 14 de outubro, 1714 - João Dique de Sousa - 10139
· 16 de nov., 1720 - Theresa Pais de Jesus - 2218
· 16 de out., 1729 - João Thomas de Castro - 9999
· 17 de junho, 1731:
Felix Nunes de Miranda - 2293
Miguel de Mendonça Valladolid - 9973
Guiomar Nunes - 11772
· 6 de julho, 1732:
Diogo Correia do Vale – 821
Domingo Nunes - 1779
Luiz Miguel Correia - 9249
· 20 de set., 1733 - Fernando Henriques Alvares - 8172
· 1 de set., 1737 - Manoel da Costa Ribeiro - 1361
· 18 de out., 1739:
Luiz Mendes de Sá - 8015
Antônio José da Silva - 3464
· 20 de out., 1748 - João Henriques - 8378

(Todos esses dossiês se acham no Arquivo da Torre do Tombo em Lisboa).

Após o domínio holandês no Brasil, o autor A. Wiznitzer, ainda relata
no livro citado o seguinte sobre os judeus que permaneceram no
Brasil: "Todas as pessoas, tanto cristãos como judeus, as quais,
devido ao atraso dos navios onde deviam embarcar, não tivessem
partido dentro dos três meses de acordo, seriam tratados como até o
presente o tinham sido, excetuando os judeus outrora cristãos,
estando estes sujeitos, como estavam, à Santa Inquisição, na qual não
posso interferir. Qualquer judeu que não tivesse sido batizado
católico poderia permanecer no Brasil sem correr o risco de ser
molestado ou perseguido. Antigos marranos de descendência espanhola e
portuguesa, que abertamente tinham abraçado o judaísmo, formavam a
grande maioria da população judaica do Brasil-Holandês; mas seus
filhos, nascidos judeus, ou antes ou depois da emigração de seus pais
para o Brasil, não podiam ser considerados heréticos pela Inquisição.
Conseqüentemente, não seriam molestados, caso optassem pela
permanência no Brasil".
Outrossim, o referido autor ainda relata em seu livro que, "em 1964,
descobriram-se no Brasil as minas de ouro de Itaberaba. Seguiu-se a
descoberta de minas adicionais em Ouro Preto e muitos outros lugares.
O resultado foi uma migração em massa para a região de Minas,
parecida com a que se realizaria na Califórnia cento e cinqüenta anos
mais tarde. Brancos, negros, mulatos, índios; homens e mulheres,
jovens e velhos; os ricos, os pobres, os nobres e os plebeus,
clérigos e leigos; estrangeiros com ou sem passaporte – todos se
precipitaram para a região aurífera. A multidão abrangia,
naturalmente, um grande número de cristão-novos, e entre esses havia
judaizantes que, quando descobertos, eram denunciados, presos e
entregues à Inquisição de Lisboa".

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