A Mulher judia e o Brasil Colônia
Da Vila Algarvia de Castro Marim, no sul de Portugal (Algarves), os reis de Portugal enviaram ao Brasil muitas das mulheres judias convertidas, tendo estas ainda o dever de utilizar uma peça de tecido na cabeça, chamada de “sambenito (3), ou túnica penitencial”, que comprovavam a aceitação da “nova religião” e que as identificavam; dessa maneira, acreditavam eles, que estavam enviando ventres para dilatar e expandir o sangue luso no Novo Mundo.
De certo modo, este fato dá fé ao fundamento judeu, donde se afirma que sendo judeus os ventres que vêm dar fundamento à lusa-brasilidade, de direito e de fato, deu origem também a um país quase judeu, não fosse a miscigenação havida à posteriori. E as mulheres judias aqui aportaram, antes dos colonizadores utilizarem os ventres das índias e das africanas.
As mulheres portuguesas, à essa época, ficavam anos sem ver ou ter notícias de seus rebentos varões e amados. Muitas delas passavam dias e dias olhando o mar, com a esperança de ver os navios que trariam seus queridos. Dessa época é também donde surgiu a expressão “ficar a ver navios”!
Nos primeiros noventa anos do Brasil, a lusa-brasilidade nos deu colonos como Cosme Fernandes, em Cananéia; João Ramalho (Santo André da Borda do Campo), Afonso Sardinha (São Vicente); sendo que os dois últimos acabaram vindo para a Vila de São Paulo dos Campos de Piratininga, onde fundaram o Poder Colonial, baseado na procriação para dilatar o sangue luso no sudeste da Província de Santa Cruz, que como sabem, foi um dos nomes com que os lusos batizaram o Brasil.
Nos primeiros cem anos de colonização, a Mulher judaica que foi desterrada para o Brasil, serve às intenções do Estado português por um lado, pois realmente se expandiu o sangue luso com o aumento da população; por outro lado, a Mulher judaica ajudou na formação de um espírito de liberdade social que se opõe aos interesses luso-vaticanos, pois mesmo no Novo Mundo, elas continuam a ser o “eixo” da tradição religiosa e mercantil do Judaísmo que colabora com a abertura do Brasil Continental, que sob a égide dos jesuítas, só acontece porque é financiada pelos judeus desejosos de liberdade. Sob o ponto de vista de Macedo (autor), “...a alma lusófona ganha força ultramarina com a Mulher judaica”.
Assim, as mulheres judias suportam a retaguarda dos grandes comerciantes, administrando as suas terras, suas casas, seus escravos e os conchavos políticos. Dentre estas mulheres, estava Maria Gonçalves, mulher de Afonso Sardinha – o velho- que administrava os bens da família, ou seja, a maior fortuna do Brasil. Suas propriedades estendiam-se desde o Pico do Jaraguá, Carapicuíba, Butantã e as minas de Byturuna, Byraçoiaba e Guaru (hoje Quitaúna, Araçoiaba e Guarulhos).
Curioso notar que o “bandeirante” Antônio Raposo Tavares vivia em Quitaúna; até hoje é preservada a “ermida”, espécie de capela, erigida por ele ou a seu mando. Obviamente que tal “relíquia” fica dentro de um quartel e isso ajuda na preservação. Parece-me que Raposo Tavares, quer pelo nome, quer pela propriedade em região onde Afonso Sardinha mandava, também era judeu.
Maria Gonçalves administrava tudo isso, enquanto que ”o velho” embuchava ameríndias e africanas; ela extrai e vende ferro, prata e ouro; ele domina a vereança, sendo que em 1592, ele se nomeia “Capitão das Gentes de Guerra da Villa”, e assim seu poder foi seguindo até o fim de seus dias e os dela também.
A história conta que o Marquês de Pombal, em 1555 anulou a jurisdição dos jesuítas, que perderam o poder político e riquezas, distribuídas em sessenta aldeias do Pará e do Maranhão, administradas por religiosos das Mercês, Carmelitas, Capuchinhos e pela Companhia de Jesus.
Segundo pesquisadores, na época que os jesuítas caíram em desgraça, somavam de 550 a 610 religiosos no Brasil. Alguns historiadores garantem que, quem realmente extinguiu a Companhia de Jesus, não foi Pombal, mas sim o Papa Clemente XIV, em 1573. Só a partir daí, os judeus puderam novamente se organizar.
Do ponto de vista judeu, segundo o escritor e historiador Pablo Link, no judaísmo, fora da sinagoga e dos atos puramente religiosos, os homens não têm mais privilégios do que as mulheres; cada sexo é a criação suprema em sua própria esfera. Segundo nos é narrado na Bíblia, tanto o homem como a mulher foram criados por Deus à sua imagem e semelhança, ambos com autoridade para dominar as forças da Natureza.
O “Midrash” enfatiza particularmente que Adão foi criado do barro; no entanto, Eva foi concebida da costela do homem; portanto de um elemento superior, portanto todas as mulheres possuem um entendimento superior e uma intuição refinada, qualidades ausentes nos homens.
Tais qualidades devem formar a “pedra angular” do casal e do lar, sendo a mulher a guardiã da família e, por conseguinte, a mais sagrada instituição na evolução dos povos. É tamanho o respeito pela mulher judia, que os Patriarcas judeus: Abraão, Isaac e Jacó, têm o mesmo respeito e devoção que são dedicados às Matriarcas judias; Sara, Rebeca, Raquel e Lea. Ainda são lembradas: Miriam (anti-escravagista); Débora (juíza e comandante das forças na guerra da independência do povo de Israel) e Huldá, profetiza legítima.
A posição da mulher na sociedade judia, foi definida em todos os seus detalhes no “Talmud” (4). Coube à mulher judia, a tarefa de santificar o lar no que se refere às leis da castidade, as quais devem ser observadas por homens e mulheres com um rigor absoluto e escrupuloso.
Nessa tarefa, a influência espiritual é de tal magnitude, que os sábios prescreveram o seguinte princípio: “Ama tua mulher como a ti mesmo e honre-a ainda mais que a ti mesmo.
Não faças uma mulher chorar, porque Deus conta as suas lágrimas. Todo homem que se casa com uma boa mulher, é como se tivesse cumprido todos os preceitos da Torá (5)”. Mas, a posição da mulher judia e o respeito que gozam no judaísmo, não se limita a aforismos, por mais belos que sejam; de fato, a mulher ocupa o lugar central da família. Todos os deveres das mulheres judias, no lar ou na sociedade são, portanto, deveres sagrados; mesmo aqueles simples afazeres domésticos, como os mais complicados, como aqueles de fundo religioso.
SALOMÃO
O ”Livro dos Provérbios”, atribuído ao rei Salomão, define o protótipo da mulher judia, nos “Provérbios XXXI: 10 a 31”; quando descreve magistralmente a Eshet Jayil, a “Mulher Formosa”, fazendo-a crer virtuosa, tal como é e deve ser no seio da família.
Salomão aconselha que o marido judeu, ao voltar da sinagoga às sextas feiras à noite, deve recitar o capítulo de vinte e duas estrofes em honra de sua mulher; com isso, brinda também o ambiente com um aroma poético.
Fonte de muita inspiração, esse tão belo poema está aqui reproduzido. O leitor há de convir que a tradução final em Português, feita pelo ACAS a partir do idioma Espanhol é o texto em Espanhol traduzido por Pablo Link a partir do texto em Hebreu; portanto é possível que algumas traduções não sejam tão fiéis ao original de Salomão. Minha tradução é “livre” e com licença poética, com o fito de informar.
Eis o texto:
Salmo 10
Quem crer que uma mulher é tão formosa,
Cujo valor supera as pedras preciosas.
Salmo 11
Confia nela o coração de seu marido,
E assim ela nunca estará em apuro.
Salmo 12
Retribua a ela sempre bem; não mal,
Todos os dias de sua vida.
Salmo 13
Ela teceu lindo com lã e linho,
E suas mãos trabalham com primor e vontade.
Salmo 14
Assim como os navios mercantes,
De longe trouxe seu pão.
Salmo 15
Levantou-se ainda era noite,
Para dar de comer à sua família,
E também para suas criadas.
Salmo 16
Percorreu um campo e o comprou,
E plantou vinhas com suas próprias mãos.
Salmo 17
Fortaleceu seus ombros,
E energizou seus braços.
Salmo 18
Percebeu a qualidade de sua mercadoria,
E suas lamparinas jamais se apagam na noite.
Salmo 19
O fuso dança em suas mãos,
E a roca, suas mãos manejam.
Salmo 20
Ao pobre estende sua mão,
Ao menosprezado, suas mãos alcançam.
Salmo 21
Por sua família, não teme a neve,
Pois toda sua família está bem agasalhada.
Salmo 22
Faz tapeçarias para si,
De puro linho, é seu vestido.
Salmo 23
Seu marido é reconhecido no povoado,
Pois com os anciãos sábios se senta.
Salmo 24
Peças de linho, ela fez e as vendeu,
E as entregam amarradas com fitas, ao negociante.
Salmo 25
Fortaleza e dignidade são suas vestes,
E assim também o será, no dia seguinte.
Salmo 26
Com sabedoria abrirá sua boca,
A lei do carinho domina sua língua.
Salmo 27
Cuida pelas normas da casa,
Jamais come o pão sem motivo.
Salmo 28
Seus filhos se levantaram e a chamaram de bem-aventurada,
Seu marido, por isso mesmo, cobre-a com bênçãos.
Salmo 29
Muitas mulheres valentemente se portaram,
Mas tu as superastes, todas.
Salmo 30
Enganosa é a graça e vã a formosura,
A mulher que teme a Deus, abençoada seja.
Salmo 31
Dá-lhe do fruto de suas mãos,
Que abençoam nas portas de seus próprios feitos.
Glossário e/ou notas:
(1) Góis = gentis, pessoa do povo (sem conotação respectiva), define também alguém não judeu, simplesmente.
(2) Moshe Rabeinu = Moisés, o primeiro rabino judeu.
(3) Sabenito = conforme a descrição de um judeu, o sambenito é uma túnica com símbolos que identificam a pessoa que a usa como judeu. O uso do sambenito era obrigatório e o judeu que não usasse, era punido. Até recentemente, na Ilha de Malhorca (Espanha), os descendentes de cristão novos ainda o usavam.
(4) Talmud = série de comentários dos eruditos da Torá. A história diz que existiram dois “Talmuds”; o Talmud de Jerusalém (feito pelos sábios que não saíram de Jerusalém, após a destruição do Primeiro Templo); e o Talmud da Babilônia (feito pelos eruditos que foram para a Babilônia, após a destruição do 1º Templo). O Talmud de Jerusalém demorou 600 anos para ser terminado; o Talmud da Babilônia demorou 700 anos para ser completado. Passado todo este tempo, os comentários foram unificados e restou somente um Talmud, composto dos dois anteriores.
(5) Torá = pentateuco, ou os cinco livros do antigo testamento.
ACAS
Publicado no Recanto das Letras em 24/11/2008
Nenhum comentário:
Postar um comentário