Você sabe a Quem serve? - Parte I
Por Sha’ul Bensiyon I
- Introdução Muitas pessoas dizem que servem ao ‘Deus da Bíblia’. Mas, será que sabem quem Ele é? Neste pequeno estudo de duas partes, pretendo dar uma boa introdução ao tema, falando acerca dos dois principais ‘nomes’ pelos quais o Criador é chamado a Bíblia Hebraica. A saber, 'Elohim' e ‘YHWH'. II - Os semitas e os Poderes Comecemos pelo termo ELOHIM (אלוהים). Os povos semitas da antiguidade percebiam que havia ‘poderes’ que influenciavam diretamente em suas vidas, mas que estavam além do seu controle. Observavam que o sol, a lua, a posição das estrelas, as chuvas, o vento, o movimento das águas nos mares, rios e lagos, e tantas outras coisas tinham influência sobre a flora, a fauna, a colheita, a temperatura, e acabavam afetando suas vidas. Na realidade, os semitas não estavam sozinhos nesse entendimento. A maioria das civilizações antigas ja tinha esse entendimento. Num primeiro momento, entendiam que essas coisas eram deuses. Cada divindade era responsável pelo controle de alguma dessas coisas, assim como os reis humanos controlavam cidades, exércitos, e atividades em geral. Então, tínhamos coisas como Asherá, deusa das águas; Reshef, deus das pragas; Nikal, deusa das frutas; Mot, deus da guerra; e assim por diante. A lista era interminável, e com o passar do tempo novas divindades surgiam. E, tal como os humanos, brigavam entre elas, destronavam outras, etc. Nos idiomas semitas, esses deuses era chamados de ‘elohim’, ou ‘poderes’. Vários deles eram também chamados por epítetos como ‘el’ (poder ou poderoso), ‘ba`al’ (senhor), e assim por diante. Termos que não eram usados exclusivamente para deuses, mas sim adjetivos equivalentes ao que hoje usamos para nos referir a dignatários: Excelência, Senhor, Nobre, e assim por diante. III - A Origem do Monoteísmo Bíblico Em dado momento, surge um personagem chamado Abraão. Segundo o entendimento judaico, Abraão foi um grande monoteísta. Alguém que, vindo de Ur dos Caldeus (uma região altamente politeísta), chegou a uma importante conclusão: “Ele percebeu que havia um Elohim que controlava a órbita, que Ele criou tudo, e que não havia outro elohim entre todas as outras entidades.” (Mishnê Torá - Sefer haMadá` - Hilkhot `Abodá Zará 1:3)
Abraão percebeu que se o universo estava totalmente em sincronia, havia Uma inteligência por trás de todas forças, ou poderes (elohim) da natureza. Foi então que o Eterno o chamou para ser um grande propagador do Monoteísmo. Com o passar do tempo, Abraão e sua família, que viria depois a formar o povo de Israel, perceberam também a ingenuidade de atribuir ao Eterno atributos humanos. Embora as Escrituras o descrevam com ‘asas’, ‘assentado no trono’, tendo uma mão direita, entre outras coisas, nossos sábios dizem: ‘A Torá fala a língua dos homens.’ Isto é, essas coisas são figurativas, para nos ajudar a compreendê-Lo. III - O Superlativo no Hebraico Bíblico No hebraico bíblico, a forma plural também traz uma conotação ‘superlativista’. Assim, ‘shir hashirim’ (cântico dos cânticos) é o cântico mais importante; qodesh haqodashim (santo dos santos) é o lugar mais santo de todos, ba`alim é usado para se referir a um grande senhor, e assim por diante. Sabe-se que o termo é singular e superlativo quando o verbo vem no singular. Em sendo assim, traduz-se ‘Elohim’ mais literalmente como o ‘Poder supremo’, ‘Autoridade suprema’ ou algo nessa linha. Porém, sem se esquecer do que isso quer dizer na cultura semita. A saber: Aquele que é a causa, ou o orquestrador, de todos os poderes. IV - Elohim, na Bíblia Dessa forma, observa-se que quando o termo ‘Elohim’ aparece, entende-se como a causa primordial de todos os poderes ou forças que envolvem uma situação. Por isso o termo é usado em Gênesis 1, por exemplo, quando as várias forças da natureza se combinam para formar a criação, mas de uma maneira orquestrada pela vontade do Criador. Os nomes do Eterno na Bíblia Hebraica não são usados aleatoriamente. Quando há uma situação na Bíblia e o termo usado é ‘Elohim’, o texto quer dizer que o Eterno está de bastidores, controlando e coordenando todos os eventos, de forma que tudo ocorra de acordo com a vontade dEle. Se usado sozinho numa narrativa, é indicativo de que o Eterno não estava se envolvendo de maneira muito tangível, estando mais ‘distante’ (na percepção humana), como um arquiteto que desenha uma planta, e observa os operários construírem o que desenhou. Vez ou outra, interfere no sentido de assegurar o bom andamento da obra. Quando vem seguido de um nome, por exemplo “Elohê Abraham”, isso seria entendido por um semita como ‘Aquele que foi responsável por coordenar todos os acontecimentos relevantes na vida de Abraão’. Isso ajudava ao ouvinte a compreender que desde seus ancestrais, o Eterno estava no comando de todas as coisas. Na maioria das traduções, Elohim é substituído por ‘Deus’, no português. Entendo que isso seja uma necessidade inevitável numa tradução. Mas mostra como às vezes a tradução pode acabar ‘ocultando’ o sentido exato de um texto. E aqui, perde-se muito esse conteúdo importantíssimo. Na parte II, veremos como isso difere do uso do Tetragrama
Por Sha’ul Bensiyon I
- Introdução Muitas pessoas dizem que servem ao ‘Deus da Bíblia’. Mas, será que sabem quem Ele é? Neste pequeno estudo de duas partes, pretendo dar uma boa introdução ao tema, falando acerca dos dois principais ‘nomes’ pelos quais o Criador é chamado a Bíblia Hebraica. A saber, 'Elohim' e ‘YHWH'. II - Os semitas e os Poderes Comecemos pelo termo ELOHIM (אלוהים). Os povos semitas da antiguidade percebiam que havia ‘poderes’ que influenciavam diretamente em suas vidas, mas que estavam além do seu controle. Observavam que o sol, a lua, a posição das estrelas, as chuvas, o vento, o movimento das águas nos mares, rios e lagos, e tantas outras coisas tinham influência sobre a flora, a fauna, a colheita, a temperatura, e acabavam afetando suas vidas. Na realidade, os semitas não estavam sozinhos nesse entendimento. A maioria das civilizações antigas ja tinha esse entendimento. Num primeiro momento, entendiam que essas coisas eram deuses. Cada divindade era responsável pelo controle de alguma dessas coisas, assim como os reis humanos controlavam cidades, exércitos, e atividades em geral. Então, tínhamos coisas como Asherá, deusa das águas; Reshef, deus das pragas; Nikal, deusa das frutas; Mot, deus da guerra; e assim por diante. A lista era interminável, e com o passar do tempo novas divindades surgiam. E, tal como os humanos, brigavam entre elas, destronavam outras, etc. Nos idiomas semitas, esses deuses era chamados de ‘elohim’, ou ‘poderes’. Vários deles eram também chamados por epítetos como ‘el’ (poder ou poderoso), ‘ba`al’ (senhor), e assim por diante. Termos que não eram usados exclusivamente para deuses, mas sim adjetivos equivalentes ao que hoje usamos para nos referir a dignatários: Excelência, Senhor, Nobre, e assim por diante. III - A Origem do Monoteísmo Bíblico Em dado momento, surge um personagem chamado Abraão. Segundo o entendimento judaico, Abraão foi um grande monoteísta. Alguém que, vindo de Ur dos Caldeus (uma região altamente politeísta), chegou a uma importante conclusão: “Ele percebeu que havia um Elohim que controlava a órbita, que Ele criou tudo, e que não havia outro elohim entre todas as outras entidades.” (Mishnê Torá - Sefer haMadá` - Hilkhot `Abodá Zará 1:3)
Abraão percebeu que se o universo estava totalmente em sincronia, havia Uma inteligência por trás de todas forças, ou poderes (elohim) da natureza. Foi então que o Eterno o chamou para ser um grande propagador do Monoteísmo. Com o passar do tempo, Abraão e sua família, que viria depois a formar o povo de Israel, perceberam também a ingenuidade de atribuir ao Eterno atributos humanos. Embora as Escrituras o descrevam com ‘asas’, ‘assentado no trono’, tendo uma mão direita, entre outras coisas, nossos sábios dizem: ‘A Torá fala a língua dos homens.’ Isto é, essas coisas são figurativas, para nos ajudar a compreendê-Lo. III - O Superlativo no Hebraico Bíblico No hebraico bíblico, a forma plural também traz uma conotação ‘superlativista’. Assim, ‘shir hashirim’ (cântico dos cânticos) é o cântico mais importante; qodesh haqodashim (santo dos santos) é o lugar mais santo de todos, ba`alim é usado para se referir a um grande senhor, e assim por diante. Sabe-se que o termo é singular e superlativo quando o verbo vem no singular. Em sendo assim, traduz-se ‘Elohim’ mais literalmente como o ‘Poder supremo’, ‘Autoridade suprema’ ou algo nessa linha. Porém, sem se esquecer do que isso quer dizer na cultura semita. A saber: Aquele que é a causa, ou o orquestrador, de todos os poderes. IV - Elohim, na Bíblia Dessa forma, observa-se que quando o termo ‘Elohim’ aparece, entende-se como a causa primordial de todos os poderes ou forças que envolvem uma situação. Por isso o termo é usado em Gênesis 1, por exemplo, quando as várias forças da natureza se combinam para formar a criação, mas de uma maneira orquestrada pela vontade do Criador. Os nomes do Eterno na Bíblia Hebraica não são usados aleatoriamente. Quando há uma situação na Bíblia e o termo usado é ‘Elohim’, o texto quer dizer que o Eterno está de bastidores, controlando e coordenando todos os eventos, de forma que tudo ocorra de acordo com a vontade dEle. Se usado sozinho numa narrativa, é indicativo de que o Eterno não estava se envolvendo de maneira muito tangível, estando mais ‘distante’ (na percepção humana), como um arquiteto que desenha uma planta, e observa os operários construírem o que desenhou. Vez ou outra, interfere no sentido de assegurar o bom andamento da obra. Quando vem seguido de um nome, por exemplo “Elohê Abraham”, isso seria entendido por um semita como ‘Aquele que foi responsável por coordenar todos os acontecimentos relevantes na vida de Abraão’. Isso ajudava ao ouvinte a compreender que desde seus ancestrais, o Eterno estava no comando de todas as coisas. Na maioria das traduções, Elohim é substituído por ‘Deus’, no português. Entendo que isso seja uma necessidade inevitável numa tradução. Mas mostra como às vezes a tradução pode acabar ‘ocultando’ o sentido exato de um texto. E aqui, perde-se muito esse conteúdo importantíssimo. Na parte II, veremos como isso difere do uso do Tetragrama