quinta-feira, 12 de fevereiro de 2015

"Por que estou aqui? O que vai realmente me fazer mais realizado e verdadeiramente feliz? "
Estas perguntas muitas vezes nos consomem. Podemos chegar a uma resposta satisfatória? Nós sabemos que o monoteísmo autêntico derivado do Sinai é a única forma de serviço a D’us: e isto pode ser comprovado como qualquer fato histórico, sendo baseado numa revelação em massa quando da saída dos israelitas da terra do Egito. Enquanto as religiões exigem fé cega, uma vez que carecem de comprovação para as suas reivindicações, o monoteísmo estrito exige inteligência e razão, e é então a única forma de serviço divino que fornece a prova de sua origem, sendo usada como ‘fonte’ para as ditas ‘religiões monoteístas universais’ (ainda que haja controvérsias quanto à esse seu ‘monoteísmo’ – controvérsias essas que não serão abordadas nesse artigo por não ser este o nosso interesse nesse momento)
Portanto, essa nossa abordagem não se ocupa de demonstrar qual seria a “religião”  verdadeira; Isto já está estabelecido, tendo sido até mesmo declarado implita ou explicitamente por outras exressões religiosas. Este artigo visa abordar na verdade, o tema acerca da intenção de D’us ... o ‘plano de D’us’ para o homem. Por que a Torá (tal qual hoje a conhecemos) não foi dada ao mundo antes do Sinai? O que será que isso nos diz ou nos ensina  sobre o plano de D’us para aqueles indivíduos antigos e para as primitivas sociedades humanas? O que isso diz sobre as suas capacidades como seres pensantes? Será que D’us não desejaria uma vida melhor também para eles? E o que isso diz sobre nós, que fomos criados de forma idêntica às gerações anteriores? Há algumas fontes que nos introduzirão a uma verdade fundamental sobre a vontade de D’us. Citaremos essas fontes, através das quais sentimos que você vai detectar a resposta que vamos sugerir no final.

1. MAIMÔNIDES - Maimônides escreveu muitas obras brilhantes, incluindo o Mishneh Torá e o Sefer Hamitzvot. Ambas as obras elucidam os mandamentos da Torá. No entanto, quando comparamos suas palavras em ambas as obras que abordam a mitzvah de "Amar a D’us," parece que achamos uma grande discrepância. No Sefer Hamitzvot, Maimônides ensina que o caminho para amar a D’us é através de estudo da Torá. Mas, em seu Mishneh Torá, ele diz que o caminho para amar a D’us é através do estudo do universo. Como explicar esse conflito? Também nos perguntamos por que ele escreveu ambas as obras, se elas abordam o mesmo tema? Por que Maimônides derivar amor e temor de D’us a partir das palavras do rei Davi? "Quando vejo os céus, obra dos teus dedos" ... "que é o homem para que estejas atento a ele (Salmos 8: 4)?" Que lição pode ser aprendida a partir da seleção deste verso específico como a fonte da qual Maimônides identifica o amor e o temor devidos a D’us? [1]
O Sefer Hamitzvot é uma obra que lista e elucida os 613 mandamentos. Em contraste, o Mishneh Torá vai além disso, como encontramos nas "Leis dos fundamentos da Torá" e nas "Leis sobre Traços de Personalidade", duas categorias fora da esfera dos 613 mandamentos formais de D’us. Em suas Leis dos fundamentos da Torá, Maimônides discute uma categorização única de temas - não exatamente de ‘leis’ da Torá como poderíamos pensar. Então, nós desejaríamos saber qual é a intenção de Maimônides em seu Mishne Torá. Maimônides começa esta seção abordando a ‘existência’ singular de D’us como independente (eterna), em contraste com tudo o mais que é existência dependente. Ou seja, todas as coisas criadas necessitaram da vontade de D’us para que viessem a existir. Mas a criação também requer a vontade de D’us para que ela possa continuar a existir. Ou seja, a "criação" por si só não dota entidade entidade alguma com a virtude da permanência; a sua duração também requer a vontade de D’us. (Só isso já merece alguns momentos de reflexão para que possa ser apreciado plenamente.)
Maimônides nos ensina que só D’us de fato ‘existe’, e se assim não fosse (caso isso fosse hipoteticamente possível) tudo de repente deixaria de existir. Por outro lado, tudo o que agora existe, não precisaria existir, nem tão pouco a sua não existência ou o fato de não mais existir poderia afetar a D’us. Na lei 1: 6, relativa ao conhecimento do papel de D’us como a única causa e a única existência real, Maimônides nos diz que este é um mandamento positivo. Nós nos perguntamos: por que Maimônides não discute o elemento "mandamento" logo no início? Ele continua nos ensinando que D’us não é físico, e, portanto, todas as condições físicas e seus efeitos não podem aplicar-se a Ele. Isso inclui o fato de D’us não ter partes, localização, não mudar, não se cansar, não comer, não possuir emoções, etc. Maimônides descreve as categorias de todas as existências, desde o homem até as estrelas, esferas e anjos, e as desenvolve em sue texto. Mas, afinal, o que conecta todos estes temas elabrados em Hilchot Yesodei Hatorah, ou seja, a existência de D’us, a criação, a metafísica, os anjos, santificação do nome de D’us, não profanar o nome de D’us, profecia, falsos profetas, revelação no Monte Sinai, o estado imutável da Torá e da proibição mudá-la? Que tipo de raciocínio teria exigido esta compilação de temas?
2. TALMUD - Outra fonte nos orienta para a obtenção da resposta. O Talmud, no Tratado Sanhedrin afirma: “O Rabi Yehudah disse: ‘Adam, o primeiro, recebeu mandamento apenas contra a idolatria’. Disse o R. Yehudah Ben-Besayra, ‘Outros dizem que Adam também recebeu mandamento sobre a criação de tribunais. Adam também recebeu um mandamento contra amaldiçoar a D’us’. Com qual opinião isso está de acordo? R. Yehudah disse em nome de Rav: ‘Disse D’us a Adão: Eu sou D’us – ensinando-o assim a não Me amaldiçoar; D’us disse a Adam: Eu sou D’us, assim eu o ensinei a não Me trocar por outro deus; D’us disse a Adam:  Eu sou D’us, ensinando assim que o temor de Mim haverá entre vós” (Talmud Sanhedrin 56b). 
O que porém chama nossa atenção é o fato de que Adam não recebeu ordem acerca dos 613 mandamentos. Além disso, o Talmud ensina um fundamento que pode ser facilmente ignorado. Esse fundamento é ensinado através de uma frase: ‘Eu sou D’us’, pela qual Ele impõe a Adam alguns outros mandamentos. Mas, por que esses mandamentos não foram transmitidos claramente, um a um? Além disso, o Talmud no Tratado Niddah 30b ensina: 
"O embrião aprende tudo acerca da Torá, e no momento do nascimento, um anjo vem e toca seus lábios, fazendo com que se esqueça”
O que essa metáfora pretende explicar? 
3. AS DUAS TÁBUAS – Como se sabe pela tradição, as duas tábuas originais dos Dez Pronunciamentos, chamadas de ‘luchot’, foram formadas naturalmente, incluindo as suas letras. Maimonides deriva isto a partir do versículo da Torá: "E as tábuas eram obra de D’us", isto é, elas eram produto da natureza, e não da arte humana (Êx. 32:16), pois todas as coisas naturais são chamadas de "obra do S’nhor”, e a escrita era ela mesma, “escrita de D’us” (ibid). "[2].
Mas qual a importância de se frisar que as primeiras tábuas foram formadas ‘naturalmente’ e não como obra feita pela arte de Moisés, como ocorreram com as segundas?
4. TORÁ – A Torá começa pelo Gênesis e as histórias dos patriarcas e matriarcas. Por que não simplesmente começar com o primeiro mandamento? No comentário do Rashi sobre Gên. 24:42, lemos: "Rabi Acha disse, Mais agradável é o discurso dos servos dos patriarcas diante de D’us, do que a Torá (mandamentos) de seus filhos”, como percebemos pelo relato sobre  Eliezer (descrevendo seu encontro com Rebeca ) que é duplo na Torá, enquanto muitos dos seus mandamentos centrais só são dados por meio de sugestões. Que tipo de lição esta comparação pretende nos ensinar?
O PLANO ORIGINAL DE D’US
Por que D’us deu a Adam apenas um mandamento, e a Noach apenas sete? Por que não deu-lhes toda a Torá? A resposta é: Porque era desnecessário. A obra de D’us é perfeita; Ele criou Adam com tudo o que ele precisava para viver como havia sido planejado. Ou seja, com a inteligência apenas, o homem é capaz de derivar verdades através do pensamento independente. Esta é a vontade de D’us, e seu estado preferível para o homem. Aqui está o ponto: O pleno funcionamento do projeto, de forma natural e não por coerção (ou seja, por meio de mandamentos) é a forma de existência mais agradável e aperfeiçoada para nós, e D’us deseja que o homem viva neste estado mais agradável. Quando nossas mentes compreendem uma verdade através do estudo do mundo natural (em oposição ao estudo da Torá) esta verdade é registrada como algo enraizado na nossa experiência ... na realidade.
Isso nos causa grande impacto e nos impressiona muito profundamente. Porém, essa constatação por sua vez, nos impulsiona a uma ação não imposta. Somos mais felizes quando agimos de acordo com o que percebemos ser autêntico, real e verdadeiro. Por outro lado, o ser coagido a aderir à Torá carrega algum certo conflito. Os rabinos dizem metaforicamente que D’us manteve o Monte Sinai sobre as cabeças de todo o povo judeu, coagindo-os a aceitar a Torá. No entanto, o design do homem exigia pelo menos um mandamento, pois há um conceito que não pode ser aprendido através da observação da natureza: A obediência humana a D’us. Esta relação entre D’us como o Mestre e o homem como o servo, requer comunicação. Portanto, o Talmud ensina que D’us deu a Adam uma lei: Contra a idolatria [avodah zarah]. Dessa lei, o Talmud ensina que o homem pode derivar outras lições: “Disse D’us a Adam: Eu sou D’us – ensinando-o assim a não Me amaldiçoar; D’us disse a Adam: Eu sou D’us, assim eu o ensinei a não Me trocar por outro deus; D’us disse a Adam:  Eu sou D’us, ensinando assim que o temor de Mim haverá entre vós”. Desta forma, o Talmud explica como Adam, através da sua própria inteligência, foi equipado para derivar todas as outras verdades, a partir de um simples mandamento.
A MENSAGEM DE MAIMÔNIDES
Isso explica por que em seu Mishne Torá, Maimônides diz que o amor por D’us é alcançado através do estudo do mundo natural, e não através da Torá. Pois por meio do Mishne Torá, especificamente nesta secção de abertura dos fundamentos da Torá, Maimônides está apresentando o maior número de verdades primárias. Estas verdades são anteriores à Torá, a partir do qual ela foi formulada. É por isso que essas verdades primárias são chamadas de "fundamentos da Torá" – ou seja, são os ‘blocos’ anteriores pelos quais D’us criou o sistema da Torá. O Mishne Torá difere muito do Sefer Hamitzvot. Este último aborda apenas o sistema da Torá e das mitsvot. Porém, com o seu Mishne Torá, Maimônides descreve a "realidade" – ou seja, tratam-se de tópicos muito mais abrangentes do que os mandamentos da Torá.
Ele aborda a existência de D’us, o tema dos anjos, da profecia, dos céus, e o nosso relacionamento com o Criador tendo com base essas verdades. Nossa compreensão destes temas são pré-requisitos para os mandamentos da Torá, que vem logo após. Temos de saber o papel de D’us como Criador e sustentador de tudo o que existe. Devemos saber que, apesar de bastante exaltados, o céu e os anjos também são criações, e não existências dignas de deificação como as gerações anteriores pecaminosas cegamente acreditavam. Devemos saber que D’us relaciona-se com o homem, e isto é "profecia".
Devemos saber que o nosso papel é a obediência, e por isso devemos santificar a D’us e respeitá-Lo. Uma vez que sabemos de tudo isso, então estamos prontos para avançar para o próximo passo, e esse é o entendimento de nossas personalidades a fim de ganharmos controle sobre nossas tendências e paixões. Assim, as leis de traços de personalidade vêm a seguir. Vemos assim que o Mishne Torá abrange muito mais do que uma simples lista de mandamentos. Ele na verdade pretende nos preparar para a vida. Ao fazer isso, ele habilmente nos ensina que o homem possui um projeto através do qual podemos alcançar uma vida melhor, amor ao conhecimento e o temor ao Autor da Criação. É por isso que ele ensina que o amor a D’us pode ser aprendido com a admiração do mundo natural, citando dos Salmos do Rei Davi, em vez de fazer uso de uma citação de um mandamento. Ao citar as palavras do Rei Davi, "Quando vejo os teus céus, obra dos teus dedos" - Maimônides apresenta um exemplo de homem que ama a D’us através do estudo do mundo natural. Maimônides evita mencionar o "mandamento" de conhecer a D’us, até que primeiramente afirme essa realidade, tendo como base a razão.
Mais uma vez, o elemento do qual deriva-se um mandamento é secundário, até que se chegue a essa verdade por meio da razão, por meio de um processo natural. Interessante é também salientar que a abordagem que Maimônides faz dos mandametos só é encontrada na parte final do seu ‘Guia dos Perplexos’.
Um sábio rabino explicou a metáfora do anjo no útero. A mente humana é naturalmente dotada de um conjunto de faculdades inatas. Por exemplo, nós não precisamos aprender a "comparar", pois a mente faz isso naturalmente. Quando uma criança vê um estranho, ela chora enquanto sua mente compara a face desse estranho com a imagem recuperada do rosto da sua mãe. Há uma série de outras faculdades inatas, como a definição de "igualdade:" sabemos quando dois objetos são diferentes; sem nunca termos recebido instrução acerca do conceito de "igualdade". Nem precisamos ser ensinados sobre causa e efeito. Nós também podemos deduzir sem sermos ensinados a fazer isso. Tudo isso mostra que um ser humano por natureza possui essas faculdades inteligentes, assim como ele de forma inata, possui emoções. Os rabinos ensinaram isso dizendo, "um anjo ensina a Torá ao embrião, e nós nos esquecemos de tudo ao nascer."
Esquecer está em contraste com o nunca ter aprendido, pois a pessoa que aprendeu, mas depois esqueceu, ainda mantém meios de voltar àquele conhecimento. Esta é a mensagem do rabino: nós de forma inata possuímos vias, ou melhor, faculdades, que podem detectar verdades sobre D’us, o universo, e o nosso papel aqui. A Torá nunca foi   absolutamente necessária. O R. Acha disse: “Mais agradável é o discurso dos servos dos patriarcas diante de D’us, do que a Torá (mandamentos) de seus filhos”. Novamente, isto destaca a perfeição dos Patriarcas. Sem Torá, somos ensinados acerca do elevado grau que até mesmo as palavras mundanas dos seus servos expressava. Assim, o homem pode, naturalmente alcançar a perfeição, sem Torá. Mesmo as primeiras tábuas, formadas naturalmente, expressam a idéia de que a natureza oferece ao homem uma revelação da mão do Criador operando em tudo.
Que visão espetacular deve ter sido ... tábuas de safira com as palavras de D’us formadas naturalmente dentro delas. Quando estudamos a criação, estamos examinando a existência. Em contraste, quando estudamos a Torá, embora ainda estejamos testemunhando o esplendor de D’us, não estamos nos relacionando com a "existência". Precisamente o pedido de Moisés feito a D’us, "mostra-me a Tua Face", foi a sua tentativa de compreender a exata ‘existência’ de D’us. Evidentemente, "existência" aos olhos de Moisés era algo muito central. Além disso, quando estamos estudando a criação usando apenas as nossas mentes, nós nos envolvemos num processo de pensamento maior do que quando dependemos dos atalhos da Torá (mandamentos). Os grandes pensadores, desde Abraão até Aristóteles e Einstein, revelam o potencial humano em seu estado natural.
A Torá começa com a gênese do universo por isso mesmo. Naturalmente, o homem foi bem equipado para estudar o universo, como lemos sobre Adam que nomeou com precisão (definindo) os animais. A Torá não é um livro de história, e como disse o rabino Isaac, poderia ter iniciado com os mandamentos em primeiro lugar. Mas o natural é exigimos fundamentos antes que possamos aceitar e seguir a Torá. Maimônides codificou esses fundamentos. Agora entendemos a distinção entre o Sefer Hamitzvot e o Mishne Torá. Ao longo do tempo, o homem corrompeu-se.
Muitas leis da Torá tiveram sua origem como ferramentas para combater essas corrupções, como não seguir superstições ou os caminhos dos cananeus e egípcios. Leis e feriados foram criados para recordar a bondade de D’us, como Pessach e Succot. Os tefillin recordam as mortes dos primogênitos durante a redenção e a saída do Egito. Assim, a Torá como a temos hoje, constituindo-se de 613 mandamentos, não poderia ter sido dada a Adam. As gerações posteriores desviaram-se, e D’us em Sua bondade, formulou um sistema de Torá para ajudar a humanidade a permanecer no caminho. Adam era bem capaz de usar apenas a sua mente e inteligência para deduzir essas leis independentemente do seu próprio desvio. Ele, seus filhos, Noach e Abraão trouxeram ofertas a D’us, pelo fato de terem entendido totalmente a relação do homem com seu Criador. A orações estiveram nos lábios dos patriarcas sem a necessidade de nenhum mandamento. Eles usaram apenas as suas mentes e a sua inteligência para compreender a D’us, Seus caminhos, e Sua vontade para o homem.
A profecia é o meio de comunicação de D’us com o homem, e a oração é o meio do homem comunicar-se com D’us. A Torá e os seus mandamentos não têm como alvo um novo plano, mas sim, o de manter-se fiel ao plano original, como os ‘primeiros frutos’. As ofertas obrigam o homem a reconhecer o Criador como o Autor e Mantenedor de todas as coisas, e os dízimos nos ensinam a generosidade. Mais uma vez, vemos Abraão dando o dízimo sem ter ainda a Torá, mostrando como a mente humana pode chegar a verdades e moralidades independentes de ter ou não Torá. Este era o plano inicial de D’us. O maior mandamento é a educação, e nós aprendemos que Abraão ensinou dezenas de milhares. A bondade e a justiça também foram exemplificadas nas guerras de Abraão contra os reis; o patriarca aprendeu acerca da justiça de D’us no episódio de Sodoma, e assim, ele pode transmitir esses conceitos às gerações vindouras. Isto significa que Abraão entendeu os caminhos de D’us, sem a necessidade da Torá. Ao estudarmos a vida dos patriarcas, como é da vontade de D’us, vamos chegar a ainda mais exemplos apoiando os rabinos que metaforicamente ensinaram que "Abraão observou toda a Torá [3]."
Isto significa que Abraão foi capaz de chegar às mesmas verdades que mais tarde, D’us ensinaria a humanidade por meio de uma comunicação formal. Os rabinos ensinam que, em última análise, nos dias do Messias, o homem vai retornar ao estado de Adam, onde naturalmente estava ligado a D’us e à sabedoria. Mas esta é apenas a regra geral. Qualquer pessoa hoje em dia pode se empenhar e tornar-se um ‘Abraão’. Cada um de nós tem essa capacidade, tal como estamos agora. O que se faz necessário para isso é apenas a convicção de que D’us proverá, e a confiança de que Ele vai agir assim, e então nós podemos nos liberar mais do nosso apego aos "cálculos procurados pelas massas" [4] (priorização das riquezas), minimizando o nosso trabalho, de modo a maximizarmos o nosso estudo da Torá [5]. Ao fazê-lo, vamos chegar a uma maior realização através da percepção da sabedoria de D’us. ■
 
[1] Mishne Torá, Hilchot Yesodei Hatorah 2:2 
[2] Guia dos Perplexos, Livro I, cap. LXVI 
[3] Talmud Kiddushin 82a, Mishná 
[4] Hilchot Shmitta v’Yovale 13:13
[5] Ética dos Pais 4:12

""Por que estou aqui? O que vai realmente me tornar mais realizado e verdadeiramente feliz? "
Estas perguntas muitas vezes nos consomem. Podemos chegar a uma re...
sposta satisfatória? Nós sabemos que o monoteísmo autêntico derivado do Sinai é a única forma verdadeira de serviço a D’us: e isto pode ser comprovado como qualquer fato histórico, sendo baseado numa revelação em massa quando da saída dos israelitas da terra do Egito. Enquanto as religiões exigem fé cega, uma vez que carecem de comprovação para as suas reivindicações, o monoteísmo estrito exige inteligência e razão, e é então a única forma de serviço divino que fornece a prova de sua origem, sendo usada como ‘fonte’ para as ditas ‘religiões monoteístas universais’ (ainda que haja controvérsias quanto à esse seu ‘monoteísmo’ – controvérsias essas que não serão abordadas nesse artigo por não ser este o nosso interesse nesse momento)
Portanto, essa nossa abordagem não se ocupa de demonstrar qual seria a “religião” verdadeira; Isto já está estabelecido, tendo sido até mesmo declarado implícita ou explicitamente por outras expressões religiosas. Este artigo visa abordar na verdade, o tema acerca da intenção de D’us ... o ‘plano de D’us’ para o homem. Por que a Torá (tal qual hoje a conhecemos) não foi dada ao mundo antes do Sinai? O que será que isso nos diz ou nos ensina sobre o plano de D’us para aqueles indivíduos antigos e para as primitivas sociedades humanas? O que isso diz sobre as suas capacidades como seres pensantes? Será que D’us não desejaria uma vida melhor também para eles? E o que isso diz sobre nós, que fomos criados de forma idêntica às gerações anteriores? Há algumas fontes que nos introduzirão a uma verdade fundamental sobre a vontade de D’us. Citaremos essas fontes, através das quais sentimos que você vai detectar a resposta que vamos sugerir no final.

1. MAIMÔNIDES - Maimônides escreveu muitas obras brilhantes, incluindo o Mishne Torá e o Sefer Hamitzvot. Ambas as obras elucidam os mandamentos da Torá. No entanto, quando comparamos suas palavras em ambas as obras que abordam a mitzvah de "Amar a D’us," parece que achamos uma grande discrepância. No Sefer Hamitzvot, Maimônides ensina que o caminho para amar a D’us é através de estudo da Torá. Mas, em seu Mishne Torá, ele diz que o caminho para amar a D’us é através do estudo do universo. Como explicar esse conflito? Também nos perguntamos por que ele escreveu ambas as obras, se elas abordam o mesmo tema? Por que Maimônides deriva amor e temor de D’us a partir das palavras do rei Davi? "Quando vejo os céus, obra dos teus dedos" ... "que é o homem para que estejas atento a ele (Salmos 8: 4)?" Que lição pode ser aprendida a partir da seleção deste verso específico como a fonte da qual Maimônides identifica o amor e o temor devidos a D’us? [1]
O Sefer Hamitzvot é uma obra que lista e elucida os 613 mandamentos. Em contraste, o Mishne Torá vai além disso, como encontramos nas "Leis dos fundamentos da Torá" e nas "Leis sobre Traços de Personalidade", duas categorias fora da esfera dos 613 mandamentos formais de D’us. Em suas Leis dos fundamentos da Torá, Maimônides discute uma categorização única de temas - não exatamente de ‘leis’ da Torá como poderíamos pensar. Então, nós desejaríamos saber qual é a intenção de Maimônides em seu Mishne Torá. Maimônides começa esta seção abordando a ‘existência’ singular de D’us como independente (eterna), em contraste com tudo o mais que é existência dependente. Ou seja, todas as coisas criadas necessitaram da vontade de D’us para que viessem a existir. Mas a criação também requer a vontade de D’us para que ela possa continuar a existir. Ou seja, a "criação" por si só não dota entidade alguma com a virtude da permanência; a sua duração também requer a vontade de D’us. (Só isso já merece alguns momentos de reflexão para que possa ser apreciado plenamente.)
Maimônides nos ensina que só D’us de fato ‘existe’, e se assim não fosse (caso isso fosse hipoteticamente possível) tudo de repente deixaria de existir. Por outro lado, tudo o que agora existe, não precisaria existir, nem tão pouco a sua não existência ou o fato de não mais existir poderia afetar a D’us. Na lei 1: 6, relativa ao conhecimento do papel de D’us como a única causa e a única existência real, Maimônides nos diz que este é um mandamento positivo. Nós nos perguntamos: por que Maimônides não discute o elemento "mandamento" logo no início? Ele continua nos ensinando que D’us não é físico, e, portanto, todas as condições físicas e seus efeitos não podem aplicar-se a Ele. Isso inclui o fato de D’us não ter partes, localização, não mudar, não se cansar, não comer, não possuir emoções, etc. Maimônides descreve as categorias de todas as existências, desde o homem até as estrelas, esferas e anjos, e as desenvolve em seu texto. Mas, afinal, o que conecta todos estes temas elaborados em Hilchot Yesodei Hatorah, ou seja, a existência de D’us, a criação, a metafísica, os anjos, santificação do nome de D’us, não profanar o nome de D’us, profecia, falsos profetas, revelação no Monte Sinai, o estado imutável da Torá e da proibição mudá-la? Que tipo de raciocínio teria exigido esta compilação de temas?
2. TALMUD - Outra fonte nos orienta para a obtenção da resposta. O Talmud, no Tratado Sanhedrin afirma: “O Rabi Yehudah disse: ‘Adam, o primeiro, recebeu mandamento apenas contra a idolatria’. Disse o R. Yehudah Ben-Besayra, ‘Outros dizem que Adam também recebeu mandamento sobre a criação de tribunais. Adam também recebeu um mandamento contra amaldiçoar a D’us’. Com qual opinião isso está de acordo? R. Yehudah disse em nome de Rav: ‘Disse D’us a Adão: Eu sou D’us – ensinando-o assim a não Me amaldiçoar; D’us disse a Adam: Eu sou D’us, assim eu o ensinei a não Me trocar por outro deus; D’us disse a Adam: Eu sou D’us, ensinando assim que o temor de Mim haverá entre vós” (Talmud Sanhedrin 56b).
O que porém chama nossa atenção é o fato de que Adam não recebeu ordem acerca dos 613 mandamentos. Além disso, o Talmud ensina um fundamento que pode ser facilmente ignorado. Esse fundamento é ensinado através de uma frase: ‘Eu sou D’us’, pela qual Ele impõe a Adam alguns outros mandamentos. Mas, por que esses mandamentos não foram transmitidos claramente, um a um? Além disso, o Talmud no Tratado Niddah 30b ensina:
"O embrião aprende tudo acerca da Torá, e no momento do nascimento, um anjo vem e toca seus lábios, fazendo com que se esqueça”
O que essa metáfora pretende explicar?
3. AS DUAS TÁBUAS – Como se sabe pela tradição, as duas tábuas originais dos Dez Pronunciamentos, chamadas de ‘luchot’, foram formadas naturalmente, incluindo as suas letras. Maimonides deriva isto a partir do versículo da Torá: "E as tábuas eram obra de D’us", isto é, elas eram produto da natureza, e não da arte humana (Êx. 32:16), pois todas as coisas naturais são chamadas de "obra do S’nhor”, e a escrita era ela mesma, “escrita de D’us” (ibid). "[2].
Mas qual a importância de se frisar que as primeiras tábuas foram formadas ‘naturalmente’ e não como obra feita pela arte de Moisés, como ocorreram com as segundas?
4. TORÁ – A Torá começa pelo Gênesis e as histórias dos patriarcas e matriarcas. Por que não simplesmente começar com o primeiro mandamento? No comentário do Rashi sobre Gên. 24:42, lemos: "Rabi Acha disse, Mais agradável é o discurso dos servos dos patriarcas diante de D’us, do que a Torá (mandamentos) de seus filhos”, como percebemos pelo relato sobre Eliezer (descrevendo seu encontro com Rebeca ) que é duplo na Torá, enquanto muitos dos seus mandamentos centrais só são dados por meio de sugestões. Que tipo de lição esta comparação pretende nos ensinar?
O PLANO ORIGINAL DE D’US
Por que D’us deu a Adam apenas um mandamento, e a Noach apenas sete? Por que não deu-lhes toda a Torá? A resposta é: Porque era desnecessário. A obra de D’us é perfeita; Ele criou Adam com tudo o que ele precisava para viver como havia sido planejado. Ou seja, com a inteligência apenas, o homem é capaz de derivar verdades através do pensamento independente. Esta é a vontade de D’us, e seu estado preferível para o homem. Aqui está o ponto: O pleno funcionamento do projeto, de forma natural e não por coerção (ou seja, por meio de mandamentos) é a forma de existência mais agradável e aperfeiçoada para nós, e D’us deseja que o homem viva neste estado mais agradável. Quando nossas mentes compreendem uma verdade através do estudo do mundo natural (em oposição ao estudo da Torá) esta verdade é registrada como algo enraizado na nossa experiência ... na realidade.
Isso nos causa grande impacto e nos impressiona muito profundamente. Porém, essa constatação por sua vez, nos impulsiona a uma ação não imposta. Somos mais felizes quando agimos de acordo com o que percebemos ser autêntico, real e verdadeiro. Por outro lado, o ser coagido a aderir à Torá carrega algum certo conflito. Os rabinos dizem metaforicamente que D’us manteve o Monte Sinai sobre as cabeças de todo o povo judeu, coagindo-os a aceitar a Torá. No entanto, o design do homem exigia pelo menos um mandamento, pois há um conceito que não pode ser aprendido através da observação da natureza: A obediência humana a D’us. Esta relação entre D’us como o Mestre e o homem como o servo, requer comunicação. Portanto, o Talmud ensina que D’us deu a Adam uma lei: Contra a idolatria [avodah zarah]. Dessa lei, o Talmud ensina que o homem pode derivar outras lições: “Disse D’us a Adam: Eu sou D’us – ensinando-o assim a não Me amaldiçoar; D’us disse a Adam: Eu sou D’us, assim eu o ensinei a não Me trocar por outro deus; D’us disse a Adam: Eu sou D’us, ensinando assim que o temor de Mim haverá entre vós”. Desta forma, o Talmud explica como Adam, através da sua própria inteligência, foi equipado para derivar todas as outras verdades, a partir de um simples mandamento.
A MENSAGEM DE MAIMÔNIDES
Isso explica por que em seu Mishne Torá, Maimônides diz que o amor por D’us é alcançado através do estudo do mundo natural, e não através da Torá. Pois por meio do Mishne Torá, especificamente nesta secção de abertura dos fundamentos da Torá, Maimônides está apresentando o maior número de verdades primárias. Estas verdades são anteriores à Torá, a partir do qual ela foi formulada. É por isso que essas verdades primárias são chamadas de "fundamentos da Torá" – ou seja, são os ‘blocos’ anteriores pelos quais D’us criou o sistema da Torá. O Mishne Torá difere muito do Sefer Hamitzvot. Este último aborda apenas o sistema da Torá e das mitsvot. Porém, com o seu Mishne Torá, Maimônides descreve a "realidade" – ou seja, tratam-se de tópicos muito mais abrangentes do que os mandamentos da Torá.
Ele aborda a existência de D’us, o tema dos anjos, da profecia, dos céus, e o nosso relacionamento com o Criador tendo como base essas verdades. Nossa compreensão destes temas são pré-requisitos para os mandamentos da Torá, que vem logo após. Temos de saber o papel de D’us como Criador e sustentador de tudo o que existe. Devemos saber que, apesar de bastante exaltados, o céu e os anjos também são criações, e não existências dignas de deificação como as gerações anteriores pecaminosas cegamente acreditavam. Devemos saber que D’us relaciona-se com o homem, e isto é "profecia".
Devemos saber que o nosso papel é a obediência, e por isso devemos santificar a D’us e respeitá-Lo. Uma vez que sabemos de tudo isso, então estamos prontos para avançar para o próximo passo, e esse é o entendimento de nossas personalidades a fim de ganharmos controle sobre nossas tendências e paixões. Assim, as leis de traços de personalidade vêm a seguir. Vemos assim que o Mishne Torá abrange muito mais do que uma simples lista de mandamentos. Ele na verdade pretende nos preparar para a vida. Ao fazer isso, ele habilmente nos ensina que o homem possui um projeto através do qual podemos alcançar uma vida melhor, amor ao conhecimento e o temor ao Autor da Criação. É por isso que ele ensina que o amor a D’us pode ser aprendido com a admiração do mundo natural, citando dos Salmos do Rei Davi, em vez de fazer uso de uma citação de um mandamento. Ao citar as palavras do Rei Davi, "Quando vejo os teus céus, obra dos teus dedos" - Maimônides apresenta um exemplo de homem que ama a D’us através do estudo do mundo natural. Maimônides evita mencionar o "mandamento" de conhecer a D’us, até que primeiramente afirme essa realidade, tendo como base a razão.
Mais uma vez, o elemento do qual deriva-se um mandamento é secundário, até que se chegue a essa verdade por meio da razão, por meio de um processo natural. Interessante é também salientar que a abordagem que Maimônides faz dos mandametos só é encontrada na parte final do seu ‘Guia dos Perplexos’.
Um sábio rabino explicou a metáfora do anjo no útero. A mente humana é naturalmente dotada de um conjunto de faculdades inatas. Por exemplo, nós não precisamos aprender a "comparar", pois a mente faz isso naturalmente. Quando uma criança vê um estranho, ela chora enquanto sua mente compara a face desse estranho com a imagem recuperada do rosto da sua mãe. Há uma série de outras faculdades inatas, como a definição de "igualdade:" sabemos quando dois objetos são diferentes, sem nunca termos recebido instrução acerca do conceito de "igualdade". Nem precisamos ser ensinados sobre causa e efeito. Nós também podemos deduzir sem sermos ensinados a fazer isso. Tudo isso mostra que um ser humano por natureza possui essas faculdades inteligentes, assim como ele de forma inata, possui emoções. Os rabinos ensinaram isso dizendo, "um anjo ensina a Torá ao embrião, e nós nos esquecemos de tudo ao nascer."
Esquecer está em contraste com o nunca ter aprendido, pois a pessoa que aprendeu, mas depois esqueceu, ainda mantém meios de voltar àquele conhecimento. Esta é a mensagem do rabino: nós de forma inata possuímos vias, ou melhor, faculdades, que podem detectar verdades sobre D’us, o universo, e o nosso papel aqui. A Torá nunca foi absolutamente necessária. O R. Acha disse: “Mais agradável é o discurso dos servos dos patriarcas diante de D’us, do que a Torá (mandamentos) de seus filhos”. Novamente, isto destaca a perfeição dos Patriarcas. Sem Torá, somos ensinados acerca do elevado grau que até mesmo as palavras mundanas dos seus servos expressava. Assim, o homem pode, naturalmente alcançar a perfeição, sem Torá. Mesmo as primeiras tábuas, formadas naturalmente, expressam a idéia de que a natureza oferece ao homem uma revelação da mão do Criador operando em tudo.
Que visão espetacular deve ter sido ... tábuas de safira com as palavras de D’us formadas naturalmente dentro delas. Quando estudamos a criação, estamos examinando a existência. Em contraste, quando estudamos a Torá, embora ainda estejamos testemunhando o esplendor de D’us, não estamos nos relacionando com a "existência". Precisamente o pedido de Moisés feito a D’us, "mostra-me a Tua Face", foi a sua tentativa de compreender a exata ‘existência’ de D’us. Evidentemente, "existência" aos olhos de Moisés era algo muito central. Além disso, quando estamos estudando a criação usando apenas as nossas mentes, nós nos envolvemos num processo de pensamento maior do que quando dependemos dos atalhos da Torá (mandamentos). Os grandes pensadores, desde Abraão até Aristóteles e Einstein, revelam o potencial humano em seu estado natural.
A Torá começa com a gênese do universo por isso mesmo. Naturalmente, o homem foi bem equipado para estudar o universo, como lemos sobre Adam que nomeou com precisão (definindo) os animais. A Torá não é um livro de história, e como disse o rabino Isaac, poderia ter iniciado com os mandamentos em primeiro lugar. Mas o natural é exigirmos fundamentos antes que possamos aceitar e seguir a Torá. Maimônides codificou esses fundamentos. Agora entendemos a distinção entre o Sefer Hamitzvot e o Mishne Torá. Ao longo do tempo, o homem corrompeu-se.
Muitas leis da Torá tiveram sua origem como ferramentas para combater essas corrupções, como não seguir superstições, ou os caminhos dos cananeus e egípcios. Leis e feriados foram criados para recordar a bondade de D’us, como Pessach e Succot. Os tefillin recordam as mortes dos primogênitos durante a redenção e a saída do Egito. Assim, a Torá como a temos hoje, constituindo-se de 613 mandamentos, não poderia ter sido dada a Adam. As gerações posteriores desviaram-se, e D’us em Sua bondade, formulou um sistema de Torá para ajudar a humanidade a permanecer no caminho. Adam era bem capaz de usar apenas a sua mente e inteligência para deduzir essas leis independentemente do seu próprio desvio. Ele, seus filhos, Noach e Abraão trouxeram ofertas a D’us, pelo fato de terem entendido totalmente a relação do homem com seu Criador. A orações estiveram nos lábios dos patriarcas sem a necessidade de nenhum mandamento. Eles usaram apenas as suas mentes e a sua inteligência para compreender a D’us, Seus caminhos, e Sua vontade para o homem.
A profecia é o meio de comunicação de D’us com o homem, e a oração é o meio do homem comunicar-se com D’us. A Torá e os seus mandamentos não têm como alvo um novo plano, mas sim, o de manter-se fiel ao plano original, como os ‘primeiros frutos’. As ofertas obrigam o homem a reconhecer o Criador como o Autor e Mantenedor de todas as coisas, e os dízimos nos ensinam a generosidade. Mais uma vez, vemos Abraão dando o dízimo sem ter ainda a Torá, mostrando como a mente humana pode chegar a verdades e moralidades independentes de ter ou não Torá. Este era o plano inicial de D’us. O maior mandamento é a educação, e nós aprendemos que Abraão ensinou dezenas de milhares. A bondade e a justiça também foram exemplificadas nas guerras de Abraão contra os reis; o patriarca aprendeu acerca da justiça de D’us no episódio de Sodoma, e assim, ele pode transmitir esses conceitos às gerações vindouras. Isto significa que Abraão entendeu os caminhos de D’us, sem a necessidade da Torá. Ao estudarmos a vida dos patriarcas, como é da vontade de D’us, vamos chegar a ainda mais exemplos apoiando os rabinos que metaforicamente ensinaram que "Abraão observou toda a Torá [3]."
Isto significa que Abraão foi capaz de chegar às mesmas verdades que mais tarde, D’us ensinaria a humanidade por meio de uma comunicação formal. Os rabinos ensinam que, em última análise, nos dias do Messias, o homem vai retornar ao estado de Adam, onde naturalmente estava ligado a D’us e à sabedoria. Mas esta é apenas a regra geral. Qualquer pessoa hoje em dia pode se empenhar e tornar-se um ‘Abraão’. Cada um de nós tem essa capacidade, tal como estamos agora. O que se faz necessário para isso é apenas a convicção de que D’us proverá, e a confiança de que Ele vai agir assim, e então nós podemos nos liberar mais do nosso apego aos "cálculos procurados pelas massas" [4] (priorização das riquezas), minimizando o nosso trabalho, de modo a maximizarmos o nosso estudo da Torá [5]. Ao fazê-lo, vamos chegar a uma maior realização através da percepção da sabedoria de D’us. ■

[1] Mishne Torá, Hilchot Yesodei Hatorah 2:2
[2] Guia dos Perplexos, Livro I, cap. LXVI
[3] Talmud Kiddushin 82a, Mishná
[4] Hilchot Shmitta v’Yovale 13:13
[5] Ética dos Pais 4:12

Nenhum comentário:

Postar um comentário

Targum Faz Rute

Targum Rute Tradução de Samson H. Levey Capítulo 1. 1- Aconteceu nos dias do juiz de juízes que havia uma grande fome na terra de I...